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3 de outubro de 2012

TOP-TEN WESTERNS DO CINÉFILO CARIOCA JOSÉ FERNANDES DE CAMPOS

José Fernandes de Campos

Gloriosos tempos do MAM e do MIS - Cinéfilos há muitos espalhados pelo Brasil afora. Poucos, no entanto, tiveram o privilégio de conviver com a melhor geração de críticos de cinema do Brasil que foi aquela reunida no Rio de Janeiro na década de 60. Eram tempos do 'Caderno B' do Jornal do Brasil, reduto dos mais importantes críticos brasileiros de então, jornal que só encontrava rival em importância no Correio da Manhã no qual pontificava o crítico Antônio Moniz Viana no comando do Conselho de Críticos daquele noticioso. Com essa extraordinária geração nasceram as inesquecíveis publicações 'Filme Cultura' e 'Guia de Filmes' editadas pelo INC (Instituto Nacional de Cinema). Em outros Estados, com inevitável inveja, ouvia-se falar das disputadas sessões de cinema do Museu de Arte Moderna (MAM) e do Museu da Imagem e do Som (MIS). E sabia-se que em reuniões informais em bares da Zona Sul podia-se discutir cinema com Paulo Francis, Ruy Castro, Gomes de Mattos, José Lino Grunewald, Paulo Perdigão, Sérgio Augusto e Valério Andrade, entre outros. Pois uma dessas privilegiadas pessoas que viveram aqueles tempos e conviveram com aqueles escritores e jornalistas é o carioca José Fernandes de Campos, apaixonado pelo Botafogo de Futebol e Regatas e por cinema.

Professores especiais - O Botafogo entrou na vida de José Fernandes quando ele ainda era criança. O cinema, para valer, demorou um pouco mais, na adolescência, o que levou o muito jovem José Fernandes a fazer cursos de Crítica e de Cinema. Seus professores eram nada menos que Paulo Perdigão, José Carlos Avellar, Salvyano Cavalcanti de Paiva e José Carlos Monteiro. A paixão pela 7.ª Arte só fazia crescer e alguns números explicam melhor o quanto José Fernandes ama o cinema: ele possui 1.500 LPs de trilhas sonoras (e ainda muitos CDs); em suas estantes estão centenas de livros sobre cinema, entre eles, encadernadas, as preciosas coleções de 'Filme Cultura' e' Guia de Filmes'; seus DVDs beiram ou passam dos dois mil. Entre os DVDs, mais de 300 são muito especiais pois são do gênero western. Desnecessário dizer que Paulo Perdigão e outros críticos-professores ajudaram José Fernandes a conhecer mais profundamente os faroestes, aos quais assiste há quase 60 anos.

O difícil limite de dez faroestes - Pois com toda essa bagagem José Fernandes de Campos é assíduo leitor deste blog, o que muito honra este espaço. Como não poderia deixar de ser, WESTERNCINEMANIA solicitou a José Fernandes que relacionasse seu Top-Ten Westerns, o que ele prontamente atendeu. José Fernandes explicou que listou seus filmes por ordem de ano de produção porque, segundo ele, é impossível dizer que um dos filmes seja inferior aos demais. José Fernandes relacionou ainda uma segunda lista que ele chama de ‘segundo escalão’, dos quais dois faroestes poderiam estar incluídos no seu Top-Ten. São eles “Pacto de Justiça” e “O Homem dos Olhos Frios”. José Fernandes de Campos fez breves comentários acerca dos faroestes que mais admira e como ele mesmo diria, ‘chega de papo’ e vamos à lista:


Os Brutos Também Amam (Shane) 1953 – George Stevens – O maior western de todos os tempos. Falar sobre este filme mereceria um artigo sobre ele. Um clássico que dia a dia melhora quando se assiste. A fotografia (ganhadora do Oscar) é soberba e a trilha que acompanha o filme é digna de estar entre as melhores do cinema. Nunca o cinema mostrou a renúncia (Shane) a idolatria (de Wilde), a amizade (Van Heflin), a conformidade (Jean Arthur), o orgulho (Elisha Cook Jr.) a intolerância (Emile Meyer) e a maldade (Palance, inesquecível) como este western. Para se rever de seis em seis meses e descobrir tantas nuances que George Stevens nos colocou na tela.

