UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

24 de junho de 2025

O REVÓLVER SILENCIOSO (THE QUIET GUN)

 

“Matar ou Morrer” (High Noon), 1952, foi um dos mais influentes westerns em diversos aspectos cinematográficos. Um deles mas não muito lembrado é aquele que toca em relacionamentos mal resolvidos entre um homem e uma mulher (em “Matar ou Morrer” Will Kane deixa a señora Ramirez para se casar com Amy Fowler). Houve outros faroestes que abordaram ainda mais profundamente a questão como “Um Pecado em Cada Alma” (The Violent Men), 1955, “Ao Despertar da Paixão” (Jubal), 1956, “Rastros de Ódio” (The Searchers), também de 1956, isto para ficar apenas naquela que foi uma extraordinária década para o faroeste e quando o gênero invadiu território dos melodramas urbanos. Em 1957, foi produzido “O Revólver Silencioso” (The Quiet Gun), um western produzido economicamente, com 77 minutos de duração, em preto e branco e se dando apenas ao luxo de utilizar o formato Regalscope, primo pobre das telas largas, que o aproximava dos novos formatos que os grandes estúdios passaram a utilizar. Esse pequeno faroeste consegue com um roteiro bem costurado tocar não só na discriminação sofrida por um homem branco que ousa trocar a esposa por uma índia, em linchamento promovido por uma turba enfurecida, como em “Consciências Mortas” (The Ox-Bow Incident), 1943, e ainda demonstra como uma cidade do Velho Oeste inteira se deixa influenciar por um moralista extremado. Pois esse roteiro foi escrito por Eric Norden em parceria com Earle Lyon baseando-se em uma história de Lauran Payne. O nome de Lauran Payne merece ser lembrado por ter sido ela a autora da história de “Pacto de Justiça” (Open Range), 2003. Curiosamente, entre “The Quiet Gun” e “Open Range”, escrito por ela em 2001, se passaram 45 anos em que Lauran Payne mais nada escreveu.

 

‘Imoralidade’ e linchamento - John Reilly (Tom Brown) é o dono do único saloon de Rock River, mas quer ampliar seu poder e riqueza ficando com o rancho de Ralph Carpenter (Jim Davis) para, nesse rancho, esconder gado roubado. Reilly é astucioso e pretende acusar Carpenter de estar vivendo com uma índia chamada Irene (Mara Corday), na ausência de sua esposa Teresa Carpenter (Kathleen Crowley) que decidira se afastar do marido. Reilly sabe que viver com uma índia é algo considerado imoral e convoca o advogado Steve Hardy (Lewis Martin), procurador geral da cidade para que, com seu discurso raivoso e exagerado, conclame a população a solicitar um Conselho de Cidadãos para condenar Carpenter. Ocorre que Carl Brandon (Forrest Tucker), o sheriff de Rock River é amigo de Carpenter e não aceita a estratégia ilegal da supla Reilly-Hardy. Reilly contrata o pistoleiro Doug Sadler (Lee Van Cleef) para intimidar os moradores da cidade mas quem procura Carpenter para pressioná-lo é Steve Hardy que nervoso diante do resoluto Carpenter engatilha e aponta uma espingarda para o oponente e este em legítima defesa o mata. Forma-se um grupo de linchamento composto por seis homens que captura Carpenter e o enforca. O sheriff Brandon prende os seis assassinos, o que revolta ainda mais a população e Brandon diz que quem decidirá sobre a sentença dos linchadores será um Juiz Itinerante que está a caminho da cidade. Reilly e o pistoleiro Sadler querem levar a índia Irene como prova do ‘crime’ que Carpenter estava cometendo ao viver com ela e acabam ferindo Irene mortalmente. Teresa Carpenter havia retornado à cidade, socorre Irene que, antes de falecer, diz a ela quem a matou. Com o tribunal em sessão e o juiz decretando pena de três anos para os linchadores, Teresa informa o sheriff Brandon sobre os autores da morte da índia Irene e Brandon se defronta com a dupla Reilly e Sadler num duelo em que mata os dois bandidos.

 

