Sergio Leone afirmou certa vez que não dava destaque às mulheres em seus
filmes porque a presença feminina tornava os faroestes monótonos. E como
exemplo citou “Sem Lei e Sem Alma”, dizendo que cada vez que Rhonda Fleming
surgia na tela o western de John Sturges se tornava lento e perdia a graça.
Estranhamente, em “Era Uma Vez no Oeste”, o último faroeste do diretor
italiano, o principal personagem é ‘Jill’, uma mulher interpretada por Claudia
Cardinale. Leone pode até ter razão em sua teoria sobre a presença de mulheres
em faroestes, mas que Rhonda Fleming transformou cada western em que atuou numa
festa para os olhos dos espectadores, isso é indiscutível. Neste ano de 2013
Rhonda Fleming completa 90 anos de idade e sua fulgurante beleza nunca será
esquecida, ela que foi uma das mulheres mais bonitas do cinema norte-americano.
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Rhonda Fleming em seu primeiro filme como estrela, ao lado de Bing Crosby. |
Olha que coisa mais linda... pelas ruas de
Hollywood - Nascida em Hollywood em 10 de agosto de 1923 com o nome de
Marilyn Louis, a bonita adolescente era fã de Deanna Durbin, jovem atriz que
fazia enorme sucesso atuando e cantando no cinema. Enquanto sonhava vir a ser
uma nova Deanna Durbin, Marilyn foi descoberta pelo caçador de talentos Henry
Wilson que, segundo se conta, a viu andando por uma avenida em Hollywood em
direção ao colégio, com os livros sob o braço. Wilson parou a moça e perguntou
se ela queria ser atriz. A mãe de Marilyn, Effie Graham, que havia sido uma
modelo famosa e gostaria de ver sua filha no show-business deu, claro, a maior
força. A primeira aparição de Marilyn no cinema, já com o nome artístico ‘Rhonda
Fleming’, foi como dançarina em “Quando a Mulher se Atreve" (Old Oklahoma), western com John Wayne e Martha
Scott, em 1943. É necessário procurar por Rhonda em meio às demais dançarinas.
Em 1944 Rhonda participou do filme noir “Uma Estranha Aventura”, num papel
maior e contracenando com outro jovem pretendente ao estrelado que atendia pelo
nome de Robert Mitchum. Em 1945 Rhonda Fleming teve destacada participação em “Quando
Fala o Coração”, de Alfred Hitchcock, estrelado por Gregory Peck e Ingrid
Bergman. Em seguida Rhonda atuou em “Silêncio nas Trevas” (com Dorothy McGuire)
e “Fuga ao Passado” (outra vez com Robert Mitchum). O filme que fez de Rhonda
uma estrela mais conhecida nos meios cinematográficos foi o musical “Na Corte
do Rei Arthur”, no qual ela canta em parceria com o astro do filme, Bing
Crosby. Foi com esse filme em Technicolor que a beleza de Rhonda impressionou
vivamente, fazendo com que nos filmes seguintes ela passasse a ser chamada pelo
apelido de ‘Queen of Technicolor’.
Quando começou no cinema, Rhonda Fleming já estava casada e tinha um filho,
tendo se divorciado do primeiro marido em 1948.
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Acima à esquerda Rhonda com Lloyd Bridges; à direita entre Ronald Reagan e Bruce Bennett; abaixo Rhonda entre John Payne e Dennis O'Keefe. |
Rhonda e Ronald - Rhonda
Fleming atuaria em sua carreira em doze faroestes, sendo o primeiro deles “Rua
dos Conflitos” (Abilene Town), com Randolph Scott, em 1946. No elenco estavam
ainda Ann Dvorak e Lloyd Bridges que fazia o par romântico de Rhonda. Veio a
seguir “A Águia e o Gavião” (The Eagle and the Hawk) (1950), com John Payne, ator
com quem Rhonda faria ainda outros três filmes. Em 1951 Rhonda contracenou com
Glenn Ford em “A Mensagem dos Renegados” (The Redhead and the Cowboy). Durante
as filmagens Rhonda sofreu um acidente por culpa de Glenn Ford, de quem Rhonda
se tornou grande amiga até a morte. Glenn, disse à amiga que a cena que estavam
filmando ficaria melhor se ela própria montasse um cavalo que desenvolveria um
rápido galope e depois estancaria bruscamente, o que ela aceitou. Quando a cena
estava sendo rodada, Rhonda foi jogada ao chão e pisoteada pelo animal. Por
verdadeiro milagre ela saiu ilesa, sem quebrar nenhum osso e sem ter seu lindo
rosto sequer arranhado pelos cascos do cavalo. Nesse mesmo ano de 1951 Rhonda
atuou em “A Revolta dos Apaches” (The Last Outpost), tendo Ronald Reagan como
galã. Rhonda e Ronald simpatizaram instantaneamente um com o outro e se
tornaram também grandes amigos embora Rhonda tivesse confessado mais tarde que,
nos intervalos das filmagens, o ator preferia ficar junto dos outros atores e
homens da equipe, dominando a roda onde só se falava de política.
