UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN
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19 de maio de 2016

A SAGA DO VALE DA MORTE (SAGA OF DEATH VALLEY) – ROY ROGERS ENFRENTA O IRMÃO


Poucos dos muitos westerns de Roy Rogers possuem título e enredo tão prometedores quanto “A Saga do Vale da Morte” (Saga of Death Valley), de 1939. Com história e roteiro de Karen DeWolf e Stuart Anthony, esta aventura, de fato, se inicia por volta de 1880, prosseguindo 15 anos depois com os personagens principais já adultos. Esqueça-se, porém, a árida depressão do Deserto de Mojave, na Califórnia, pois a Republic Pictures, produtora do filme limitava sempre as sequências externas de suas produções ao cenário de Alabama Hills, em Lone Pine, não muito distante de Hollywood, barateando o quanto pudesse o custo dos filmes. E se Roy Rogers não cavalga, de fato, no Vale da Morte, a promissora história não demora em se tornar muito próxima a tantos e tantos outros westerns ‘B’, com o mocinho lutando contra o poderoso criador. A diferença (e que diferença!) é que este é estrelado por Roy Rogers com Gabby Hayes como seu sidekick.


Roy Rogers com Doris Day
Irmão contra irmão - Um rancheiro chamado Rogers (Lane Chandler) é friamente assassinado e seu filho Tim é sequestrado pelos dois criminosos, enquanto Roy, o filho mais velho encontra o corpo inerte do pai. O assassino é o inescrupuloso Ed Tasker (Frank M. Thomas) acompanhado por seu comparsa Brace (Jack Ingram), que levam consigo o pequeno Tim. Roy abandona a propriedade que passa para o controle de Tasker. Na cidade de Sundown, o bandido controla o fornecimento de água e quando Roy (Roy Rogers) retorna ao local adulto, se depara com Tasker ainda ameaçando e vendendo proteção aos rancheiros locais. Roy adquire uma propriedade e Tasker logo tenta intimidá-lo, o que aparentemente consegue. Em Sundown, Roy reencontra Ann Meredith (Doris Day), sua namoradinha de infância que se decepciona com Roy por aceitar passivamente as ameaças. Pressionado por Ann, Roy se torna o líder dos rancheiros locais defendendo-os contra Tasker. O mais violento dos homens de Tasker é seu sobrinho Jerry (Donald Barry), a quem, numa luta corporal, Roy poderia ter matado, sendo impedido por uma inesperada e misteriosa força maior. Em verdade Jerry é o novo nome de Tim Rogers, irmão de Roy, que rebelando-se contra Tasker acaba matando-o e sendo, ao mesmo tempo morto por ele, com a paz voltando a reinar em Sundown.

Gabby Hayes e Roy Rogers
Mudança para o mal - Desenvolver o tema de irmão se confrontar com irmão não é tarefa fácil num western de 58 minutos de duração que abriga ainda perseguições a cavalo, luta corpo a corpo, romance e... um pouco de música. O diretor Joseph Kane se sai razoavelmente bem, no entanto, ao fazer de “A Saga do Vale da Morte” um faroeste invulgar na filmografia de Roy Rogers na Republic Pictures. Sacrificando muito do que poderia ser visto na tela entre os dois irmãos, em função de não tornar o filme excessivamente dialogado e sem as necessárias e tão esperadas sequências de ação, optou-se por simplificar a trama. Roy Rogers retorna para vingar a morte de seu pai, reencontrar a menina com quem sonhava se casar e de quem nunca esqueceu, além de ter um (único) momento em que se vê diante do irmão agora bandido. Donald Barry é o garoto que cresce e se torna um bandido sanguinário e que certamente transformaria este faroeste num pequeno clássico se mais maldades pudesse cometer até se redimir, ao final, enfrentando o homem que mudou (para o mal) sua vida.

Donald Barry à frente de Frank M. Thomas; Don Barry nos braços de Roy Rogers.