Jim Davis e Mara Corday; Lewis Martin e Forrest Tucker

Hipocrisia no Velho Oeste - Anos 1880 no Velho Oeste quando o risco de uma miscigenação era crime imperdoável para muitas pessoas, embora ‘crime’ não previsto em lei. “O Revólver Silencioso” traz à tona esse tipo de racismo odioso que discriminava o homem branco que se atrevesse a viver com uma índia. Maquiavelicamente John Reilly contratara Irene para seduzir Ralph Carpenter e acusá-lo de relacionamento espúrio, mas eles se apaixonam frustrando o plano do malfeitor Reilly. Mesmo Ralph Carpenter estando separado da esposa, sua escolha desperta aversão numa cidade onde grassa a hipocrisia. Carpenter e Irene não apenas coabitam, mas se amam, o que quando descoberto só viria a piorar a situação. E mais ainda porque a senhora Teresa Carpenter e o sheriff Brandon nutrem respeitosa mas indisfarçável amizade carinhosa, outra ofensa à conservadora moral da cidade. O poderoso John Reilly prefere, ao invés de armas de fogo, afastar Carpenter de seu projeto através desse ódio estimulado por ele e pelo advogado Steve Hardy, os dois únicos habitantes da cidade que usam ternos bem cortados, demonstração evidente que são merecedores de respeito de todos os demais. O homem da lei Carl Brandon, mesmo com sua estrela no peito, é desconsiderado porque fora amigo de Ralph Carpenter, o que se torna mácula imperdoável para um sheriff. Só mesmo a rigidez de caráter de Carl Brandon é que faz com que o povo local, a partir da coragem do sheriff ao enfrentar a incompreensão e o ódio, talvez faça com que mudanças passem a ocorrer. O ‘talvez’ se deve pelo final aberto do filme no qual faltou, a exemplo do que fez Will Kane, o sheriff Carl Brandon jogar seu distintivo na rua empoeirada e desaparecer da cidade levando consigo Teresa Carpenter.

 

Jim Davis; Forrest Tucker

Poucos socos, poucos tiros - Esse inusitado tema para um western tem como pano de fundo, mais uma vez, o poderoso da cidade contratando um pistoleiro e aliciando pessoas influentes para aumentar sua riqueza. Seus interesses esbarram, no entanto, num sheriff honesto e destemido. Ninguém melhor que Lee Van Cleef para interpretar esse pistoleiro e Lee repete seu personagem do clássico dirigido por Fred Zinnemann em 1952. Mal chega a Rock River e já comete sua primeira maldade maltratando o simplório Sampson (Hank Worden). Lee com seu olhar de serpente não intimida o sheriff e pouco mais faz no filme, a não ser se atracar com a índia Irene e acabar por matá-la acidentalmente quando a índia se apossa de seu revólver. Um dos melhores diálogos de “O Revólver Silencioso” é aquele travado entre o advogado a serviço de John Reilly e o sheriff Carl Brandon, quando este mostra toda a hipocrisia daqueles que acreditam estar ameaçada a moral da cidade, lembrando que o mesmo Reilly explora a prostituição em seu saloon. Não muito convincente é a conversão de quatro homens dispostos a libertar os linchadores presos e que passam para o lado do sheriff. E a sequência de tribunal pouco acrescenta à discussão sobre as convenções sociais que a maioria dos cidadãos defende. O duelo final com dois bandidos contra o sheriff, não emociona e não há as trocas de socos tão comuns aos westerns, prevalecendo os diálogos, estes sim, os melhores momentos de “O Revólver Silencioso”. As subtramas da história escrita por Lauran Payne são imaginativas e mereciam ser mais bem desenvolvidas num filme mais longo.

 

Lee Van Cleef e Forrest Tucker; Mara Corday e Lee Van Cleef

Tucker e Worder, que dupla! - Forrest Tucker nunca desaponta, seja do lado da lei ou não e mesmo fazendo rir como fazia na série “Tropa F” (F-Troop) na qual atuou nas duas temporadas em que a série esteve no ar. Misto de Gary Cooper com Randolph Scott, Tucker é daqueles atores que mereciam ter um status maior do que o conseguido na carreira. E “O Revólver Silencioso” é um dos grandes momentos de Tucker no cinema. A bela Mara Corday aparece pouco, mas o suficiente para impressionar, tanto que há cartazes deste western que a mostram nos braços de Forrest Tucker, o que não ocorre de fato. Mara Corday era contratada da Universal nos anos 50 e ficou amiga de Clint Eastwood. Já famoso e produzindo seus filmes pela Malpaso, Eastwood não esqueceu da amiga e a colocou em nada menos que quatro de seus filmes policiais como Dirty Harry. Mara faleceu em fevereiro último (2025), aos 95 anos de idade. Kathleen Crowley pouco aparece. A boa surpresa é ver Hank Worden, nunca perdendo seu tipo meio aparvalhado como ajudante do sheriff. Fica-se com a impressão que todos os veteranos das séries B-Westerns da Republic e produtoras ainda menores foram contratados para pequenas participações ou figurações de tantos que são eles com seus rostos bastante envelhecidos mas reconhecíveis. Destaque entre eles para Gene Roth e para Gerald Milton no elenco secundário. A direção coube a William F. Claxton, que dirigiu mais para a TV que para o cinema. Só da série “Bonanza”, Claxton dirigiu 57 episódios. Filmado em Corriganville e Iverson Ranch, muitas sequências foram feitas em estúdio com cenários aparentemente já montados para outros filmes. Preocupada com o orçamento apertado a produção deixa passar erros como a delegacia ser revestida de madeira por fora e totalmente de alvenaria internamente. O veterano cinegrafista John J. Mescall, de “A Noiva de Frankenstein” (The Bride of Frankenstein), 1935, fez excelente uso do Regalscope ajudando a fazer deste filme um pequeno e imperdível western.

