UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

16 de dezembro de 2011

"O MÉDICO DA ROÇA" (Bells of Coronado) - ROY ROGERS SOB A BATUTA DE WILLIAM WITNEY


Após assistir a "O Médico da Roça" (Bells of Coronado), duas perguntas são inevitáveis: Por que não foi dada a Roy Rogers a oportunidade de continuar fazendo no cinema westerns B na mesma linha de Randolph Scott e Audie Murphy? Por que William Witney nunca teve chance de dirigir um western com melhor orçamento? É fato conhecido que, antevendo o fim dos séries westerns "B", Roy Rogers criou sua própria produtora e passou a se dedicar à televisão com o "Roy Rogers Show", programa que fez a alegria de uma nova geração de crianças e adolescentes, assim como o "Rei dos Cowboys" havia feito no cinema com a geração anterior. Quanto a William Witney, prosseguiu sua carreira com alguns poucos trabalhos para o cinema, sempre filmes de orçamento reduzido, dirigindo ainda um enorme número de episódios das mais diferentes séries de TV, em sua grande maioria westerns. A qualidade de "O Médico da Roça" permite imaginar que Roy Rogers alcançaria sucesso pelo menos igual àqueles conseguidos por Randy Scott e Audie Murphy; e quanto a William Witney, com mais recursos financeiros, certamente brindaria os fãs com faroestes de alto calibre.


ROY ROGERS EM BUSCA DO URÂNIO - A história de "O Médico da Roça" é de autoria de Sloan Nibley, responsável pelos roteiros dos westerns de Roy Rogers a partir de "Os Sinos de San Angelo" (Bells of San Angelo). Desta vez Nibley coloca Roy Rogers como um investigador de uma seguradora que deve descobrir a causa da morte de George Perez (Jack Low), o proprietário de uma mina. Perez é atacado próximo a uma barragem quando transportava uma carga de urânio e cai da barragem. A valiosa carga é roubada por um grupo de bandidos e a missão de Roy é descobrir não só a causa da morte de Perez como o paradeiro da preciosa carga. Roy Rogers se faz passar por um empregado do novo proprietário da mina, homem mal-encarado chamado Craig Bennett (Grant Withers) cuja intenção é recuperar o urânio roubado. Pam Reynolds (Dale Evans), a atrapalhada secretária de Bennett é responsável por Roy Rogers se aproximar de Ross (Clifton Young) e do Dr. Frank Harding (Leo Cleary). Roy consegue descobrir que o médico é o responsável pela morte de Perez e que o Dr. Harding ajudado por seu capanga Ross havia negociado a venda do urânio para agentes de outro país. Quando a carga está prestes a ser embarcada num pequeno avião, Roy, ajudado por Robert Bice (Jim Russell), um agente da Receita Federal consegue chegar a tempo de impedir o grande prejuízo que estava prestes a ser sofrido por seu país, desbaratando a quadrilha do Dr. Harding.

FAROESTE CONTEMPORÂNEO - "O Médico da Roça", rodado em 1950, é, a exemplo dos últimos westerns da série de Roy Rogers para  Republic Pictures, um faroeste contemporâneo, com a presença de automóvel, avião, barragem, torres hidrelétricas e outras modernidades incomuns no Velho Oeste. O roteirista Sloan Nibley substitui o clássico roubo de dinheiro ou ouro pelo desaparecimento da carga de urânio, além de incluir agentes internacionais que contrabandeiam a posse do disputado minério. Esse tema vinha sendo comum no cinema norte-americano desde a década de 40 e um dos primeiros filmes a tratar do assunto foi "Alma Torturada" (1942), com Alan Ladd. Sem nenhum pudor Nibley faz da espionagem internacional e da Guerra Fria o pano de fundo para esta complexa trama. Lembrando os intrincados roteiros dos filmes noir, ocorrem em "O Médico da Roça" uma série de inesperadas alternâncias e bandidos como os personagens de Grant Withers e Robert Bice tornam-se agentes do Bem contra insuspeitos traidores de Tio Sam, como o médico da roça interpretado por Leo Cleary. Porém a trama é fácil de ser seguida porque "O Médico da Roça" foi produzido para as 'Saturday Afternoons' nos Estados Unidos ou as Matinês Dominicais, aqui no Brasil. Já acostumado com as mais inusitadas fórmulas físicas e químicas dos seriados dos anos 30 e 40, o público jovem estava preparado para um roteiro de faroeste em que a trama envolvesse contador Geiser, injeção letal e até mesmo uso do soro da verdade. E Roy Rogers lida com tudo isso com a mesma facilidade com que cavalgava Trigger, o cavalo mais esperto do Velho Oeste.

