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26 de março de 2011

TOP-TEN WESTERNS DO MESTRE CLÓVIS RIBEIRO

Clóvis Ribeiro é um dos maiores conhecedores de Histórias em Quadrinhos do Brasil e seu vasto conhecimento abrange também a Música e se expande ilimitadamente pelo Cinema. Muito apropriadamente Clóvis Ribeiro é chamado de Mestre por seus muitos amigos e pelos admiradores de seus textos que foram publicados na saudosa revista "Fancine". Vamos relembrar quais os westerns que Clóvis Ribeiro indicou como seus preferidos na edição n.º 7 da Revista “Fancine”, publicada em Janeiro/Fevereiro de 1995. Cada um dos dez westerns é seguido de pequeno comentário do Mestre Clóvis.


SANGUE DE HERÓIS (Fort Apache), 1948 – John Ford
Amostra quase real dos primórdios da Cavalaria. Dramas, trabalho, batalhas, mas acima de tudo a disciplina. Raríssimos momentos de folga entre ataques indígenas e patrulhas aos que chegam e partem. O Oeste desbravado pelo governo exigiu de seus comandantes o cumprimento do dever a qualquer custo. Baixas de ambos os lados, previamente computadas. Obra de arte fílmica, fotografia marcante e inesquecível. Elenco tarimbado e afinadíssimo com o diretor, incursões humorísticas onde o improviso de atores premiados se faz presente. A cada revisão um redescoberta. É Ford, naturalmente.

MATAR OU MORRER (High Noon), 1952 – Fred Zinnemann
A sociedade desnudada em todos os pecados. Mudam os tempos mas a pobreza espiritual hipócrita e coletiva permanecem. A vítima não pode testemunhar mas o bandido pode agir. Os fracos se escudam sob o manto da pseudoproteção de mortais religiosos, mas é um semelhante esclarecido e corajoso que traz a verdadeira salvação. Cumprida a missão parte enojado por ter respirado o mesmo ar daqueles a quem defendeu. A estrela no chão é o desprezo à sociedade.

OS BRUTOS TAMBÉM AMAM (Shane), 1953 – George Stevens
Obra-prima dedicada aos Oeste. Filme tabu que a cada revisão desperta ocultas reflexões para estudiosos e iniciados. Tudo em “Shane” funciona além do exigido. Cada segmento da história, interpretação e cenários naturais obtidos em locações foram seduzidos pelas lentes mágicas de Stevens em momento de sublimação. Coloca num paredão o retrato e o perfil de cada personagem que o espectador decifra, contesta e aceita. Os cortes rápidos e precisos na sequência da cena são como um sacar de armas que só os pistoleiros profissionais executam.

JOHNNY GUITAR (Johnny Guitar), 1954 – Nicholas Ray
A transposição para o western do gênero 'juventude transviada' que o mesmo diretor abordaria magistralmente um ano depois. Guitar é o simpático estranho que chega e domina a comunidade. É o bom em tudo. Sedutor, líder nato, bom de briga e de música, enfim um solitário campeão. Conflitos íntimos afloram e diferenças passionais resolvidas a bala. Interpretações fortes e memoráveis das fêmeas onde o violão no ombro do macho simboliza a liberdade e as armas o território e posse para a sobrevivência. Lee e Young perpetuaram a obra musical.

VERA CRUZ (Vera Cruz), 1954 – Robert Aldrich
Aventura histórica, rocambolesca e alegre, digna das audiências que procuram no cinema entretenimento salutar. Situações onde as forças do poder necessitam dos préstimos dos aventureiros e foras-da-lei com livre trânsito pelos caminhos tortuosos da política de expansão e conquista. A demonstração pura e simples de quem conhece o ofício e aluga suas pistolas para o melhor pagador, situação ou oposição.

SEM LEI E SEM ALMA (Gunfight at the O.K. Corral), 1957 - John Sturges
Duelos grupais foram anteriormente filmados, mas este Gunfight... explora a individualidade doméstica dos contendores. Virtudes e defeitos crescem durante a narrativa semi-histórica. Os closes mostram rostos preocupados com o clímax do embate próximo. Soberbas interpretações típicas de um clássico. Para colonizar, a lei recrutava pistoleiros mais ou menos bem intencionados, e a soldo, Earp e Holliday fizeram a sua parte.

ESTIGMA DA CRUELDADE (The Bravados), 1958 – Henry King
A irreflexão e ódio sobrepujam os sentimentos e culmina com a intolerância sobre o que parece ser mas não é. A vingança se faz presente numa caçada humana e justiça necessárias. No final os ponteiros da trama se acertam e o observador aceita a proposta de que mortes seriam evitadas apenas com um segundo de reflexão do vingador.

ONDE COMEÇA O INFERNO (Rio Bravo), 1959 – Howard Hawks
Síntese simpática de todos os clichês que o Velho Oeste amalgamou e mostrou durante anos. A lei tentando se impôr de forma histriônica onde as personagens nos conquistam para sempre, da primeira à última cena. Os três mosqueteiros, que eram quatro, dividem as performances embalados pelo clima de amizade e, de quebra, música de primeira qualidade. Na história, um marco na carreira de todo o elenco.

O PASSADO NÃO PERDOA (The Unforgiven), 1960 – John Huston
Revolver raízes genealógicas é, por vezes, tocar feridas não cicatrizadas. O racismo pode dividir ou aproximar irmãos de sangue e de criação, dependendo do sentimento, paixão e orgulho de cada indivíduo. Filme tenso e terno. Psicológico e revelador. Guerras geram órfãos que adotados por vencedores e vencidos assimilam o novo lar, cultura, alimentação e sobrevivem. Nunca o western foi tão dramático e adulto. Nota máxima.

A NOITE DA EMBOSCADA (The Stalking Moon), 1969 – Robert Mulligan
O suspense no western. Pela retomada do direito paterno ilegalmente conquistador, guerreiro Navajo investe contra a nova morada de sua ex-presa loura. O objetivo é o filho, mas a violência selvagem o afasta definitivamente de ainda possíveis laços familiares. Astúcia predadora e mortal incute o terror nas mentes de mãe e filho que, resignados, clamam pela chance de viver. Novos horizontes para apagar da memória contatos carnais forçados. Somente com a ajuda e compreensão de um novo tutor civilizado, terno e ciente do ocorrido consegue restabelecer o brilho nos olhos de quem esquecera a identidade e origem. Libelo cinematográfico.

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