 

Hank Worden e Forrest Tucker


Jim Davis e Mara Corday

Forrest Tucker

19 de junho de 2025

CAVALGADA TRÁGICA (COMANCHE STATION)

 
        São raros os grandes artistas da tela que encerram suas carreiras de forma digna, à altura dos seus trabalhos no cinema. Randolph Scott foi uma dessas exceções e se despediu de forma brilhante com a memorável série de westerns dirigida por Budd Boetticher. E “Cavalgada Trágica” (Comanche Station) o derradeiro filme dessa série foi um dos melhores entre os cinco produzidos pela Ranown (produtora de Randolph Scott associado a Harry Joe Brown) entre 1957 e 1960. Aposentado do cinema, Randolph Scott retornaria dois anos depois para, aos 64 anos de idade, fechar com chave de ouro sua longa caminhada de mais de 30 anos como ator, na obra-prima “Pistoleiros do Entardecer” (Ride the High Country), em 1962. Com “Cavalgada Trágica” Boetticher demonstrou como é possível realizar com incrível economia de produção um western tenso e que mesmo sem muitos momentos de ação emociona por sua dramaticidade. O roteiro de Burt Kennedy apresenta os cinco personagens principais fazendo a cada diálogo aflorar os sentimentos e objetivos de cada um deles numa história com final surpreendente e na qual prevalece a honradez. E ninguém melhor que Randolph Scott para caracterizar um cowboy em que a dignidade está acima de tudo.

 

A busca pela mulher branca - Jefferson Cody (Randolph Scott) procura por sua mulher que foi sequestrada por Comanches e ao negociar com os índios e conseguir libertar uma mulher branca, descobre que ela não é sua esposa. Quem ele liberta é Nancy Lowe (Nancy Gates) e mesmo assim Cody pretende levar a senhora Lowe para a casa da mesma, onde está seu marido. Parando numa estação de diligências abandonada são surpreendidos com a chegada de três homens, Ben Lane (Claude Akins), o líder do trio composto ainda por Frank (Skip Homeier) e Dobie (Richard Rust), estes mais jovens. Ben Lane conhece Cody dos tempos em que estiveram no Exército e sabe também quem é a mulher libertada por Cody e que há uma recompensa de cinco mil dólares oferecida pelo marido para quem resgatá-la dos índios. Lane quer a recompensa, acredita que Cody esteja conduzindo a senhora Lowe para receber os cinco mil dólares e tenciona se livrar de Cody. Ao mesmo tempo Lane flerta com a possibilidade de possuir Nancy Lowe, sendo rechaçado por ela. Ao tomar conhecimento da recompensa, a senhora Lowe acredita ser também esse o intuito de Cody. O grupo é atacado pelos Comanches e Frank é morto enquanto os demais conseguem escapar seguem para entregar a senhora Lowe para o marido. O plano de Ben Lane é matar Cody, com o que Dobie não concorda e acaba morto por Lane. Ocorre então confronto entre Cody e Lane e este tomba morto. Cody leva a senhora Lowe até o rancho onde o marido e o filho a recebem e Cody parte sem exigir recompensa alguma, fazendo o caminho contrário do início do filme.

 

Randolph Scott e Nancy Gates

Cody e seu código de honra - “Cavalgada Trágica” é um western rico em emoção e com enorme carga psicológica, ainda que sem nenhuma pretensão de ser mais um ‘faroeste psicológico’. O que permite essa abordagem é o roteiro inteligente de Burt Kennedy ao tratar de tema bastante comum ao gênero e, claro, a direção de Boetticher. São apenas 72 minutos de filme com poucos diálogos, mas todos eles elucidadores das intenções de cada um. O espectador, e apenas ele, sabe que o caráter de Jefferson Cody não permite que ele sonhe com a recompensa e mesmo a senhora Lowe também acredita ser Cody “igual a todos os demais homens, mais um mercenário”. O que leva Cody a ser tão íntegro é o fato, revelado na metade do filme, de ser ele obcecado pela busca de sua mulher que acredita estar ainda viva, busca que ele faz solitaria e incansavelmente há longos dez anos. A senhora Lowe é uma mulher bonita e desejável, mas Cody por não esquecer sua amada esposa, que talvez nem viva esteja, trata a mulher resgatada com respeito. Num sentimento extremo de nobreza Cody imagina a dor do esposo que estipulou a recompensa e, no entanto para Ben Lane, um marido pagar pelo resgate de sua mulher é demonstração de fraqueza. Só ao final explica-se porque John Lowe não foi atrás da esposa: ele tem uma deficiência que o impede, surpresa que mais ainda engrandece o comportamento de Cody e da senhora Lowe. Se para Ben Lane o que interessa são os cinco mil dólares de recompensa e como bônus possuir Nancy Lowe, a dupla Frank e Dobie fica indecisa entre obedecer o líder e tentar outro tipo de vida. Apenas o experiente Cody sabe que nenhum dois dois terá futuro continuando ao lado de um homem sem escrúpulos como Ben Lane. Quando finalmente a senhora Lowe descobre como é de verdade o homem que a resgatou, precisa conter a gratidão para que essa gratidão não se transforme em outro tipo de sentimento.

