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6 de outubro de 2012

ATIRE EM TODOS (Gun the Man Down) – PRIMEIRO ROTEIRO DE BURT KENNEDY



John Wayne e o dono da Republic Pictures, Herbert J. Yates.
O homem que enganou John Wayne - Antes de criar a Batjac, John Wayne já havia tido outras experiências como produtor independente. A mais importante delas foi com “Caminhos Ásperos” (Hondo), western produzido pela Wayne-Fellows Productions. Nesse tempo John Wayne estava associado ao produtor Robert Fellows, parceria que terminaria com a formação da Batjac, uma empresa familiar. Quem mandava na Batjac era John Wayne e os produtores executivos eram seu irmão Robert E. Morrison e seu filho Michael Anthony Morrison (Michael Wayne). Com a Batjac John Wayne pretendia ganhar dinheiro para financiar seu maior sonho que era filmar “O Álamo”. Na Republic Pictures, além de nunca alcançar salário à altura de seu prestígio devido à sovinice de Herbert J. Yates, dono do estúdio, ainda foi enganado por este. Yates prometeu ao Duke financiar para ele o projeto “O Álamo” mas nunca cumpriu a promessa. E depois que John Wayne saíra da Republic, Yates ainda teve a desfaçatez de produzir “A Última Barricada” (The Last Command), sobre a heróica resistência do Álamo.


Acima Randolph Scott em "Sete Homens
Sem Destino"; abaixo Robert J. Wilke e
Don Megowan em "Atire em Todos".
A Batjac produzindo faroestes - A finalidade maior da Batjac, na metade dos anos 50, era ganhar dinheiro para o projeto-Álamo. No ano de 1956, enquanto o Duke estava no Monument Valley filmando “Rastros de Ódio”, a Batjac produzia quase simultaneamente dois faroestes sem gastar muito com eles. Um deles, mais bem produzido, foi “Sete Homens Sem Destino” (Seven Men from Now), com elenco encabeçado por Randolph Scott e Lee Marvin e direção de Budd Boetticher. O segundo, produção de baixo orçamento, foi “Atire em Todos” (Gun the Man Down), em preto e branco, dirigido por Andrew V. McLaglen. Tanto McLaglen quanto Boetticher eram amigos de John Wayne, assim como o cinegrafista William H. Clothier, responsável pela fotografia dos dois westerns. Também o compositor Henry Vars trabalhou na parte musical desses filmes. Para completar, o roteirista de “Sete Homens Sem Destino” e de “Atire em Todos” era o mesmo, o jovem Burt Kennedy em seus primeiros trabalhos escrevendo para o cinema. As semelhanças entre os dois faroestes produzidos pela Batjac terminam aí.

Dois faroestes 50 anos depois - Quando de seu lançamento na França, “Sete Homens Sem Destino” recebeu uma consagradora crítica de André Bazin, que o classificou como obra-prima do gênero e um dos três melhores faroestes de todos os tempos. Os outros dois, segundo Bazin, eram “Rastros de Ódio” e “O Preço de um Homem” (The Naked Spur), de Anthony Mann. O segundo faroeste da Batjac, “Atire em Todos”, passou praticamente despercebido pelo público, sendo lembrado apenas por ter no elenco James Arness e uma então desconhecida jovem atriz chamada Angie Dickinson. James Arness atuara em “Caminhos Ásperos” com John Wayne, de quem ficou amigo e de quem recebeu indicação para estrelar uma nova série western de TV intitulada “Gunsmoke”. Os fãs de faroestes esperaram por muito tempo para conhecer não só “Sete Homens Sem destino”, como também “Atire em Todos”, pois o espólio da Batjac demorou para liberar esses filmes para serem lançados em DVD. Ambos os filmes tiveram que esperar mais de 50 anos para que o público pudesse reavaliá-los ou conhecê-los para ver se André Bazin tinha razão.

