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21 de junho de 2011

IRRESISTÍVEL SUSAN HAYWARD EM "JARDIM DO PECADO" (GARDEN OF EVIL)


Filmado inteiramente em locações no México, “Jardim do Pecado” foi dirigido por Henry Hathaway, competente diretor com uma lista enorme de excelentes filmes mas sem nenhuma obra-prima em sua carreira. Com “Jardim do Pecado” Hathaway tinha tudo para repetir o êxito de “O Tesouro de Sierra Madre” já que guarda certas semelhanças com, este sim uma obra-prima, o filme de John Huston. O roteiro de Frank Fenton, no entanto, torna as ações previsíveis e carece de maior profundidade dramática numa trama onde as incoerências vão se sucedendo. Três aventureiros – Hooker (Gary Cooper), Fiske (Richard Widmark) e Luke Daly (Cameron Mitchell) - estão em um navio a caminho da Califórnia onde está acontecendo a corrida do ouro, por volta de 1849. Obrigados a permanecer alguns dias em Puerto Miguel, no México, os três americanos e mais o mexicano Vicente (Victor Manuel Mendoza) são contratados por uma linda norte-americana chamada Leah (Susan Hayward), para resgatar John Fuller (Hugh Marlowe) o marido de Leah. Fuller está preso, com uma perna quebrada, dentro de uma mina que desabou. A mina localiza-se num local chamado ‘Jardim do Diabo’, próximo a uma missão destruída pela erupção de um vulcão. O povo de Puerto Miguel considera aquele um local sagrado envolto em lendas e misticismos. O acesso até o ‘Jardim do Diabo’ é dificíl e perigoso, mais ainda devido à presença de índios no local. Chegando finalmente ao “Jardim do Diabo” e após retirarem Fuller com vida, Leah, o marido e os quatro homens que contratou são atacados pelos índios e o retorno a Puerto Miguel é ainda mais acidentado que a própria chegada ao local.

UM JARDIM DIABÓLICO - “Jardim do Pecado” difere dos westerns convencionais pelo cenário e pelo mistério que permeia a história. À medida que Leah e os aventureiros se embrenham naquela região tão bela quanto inóspita as tensões aumentam. Leah e o ouro estão nas mentes daqueles homens e a cobiça assume proporção cada vez mais sinistra para cada um deles. Leah é de tal modo atraente que por momentos confunde os quatro aventureiros em suas prioridades, disputando a inacessível mulher, a riqueza ou a própria vida. Leah é Susan Hayward em uma de suas mais sensuais atuações, ainda que mostre apenas parte dos braços durante o filme todo. Mas seu olhar, suas expressões desafiadoras e provocadoras tornam sua personagem irresistível. Excepcional atriz impõe-se entre homens de personalidade díspares que têm em comum a ambição e o desejo. O ótimo elenco proporciona um duelo de interpretações entre Richard Widmark e Gary Cooper, duelo parecido com o que Cooper travaria em seu filme seguinte com Burt Lancaster em “Vera Cruz”. Antecipando ‘Ben Trane’ do filme de Robert Aldrich, Gary Cooper é aquele que aparentemente sabe de tudo e será sempre dele a última palavra. Widmark é o jogador cínico que afinal decide jogar a própria vida. Cameron Mitchell o mais fascinado por Leah é audacioso e sequioso pela riqueza próxima. Hugh Marlowe interpreta o enigmático marido. E Victor Manuel Mendoza é outro pesonagem estranho e calado, atípico sem o histrionísmo tão comum aos mexicanos. Se “Jardim do Pecado” sofre por sua previsibilidade, ressente-se ainda mais pela falta de acurácia. Os índios que aterrorizam o grupo pouco são vistos mas sabe-se que são apaches, estranhamente sitiados naquela região do México. E apaches inusitadamente com cabelo cotado como os índio do Leste (moicanos, pequots ou ainda ao estilo cherokee). Os aventureiros abatem os índios com rifles de repetição, isto em plena corrida do ouro, em 1949. Fundamental à história, a relação entre Fuller e sua esposa Leah tem desfecho inexplicável, assim como a súbita atração de Leah por Fiske (Richard Widmark). Fica-se com a impressão que “Jardim do Pecado” é um daqueles filmes cujo roteiro vão sendo reescritos diariamente segundo a inspiração do momento. Assim foi com “Casablanca”, o mais bem sucedido improviso cinematográfico de todos os tempos.

O aterrorizante cenário de "Jardim do Pecado"
Acima à direita Richard Widmark

O ÚNICO WESTERN DE BERNARD HERMANN - Certos filmes tornam-se inesquecíveis pela atmosfera em que se desenrola a trama. O roteirista imagina essa atmosfera e o diretor tenta desenvolvê-la com o precioso auxílio do cinegrafista e posteriormente com o responsável pelo escore musical. “Jardim do Pecado” é um desses filmes que não se apaga de nossa memória pelos incríveis cenários em que foi filmado e, muito especialmente, pela partitura musical de Bernard Hermann. Você nunca se esqueceu de “Psicose”, não é mesmo? Pois as arrepiantes cenas da morte de Janet Leigh no chuveiro tiveram a trilha sonora criada por Hermann que foi o compositor de Hitchcock em todas as trilhas musicais dos filmes do Mestre do Suspense na década de 50. Antes Bernard Hermann havia sido o responsável pelo escore musical de “Cidadão Kane” e por um sem número de outras trilhas sonoras que estão entre as melhores do cinema, entre elas “O Círculo do Medo” (1962). O maestro Bernard Hermann trabalhou em um único western em toda sua vida e esse western foi justamente “Jardim do Pecado”. O diretor de fotografia desse filme foi o veteraníssimo Milton Krasner que entre outros trabalhos foi um dos diretores de fotografia de “A Conquista do Oeste”, filmado no processo Cinerama. As sequências filmadas na pequena trilha nas escarpas montanhosas de Uruapan, no México, onde qualquer descuido levaria cavalos e atores a rolarem pelos despenhadeiros de centenas de metros são memoráveis. E a estranha sensação de medo causada pela região vulcânica de Michoacán, também no México, é acentuada pela música de Bernard Hermann. No entanto, nem a excepcional trilha sonora de Hermann e a fotografia deslumbrante de “Jardim do Pecado” foram suficientes para fazer dele um grande filme.

Henry Hathaway conversando com Susan Hayward,
Gary Cooper e Cameron Mitchell