 

Randolph Scott

Alabama Hills como nunca se viu - Produzido para ser complemento em sessões ‘double feature’ (sessão com dois filmes), se há algo que possa ser dito em desfavor de “Cavalgada Trágica” é ser ele um western excessivamente econômico na metragem. Mais próximo dos padrões das séries de western-B ou C, suas qualidades são as dos melhores e mais bem produzidos faroestes. O pequeno orçamento, não permitia locações mais custosas e as rochas de Alabama Hills e cenários de Lone Pine na Califórnia, locais onde centenas de westerns foram filmados, surgem pelas lentes do cinegrafista Charles Lawton Jr. com a grandiosidade das melhores locações dos westerns. A beleza das imagens abriga os momentos de ação com uso mínimo mas precioso de doublês, como na sequência em que Jefferson Cody se defende com uma sela do índio que o ataca e em seguida segura o mesmo índio como escudo e este é flechado na nuca. Não me recordo de nada igual em outros westerns em sequência perfeita. Quando um filme termina e nos deixa triste porque acabou é porque fomos envolvidos por ele e queríamos que houvesse ainda mais dessa história e de seus personagens. Burt Kennedy rende seu tributo a “No Tempo das Diligências” (Stagecoach), de John Ford, citando inúmeras vezes a parada em Lordsburg e a própria cidade em que se passa o clássico de 1939. Sem momentos de humor, é marcante a leitura por parte de Dobie do cartaz na Estação Comanche, gaguejando palavras diante do admirado Frank ao descobrir que o companheiro sabia ler. E a inconfundível árvore que serviu para enforcamento em “O Homem que Luta Só” (Ride Lonesome) é vista em “Cavalgada Trágica”, como para mostrar que ela não foi queimada como aparece na sequência final daquele filme anterior da série Boetticher-Kennedy-Scott. E o momento de maior emoção do filme fica com a morte de Frank, abandonado morto em um riacho por não poder sequer ser enterrado. E não há como esquecer de Dobie morimbundo, após ser morto pelo traiçoeiro Lane, pedindo a Coby e à senhora Lowe para cuidarem de seu cavalo. A parceria Boetticher-Kennedy é capaz de incutir sensibilidade mesmo num western onde a austeridade é marcante.

 

Claude Akins (acima e à esquerda); Skip Homeier (à direita); Richard Rust (abaixo)

Um dos melhores faroestes dos anos 50 - Como de hábito, Randy não se esforça e nem precisa para convencer como homem do Oeste íntegro, cínico quando for preciso e frio nos confrontos com quem o provoca. Uma pena que não há referência aos dublês que o substituem nas cenas de maior perigo, bem como aos stunt-men utilizados nas quedas de cavalos. Nancy Gates tem ótima atuação, ela que estava no cinema desde os 16 anos e se despediu dos longa-metragens com “Cavalgada Trágica”, aos 36 anos. Nancy Gates passou a atuar apenas em séries de televisão, abandonando a carreira de atriz aos 45 anos de idade. Curiosamente esta deveria ter sido também a derradeira participação de Randolph Scott no cinema já que ele nunca escondeu que preferia jogar golfe a filmar, milionário que era porque soube aplicar bem o que ganhou como ator. Ocorre que o clube de golfe no qual ele pretendia entrar, era clube de milionários que não aceitava atores e Scott só foi aceito após se declarar aposentado das telas. Porém dois anos depois voltou atrás em sua decisão e aceitou filmar sob a direção de um diretor pouco conhecido chamado Sam Peckinpah. Após esse filme Scott voltou a só jogar golfe e ler o Wall Street Journal. Claude Akins é aquele tipo de vilão que não exagera mas amedronta com o olhar. Skip Homeier e Richard Rust completam o elenco principal dentro do padrão Boetticher, ou seja, ‘nada de truques interpretativos sob a minha direção’. A trilha musical, toda ela feita com música de arquivo é funcional. O que não é satisfatório é ver Comanches sem suas vastas cabeleiras negras e sim usando corte típico dos Mowhacks. Nada porém que comprometa “Cavalgada Trágica”, um dos melhores faroestes dos anos 50 e certamente o melhor entre aqueles com metragem de 72 minutos e filmado em doze dias apenas com orçamento mínimo.

Sequências espetaculares de ação; Richard Rust lendo para Skip Homeier

Nancy Gates

Randolph Scott, Nancy Gates e Claude Akins;
Scott, Skip Homeier, Richard Rust e Claude Akins


13 de junho de 2025

DESEJO DE VINGANÇA (HANNIE CAULDER)

 