Don Barry; Doris Day
O diminuto vilão - Aos 28 anos de idade, Roy Rogers mostra-se no auge de sua forma cavalgando Trigger com a conhecida habilidade, além de esbanjar a simpatia e irradiar a integridade que fizeram dele ‘O Rei dos Cowboys’ no período de 1943 a 1954. George ‘Gabby’ Hayes era um boboca (sidekick) que de bobo não tinha nada, seja montando, atirando, lutando ou ainda evitando as mulheres pouco bonitas que queriam conquistá-lo. Neste filme a pretensiosa é Miss Minnie (Fern Emmett), enquanto ficou para Doris Day escutar Roy cantando para ela uma canção (uma única, ainda bem). Outras duas canções são ouvidas durante o filme sem, porém, que a trama seja interrompida para que Roy ou Jimmy Wakely e seus Rough Riders as entoasse. Ao final Roy canta a quarta e última canção para Doris Day. Don ‘Red’ Barry (Donald Barry), antes de se tornar também um mocinho da Republic (Red Ryder), mostra que se daria muito melhor como bandido a la James Cagney, não lhe faltando altura para isso, ele que tinha apenas 1,64m de altura. Em 1939 a excepcional cantora Doris Day estava com apenas 15 anos e não havia se aventurado na carreira artística que faria dela uma das grandes estrelas de Hollywood. Evidentemente a homônima Doris Day foi uma atriz de poucos predicados que desapareceu após uma dúzia de pequenas participações em filmes, sendo este seu único western.

Primeira fase de Roy Rogers - No elenco de apoio Lane Chandler e Hal Taliaferro dois dos cinco mascarados do seriado “O Guarda Vingador” (The Lone Ranger), sem contar George Montgomery que atuou como figurante e dublê neste “A Saga do Vale da Morte”, muito antes de se tornar um dos cowboys favoritos dos westerns B. Este faroeste da primeira e, para muitos, a melhor fase de Roy Rogers, agrada bastante não só aos fãs do ‘Rei dos Cowboys’, mas a todos aqueles que, entre um clássico e outro do gênero, nunca deixa de assistir aos queridos westerns ‘B’ dos pequenos estúdios.


George 'Gabby' Hayes; Roy Rogers e Doris Day; Lane Chandler.

Os cinco mascarados do seriado "O Guarda Vingador" (The Lone Ranger),
entre eles Lane Chandler, Hal Taliaferro e George (Letz) Montgomery,
quinteto completado por Lee Powell e Herman Brix.

29 de fevereiro de 2016

A LEI DA FUGA (COLORADO) – ROY ROGERS CONTRA AGENTES CONFEDERADOS


Roy Rogers
1940 foi um ano especial para Roy Rogers pois o estúdio que o mantinha sob contrato, a Republic Pictures, tentou elevá-lo à categoria de astro. Nesse ano Roy participou com destaque de “Comando Negro” (Dark Command), western sobre a Guerra Civil, atuando ao lado de John Wayne, outro ator que a Republic procurava guindar à condição de grande astro. Wayne deu certo e trilhou a mais espetacular carreira artística de todos os tempos em Hollywood. Já com Roy Rogers a tentativa do estúdio dirigido por Herbert J. Yates não surtiu o efeito desejado e o cowboy-cantor continuou a estrelar aqueles pequenos faroestes rodados em uma semana, à média de sete por ano. John Wayne nunca mais voltou a fazer um western B e Roy Rogers, mesmo continuando a cavalgar na chamada Poverty Row (Rua da Pobreza) conseguiu a façanha de estar entre os astros mais rentáveis do cinema. Na lista dos artistas de cinema que mais público atraíam nos anos 40, Roy apareceu em 22.º lugar em 1944; na 10.ª posição em 1945 e 1946; 12.º em 1947; 17.º em 1948; 18.º em 1949 e 19.º em 1950, último ano em que se destacou como atração de bilheteria. Em “Comando Negro” Roy Rogers interpreta um soldado confederado e nesse mesmo ano Roy atuou em “A Lei da Fuga” (Colorado), desta vez mudando de lado e aparecendo como um Tenente do exército da União, no filme que foi dirigido por Joseph Kane. Este diretor contratado da Republic dirigiu Roy Rogers em nada menos que 45 outros pequenos faroestes.


