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4 de junho de 2012

OS PROFISSIONAIS (The Professionals) – OS QUATRO MAGNÍFICOS MERCENÁRIOS


Houve um tempo em Hollywood que roteirista era só roteirista e diretor era só diretor. O roteirista sequer era admitido nos sets de filmagem para não ficar dando palpites no trabalho do diretor. Alguns roteiristas não se conformando em ver suas histórias muitas vezes destruídas por diretores burocráticos, meros empregados dos estúdios, se rebelaram e decidiram passar para a direção. Ainda bem que isso aconteceu, pois o cinema ganhou diretores que escreviam magnificamente como Billy Wilder, John Huston e poucos outros. Um dos mais jovens desse grupo era Richard Brooks, que escrevia para o cinema desde 1942 e entre seus roteiros estavam os escritos para os clássicos “Os Assassinos”, (1946), “Brutalidade”, “Rancor”, e “Paixões em Fúria”. Em 1950 Richard Brooks chegou à direção, dirigindo quase sempre seus próprios roteiros, invariavelmente dramas como “Sementes de Violência”, e algumas vezes adaptando escritores importantes como Dostoiévsky em “Os Irmãos Karamazov”, Tennessee Williams em “Gata em Teto de Zinco Quente”, Sinclair Lewis em “Entre Deus e o Pecado” e Joseph Conrad em “Lord Jim”. Em 1965 Richard Brooks entendeu que era hora de filmar um western, ele que já havia escrito e dirigido “A Última Caçada” (The Last Hunt), com Robert Taylor, em 1956. Talvez cansado de levar tantos dramas para as telas, Brooks achou que devia realizar um verdadeiro entretenimento e escreveu, produziu e dirigiu “Os Profissionais”.



Jornais da época da Revolução Mexicana
mostrando Raza, Rico Fardan e Dollworth.
MISSÃO QUASE IMPOS-SÍVEL - O livro “A Mule for the Marquesa”, de autoria de Frank O’Rourke foi lançado em 1964 e o cinema já havia se aproveitado de uma outra história de O’Rourke intitulada “The Bravados” (“Estigma da Crueldade”). Richard Brooks adaptou a história com o título mais cinematográfico de “Os Profissionais” (The Professionals), com um grupo de quatro mercenários norte-americanos aceitando a quase suicida missão de resgatar Maria Grant (Claudia Cardinalle), esposa de Joseph W. Grant (Ralph Bellamy), um riquíssimo empresário dono de ferrovia. Ao preço de dez mil dólares cada um e liderados por Rico Fardan (Lee Marvin), o grupo de mercenários é composto pelo especialista em explosivos Bill Dolworth (Burt Lancaster), Hans Ehrengard (Robert Ryan), que entende de cavalos como ninguém e por Jacob Sharp (Woody Strode), expert em arco e flecha. Maria Grant (Claudia Cardinale), é a bela mulher que havia sido seqüestrada por um renegado mexicano chamado Jesus Raza (Jack Palance) que coincidentemente lutou na Revolução Mexicana ao lado de Fardan e Dollworth. Depois de ações de alto risco o quarteto consegue ‘salvar’ a mulher, entregando-a para o empresário. Os mercenários haviam descoberto que não houvera seqüestro algum e que Maria fugiu do marido para viver com Raza.

Lee Marvin, todas as armas; Woody
Strode, um arco do seu tamanho.
AVENTURA ALÉM-FRONTEIRA - A história pode parecer igual a tantas já vistas antes, mas “Os Profissionais” possui ingredientes insólitos que fazem dele um grande espetáculo cinematográfico. A começar pela reunião de um elenco notável de excelentes atores, diálogos brilhantes raramente vistos em um faroeste e momentos de ação da melhor qualidade. Quando o Velho Oeste se tornou mais civilizado, alguns envelhecidos personagens alugaram seus conhecimentos, coragem e espírito de aventura a causas passadas além do Rio Grande. Essas causas tinham inevitáveis conotações políticas, ou ideológicas reflexos da revolução mexicana. Como estamos já na primeira década do século XX esses homens diferem dos cowboys tradicionais, em nada lembrando os arquétipos que os westerns apresentaram à exaustão. Distantes dos modelos de Shane ou Will Kane os novos personagens são anti-heróis cínicos e amorais, mantendo daqueles personagens um certo código de ética revelado ao cumprir, a seu modo, a missão para a qual foram pagos. Fardan, o líder, adaptou-se melhor aos novos tempos sendo capaz de atirar com armas modernas e mais poderosas que um simples Colt ou uma Winchester. Enquanto isso o negro Jacob Sharp faz uso de um aprimorado arco-e-flechas. Juntos formam um quarteto de magníficos mercenários.