 O nome de Burt Kennedy era um dos mais prestigiados do cinema, em se tratando de westerns. Isto porque nos anos 50 Kennedy havia sido o roteirista e/ou autor das histórias de cinco dos faroestes da série clássica interpretada por Randolph Scott, série iniciada por “Sete Homens Sem Destino” (Seven Men from Now). Passando à direção nos anos 60, Burt Kennedy rodou os elogiados “Gigantes em Luta” (The War Wagon), “Uma Cidade Contra o Xerife” (Support Your Local Sheriff) e “Latigo, o Pistoleiro” (Support Your Local Gunfighter). Em 1971 a produtora Curtwell, do casal Patrick Curtis e Raquel Welch decidiu produzir um western que tivesse como protagonista a própria Raquel e que seria filmado em Almería, na Espanha, onde os custos eram muito inferiores aos dos Estados Unidos. Raquel seria ‘Hannie Caulder’ e para compor o elenco foram chamados Robert Culp, que adquirira fama com a série de TV “I Spy” (Os Destemidos) e seu último filme - “Bob and Carol and Teddy and Alice” - se tornara um dos maiores sucessos de 1969. Além de Culp foram contratados Ernest Borgnine, Jack Elam e Strother Martin, completando o elenco principal. Artistas conhecidos como Christopher Lee, Stephen Boyd e Diana Dors foram chamados para participações especiais e tudo indicava que “Hannie Caulder”, que no Brasil recebeu o título “Desejo de Vingança” seria um sucesso de bilheteria, o que acabou não acontecendo, sendo bem recebido na Europa mas fracassando nos Estados Unidos, mesmo tendo este filme de Burt Kennedy muitas qualidades.

 

Vingança passo a passo - Emmett (Ernest Borgnine), Frank (Jack Elam) e Rufus (Strother Martin) são os irmãos Clemens, trio de malfeitores desastrados que fogem dos Federales após um frustrado assalto a banco, no México. Esgotados pela fuga chegam a um posto de diligências onde matam o administrador Jim Caulder (Bud Strait), estupram sua esposa Hannie (Raquel Welch) e ateiam fogo ao posto. Surge no local o caçador de recompensas Thomas Luther Price (Robert Culp) que entende ser justo o desejo de vingança da mulher violentada e a ensina a manejar um revólver. Price leva Hannie até o México onde vive Bailey (Christopher Lee), um armeiro amigo seu que fábrica um revólver especial para Hannie. De retorno aos Estados Unidos chegam a uma pequena cidade e descobrem que lá também estão os irmãos Clemens. Price pretendia prender os irmãos e receber as recompensas mas Emmett o atinge com uma faca, e Price morre. Hannie agora tem dupla razão para se vingar e primeiro se defronta com Frank e mais rápida ao sacar mata o fora-da-lei. Em seguida é a vez de Rufus, que mesmo armado com carabina de cano duplo é morto por Hannie. O encontro com Emmett se dá em uma prisão desativada onde Hannie consuma sua vingança.

 

Raquel Welch

Fugindo da seriedade - A influência dos Westerns Spaghetti era sentida nos faroestes norte-americanos, especialmente quanto à violência mostrada na tela. E “Desejo de Vingança” era uma história com conteúdo violento, mas Burt Kennedy, que gostava de acrescentar pitadas de comédia em seus filmes, quis mesclar dramaticidade com risos provocados pelo trio de bandidos que lembram os Três Patetas, com Emmett, o irascível irmão mais velho nunca perdoando a estupidez de Rufus, o caçula. Ainda que Borgnine, Elam e Martin sejam talentosos e já deram provas de serem bons na criação de tipos jocosos, as trapalhadas do trio não funcionam bem neste western e fica-se a imaginar se não seria melhor ter explorado o lado sádico de cada um desses atores. Histórias de vingança requerem tensão constante e essa tensão é quebrada a cada confusão dos Clemons após o que não faltam xingamentos, tapas e chutes. De todos os momentos pretensamente engraçados promovidos pelos irmãos, o único que faz rir é o desespero de Rufus, o mais idiotizado dos três, que não consegue participar do estupro coletivo porque Emmett e Frank não lhes cedem a vez, o que o leva a mais um acesso de raiva e a atear fogo na casa dos Caulder.

 

Ernest Borgnine, Jack Elam, Strother Martin

Prioridade para matar - Um ingrediente bastante criativo no roteiro é o fato de Thomas Price ser um respeitado caçador de recompensas a ponto de atemorizar um dos xerifes quando a ele se apresenta para receber uma recompensa. O sheriff treme diante dele. E Price sabe que cada um dos irmãos Clemens significa dinheiro em seu bolso, ao mesmo tempo que sua admiração por Hannie aumenta enquanto ele melhor a vai conhecendo. Sentimento recíproco e que resulta em um dos momento fracos do filme quando caminham na areia do mar, enamorados à luz do luar. Apesar de Price ser frio como deve ser um caçador de recompensas e Hannie ter olhos apenas para a vingança, ambos imaginam uma possível vida juntos, ele com crianças ao redor e ela refazendo o lar destruído. Price sabe que a prioridade da morte dos Clemons é dela em seu desejo justificado de vingança, mas adverte Hannie dizendo que ela não conseguirá executar a missão a que se propõe contra três bandidos inescrupulosos. Price morre antes de se defrontar com os bandidos, morto por Emmett, mais rápido que ele ao lançar uma certeira faca em seu abdome com tempo ainda de se desviar do tiro desferido pelo pistoleiro. Kennedy fez uso de câmera lenta e aí não tem jeito, lembramos inevitavelmente de Sam Peckimpah e o que ele faria com um roteiro como o de “Desejo de Vingança”.