Acima Gabby Hayes e Roy Rogers;
abaixo Pauline Moore e Milburn Stone.
Agente Secreto no Colorado - Em “A Lei da Fuga”, o Alto Comando Militar yankee está preocupado com as tentativas do exército confederado em reequilibrar a Guerra Civil que indicava iminente vitória nortista. O Serviço Secreto do Exército incumbe o Tenente Jerry Burke (Roy Rogers) da missão secreta de desbaratar focos de resistência adversária no Colorado, território de vital importância para a definição da guerra. Jerry Burke ruma para Denver na mesma diligência em que está a jovem Lylah Sanford (Pauline Moore), reencontrando-se ainda com seu velho amigo ‘Gabby’ (George Hayes). Entre os articuladores do movimento sulista está Don Burke (Milburn Stone) que se faz passar por Capitão do Exército da União, infiltrando-se entre as forças nortistas no Colorado. Don Burke, que é noivo de Lylah Sanford, não contava encontrar com Jerry Burke, que é seu irmão e sabe da sua atuação como espião sulista. Jerry considera Don a ovelha negra da família e acredita que possa fazer dele um homem de bem. Com o rosto encoberto Don Burke assalta a diligência em que estão seu irmão, Lylah e Gabby, mas na fuga Don é alvejado no ombro por Jerry. Don Burke prossegue com as articulações com o grupo de simpatizantes sulistas mas seu irmão Jerry faz fracassar as manobras. Don é capturado e numa tentativa de fuga é morto por um tiro disparado pelo xerife Harkins (Fred Burns). Cessadas as articulações confederadas em Denver, o Tenente Jerry Burke é chamado de volta a Washington levando consigo sua agora noiva Lylah.

Acima Roy Rogers e Fred Burns;
abaixo Roy cantando e tocando.
Menos trabalho e música para Roy - “A Lei da Fuga” é um western de Roy Rogers com uma história interessante por fugir do lugar comum dos enredos dos westerns B e se situar no conflito entre Norte e Sul. Coloca dois irmãos em lados opostos com a mocinha pendendo entre ambos, o que torna o filme ainda mais saboroso pois o espectador torce para que ela não fique com o vilão e sim com o mocinho. O enredo mais complexo que de hábito reduz as ações e Roy Rogers não tem oportunidade de mostrar a força de seus punhos ou mesmo de longos galopes montando Trigger. Melhor que tudo, porém, é que a história não dá margem a Roy de enxertar muitos números musicais, mas para não perder o costume, o ex-membro do The Sons of the Pioneers que ainda não era ‘O Rei dos Cowboys’, canta “Night on the Prairie”, única canção que ele entoa. O excelente Milburn Stone interpreta o atormentado irmão de Roy, dividido entre honrar o nome da família e a causa na qual acredita. E num raro caso de homem mau que provoca a própria morte, o personagem de Stone intenta uma suicida fuga enquanto seu irmão no filme (Roy) se vê incapaz de atirar contra ele, no melhor momento de “A Lei da Fuga”. O roteiro pró-Norte de autoria de Louis Stevens e Harrison Jacobs faz com que os confederados pareçam uma quadrilha que intenta reverter o poder legítimo da União, o que deve ter desagradado e muito os sulistas de modo geral.

Acima Gabby Hayes e Maude Eburne;
abaixo Milburn Stone.
Um sidekick adorado - Milburn Stone revelou-se nos anos 30 um promissor ator, o que se confirmou nos anos 40 definindo-se como ator característico. Uma de suas pequenas mas marcantes participações foi em “A Mocidade de Lincoln”, dirigido por John Ford. A consagração de Milburn veio nos anos 50 com a série “Gunsmoke”, interpretando o mal-humorado e irônico Doc Adams em 604 dos 635 episódios da série western campeã de longevidade da TV norte-americana. A mocinha de “A Lei da Fuga” é a bonita e elegante Pauline Moore que foi consagrada modelo antes de se tornar atriz. Pauline foi a mocinha de quatro faroestes de Roy Rogers no ano de 1940. Entre a enorme lista de coadjuvantes conhecidos por seus rostos (ou bigode, como Hank Bell), está a engraçada Maude Eburne, que sofre as provocações do misógino Gabby Hayes. Roy Rogers revela-se um perfeito cowboy nos westerns em série da Republic e muito ajudou a companhia de George Gabby Hayes como seu, então, mais constante sidekick. Gabby foi o mais querido ‘boboca’ (de bobo ele não tinha nada) dos westerns B, confirmando, quando as oportunidades surgiam, que era ótimo ator.

O mais explorado dos mocinhos - Para que se tenha uma ideia do quanto os westerns de Roy Rogers faziam sucesso entre o público das matinês, merece ser lembrado que em seu primeiro contrato com a Republic Roy recebia 75 dólares por semana de trabalho. Em 1948, quando findou seu último contrato longo, Roy estava recebendo mil dólares por semana. A partir daí Roy passou a receber 60 mil dólares por dois anos de contrato. Quando a Republic percebeu que poderia perder a mina de dinheiro chamada Roy Rogers, em 1950, decidiu pagar ao ator 25 mil dólares por filme, até que o Rei dos Cowboys se bandeou para a televisão, onde passou a produzir sua própria série, isto depois de ser explorado por quase 20 anos pelo sovina Herbert J. Yates. Menos mal que o cinema ganhou uma coleção de bons westerns B como “A Lei da Fuga”.
À direita Pauline Moore e Milburn Stone.