Burt em perigo; Palance a cavalo.
AÇÃO INCESSANTE - Até a chegada ao reduto onde Raza e seus renegados vivem, os quatro passam por confrontos com homens de Raza. Num desses momentos Dollworth (Lancaster) é pendurado de cabeça para baixo enquanto um facão de 40 centímetros balança resvalando em seu nariz, até ser salvo pelos companheiros. A grande sequência de ação de “Os Profissionais”, o clímax do filme, deveria ser o resgate de Maria Grant, sequência magnificamente realizada pelo diretor Richard Brooks. Faltava, no entanto, a fuga da fortaleza de Raza e novamente Brooks brilha intensamente em mais duas sequências sensacionais, especialmente a derradeira, com participação de Lancaster novamente, Jack Palance e Marie Gomez (Chiquita). Se a idéia de Richard Brooks era divertir a platéia, conseguiu plenamente seu intento com essa série de eletrizantes e esplendidamente concebidas sequências. A imagem de Jack Palance galopando seu cavalo em diversas cenas de ação faz esquecer o estático e medroso cavaleiro de “Shane”. E mesmo Cláudia Cardinale, que não sabia montar teve que aprender quando sua dublê foi ferida durante uma explosão.


O estupendo Burt, com a língua afiada.
OS MAIS MEMORÁVEIS DIÁLOGOS DE UM WESTERN - “Os Profissionais” não é apenas um faroeste para ser visto, mas também inteligentíssimo nos diálogos e nas digressões políticas ou filosóficas contidas nos discursos de Raza e do desavergonhado Bill Dollworth. E é o personagem de Lancaster que filosofa dizendo (em tempos de guerra do Vietnã): “Talvez haja no mundo apenas uma revolução, a dos homens bons contra os homens maus. A questão é saber quem são esses homens bons...”. Um primor o diálogo entre Raza e Dollworth, ambos feridos quando o personagem de Lancaster diz: “Fui ferido no traseiro, e você?” Raza ferido na virilha responde: “Cinco centímetros mais e... Mamacita!”, numa síntese poética de tão pura. Fosse relatar todas as frases notáveis e dignas de registro dos diálogos de “Os Profissionais” e haveria necessidade de uma postagem especial neste blog ou a própria transcrição dos diálogos desse western. Uma frase porém não pode deixar de ser lembrada, o diálogo da cena final, quando Grant (Ralph Bellamy) diz a Rico Fardan: “Você é um bastardo”, ouvindo como resposta pela inimitável voz de Lee Marvin “Sim, senhor. No meu caso um acidente de nascença; no seu, você próprio se fez um bastardo”. Na tradução do DVD em Português saiu erroneamente escrito: “Sou um desastre da natureza; mas o senhor venceu na vida sozinho”.

Maria Grant (acima) e Si-Si Chiquita.
COMO TIRAR OS OLHOS DE CLAUDIA? - Brooks foi indicado para o Oscar como diretor e como roteirista, assim como o cinegrafista Conrad Hall foi também indicado, ambos derrotados, certamente porque a Academia nunca gostou de premiar faroestes, um gênero menor para os membros da arcaica entidade. A trilha musical de Maurice Jarre segue o modelo da criada por Elmer Bernstein para “Sete Homens e Um Destino”, e mesmo muito boa não tem a inspiração daquela composta para o filme de John Sturges. Burt Lancaster faz a alegria de seus fãs num trabalho fantástico de agilidade (e humor) nunca mais repetido pelos problemas de saúde que chegaram com a idade. Lee Marvin bastante contido está perfeito como líder do grupo é, de certa forma, obscurecido por Lancaster. Robert Ryan não tem maiores oportunidades e Woody Strode sequer precisa abrir a boca pois sua impressionante figura física fala por ele. Excelentes performances de Jack Palance como o ex-revolucionário e de Ralph Bellamy (lembrado sempre como Franklyn D. Roosevelt). Atração à parte a ‘mexicana’ Claudia Cardinale esplendorosamente sensual e a mexicana autêntica Maria (Marie) Gomez, a ‘Si-Si Chiquita’ que merecia melhor carreira em Hollywood. Maria Gomez seria vista depois em “Barquero”. Curiosidade a presença no elenco do brasileiro Nelson Sardelli fazendo uma ponta como bandolero de Raza. Sardelli era paulistano de nascimento, do bairro do Ipiranga e vivendo em Las Vegas tornou-se um misto de cantor-ator-namorado de Jane Mansfield.