 

Robert Culp e Raquel Welch

Raquel sensual e Culp perfeito - Nenhuma outra atriz de Hollywood foi mais bonita e sensual que Raquel Welch naqueles anos 60/70. A atriz era a campeoníssima da venda de pôsteres que emolduravam as paredes, o que era moda naquele tempo. Sua foto ampliada do filme “Mil Séculos Antes de Cristo” estava em centenas de milhares de quartos de rapazes no mundo todo. Os anúncios de “Desejo de Vingança” chamavam a atenção para a seminudez de Raquel, coberta apenas por um poncho e ninguém poderia reclamar deste western se pagou para vê-la provocante e linda. Seria demais exigir que fosse também ótima atriz na proporção de sua beleza, o que ela nunca pretendeu ser e Raquel saiu-se bem como a viúva vingativa. Porém quem surpreende de verdade é Robert Culp, uma perfeita cópia de Henry Fonda de quem tem o estilo comedido e simplista de atuar, sem excesso algum. Excelente como o pistoleiro caçador de recompensas. Sua aula de manejo e disparo de revólver ensinando Hannie Caulder é um momento brilhante do filme, que aproveita e mostra como era a fabricação artesanal de um revólver por um armeiro.

 

Robert Culp e Christopher Lee

Único faroeste de Christopher Lee - Ainda entre os bons momentos de “Desejo de Vingança” está a morte de Ernest Borgnine, muito bem coreografada e ele com as expressões inimitáveis que o consagraram. Jack Elam ao enfrentar Hannie Caulder mostra porque ele foi um dos grandes vilões do cinema. Strother Martin repete-se a cada sequência nada inventando na idiotice do personagem Rufus. Nos créditos iniciais não aparece o nome de Stephen Boyd que tem curta participação em apenas duas sequências interpretando outro caçador de recompensas sem que haja uma explicação para suas aparições, inclusive na velha prisão abandonada. Diana Dors foi a resposta inglesa para Marilyn Monroe e interpreta uma cafetina. Em sua longa carreira Christopher Lee fez somente um único western e ele é o tranquilo armeiro que se retira no México onde faz mais filhos que armas. Um desses filhos é Paco de Lucia, o famoso instrumentista espanhol, em rápida aparição. Embora filmado na Espanha, “Desejo de Vingança” não utiliza muitos dos conhecidos coadjuvantes dos westerns spaghetti e somente Aldo Sambrell e Luís Barboo estão entre os rostos mais familiares. Para variar os mexicanos aparecem como preguiçosos federales na sequência do primeiro assalto a banco praticado pelos irmãos Clemens. Todos dormindo enquanto o banco é assaltado. E mesmo no ataque de um grupo de bandidos mexicanos, doze ao todo, à casa do armeiro, são rechaçados e somente quatro sobrevivem, em demonstração que além de preguiçosos são ruins de pontaria. Não sem razão o governo mexicano sempre faz restrições a muitas filmagens em seu país.

 

Christopher Lee, Stephen Boyd e Raquel Welch

Raquel/Hannie Caulder: inesquecível - “Desejo de Vingança” é um bom faroeste mas daqueles filmes que deixam a impressão que poderiam ser melhor. Burt Kennedy não foi creditado como roteirista mas consta que fez diversas alterações no roteiro deste western. O filme seguinte de Kennedy foi “Os Chacais do Oeste” (The Train Robbers), com John Wayne e Ann-Margret, faroeste que, assim como “Desejo de Vingança” estão em nível inferior se comparados aos melhores trabalhos de Burt Kennedy como diretor. E a partir de então Kennedy passou a se dedicar mais a filmes feitos para a televisão, entre eles diversos faroestes, o mais conhecido a sua versão para a defesa do Álamo em “Álamo - 13 Dias de Glória” (Alamo - Thirteen Days to Glory), com James Arness como Jim Bowie. E Raquel Welch, que havia atuado em “O Preço de um Covarde” (Bandolero!) e em “100 Rifles” (sobre a Revolução Mexicana), despediu-se do gênero como Hannie Caulder, num western que se não se tornou ium clássico, pelo menos tornou a imagem da bela atriz vestida apenas com um poncho é inesquecível. Digna de um pôster.