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Acima Rhonda e Stewart Granger; à direita desenho de "A Audácia é Minha Lei"; abaixo Rhonda com Charlton Heston. |
Sem lei, sem alma e sem Rhonda - Em seu
próximo western, em 1953, Rhonda Fleming contracenou com Charlton Heston em “As
Aventuras de Buffalo Bill” (Pony Express), filme em que disputava Buffalo Bill
(Heston) com Jan Sterling. Claro que Rhonda foi a vitoriosa pois a ótima atriz
Jan Sterling não era páreo para a beleza da exuberante ruiva. Em 1955 Rhonda se
reencontraria no mesmo faroeste com dois atores que admirava muito: Ronald
Reagan e John Payne, no ótimo “A Audácia é Minha Lei” (Tenneessee’s Partner). O
ano de 1957 deu a Rhonda Fleming a oportunidade de atuar ao lado de dois dos
maiores astros de Hollywood dos anos 50, que eram Burt Lancaster e Kirk
Douglas, em “Sem Lei e Sem Alma” (Gunfight at the OK Corral). Lamentavelmente
Wyatt Earp (Lancaster) e Doc Holliday (Douglas) interessavam-se mais um pelo
outro do que pela, mais linda do que nunca, Rhonda Fleming, num grande
desperdício cinematográfico. Talvez até por isso Leone tenha dito a frase
famosa lá do primeiro parágrafo. Ainda em 1957 foi a vez do inglês Stewart
Granger ter nos braços Rhonda Fleming no western “A Arma de um Bravo” (Gun
Glory), também em Technicolor, realçando a beleza da atriz, sempre lembrada
quando se falava dos mais belos rostos de Hollywood. Aquele time formado por
Elizabeth Taylor, Kim Novak, Rita Hayworth, Natalie Wood, Ava Gardner e poucas
outras. No caso de Rhonda, não era apenas o rosto que era admirado, mas também
seu corpo escultural.
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Cenas de "Sem Lei e Sem Alma" que aparentemente não deixaram o personagem de Rhonda Fleming muito satisfeito. |
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Desenho de "A Vingança Deixa a Sua Marca" (acima); abaixo Rhonda com Bob Hope. |
A Rainha do Technicolor - Em 1958
Rhonda Fleming foi estrela do elenco de “A Vingança Deixa a Sua Marca”
(Bullwhip), ao lado de Guy Madison. Para esse pequeno faroeste Rhonda teve que
aprender a usar o chicote com o qual se impõe sobre os cowboys do filme. Em
1959 a United Artists produziu um faroeste com Bob Hope, ou seja, um
western-comédia, intitulado “Valentão é Apelido” (Alias, Jesse James). Muitos
astros famosos fizeram pequenas participações nesse filme, entre eles Gary
Cooper, Roy Rogers, James Arness, Hugh O’Brian, Gail Davis, Bing Crosby e Jay
Silverheels. Nenhum desses astros porém ofuscou o brilho da beleza de Rhonda
Fleming que parecia cada vez mais bonita a cada filme que fazia. E Rhonda, que
foi uma das estrelas que mais atuou em faroestes no anos 50, aparecia bem em
filmes de qualquer outro gênero, especialmente naqueles filmados em cores. O
Technicolor, processo do qual Rhonda foi a Rainha, era imperioso em seus
filmes, uma vez que em películas filmadas em preto e branco, o provocante tom avermelhado
de seus cabelos e a beleza de seus olhos verdes perdiam bastante. Decididamente
o preto e branco não era para uma beleza do cinema como Rhonda Fleming que,
mesmo sem jamais comprometer com suas interpretações, não teve jamais a
pretensão de ser uma atriz do naipe de Katharine Hepburn, Barbara Stanwyck,
Audrey Hepburn, Deborah Kerr e outras grandes atrizes dramáticas.