No Tempo das Diligências (Stagecoach), 1939 – John Ford – Aqui começou o western na minha opinião. Uma estória com os personagens vivendo cada um seu drama, é levada às telas em forma de western num estudo psicológico dos personagens (viajando juntos em uma diligência) de uma forma natural e muito mais simples do que os filmes de Bergman e Visconti. O ataque dos índios à diligência é algo filmado com as técnicas da época que realmente você sente dentro de si toda a angústia dos passageiros. Falar do elenco é perder tempo pois todos estão excepcionais. E a fotografia e as locações, é algo inesquecível.

Consciências Mortas (The Ox-Bow Incident), 1943 – William A. WellmanA intolerância vista no velho oeste pelas mãos de um diretor sempre profissional e tido como um mero artesão. Só mesmo o homem dos olhos frios (Henry Fonda) para passar ao espectador toda a dor e drama pela forma da morte dos cowboys. O terror e a ironia tomam conta da tela  em cima de um roteiro impecável de Lamar Trotti. Do elenco não falo, pois só assisti-los em cena já é gratificante.

Paixão dos Fortes (My Darling Clementine), 1946 – John FordEis o mestre John Ford outra vez. O encontro de Wyatt Earp (um Fonda extraordinário) com Doc Holliday (um Victor Mature controlado) para um duelo final no ‘OK Corral’ é mostrado de uma forma romanceada e sem muito sangue. Um dos mais sensíveis westerns do mestre e um clássico de todos os tempos. O que chama atenção é a riqueza de detalhes com que o roteiro foi elaborado. Um filme que até hoje sempre revejo.

Rio Vermelho (Red River), 1948 – Howard Hawks – Surge John Wayne, o maior de todos. Rude, austero, valentão e humano na cena final. Isto é o que chamamos de um verdadeiro western. Não sei como Montgomery Cliff foi escalado para o papel, mas convenhamos está perfeito como o protetor do império de Wayne. Um clássico a trilha de Dimitri Tiomkin e o que falar das locações. O tempo passa e você não sente a longa duração.


Matar ou Morrer (High Noon), 1952 – Fred ZinnemannInesquecível sobre todos os aspectos a seleção do elenco e a forma como Gary Cooper compôs seu personagem. O filme apresentado em tempo real faz com que sigamos a aflição do xerife com a total covardia e inércia dos habitantes da cidade. A partir do momento que os vilões entram na cidade, temos dez minutos de pura ação que só seriam repetidos no final de “Open Range”. (Pacto de Justiça). A beleza de Grace Kelly e a presença de Katy Jurado ajudam ainda mais você a apreciar este drama sobre a dor da consciência. A música de abertura cantada por Tex Ritter se tornou um marco.

Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 – John Ford – Ei-los outra vez, Ford/Wayne em uma obra prima sobre todos os aspectos. A procura de Wayne por sua sobrinha (Natalie Wood) é uma aventura que dura anos e que irá mudar totalmente a idéia de um homem. Fotografia, cenários, roteiro são tão perfeitos que você aceita os momentos cômicos e piegas do filme. Ação, violência, sensibilidade e brutalidade se unem para compor um filme inesquecível que se acaba de uma forma única, simplesmente com a porta fechada e a figura única e inesquecível do maior cowboy de todos os tempos.

O Homem que Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance), 1962 – John Ford – Até hoje está marcada na minha mente a entrada de Lee Marvin  no filme. Mais um clássico do cinema western que fez escola e ensinou a muitos diretores como fazer de um roteiro simples uma das melhores estórias já contadas no gênero. A célebre frase que James Stewart fala no final do filme já se tornou um clássico na cinematografia.  O filme é mais narrativa do que a interpretação dos principais do elenco, mas você jamais se esquecerá de Lee Marvin. Só assistindo.