18 de novembro de 2014

COWBOYS EM DESFILE (TRAIL OF ROBIN HOOD) – WESTERN NATALINO DE ROY ROGERS


Mestre Clóvis Ribeiro e Lázaro Narciso Rodrigues assistiram a centenas de westerns-B, boa parte deles nos cinemas nos anos 50. E para esses dois cinéfilos “Cowboys em Desfile” (Trail of Robin Hood é o melhor de todos os faroestes-B. Estrelado por Roy Rogers e dirigido por William Witney, não há nenhuma surpresa em “Cowboys em Desfile” ser um filme com sequências de ação muito acima da média dos ‘bezinhos’ que naquele tempo eram ainda produzidos às dezenas. Witney dirigiu Roy Rogers 26 vezes, a partir de 1946, mudando a carreira do ‘Rei dos Cowboys’ ao reduzir os números musicais de seus filmes e torná-los mais movimentados, aproveitando esplendidamente a vitalidade e simpatia de Roy. “Cowboys em Desfile” é um faroeste que se assiste com grande prazer e enorme nostalgia, mas que também provoca admiração por seu quase onírico roteiro com situações inimagináveis em filmes do gênero. Certamente essa é uma das razões que levam Clóvis e Lázaro (vistos nas fotos à direita) a gostar tanto desse faroeste produzido em 1950 pela Republic Pictures.


Acima Clifton Young, Jack Holt e Roy
Rogers; abaixo James Magill e Young.
Pinheiros de graça para as crianças - O autor da história é Gerald Geraghty, que coloca Roy (como se tornara hábito) num western contemporâneo em que não falta automóvel. Roy Rogers é um agente de conservação florestal dos Estados Unidos que chega à cidade de Glenn Rock para verificar se está sendo respeitado o controle do corte de árvores. Roy surpreende alguns homens roubando pinheiros da propriedade de Jack Holt. Veterano mocinho (e bandido muitas vezes) de filmes desde o cinema mudo, Holt se aposentou e passou, neste esdrúxulo roteiro, a se dedicar ao plantio e corte de pinheiros para ornamentar as festas natalinas. O velho Holt vende as árvores abaixo do preço de custo para satisfazer as famílias pobres, especialmente as crianças. A benemerência de Jack Holt afeta os lucros do concorrente Aldridge (Emory Parnell) que inconformado com a prática não lucrativa de Holt tenciona atrapalhar suas simbólicas vendas. Toby (Penny Edwards), filha de Aldridge resolve apressar a vontade do pai e com o capataz Mitch McCall (Clifton Young) decide sabotar Holt e destruir seus pinheiros. McCall orienta a queima das árvores de Holt, o que só não acontece pela providencial ação de Roy Rogers. O agente governamental consegue sozinho dar conta de McCall e seus capangas, mas necessita de homens para conduzir as muitas carroças carregadas de pinheiros. Chamados pela menina Sis (Carol Nugent), um fantástico grupo de mocinhos do cinema surge em Glenn Rock para conduzir as carroças. A esta altura tanto Aldridge como sua filha Toby se sensibilizaram com o gesto humanitário de Holt e ajudam a tornar mais feliz o Natal das famílias modestas abrindo mão dos interesses financeiros.

As chegadas de Rocky Lane e Monte Hale;
o encontro de Roy e Gordon Jones com Rex Allen.
Roy Rogers cercado de mocinhos - Os executivos da Republic Pictures sabiam que os pequenos frequentadores das matinês elegiam seus ídolos e que Roy Rogers há tempos era, entre todos, o mocinho mais querido. Mas os engravatados não desconheciam o imaginário da garotada que sonhava ver os heróis juntos em algum filme. Só assim para comprovar que Rocky Lane era melhor que Roy Rogers ou vice-versa. Os fãs já haviam visto alguns mocinhos reunidos em “Out California Way”, faroeste estrelado por Monte Hale e com participação pequena de Roy Rogers, Rocky Lane e Don ‘Red’ Barry.  O chefão do estúdio Herbert J. Yates resolveu então dar um presentão no Natal de 1950 para a garotada e colocar num mesmo filme não só Rocky Lane e Roy Rogers, mas também outros mocinhos ‘top’ da Republic como Rex Allen e Monte Hale. Alguns, cuja fama declinara nos últimos anos como Tom Tyler e Ray ‘Crash’ Corrigan, também foram escalados; e mocinhos de menor expressão como Kermit Maynard e Tom Keene foram igualmente convocados. Dos tempos do cinema mudo foi lembrado William Farnum e até um notório bandidão – George Chesebro – se apresentou para ajudar Roy Rogers. Isso era muito mais que os pequenos fãs imaginavam ver, ainda que ação de verdade tenha ficado mesmo para o ‘Rei dos Cowboys’, seu cão Bullet e o cavalo Trigger.