Raquel Welch

Ernest Borgnine

Jack Elam

Strother Martin

Raquel Welch com Ernest Borgnine, Strother Martin e Jack Elam

Raquel Welch

3 de junho de 2025

ESTRONDO DE TAMBORES (A THUNDER OF DRUMS)

 


  No início dos anos 60, enquanto na TV as séries westerns ainda estavam entre as campeãs de audiência, no cinema o gênero experimentava o declínio e prova disso é que, em 1961, alguns grandes estúdios produziram um único western cada, como foi o caso da Columbia, Warner Bros., Paramount e MGM. O faroeste que a Metro produziu nesse ano foi “Estrondo de Tambores” (A Thunder of Drums), baseado em história de James Warner Bellah e com roteiro do mesmo Bellah, cujo nome é bastante conhecido pelos fãs de westerns, especialmente aqueles que apreciam filmes sobre a Cavalaria Norte-Americana. São de autoria de Bellah as histórias que John Ford usou em sua Trilogia da Cavalaria (“Sangue de Heróis”/Fort Apache, “Legião Invencível”/She Wore a Yellow Ribbon e “Rio Grande”/Rio Bravo), além de “Audazes e Malditos” (Sergeant Rutledge). E James Warner Bellah foi também o autor da história e um dos roteiristas da obra-prima “O Homem que Matou o Facínora” (The Man who Shot Liberty Valance). Esses títulos seriam mais que suficientes para recomendar “Estrondo de Tambores”, com a direção entregue a Joseph Newman, diretor que três anos antes havia dirigido o ótimo “Forte Massacre” (Fort Massacre). E o elenco desta produção da Metro foi liderado por Richard Boone, outra atração, ele que fazia sucesso como o Paladino do Oeste, na série de TV que esteve no ar por seis temporadas, entre 1957 e 1963, sempre entre as mais assistidas. Nas folgas entre os episódios como ‘The Paladin’, Boone teve marcante participação em “O Álamo” (The Alamo), de John Wayne, interpretando o General Sam Houston e vestiu novamente uniforme militar para ser o comandante do forte onde se passa a história de “Estrondo de Tambores”.


 Caça aos índios assassinos - Uma patrulha composta por soldados do Forte Canby é atacada por índios quando quatro soldados são mortos. Aparentemente são os mesmos índios também atacaram a casa de uma família de colonos matando-os e estuprando duas mulheres brancas. O Capitão Stephen Maddocks (Richard Boone) que comanda o forte exige que se descubra se os autores dos massacres são Comanches ou Apaches, onde eles estão e que paguem com suas vidas pelos assassinatos que cometeram. Chega ao Forte Canby o jovem e inexperiente Tenente Curtis McQuade (George Hamilton), recém formado pela Academia Militar e filho de um general do Exército que comandara o mesmo Forte Canby tendo, então, Maddocks sob seu comando. O Tenente McQuade encontra no forte a jovem Tracey Hamilton (Luana Patten) que está prestes a se casar com o Tenente Thomas Gresham (James Douglas), também lotado em Forte Canby. McQuade e Tracey se conheceram no Leste, onde mantiveram um caso e a antiga paixão é reacendida. Maddocks envia o Tenente Gresham comandando uma patrulha de sete soldados para localizar os índios e todos os oito homens da patrulha são brutalmente mortos. Após mais esta baixa em suas tropas, num total de doze num intervalo de poucos dias, o Capitão Maddocks reúne um destacamento maior que também é atacado pelos Apaches. Após dois confrontos os índios são abatidos e McQuade consegue provar a Maddock sua coragem e valor. A tropa retorna ao Forte Canby de onde Tracey Hamilton parte sozinha de volta para o Leste.

A Tropa sob o comando do Capitão Maddocks; a patrulha dizimada pelos Apaches

 A vida no Forte Canby - Deixe-se de lado a expectativa de “Estrondo de Tambores”, por ser uma história da Cavalaria de James Warner Bellah, resultar num western como os da trilogia dirigida por John Ford já que qualquer comparação seria imprópria. Feito isso, este filme de Joseph Newman consegue despertar razoável interesse na abordagem da rotina de um forte encravado no Velho Oeste. As reivindicações do capitão-comandante são só parcialmente atendidas; o número de soldados do forte é insuficiente para conter os ataques dos índios na circunscrição do forte; a alegria dos soldados no dia de receber o soldo (payday) que é gasto quase todo ele no consumo de whiskey; as intrigas que correm boca-a-boca; os momentos de descontração nos bailes; o temor das ordens do irascível capitão sempre pronto a humilhar um subordinado. A isso some-se a insatisfação do próprio Capitão Maddocks confinado ao Forte Canby sem nenhuma previsão de promoção em razão de um erro militar cometido no passado. Dois terços de “Estrondo de Tambores” são consumidos para mostrar a vida entre as muralhas do forte, no que o filme não deixa de ser bem sucedido. Isto apesar do triângulo amoroso pouco ou nada convincente inserido na história com a coincidência da chegada do Tenente McQuade na véspera do casamento da jovem Tracey com o Tenente (Gresham), ela que quase se tornara a senhora McQuade quando viviam no Leste. E mais ainda com a sequência de encontros fortuitos e troca de beijos sempre interrompidos pela chegada inesperada de um soldado ou mesmo do Capitão Maddocks.