Meu Ódio Será sua Herança (The Wild Bunch), 1969 – Sam Peckinpah Um bando de foras-da-lei vêem seu tempo passar e mesmo assim continuam a lutar pelo que melhor sabem fazer. A ética está prestes a conduzi-los a outro caminho, mas nada dá certo. Nesta busca só resta voltar a fazer o melhor que sabem. Do destino ninguém foge. Meu Deus, o que falar de um filme, onde é impossível você achar um defeito cinematográfico. Nunca um elenco (todos) esteve tão impecável. Nunca a ação esteve presente com tanta intensidade. Nunca os diálogos foram tão ferinos. Nunca a brilhante trilha sonora de Fielding esteve tão presente em cena (a despedida do bando do vilarejo é inesquecível). Nunca uma edição foi de primeira classe e nunca o cinema retratou uma violência desenfreada e com tanto realismo como neste clássico americano. Um filme indispensável a todos os cinéfilos de um  modo em geral.  

Os Imperdoáveis (Unforgiven), 1992 – Clint Eastwood – ‘Ô vida miserável que levo. Em memória da minha mulher tenho que continuar a vivê-la’ pensa Eastwood mas o destino o persegue e ele vai ter que retornar à sua vida do passado em busca de tornar melhor a sua vida e de seus filhos. A velhice chega mas os canalhas continuam. Clint Eastwood construiu o melhor western moderno de todos os tempos, numa época que o gênero estava morto e esquecido pelas platéias. A hipocrisia luta com a  moralidade e a morte ronda todos os momentos na tela. Um elenco impecável: Hackman ganhou Oscar; Richard Harris um hipócrita total; Morgan Freeman notável ainda acreditando na amizade e na justiça. Um filme cheio de Oscars e com uma estória única no gênero. Simplesmente poderoso.


Pacto de Justiça (Open Range), 2003 – Kevin Costner – O último grande western feito pelo cinema. Mais uma vez Costner se mostra perfeito no gênero. Nasceu para fazer western (vejam seus filmes anteriores) e de suas mãos nasceu a maior homenagem que ele poderia dar a um ator magnífico em todos os gêneros que é Robert Duvall. Todos os clichês do western estão presentes neste filme. Cada fotograma leva você a um filme que você já assistiu mas com as técnicas do cinema atual você pode desfrutar com maior impacto todas as cenas. A partir da cena do chocolate dado de presente, prepare seu espírito, suas emoções pois você verá uma das melhores sequências de duelo (se assim podemos dizer) do cinema. As cenas com Annette Bening são de um lirismo puro e você sente que o mais rude dos homens pode se tornar uma pessoa lúcida. As cenas de Costner com Bening são de um amor sincero. Um filme a ser descoberto pelos cinéfilos.

O Homem dos Olhos Frios (The Tin Star), 1957 – Anthony Mann – Cada vez que revejo este filme mais o admiro. Para mim é o western de Mann. Mais uma vez a presença de Henry Fonda rouba um filme. E o que falar do inesquecível maníaco de “Psicose”, Anthony Perkins, fazendo um papel perfeito em todos os sentidos. Mais uma vez o gênero western mostra que é possível mudar o rumo da sua vida quando você encontra  um amor em sua vida. Este é outro filme que eu poderia escrever muito, mas falar sobre a relação amizade/inocência/amor é o suficiente. Procurem este filme de qualquer maneira e não deixem de assistir. É um brilhante a ser lapidado.

OUTROS FAROESTES FAVORITOS DE JOSÉ FERNANDES

Sem Lei e Sem Alma (Gunfight at the OK Corral), 1957 – John Sturges
Estigma da Crueldade (The Bravados), 1958 – Henry King
Minha Vontade é Lei (Warlock), 1959 – Edward Dmytryk
Onde Começa o Inferno (Rio Bravo), 1959 – Howard Hawks
A Face Oculta (One-Eyed Jacks), 1960 – Marlon Brando
Sete Homens e Um Destino (The Magnificent Seven), 1960 – John Sturges
A Noite da Emboscada (The Stalking Moon), 1969 – Robert Mulligan
Josey Wales, o Fora-da-Lei (Outlaw Josey Wales), 1976 – Clint Eastwood

José Fernandes de Campos à frente de sua coleção de long-playings,
a maior parte dela contendo trilhas sonoras de filmes.