Roy Rogers e os convidados de "Cowboys em Desfile": em pé vemos
Tom Tyler, Ray 'Crash' Corrigan, Allan 'Rocky' Lane, Monte Hale,
George Chesebro e Kermit Maynard; agachados estão Tom Keene,
Roy Rogers e William Farnun.

Gordon Jones e Carol Nugent
Duelo de roupas extravagantes - Se todos esses convidados se limitaram a pequenas aparições na tela, Roy Rogers está melhor que nunca, tanto nas lutas contra os vilões quanto mostrando sua elegância e galopando Trigger naquele que é um dos mais belos quadros do cinema western. Respeitando a ausência de Dale Evans, Roy não corteja a deliciosa mocinha Penny Edwards. Roy e Penny travam um extravagante duelo de pouco discretas vestimentas criadas pelos costureiros da Republic, duelo ainda mais acirrado que as lutas contra Clifton Young, James Magill e Lane Bradford. Em “Cowboys em Desfile” o boboca é Gordon Jones, ele que dez anos antes havia sido o herói ‘Besouro verde’ do seriado da Universal. E o simpático Jones não deixa ninguém sentir saudade de Smiley Burnette, ao fazer dupla com a garota esperta (sem ser chata) Carol Nugent. Com os belíssimos cenários do Lago e do Vale Big Bear no Parque Nacional de San Bernardino, com apenas três ou quatro canções executadas parcialmente por Roy com o auxílio de Foy Willing e os Riders of the Purple Sage, este é mesmo um western muito especial.

Os muitos trajes de Roy Rogers e Penny Edwards.

Jack Holt em "Dead Man's Gulch".
Na trilha de quem mesmo? - Neste western Penny Edwards chega sempre em um Lincoln Custom Convertible modelo 1950, mas quando há necessidade de se apagar um incêndio no filme, o carro de bombeiros parece ter saído de um short dos Comedy Capers, as comédias curtas do cinema mudo. Possivelmente pela primeira vez um western-B faz uso de imagens homenageando um antigo ídolo, quando Jack Holt aparece num excerto de um filme intitulado “Dead Man’s Gulch”. E no quarto onde Jack Holt convalesce há quadros com fotos suas, de outros mocinhos e até de seu filho Tim Holt. Como se sabe, Jack era pai também de Jennifer Holt, mocinha de muitos faroestes. Entre os ‘convidados especiais’, o que tem o melhor momento é o veterano George Chesebro, ignorado pela roda de mocinhos que se recusa a cumprimentá-lo devido à sua ‘folha corrida’ repleta de todo tipo de ato criminoso. Chesebro estica a mão e seu cumprimento é recusado, até ele lembrar que ele era facinoroso só no cinema, onde começara em 1915. Atraído pelo título original “Trail of Robin Hood” (Trilha de Robin Hood), o espectador espera qualquer ilação com o herói das florestas de Sherwood. Qual o que... Ninguém sequer lembra de Robin Hood em “Cowboys em Desfile”.

Carol Nugent olhando as fotos dos ídolos das matinês.

Publicidade inserida sobre os
rostos dos mocinhos.
A logomarca sem limites – Infelizmente a cópia em DVD de “Cowboys em Desfile” que circula no Brasil tem a chancela da empresa Cinetvnostalgia que coloca sua marca intrusivamente durante grande parte do filme. Isso mesmo sendo essa cópia em DVD extraída de forma precária de uma fita VHS. A pretexto de propaganda, Paulo Tardin entende que sua logomarca deva aparecer em todo lugar, mesmo sobre o rosto dos atores, preferencialmente nos momentos de dramaticidade. Esse é um verdadeiro atentado ao bom senso e que expressa desrespeito às obras cinematográficas. A Republic Pictures tinha entre seu grupo de técnicos os irmãos Howard e Theodore Lydecker, responsáveis pelos célebres efeitos especiais de filmes e seriados do estúdio. Verdadeiros experts do processo de miniaturização, em “Cowboys em Desfile” a arte dos Lydecker pode ser constatada na destruição de uma ponte que é queimada, tudo com pequena despesa graças à genialidade da dupla e seu econômico processo. Incontáveis foram as emoções que eles proporcionaram à privilegiada geração que dominicalmente via seus trabalhos especialmente nos seriados. Muitos DVDs com esses filmes em capítulos da Republic Pictures foram lançados no Brasil com excelente imagem e sem logomarcas abomináveis. Neles se comprova a criatividade de Howard e Theodore Lydecker.