Algumas das muitas cenas que levavam ao delírio os pequenos frequentadores das matinês.

A GRAÇA DE DALE EVANS - Todos esses ingredientes nas mãos de William Witney fazem de "O Médico da Roça" um espetacular e divertidíssimo faroeste com mistério, suspense e muita ação seja com lutas, tiroteios, perseguições a cavalo ou mesmo escalando uma torre de transmissão. Merece destaque especial o trabalho empolgante dos stuntmen Duke Green, Ken terrell e Henry Rowland. Roy é a grande estrela do elenco que tem Grant Withers na linhagem dos melhores bandidos da Republic, conseguindo enganar até o espectador. O bandido que enfrenta Roy de verdade é Clifton Young,  ex-componente dos endiabrados petizes da Our Gang Kids das comédias curtas dos anos 30. O conjunto musical que acompanhou Roy Rogers nessa fase de sua carreira foi o "Riders of the Purple Sage", liderado por Foy Willing. Aqueles que não apreciam os números musicais nos faroeste terão que ter pequena dose de paciência pois apenas três números musicais ("Bells of Coronado," "Got No Time for the Blues," e "Save a Smile for a Rainy Day") fazem parte da trilha sonora de "O Médico da Roça". E mesmo Pat Brady deixa os momentos de comédia para Dale Evans, "A Rainha do Oeste", desta vez bastante engraçada, diferentemente de sua habitual seriedade. Rodado no processo Trucolor, exclusivo da Republic Pictures e filmado em belas locações em Little Rock e em Sand Canyon Road, na Califórnia, este western de William Witney é um ótimo programa para quem gosta de faroestes e indispensável para os fãs do "Rei dos Cowboys" Roy Rogers.

Acima Roy Rogers ao lado do Mestre dos Westerns-B William Witney;
abaixo Roy com Foy Willing (à direita) e os Riders of the Purple Sage

2 comentários:

  1. O meu desapontamento em jamais ter visto um filme sequer com estes antigos herois, quase chega a me aborrecer e me causa decepções. Tudo isto porque fico sem saber o que dizer quando as matérias se voltam para estes tão bem queridos heroiss de muitos e muitos filmes.
    E, se jamais vi um filme com eles, agora é que não verei mais mesmo, já que a TV seria o unico mecanismo que poderia me trazer esta emoção. E eles jamais farão isso. A Tv somente liga para coisas novas, filmes de lutas, tiros a ermo, explosões, herois intergaláticos e por ai adiante. Esquecem que ainda existe um publico que gosta de nostalgia, que valoriza filmes em generos diferentes e posturas vanguardistas.
    Mas é esperar demais de quem jamais nos dará nada disso.
    jurandir_lima@bol.com.br

    ResponderExcluir
  2. Jurandir, temos a mesma idade e aqui em SP peguei já o finalzinho das séries Bs. Vi pouca coisa. O que conheço é daquilo que o Tardin, Nelson Pecoraro, Archimedes Lombardi, Ângelo Paulino e outros resgataram através de telecinagem das sobras das TVs. Mais tarde começou a chegar muita coisa dos canais a cabo dos States. Hoje há muita coisa à venda nos sites de vendas de DVD.
    Um abraço.

    ResponderExcluir