Richard Brooks
SAUDOSISMO JUSTIFICADO - “Os Profissionais” certamente deve um pouco a “Vera Cruz”, de Robert Aldrich e a “Sete Homens e um Destino”. Mas sem dúvida foi inspirador de “Meu Ódio Será Sua Herança” (The Wild Bunch) de Sam Peckinpah que feito três anos depois acabou ofuscando inevitavelmente o western de Richard Brooks. Longe de ser demérito esse fato honra ainda mais “Os Profissionais”. E os saudosistas podem ao final de “Os Profissionais” lembrar que já não se faz mais faroestes como esse, mesmo porque não há mais diretores como Brooks e pior ainda, não haverá jamais um grupo de atores como Lancaster, Marvin, Ryan, Palance, Strode, Cardinale...

31 de maio de 2012

BURT LANCASTER X LEE MARVIN, DUELO DE PROFISSIONAIS


Lancaster em "Nas Trilhas da Aventura".
LANCASTER DESCENDO... - Em 1965 Burt Lancaster vivia uma situação curiosa: era um dos mais respeitados atores norte-americanos e após seu desempenho como o príncipe Don Fabrizio de Salina, em “O Leopardo”, até aqueles que ainda mantinham reservas quanto a Burt Lancaster como ator se renderam ao seu talento. Mas seus filmes não iam bem nas bilheterias. Pior que isso, Lancaster teve que fechar sua produtora devido às baixas receitas dos filmes que produziu. “O Trem”, seu penúltimo filme como ator, foi bem aceito pela crítica mas naufragou nas bilheterias norte-americanas apesar de ter sido grande sucesso na Europa. O maior dos desastres aconteceu com “Nas Trilhas da Aventura” (The Hallelujah Trail), superprodução em Cinerama dirigida por John Sturges pela qual Lancaster recebeu apenas 150 mil dólares como parte da dívida que tinha com a United Artists quando o salário normal de Lancaster por filme era de 750 mil dólares. “Nas Trilhas da Aventura” foi massacrado pela crítica e não despertou o interesse do público. Para completar o quadro as coisas não iam bem no casamento de quase 20 anos do ator com sua esposa Norma.

Lee Marvin em "Cat Ballou".
LEE MARVIN SUBINDO... - Enquanto Lancaster descia na gangorra de Hollywood, o nome de Lee Marvin subia sem parar. Dez anos e alguns meses mais novo que Lancaster, Lee Marvin havia tido maior dificuldade que Burt na ascensão ao estrelato pois parecia fadado a interpretar eternamente os vilões despachados por Randolph Scott, John Wayne, Glenn Ford e outros mocinhos dos filmes. A sorte de Lee Marvin começou a mudar quando a TV o mostrou por três anos como o durão Tenente Frank Ballinger na série M-Squad. A partir de então o nome de Lee Marvin passou a ter mais importância nos créditos dos filmes, proporcionalmente aos seus desempenhos, como ‘Crow’ em “Os Comancheiros” (The Comancheros) e como ‘Liberty Valance’ em “O Homem que Matou o Facínora” (The Man Who Shot Liberty Valance). Com “Os Assassinos” e “A Náu dos Insensatos” Lee Marvin abandonou de vez a condição de coadjuvante. Em “Dívida de Sangue” (Cat Ballou) Lee Marvin mostrou que seu talento parecia inesgotável, ganhou o Oscar e o Bafta (especie de Oscar Inglês) de melhor ator do ano e se tornou o mais disputado ator de Hollywood no início de 1966. Lee parecia ter apenas dois problemas: seu casamento que acabara e a bebida, cada vez mais presente em sua vida.