Na primeira foto a ponte em tamanho natural; nas demais a
miniaturização dos irmãos Lydecker sendo destruída.

O Rei dos Cowboys do cinema.
A trilha que levou à TV – “Cowboys em Desfile” foi lançado no Natal de 1950 e Roy Rogers ainda atuaria em outros cinco filmes para a Republic Pictures, até seu contrato terminar, ele deixar de ser explorado e se libertar do jugo a que eram submetidos os contratados daquele estúdio. Em 1951 o ator criaria sua produtora e seria visto semanalmente na televisão, a grande inimiga dos westerns-B, com o “The Roy Rogers Show”. Por muitos anos Clóvis Ribeiro e Lázaro Narciso Rodrigues passariam a vibrar com as aventuras do Rei dos Cowboys em preto e branco numa tela de 20 polegadas. Mas assim como tantos outros fãs jamais se esqueceram de “Cowboys em Desfile”, o irresistível western-B filmado em Trucolor que reuniu os mocinhos dos tempos dourados das matinês.


Mocinhos conduzindo os pinheiros: Rocky Lane, Rex Allen e
Monte Hale; no centro Tom Tyler, Ray Corrigan e Tom Keene;
abaixo Kermit Maynard e Bill Farnum; Roy Rogers e Trigger.
O automóvel de Penny Edwards em "Cowboys em Desfile" e um
exemplar do mesmo modelo, Lincoln Custom Convertible 1950.

16 de dezembro de 2011

"O MÉDICO DA ROÇA" (Bells of Coronado) - ROY ROGERS SOB A BATUTA DE WILLIAM WITNEY


Após assistir a "O Médico da Roça" (Bells of Coronado), duas perguntas são inevitáveis: Por que não foi dada a Roy Rogers a oportunidade de continuar fazendo no cinema westerns B na mesma linha de Randolph Scott e Audie Murphy? Por que William Witney nunca teve chance de dirigir um western com melhor orçamento? É fato conhecido que, antevendo o fim dos séries westerns "B", Roy Rogers criou sua própria produtora e passou a se dedicar à televisão com o "Roy Rogers Show", programa que fez a alegria de uma nova geração de crianças e adolescentes, assim como o "Rei dos Cowboys" havia feito no cinema com a geração anterior. Quanto a William Witney, prosseguiu sua carreira com alguns poucos trabalhos para o cinema, sempre filmes de orçamento reduzido, dirigindo ainda um enorme número de episódios das mais diferentes séries de TV, em sua grande maioria westerns. A qualidade de "O Médico da Roça" permite imaginar que Roy Rogers alcançaria sucesso pelo menos igual àqueles conseguidos por Randy Scott e Audie Murphy; e quanto a William Witney, com mais recursos financeiros, certamente brindaria os fãs com faroestes de alto calibre.


ROY ROGERS EM BUSCA DO URÂNIO - A história de "O Médico da Roça" é de autoria de Sloan Nibley, responsável pelos roteiros dos westerns de Roy Rogers a partir de "Os Sinos de San Angelo" (Bells of San Angelo). Desta vez Nibley coloca Roy Rogers como um investigador de uma seguradora que deve descobrir a causa da morte de George Perez (Jack Low), o proprietário de uma mina. Perez é atacado próximo a uma barragem quando transportava uma carga de urânio e cai da barragem. A valiosa carga é roubada por um grupo de bandidos e a missão de Roy é descobrir não só a causa da morte de Perez como o paradeiro da preciosa carga. Roy Rogers se faz passar por um empregado do novo proprietário da mina, homem mal-encarado chamado Craig Bennett (Grant Withers) cuja intenção é recuperar o urânio roubado. Pam Reynolds (Dale Evans), a atrapalhada secretária de Bennett é responsável por Roy Rogers se aproximar de Ross (Clifton Young) e do Dr. Frank Harding (Leo Cleary). Roy consegue descobrir que o médico é o responsável pela morte de Perez e que o Dr. Harding ajudado por seu capanga Ross havia negociado a venda do urânio para agentes de outro país. Quando a carga está prestes a ser embarcada num pequeno avião, Roy, ajudado por Robert Bice (Jim Russell), um agente da Receita Federal consegue chegar a tempo de impedir o grande prejuízo que estava prestes a ser sofrido por seu país, desbaratando a quadrilha do Dr. Harding.