Sequência da fuga com Don Megowan, James Arness
e Robert J. Wilke a galope; abaixo o set de Al Ybarra,
com um raro saloon semideserto.
Filme e história pobres - “Atire em Todos” chega a lembrar os faroestes B da série ‘Durango Kid’, da Columbia, tamanha a pobreza da produção. Assim como nos filmes de Durango Kid, por economia quase não havia extras nas ruas e nem mesmo no saloon, em “Atire em Todos”. Saloons do Velho Oeste normalmente eram apresentados apinhados de jogadores e de ‘barflies’ (os chamados moscas de saloon). O elenco desta produção da Batjac resume-se a meros quatorze atores e, ainda bem, entre eles fora os já citados Arness e Angie, estão Robert J. Wilke, Harry Carey Jr. e Emile Meyer, o ‘Rufus Ryker’ de “Os Brutos Também Amam”. O roteiro de Burt Kennedy, baseado em história de Sam Freedle, não é dos mais imaginativos, contando a história de três bandidos que praticam um assalto a banco. Na fuga um deles, Remington Anderson (James Arness), é ferido, abandonado pelos comparsas, preso e condenado a um ano de prisão. Solto, Remington procura seus ex-comparsas Matt Rankin (Robert J. Wilke) e Ralph Farley (Don Megowan), que vivem na cidade de Gunther Wells. Rankin contrata um pistoleiro chamado Billy Deal (Michael Emmet) para matar Remington, mas este é mais ligeiro e liquida o matador de aluguel. Rankin e Farley tentam fugir de Gunther Wells, mas durante a fuga Rankin mata Farley acidentalmente e termina capturado por Remington que o entrega ao Sheriff Morton (Emile Meyer).

Angie Dickinson em início de carreira.
O primeiro western de McLaglen - O leitor deve estar perguntando onde entra Angie Dickinson. Ela interpreta a ex-saloon-girl Janice, que pretendia se casar com Remington mas é obrigada por Rankin  a fugir e viver com ele, sendo ao final morta por Rankin. Nenhuma relevância no personagem Janice, criado unicamente para possibilitar a presença de um bonito rosto feminino no filme. “Atire em Todos” foi o primeiro longa-metragem dirigido por Andrew V. McLaglen que procurou dar ao filme o ritmo e atmosfera de clássicos como “O Matador” e “Matar ou Morrer”, não faltando sequer a presença do indefectível relógio indicando o momento do encontro decisivo. É visível a intenção de Victor McLaglen realizar um western sombrio e para isso contribuiu a ajuda da trilha de Henry Vars, fortemente influenciada pelos trabalhos do Mestre Bernard Herrman. As cenas lentas e com poucos diálogos visavam aumentar a tensão de “Atire em Todos”, mas só consegue tornar o filme monótono. A direção de arte deste faroeste é de Alfredo Ybarrra, também amigo de John Wayne e que seria o responsável pela direção de arte de “O Álamo” (foi Ybarra quem construiu a velha missão). Muito provavelmente para evitar mostrar a pobreza geral dos cenários de “Atire em Todos”, a câmara de William H. Clothier fez muitas tomadas dos atores em close-up, algo inusitado naqueles tempos e que se tornaria comum com a produção de filmes feitos para exibição na TV. Na telinha essa técnica era bastante funcional, mas na tela grande quem perde é o espectador.

Robert J. Wilke, o vilão preferido de muitos cinéfilos.
O excelente Robert J. Wilke - Quando da filmagem de “Atire em Todos”, James Arness já interpretava o ‘Matt Dillon’ na série “Gunsmoke”. E parece mesmo que Arness só trocava o colete do Marshal de Dodge City, indo do set da TV para as locações do filme dirigido por McLaglen. Mesma roupa e mesma interpretação desprovida de qualquer expressividade. A jovem Angie Dickinson já dava indícios da sensualidade que exibiria no decorrer de sua carreira. O melhor do elenco só poderia ser Robert J. Wilke, um dos grandes homens maus do cinema. Wilke, ao final de sua carreira, teve oportunidade de mostrar o excelente ator que era em “Dias do Paraíso”, de 1978, com um personagem inteiramente diferente daqueles interpretados em tantos westerns. Emile Meyer e Harry Carey Jr. não devem ter boas lembranças dos insonsos diálogos que foram obrigados a dizer neste filme. A notar ainda a presença de Pedro Gonzalez-Gonzalez como dono de hotel, neste caso de nenhuma estrela perto do cinco estrelas que foi sua participação em “Onde Começa o Inferno”. Provavelmente esse western com um dos menos inspirados títulos em Português - “Atire em Todos” - pouco ajudou para que John Wayne juntasse dinheiro para seu “O Álamo”. Mesmo porque é um faroeste que não fez por merecer um público do tamanho de seu produtor.

Acima um duelo de gigantes entre Don Megowan (1,98m) e James Arness (2,00m);
abaixo Harry Carey Jr. e Emile Meyer esperançosos por  melhores diálogos.
James Arness