UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

20 de junho de 2020

A DESFORRA DO ESTRANHO (JOE DAKOTA) – JOCK MAHONEY COMO PROTAGONISTA


William Talman; Spencer
Tracy, Ernest Borgnine
e Lee Marvin

Nos Estados Unidos leva-se muito a sério a questão do plágio e, por vezes, fortunas são pagas em direitos autorais quando se descobre algo que não é original. Por essa razão não se brinca com copiar alguma música ou história, o que não impede que, mesmo roteiros de cinema que tenham sido ‘inspirados’ por textos escritos por outros autores, se ‘esqueçam’ de dar crédito ao pai da ideia. Isto foi o que aconteceu com “Joe Dakota”, pequeno western produzido pela Universal em 1957 e estrelado por Jock Mahoney. Os roteiristas William Talman e Norman Jolley escreveram uma história que em tudo se parece com “Conspiração do Silêncio” (Bad Day at Black Rock), o clássico que John Sturges realizou em 1955 e que muitos consideram um western moderno. William Talman, um dos autores, não é um nome estranho para muitos cinéfilos pois foi ator coadjuvante em diversos filmes e na TV cansou de, como advogado, enfrentar e ser derrotado por Perry Mason (Raymond Burr) na famosa série de TV. Talman faleceu aos 53 anos de idade e este seu trabalho como escritor não deve tê-lo deixado orgulhoso por ser uma descarada imitação do filme de Sturges. No entanto, mesmo sendo uma produção barata e sem nomes famosos no elenco (Lee Van Cleef demoraria para virar astro), este western filmado para complementar programas duplos tem suas virtudes e entretém os fãs de faroestes.


Jock Mahoney
O estranho hostilizado - Joe Dakota (Jock Mahoney) é um estranho que chega à pequena Arborville e intriga os moradores do lugar porque quer, de todas as maneiras, saber de um índio chamado ‘Joe Dakota’ (Francis McDonald). Descobre então que o índio havia sido enforcado sob a acusação de tentar estuprar a jovem Jody Weaver (Luana Patten). A propriedade do índio passara então para as mãos de Cal Moore (Charles McGraw), homem desonesto e que mais tarde descobriu petróleo no terreno do índio ‘Joe Dakota’. Este não tinha esse nome, mas ao assinar um documento no registro de imóveis escreveu no papel oficial as únicas palavras que aprendera a rascunhar e que formavam o nome de seu amigo e protetor, o Capitão Joe Dakota do Exército Americano. O verdadeiro Joe Dakota tem que enfrentar a hostilidade do povo de Arborville sob a liderança de Carl Moore, até que desmascara o espertalhão. Joe Dakota traz à tona a verdade sobre a tentativa de estupro cujo autor não foi seu amigo índio que acabou pagando com a vida pela acusação e Moore perde a posse do terreno.

Claude Akins, Lee Van Cleef e Charles McGraw
Habitantes assustados - Quem não conhece ou não se recorda de “Conspiração do Silêncio” vai se deixar envolver pela trama de “A Desforra do Estranho” e consequente mistério que envolve a presença de Joe Dakota em Arborville. Por outro lado, quem logo perceber a semelhança da história com o filme de John Sturges, nem por isso perderá o interesse em ver como os fatos irão se encaixar para determinar o final. Pesa ainda a favor deste “Joe Dakota” o fato de se estar diante de um western de baixíssimo orçamento e ainda assim o diretor Joe Bartlett realizar um filme conciso e com boa carga de emoção. Jock Mahoney visivelmente manca quando caminha, levando a crer que pudesse ter alguma dificuldade com uma das pernas, assim como Spencer Tracy havia perdido um braço na guerra em “Conspiração do Silêncio”. Mas ao contrário do já envelhecido Tracy, Jock Mahoney é o tipo de personagem imbatível, perfeito para intimidar o assustado povo da pequena cidade, inclusive o vilão que tramara a morte do velho índio.

Lee Van Cleef e Claude Akins
Preconceito forte - O forte preconceito do pós-guerra contra os japoneses é a tônica de “Conspiração do Silêncio”, transformado, em “Joe Dakota”, na execução sumária, través de enforcamento, do índio, figura igualmente perseguida pelo preconceito pelos homens brancos do Velho Oeste. O Capitão, no entanto, representando o Exército, é humilde e justo na amizade e respeito pelo índio. Essa ilação, porém, não resiste à lembrança de como os túnicas azuis trataram os nativos atendendo aos interesses de Washington e dos homens brancos. Porém ainda não era, em 1957, tempo para se rever em maior profundidade essas questões e menos ainda em um pequeno western.

Lee Van Cleef, Anthony Caruso e Claude Akins

Jock Mahoney
Um ator com bela biografia - Jock Mahoney é dos menos conhecidos atores que fizeram westerns B, ainda que sua carreira seja digna de uma bela biografia sem o final feliz de ter ele se transformado em astro verdadeiro. Desde os tempos de dublê de atores famosos (Gregory Peck, John Wayne, Errol Flynn), até ser o Durango Kid das ações mais arriscadas em lugar de Charles Starrett, Mahoney era conhecido apenas por aqueles cinéfilos que gostam de saber de tudo sobre todos que atuam nos filmes. Certo que chegou até a entrar na lista dos atores que personificaram ‘Tarzan, o Rei das Selvas’, mas Mahoney nunca atingiu a categoria que fazia por merecer, especialmente nos faroestes. E como ‘Joe Dakota’ Mahoney está ótimo e seu melhor momento de ação neste filme é quando luta, numa divertida sequência, contra Claude Akins e Lee Van Cleef. Em outra sequência Mahoney é jogado numa enorme poça de petróleo e só é reconhecido porque ele jamais aceitaria ser ‘dublado’.

Luana Patten e Barbara Lawrence

Jock Mahoney
Pequeno e simpático western - O eficiente Charles McGraw é o homem mau da história enquanto Luana Patten, aos 19 anos, é um par amoroso jovem demais para Jock Mahoney. Além de Lee Van Cleef e de Claude Akins, dois dos mais consagrados vilões de Hollywood, o elenco traz ainda Anthony Caruso, desta vez como um imigrante italiano de boa índole e o único na história com essa característica, até por não ser norte-americano, a discordar da hostilidade a Joe Dakota. Quando se está diante de um western de pequeno orçamento que resulta em bom filme sempre se fica a imaginar como seria ainda melhor se realizado com outro padrão. Mas aí a exigência do espectador seria maior e roubaria o gosto que só simpáticos pequenos faroestes têm, como este “A Desforra do Estranho”.

Charles McGraw; Jock Mahoney