FAROESTE CONTEMPORÂNEO - "O Médico da Roça", rodado em 1950, é, a exemplo dos últimos westerns da série de Roy Rogers para  Republic Pictures, um faroeste contemporâneo, com a presença de automóvel, avião, barragem, torres hidrelétricas e outras modernidades incomuns no Velho Oeste. O roteirista Sloan Nibley substitui o clássico roubo de dinheiro ou ouro pelo desaparecimento da carga de urânio, além de incluir agentes internacionais que contrabandeiam a posse do disputado minério. Esse tema vinha sendo comum no cinema norte-americano desde a década de 40 e um dos primeiros filmes a tratar do assunto foi "Alma Torturada" (1942), com Alan Ladd. Sem nenhum pudor Nibley faz da espionagem internacional e da Guerra Fria o pano de fundo para esta complexa trama. Lembrando os intrincados roteiros dos filmes noir, ocorrem em "O Médico da Roça" uma série de inesperadas alternâncias e bandidos como os personagens de Grant Withers e Robert Bice tornam-se agentes do Bem contra insuspeitos traidores de Tio Sam, como o médico da roça interpretado por Leo Cleary. Porém a trama é fácil de ser seguida porque "O Médico da Roça" foi produzido para as 'Saturday Afternoons' nos Estados Unidos ou as Matinês Dominicais, aqui no Brasil. Já acostumado com as mais inusitadas fórmulas físicas e químicas dos seriados dos anos 30 e 40, o público jovem estava preparado para um roteiro de faroeste em que a trama envolvesse contador Geiser, injeção letal e até mesmo uso do soro da verdade. E Roy Rogers lida com tudo isso com a mesma facilidade com que cavalgava Trigger, o cavalo mais esperto do Velho Oeste.

Algumas das muitas cenas que levavam ao delírio os pequenos frequentadores das matinês.

A GRAÇA DE DALE EVANS - Todos esses ingredientes nas mãos de William Witney fazem de "O Médico da Roça" um espetacular e divertidíssimo faroeste com mistério, suspense e muita ação seja com lutas, tiroteios, perseguições a cavalo ou mesmo escalando uma torre de transmissão. Merece destaque especial o trabalho empolgante dos stuntmen Duke Green, Ken terrell e Henry Rowland. Roy é a grande estrela do elenco que tem Grant Withers na linhagem dos melhores bandidos da Republic, conseguindo enganar até o espectador. O bandido que enfrenta Roy de verdade é Clifton Young,  ex-componente dos endiabrados petizes da Our Gang Kids das comédias curtas dos anos 30. O conjunto musical que acompanhou Roy Rogers nessa fase de sua carreira foi o "Riders of the Purple Sage", liderado por Foy Willing. Aqueles que não apreciam os números musicais nos faroeste terão que ter pequena dose de paciência pois apenas três números musicais ("Bells of Coronado," "Got No Time for the Blues," e "Save a Smile for a Rainy Day") fazem parte da trilha sonora de "O Médico da Roça". E mesmo Pat Brady deixa os momentos de comédia para Dale Evans, "A Rainha do Oeste", desta vez bastante engraçada, diferentemente de sua habitual seriedade. Rodado no processo Trucolor, exclusivo da Republic Pictures e filmado em belas locações em Little Rock e em Sand Canyon Road, na Califórnia, este western de William Witney é um ótimo programa para quem gosta de faroestes e indispensável para os fãs do "Rei dos Cowboys" Roy Rogers.