Richard Boone dançando com Luana Patten; Arthur O'Connell, James Douglas e George Hamilton; Luana Patten e James Douglas; Duane Eddy e seu violão

 Um soldado mau caráter - Após muita conversa e pouca ação, vem o aguardado final de “Estrondo de Tambores” quando a Cavalaria parte para encontrar os índios e é emboscada pelos Apaches, em situação confusa com o Capitão Maddocks dando ordens ambíguas. E o ponto alto que poderia ser o confronto decisivo é decepcionante e despido de emoção e ritmo, sem uso de stuntmen e sem as lutas corpo a corpo e quedas de cavalos tradicionais nos melhores westerns. Em nada ajuda o excesso de frases de fundo psico-filósofico expressas pelo Capitão Maddock cuja didática consiste em humilhar todos sob seu comando. O único momento de ação na parte inicial ocorre quando o Tenente McQuade é extorquido pelo soldado Hanna (Charles Bronson) com quem trava luta feroz interrompida pela chegada de Maddock. Hanna havia presenciado diálogo comprometedor entre McQuade e Tracey e tenta tirar proveito disso cobrando McQuade pelo seu silêncio. Na econômica sequência inicial do filme, quando do ataque de Apaches, que sequer são mostrados, ao rancho da família Detweiler, a menina Laurie sofre um trauma que a deixa muda e sem reações sendo assim encontrada. E ao final do filme, sem maiores explicações a menina parece se recuperar e é enviada à casa de uma tia no Leste. Assim como o romance proibido entre McQuade e Tracey, a presença da menina Laurie é mal resolvida pelo roteiro. James Warner Bellah publicava suas histórias em forma de pulps e é provável que essas situações façam sentido no livro, o que não ocorre no roteiro escrito pelo próprio Bellah.

Carole Wells; Charles Bronson, Slim Pickens e Tammy Marihugh;  George Hamilton e Charles Bronson; Charles Bronson

 Charles Bronson o destaque do filme - A Metro-Goldwyn-Mayer entendeu ser esta aventura de Cavalaria uma boa oportunidade para impulsionar as carreiras de George Hamilton (que não decolava), James Douglas, Richard Chamberlain (em seu segundo filme e ainda antes da série de TV “Dr. Kildare”) e de Luana Patten (ex-atriz infantil). Porém quem domina este western com atuações seguras são os ‘veteranos’ Richard Boone, Arthur O’Connell e Charles Bronson, este aos 40 anos e já com uma década atuando em mais de trinta filmes, alguns deles westerns clássicos. Seu personagem é cínico, obcecado por mulheres e irresponsável a ponto de estar sempre devendo ao Exército. E quem diria que, de todo o elenco, Bronson seria poucos anos mais tarde uma sensação nas bilheteria do cinema! Claro que Boone é o destaque maior com sua presença forte e voz tonitruante, contrastando com os galãs Hamilton e James Douglas impecavelmente fardados e ainda o também bonitão Richard Chamberlain. Luana Patten, cuja beleza lembra um pouco Romy Schneider, pouco tem a fazer a não ser não conseguir evitar os abraços e beijos de Hamilton, seu ex-noivo. O diretor Newman não foi capaz de explorar o talento de comediante de Slim Pickens para dar um pouco de leveza ao filme. Como era moda nos westerns daqueles anos colocar jovens artistas da música nos elencos, desta vez foi o guitarrista Duane Eddy quem foi usado para atrair os fãs de rock’n’roll. Muito boa a música de Harry Sukman bem como a fotografia de William W. Spencer, que ajudam a fazer “Estrondo de Tambores” merecer ser assistido. Curiosamente a sequência final parece ter sido inspirada em “Casablanca”, com a amizade que nasce entre o Capitão Maddocks e o Tenente McQuade. E é de Maddocks a frase “o melhor soldado é o solteiro porque a única coisa que ele tem a perder é a solidão”.

George Hamilton e Richard Chamberlain; Charles Bronson e Slim Pickens; Duane Eddy; Arthur O'Connell, George Hamilton, Charles Bronson e Slim Pickens


Richard Boone

 Bellah, um patriota extremado - “Estrondo de Tambores” foi um western logo esquecido, em parte por sua qualidade mediana e mais ainda porque quando foi produzido já se iniciara uma revisão da mentalidade que por décadas imperou em Hollywood vendo os nativos como selvagens, ecoando a frase do General Sheridan que “índio bom é índio morto”. Segundo o filho de James Warner Bellah, o pai era um homem misantropo e racista e que odiava os índios. Bellah lutou nas duas grandes guerras mundiais e se tornou membro da Society of Colonial Wars, uma associação patriótica criada para defesa e preservação das colônias norte-americanas espalhadas pelo mundo. O roteiro de Bellah trata os Apaches como seres que devem ser mortos e nada é mostrado no filme sobre eles ou suas razões para lutar, a não ser que são responsáveis por ataques covardes e cruéis contra os brancos e contra a Cavalaria. Por sinal, no combate com os túnicas azuis os Apaches sequer sdemonstram saber lutar e são presas fáceis da Cavalaria, a não ser quando, como foi dito, atacam covardemente. “A Thunder of Drums” foi o último livro escrito por James Warner Bellah e é provável que nos dias atuais seus livros voltem a fazer sucesso.

 

Acima à direita James Warner Bellah; abaixo à esquerda Richard Boone, Duane Eddy e Joseph Newman; abaixo à direita o militar James Warner Bellah.