Richard Brooks
RICHARD BROOKS, O DOMADOR DE EGOS - Richard Brooks e Burt Lancaster eram grandes amigos e o ator, acostumado a impor seu imenso ego sobre os pobres diretores que o dirigiam, respeitava muito Richard Brooks que o havia dirigido em “Entre Deus e o Pecado”. Brooks costumava dizer que “dirigir filmes não é ficar sentado numa cadeira com um megafone às mãos gritando algumas ordens passivamente cumpridas por todos no set de filmagem; dirigir filmes é, na maior parte das vezes, ter que comer merda e fazer de conta que está gostando...” Mas foi esse homem quem controlou perfeitamente os nada fáceis temperamentos de Glenn Ford, Yul Brynner, Liz Taylor, Paul Newman e talvez o mais difícil de todos que era o próprio Burt Lancaster, a quem ajudou a ganhar um Oscar por sua interpretação como Elmer Gantry em “Entre Deus e o Pecado”. Brooks chamou o amigo Burt Lancaster para falar com ele sobre seu novo projeto, um filme para profissionais.

Mr. Dynamite
LANCASTER, PURA DINAMITE - Richard Brooks pegou o livro “A Mule for the Marquesa”, de Frank O’Rourke, e fez um roteiro para um western-aventura que a Columbia Pictures mais que depressa aprovou. Brooks então começou a montar o elenco e o primeiro nome era o de Lancaster. O ator leu o livro e disse a Brooks que gostara do papel de ‘Rico’ Fardan que iria interpretar. Brooks disse a Lancaster que ele não faria aquele personagem que liderava o grupo de especialistas que iriam resgatar uma linda mulher das mãos de um guerrilheiro mexicano. “E quem vai fazer interpretar ‘Rico’?”, perguntou Lancaster ouvindo como resposta: “Lee Marvin”. Brooks disse a Lancaster que achava Lee Marvin muito bom, mas confessou que a Columbia praticamente impôs o nome de Marvin depois do sucesso de “Cat Ballou”. E Brooks ainda disse a Lancaster que ele, Burt, não compunha muito bem um personagem que tinha que comandar pois ele possuía certa dificuldade em dar ordens. Brooks disse isso justamente a Lancaster, homem acostumado a mandar e desmandar em tudo e em todos. Mas o diretor explicou ainda ao amigo que ele interpretaria um personagem muito melhor que ‘Rico’ Fardan, o do dinamitador Bill Dolworth que seria mais engraçado e mais dinâmico, ou seja parecido com o próprio Lancaster. Burt então lembrou que no livro não havia dinamitador algum e Brooks informou que no filme haveria sim, ele Lancaster, que era pura dinamite.

'Rico' Fardan
O ESCOTEIRO LEE MARVIN - Richard Brooks conhecia bastante bem a fama de beberrão de Lee Marvin e quando lhe perguntaram se mesmo assim queria trabalhar com ele, o diretor respondeu: “Pouco me importa se um ator gosta de cabras, de mulheres, de homens, se ele é assexuado, bissexual ou se ele bebe demais e tem todos os problemas do manual do Dr. Freud. Para mim interessa que ele seja bom ator, cumpra horários e seja profissional”. Por pensar assim o acerto com Lee Marvin já estava fechado, uma vez que Richard Brooks era também o produtor e juntamente com a Columbia concordou em pagar os 500 mil dólares pedidos por Meyer Mishkin, agente do ator. No primeiro contato entre Lee Marvin e Richard Brooks, o ator perguntou ao diretor qual dos três patetas ele iria interpretar e para sua surpresa Brooks lhe disse que ele seria o líder, ‘Rico’ Fardan. Incrédulo, Lee abriu um enorme sorriso pois seria ele quem daria ordens para ninguém menos que Burt Lancaster. Por ocasião da prova das roupas, Lee surgiu com trajes que achou apropriados e Brooks perguntou a ele se era algum mensageiro da Western Union ou se iria a alguma reunião de escoteiros. Houve mudanças, mas a calça e o chapéu escolhidos por Lee Marvin permaneceram com o personagem. As relações de Brooks com Lee seriam um pouco menos amistosas que as relações do diretor com Lancaster.