Acima Roy Rogers ao lado do Mestre dos Westerns-B William Witney;
abaixo Roy com Foy Willing (à direita) e os Riders of the Purple Sage

1 de dezembro de 2011

CIDADE SINISTRA (The Carson City Kid) – ROY ROGERS PASSA DE BANDIDO A MOCINHO


Em “Cidade Sinistra” (The Carson City Kid) Roy Rogers vive um bandido, mas esta não foi a primeira vez em que Roy interpretou um bom fora-da-lei. Roy já havia dado trabalho ao mocinho Gene Autry em 1936 em “No Velho Rancho” (The Old Corral), quando travaram luta a socos vencida por Gene e quando Roy ainda atendia pelo nome artístico de Leonard Slye; em 1938 Roy Rogers interpretou Billy the Kid em “Billy the Kid Returns” sem nenhum comprometimento com a verdadeira história do famoso bandido. Em 1941 Roy teria a falsa identidade de Jesse James em “Jesse James at the Bay”. Nesse mesmo ano Roy interpretaria um ex-confederado que age como um fora-da-lei a la Robin Hood em “Robin Hood do Oeste” (Robin Hood of the Pecos). A garotada ficava um pouco surpresa a princípio ao ver Roy como homem mau, mas sabia que com o decorrer do filme ele se transformaria em mocinho, o que acontece em “Cidade Sinistra”.


ROY ROGERS, O FORA-DA-LEI - Neste western dirigido por Joseph Kane em 1940, Roy Rogers é um bandido que tenta encontrar o homem que matou seu irmão mais jovem. Roy é chamado de “O Rapaz de Carson City”. O assassino que Roy procura é Lee Jessup (Bob Steele), o dono de um saloon em Sonora. Roy consegue emprego no saloon de Jessup onde a estrela é Joby (Pauline Moore), que se enamora de Roy. O desonesto Jessup rouba o minerador Scott ‘Arizona’ Warren (Noah Beery Jr.) na mesa de pôquer para ficar com a propriedade da vítima. Porém Roy se torna amigo de Scott, assim como do atrapalhado xerife Gabby Whitaker (George Gabby Hayes). Ao final Roy desmascara Jessup, a quem alveja numa troca de tiros no saloon. A bala disparda por Jessup acerta de forma aparentemente mortal o xerife Whitaker, porém este é salvo milagrosamente por um recipiente de metal que traz dentro do casaco. Gabby Whitaker, mais vivo que nunca, encarcera o resto dos homens de Jessup. Nas fotos à direita, Roy Rogers e George Gabby Hayes (acima); Roy Rogers cavalgando Trigger ao lado do malfeitor Francis McDonald.

ELENCO ESPECIAL - Este é um dos melhores filmes da fase inicial de Roy Rogers, quando ele ainda não havia levado para o cinema sua identificação como o mocinho Roy Rogers, o que só passaria a acontecer a partir de 1941 com o faroeste “Red River Valley”. O elenco bastante bom destaca Bob Steele como o bandidão que conta com o ótimo Francis McDonald e Hal Taliaferro do seu lado. Gabby Hayes não atua como sidekick mas é sempre engraçado. Há espaço para muitos rostos conhecidos como Hank Bell (e seu bigodão), Jack Rockwell, Olin Francis e os inseparáveis irmãos Ralph e Roy Bucko. Yakima Canutt tem uma interessante participação como bartender desonesto auxiliando Bob Steele na mesa de pôquer. A mocinha é Pauline Moore. O quarto nome do elenco é o de Noah Beery Jr. que aos 27 anos já havia participado de filmes desde criança uma vez que seu pai era o grande vilão Noah Beery e seu tio o famoso ator Wallace Beery. A Republic Pictures bem que tentou, mas Noah Beery Jr. nunca chegou ao time dos grandes mocinhos, fazendo porém brilhante carreira no cinema e televisão, especialmente em faroestes. Nas fotos à direita, Bob Steele, um dos melhores mocinhos dos westerns "B" e a linda Pauline Moore.

INSPIRAÇÃO EM MARLENE DIETRICH - Desnecessário dizer que a ação é de primeira qualidade pois entre os stuntmen de “Cidade Sinistra” estão os nomes de Yakima Canutt, Cliff Lyons e Henry Wills. Roy Rogers canta apenas trechos de duas canções, deixando o espaço musical para Pauline Moore (dublada) se exibir no saloon com as canções “The Golddigger Song” e “You’re the One”. Certamente Joseph Kane deve ter assistido “Atire a Primeira Pedra” (Destry Rides Again) no ano anterior a esta produção e se inspirado em Marlene Dietrich para compor a personagem da acanhada Pauline Moore. Dirigido aos saudosos fãs do faroestes “B”, “Cidade Sinistra” agrada aos fãs do gênero e mais ainda os fãs do Rei dos Cowboys, Roy Rogers.

O jovial Roy Rogers em "Cidade Sinistra" com um cinto que lembra o
usado por Alan Ladd em "Shane"; na outra foto Roy com roupa de vilão
numa clássica pose com Trigger, o cavalo mais esperto do Oeste.