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A Cleópatra Rhonda Fleming. |
Voz afinada e muito sensual - Em sua
vida pessoal, Rhonda Fleming se casaria pela segunda vez com o médico Dr. Lewis
Morrell, casamento que perdurou de 1952 a 1958. Fora do gênero western Rhonda
mostrou igualmente sua beleza e simpatia, sendo estes os seus filmes mais
conhecidos nos anos 50: “Mercado de Paixões” (com Mark Stevens); Hong Kong” e “O
Carrasco do Trópicos” (ambos com Ronald Reagan); “Ouro dos Piratas” (com John
Payne); “O Falcão Dourado” (com Sterling Hayden); "Escravas do Harém" (com Jeff Chandler); “A Serpente do Nilo” (em que
interpretou Cleópatra); “O Assassino Anda à Solta” (dirigido por Budd
Boetticher); “No Silêncio de uma Cidade” (de Fritz Lang); “O Palhaço que não Ri”,
a biografia de Buster Keaton (com Donald O’Connor); “O Grande Circo” (com
Victor Mature). Quando se fez necessário cantar no cinema, Rhonda Fleming
mostrou ser dona de voz agradável e melodiosa. Em 1957 Rhonda gravou pelo selo
Time Records um long-playing intitulado “Rhonda Fleming Sings Just for You” com
impecáveis gravações de standards da canção norte-americana, como “Love or
Leave Me”, “I’ve Got you Under My Skin”, “Around the World” e outras. Quem já
ouviu esse álbum e outros gravados por Rhonda sabe que sua voz sensual leva o
ouvinte a saborosos devaneios.
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Rhonda Fleming em cena de "Pão de Açúcar". |
Rhonda no Pão de Açúcar - A partir
dos anos 60, Rhonda passou a atuar menos no cinema e mais em séries de TV. Em
1963 Rhonda veio ao Brasil filmar “Pão de açúcar”, ao lado do galã italiano Rossano
Brazzi, tendo participado desse filme a brasileira Odete Lara e o cantor Neil
Sedaka. Em 1965 Rhonda foi para a Itália filmar “Amor à Americana”, contracenando
com Ugo Tognazzi. Belíssima aos 53 anos de idade Rhonda foi um dos muitos nomes
conhecidos de “Won-Ton-Ton, o Cão que Salvou Hollywood”. Em 1980 Rhonda
participou de seu último filme, “A Bomba que Desnuda”, comédia com Don Adams. Quando
de sua passagem pelo Brasil para filmar “Pão de Açúcar”, os fãs e a imprensa se
admiraram com o tratamento carinhoso que Rhonda dedicava a todos, sem exceção,
comportamento distante da afetação dos astros que por aqui passavam. Rhonda fez
grandes amigos e conquistou a todos com sua impressionante beleza, mais
deslumbrante ainda ao vivo.
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Rhonda acima com Tedd Mann e abaixo com seu atual marido Darol W. Carlson. |
Criadora de projetos beneficentes - Rhonda
Fleming entrou nos anos 60 tentando mais uma vez encontrar a felicidade ao lado
do ator Lang Jeffries, com quem atuou em “A Revolta dos Escravos”, épico
filmado na Itália. O casamento com Jeffries durou apenas dois anos (1960-1962).
Em 1966 Rhonda se casou novamente, sendo seu quarto marido o ex-ator, escritor,
produtor e diretor Hall Bartlett com quem Rhonda permaneceu casada por seis
anos (1966-1972). Somente em 1978 Rhonda voltaria a se casar, desta vez com o
empresário do ramo de entretenimento Ted Mann, casamento no qual Rhonda
encontrou a felicidade e que terminou com a morte de Ted Mann em 2001. Rhonda e
Mann criaram inúmeras entidades beneficentes e, à medida que sua carreira como
atriz declinava, mais Rhonda se dedicava a causas humanitárias. A idade pouco
roubou da beleza de Rhonda Fleming, ao contrário de tantas estrelas que
envelheceram mal. Isso pode ser comprovado através de fotos de poucos anos atrás
com Rhonda participando como convidada de eventos. Essas fotos mostram uma
senhora muito bonita e muito mais jovem do que os quase noventa anos de idade
de Rhonda poderiam demonstrar. O último casamento de Rhonda Fleming, com Darol
Wayne Carlson, ocorreu em 2003, mantendo-se até o presente.
O carinho com os fãs brasileiros - Um
aspecto da personalidade de Rhonda Fleming que merece ser ressaltado é sua
enorme atenção e simpatia para com os fãs, inclusive brasileiros. Através de
sua secretária, Rhonda não deixa e-mail sem resposta, sempre querendo saber o
quanto ela é querida no Brasil. Em contatos com fãs, a atriz os presenteia com
revistas e envia-lhes graciosamente um de seus magníficos CDs, sempre com dedicatória. Esse carinho e
gentileza fazem com que Rhonda Fleming seja ainda mais querida e sempre
lembrada como a maravilhosa ‘The Queen of Technicolor’ e inesquecível atriz de
tantos e tantos faroestes. À direita a capa da revista 'Wildest Westerns', editada por Ed G. Lousararian e gentilmente enviada por Rhonda Fleming para o editor do WESTERNCINEMANIA. A atriz é a principal focalizada do número cinco da excelente 'Wildest Westerns', que lamentavelmente deixou de ser editada após alguns poucos números publicados.