BATALHA NOS INFERNOS - Richard Brooks completou o elenco principal de “Os Profissionais” com o excelente Robert Ryan, e mais Woody Strode, Jack Palance e Cláudia Cardinale. Depois dos problemas ocorridos com o governo mexicano com as filmagens de “Vera Cruz” e “Sete Homens e um Destino”, Brooks decidiu filmar “Os Profissionais” em diversas locações no próprio Estados Unidos, entre elas o Vale do Fogo, em Las Vegas e o Vale da Morte, na Califórnia. As condições climáticas nesses lugares eram as piores possíveis, indo desde o mais insuportável calor que chegava a 45 graus, até o mais petrificante dos frios, tudo temperado com tempestades e nevascas. Esses ingredientes certamente não iriam diminuir a clara batalha de interpretações que se desenhava no horizonte entre Burt Lancaster e Lee Marvin. Isso jamais fora problema para Lancaster, acostumado a enfrentar (quase sempre vitoriosamente) astros do porte de Gary Cooper, Kirk Douglas, Laurence Olivier e Clark Gable. E Lee Marvin, por sua vez, pouco se importava se diante dele estavam Spencer Tracy, Marlon Brando, Glenn Ford, John Wayne, Montgomery Clift, Paul Newman, Humphrey Bogart ou James Stewart pois Lee de qualquer maneira roubava cenas, quando não o próprio filme. A vida não se avizinhava nada fácil para Richard Brooks.

ULTIMATO PARA LEE MARVIN - “Os Profissionais” foi o derradeiro filme em que Burt Lancaster deu seu característico espetáculo, demonstrando sua incrível agilidade e coragem lembrando, aos 53 anos, o perfeito acrobata circense que havia sido antes de ser ator. Para uma das primeiras sequências rodadas no alto de um penhasco, Lee Marvin apareceu completamente embriagado e Brooks o mandou de volta para o Hotel em Las Vegas. No dia seguinte outra vez Marvin estava bêbado e Burt avisou Brooks que iria pegar aquele irresponsável pelo fundilho das calças e atirá-lo lá de cima. Mais uma vez a produção parou por causa de Marvin. Brooks então o procurou no hotel com uma lata de negativos e explicou a ele que ali estavam os negativos filmados com Lee bêbado em todas as cenas e que isso seria suficiente para processá-lo. Brooks abriu a lata e para espanto de Lee Marvin colocou fogo nos negativos, avisando-o que se ele aparecesse embriagado novamente para filmar estaria despedido.

Jackie Bone penteando Claudia;
Betty Marvin com Lee; na entrega do
Oscar a diabólica Michelle Triolla;
bons tempos de Norma e Burt Lancaster.
ATENÇÕES PARA LA CARDINALE - A primeira providencia que Lee Marvin tomou foi fazer sua amante Michelle Triolla desaparecer de Las Vegas, retornando para Los Angeles. Michelle já começava a arruinar irremediavelmente a vida de Lee Marvin numa relação que terminou no mais rumoroso processo entre um ator e uma mulher, criando inclusive o conceito jurídico chamado ‘Palimony Law’ ou 'Marvin Law'. Mais discretamente Burt Lancaster caminhava também para o fim de seu casamento e a razão estava presente nos sets de filmagem de “Os Profissionais” e atendia pelo nome de Jackie Bone, a cabeleireira do filme, com quem Lancaster viveria por mais de uma década após consumar o divórcio com a esposa Norma. A presença de Cláudia Cardinale no elenco não causou, ao contrário do que se esperava, maiores problemas com o numeroso grupo de homens presentes às locações. Perfeito cavalheiro e cavaleiro, foi Lee Marvin quem ensinou Cláudia a montar durante as filmagens. A atriz tunisiana que era a eterna noiva do produtor Franco Cristaldi, foi, durante a paralisação das filmagens no Ano Novo de 1966, convidada por Burt Lancaster para passar aquela data festiva em sua casa. Cláudia que era testemunha do romance de Burt com Jackie Bone, testemunhou também os últimos dias do casamento de Lancaster com sua esposa alcoólatra Norma Anderson. No início de janeiro de 1966 seria decretada a separação oficial do casal Lancaster. Burt tinha cinco filhos do casamento desfeito; Lee perdeu para Burt nesse quesito pois tinha apenas quatro filhos com sua esposa Betty, com quem se casara em 1951.

Burt em "A Rosa Tatuada"; Lee em "O Selvagem".
FARTURA DE ELOGIOS - Cláudia Cardinale que já havia atuado com Burt Lancaster em “O Leopardo”, afirmou que todos os dias pela manhã Burt se exercitava em uma barra, preparando-se para o dia de trabalho em “Os Profissionais”. A atriz lembrou do físico belíssimo de Burt, excepcional para um homem da sua idade. Lee Marvin também recebia elogios e justamente de Richard Brooks, que passou a consultá-lo a respeito de armas, no que Marvin era uma autoridade. Lee chegou a mandar buscar uma arma de sua coleção particular pois aquela que a produção disponibilizara era inadequada, segundo ele. Mas o principal elogio que o exigente Brooks dedicou a Lee Marvin foi quando disse que o ator tinha uma impressionante agilidade mental elevada a um grau extraordinário de inteligência e capacidade de integrar seu personagem aos demais. Segundo Brooks, essas coisas só se passam na cabeça do diretor e do roteirista do filme e não dos atores que pensam apenas em seus próprios personagens.

Estaria o 'The Wild Bunch' combinando uma noitada?
THE WILD BUNCH - Brooks dominou “Os Profissionais” e todo seu elenco estelar e como roteirista soube dosar as melhores sequências para que as atuações de Burt e Lee não se transformassem em uma inútil e prejudicial batalha de overacting. Mais que isso, durante os 80 dias de filmagens naquelas locações Richard Brooks criou um clima de amizade e cooperação no que ele chamava de “The Wild Bunch”, ou seja, seu grupo de talentosos e temperamentais atores. O grupo freqüentava nos finais de semana os bares e restaurantes de Las Vegas, bebendo moderadamente, exceção feita à noite em que Lee Marvin e Woody Strode dispararam flechas em direção ao enorme cowboy de neon, um dos símbolos de Las Vegas e do próprio Estado de Nevada. Lee Marvin certa noite comentou que o “The Wild Bunch” deveria ter se encontrado durante a II Guerra Mundial, uma vez que ele havia sido um mariner (altamente condecorado), assim como Brooks, ambos mariners de primeira classe; Robert Ryan também fora mariner; e Lancaster havia sido soldado de primeira classe do exército. Segundo Lee, juntos teriam vencido a guerra muito mais facilmente.

Brooks com a esposa Jean Simmons.
O VENCEDOR É... – Numa das noites de reunião do grupo “The Wild Bunch” em Las Vegas, quem pagou a conta foi Lee Marvin em comemoração à notícia da assinatura do contrato para filmar “Os Doze Condenados”, recebendo por esse filme um salário de 600 mil dólares. Lee atingiria o cobiçado salário de um milhão de dólares por filme em 1969, depois do grande sucesso de “Os Profissionais” e do estrondoso êxito com “Os Doze Condenados”. Difícil dizer quem venceu a surda batalha de interpretações travada entre Burt Lancaster e Lee Marvin em “Os Profissionais”. Aparentemente o vitorioso teria sido Burt Lancaster que ficou com as melhores sequências de ação, de comicidade e com algumas das melhores falas dos brilhantes diálogos de “Os Profissionais”. Quem, no entanto, ascendeu significativamente na carreira foi Marvin que se tornou o mais rentável astro masculino de 1967, à frente de Paul Newman, John Wayne, Sidney Poitier e Steve McQueen. “Os Profissionais” foi o segundo faroeste de melhor bilheteria em 1966, perdendo apenas para “Nevada Smith” e se alguém quiser saber quem, de verdade, foi o grande vencedor de “Os Profissionais”, não resta dúvidas que foi o diretor. Essa bela aventura cinematográfica não foi um filme nem de Burt Lancaster e nem de Lee Marvin, mas sim de Richard Brooks, grande diretor cujo centenário de nascimento foi comemorado no último dia 18 de maio, uma vez que Richard Brooks nasceu em 1912.