UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

16 de outubro de 2013

A CANÇÃO-TEMA DE ‘VERA CRUZ’ QUE NÃO SE OUVE NO FILME




Sammy Cahn e Hugo Friedhofer.
Depois do sucesso do western “Matar ou Morrer”, êxito acompanhado pela música-tema do filme (“Do Not Forsake Me...”), que se tornou sucesso de vendagem na voz de Frankie Laine, outros filmes adotaram a novidade de ter uma canção-tema na abertura. Frankie Laine foi o campeoníssimo dessa moda. Para o western “Vera Cruz” foi composta uma canção homônima, com música de autoria do maestro-compositor Hugo Wilhem Friedhofer com letra de Sammy Cahn. Friedhofer, que apesar do nome era norte-americano e fazia música para o cinema desde 1929, compôs ou orquestrou trilhas sonoras para mais de 200 filmes, vencendo o Oscar com a trilha sonora musical composta para “Os Melhores Anos de Nossas Vidas”. O nome do letrista Sammy Cahn é ainda mais famoso e nada menos que 23 canções com letras suas concorreram ao Oscar, sendo que ele levou a estatueta para casa quatro vezes pelas músicas “Three Coins in the Fountain” (“A Fonte dos Desejos”), “All the Way” (“Chorei por Você”), “High Hopes” (“Os viúvos Também Sonham”) e “Call me Irresponsible” (“O Estado Interessante de Papai”). Em “Three Coins in the Fountain” Jules Styne foi o parceiro de Sammy Cahn; nas outras três canções vitoriosas o parceiro foi Jimmy Van Heusen. Frank Sinatra gravava tudo que Cahn e Van Heusen compunham, atestado da qualidade das composições.

Tony Martin nos anos 40 e estrelando um western.
O ‘cowboy’ Tony Martin - Como o escore musical de “Vera Cruz” foi entregue a Hugo Friedhofer, após a letra ter sido encomendada a Sammy Cahn, o próprio Friedhofer a musicou. E para gravar a canção-título foi chamado Tony Martin, ator-cantor que disputava espaço nas rádios e depois na televisão com cantores como Sinatra, Bing Crosby, Nat King Cole, Frankie Laine, Dick Haymes, Dean Martin, Perry Como e outros. Disputa inglória, tanto que jamais Tony Martin chegou ao primeiro lugar do hit-parade. Tony Martin é bastante lembrado por sua gravação de “Stranger in Paradise”, que na Inglaterra chegou ao primeiro lugar na parada de sucessos, mas nos Estados Unidos atingiu apenas à sexta posição. O azar de Tony Martin é que muitos cantores, entre eles Vic Damone e Bing Crosby, gravaram ao mesmo tempo que ele essa canção do musical “Um Estranho no Paraíso” (Kismet), estrelado por Howard Keel e Ann Blyth. O ótimo cantor Tony Martin fez muitos filmes mas como ator não chegava a empolgar. Martin fez até um faroeste chamado “Valente como Poucos” (Quincannon – Frontier Scout), em 1956, de Lesley Selander. Pode-se afirmar que o maior sucesso da vida de Tony Martin foi ter se casado com a maravilhosa Cyd Charisse em 1948, feliz casamento que durou até a morte da atriz-dançarina, em 2008. Tony Martin morreria em 2012, aos 98 anos de idade. 

Selo do disco da RCA Victor com a canção
"Vera Cruz", indicando que a mesma foi
utilizada no filme de Robert Aldrich.
Canção abortada - Desta vez Sammy Cahn não acertou na parceria com Hugo Friedhofer e a canção “Vera Cruz” ficou muito aquém do que se esperava. Foi tão grande a decepção com a canção que ela foi simplesmente excluída do filme uma vez que não acrescentaria o necessário impacto orquestral e não possibilitaria as variações melódicas imaginadas. Como Burt Lancaster e seu sócio Harold Hecht foram os produtores de “Vera Cruz” e como Lancaster se intrometeu em todas as instâncias do projeto, pode-se acreditar que a decisão de excluir a canção tenha sido do ator. Burt Lancaster era um apaixonado por música, mais especificamente por ópera. A canção “Vera Cruz” tentou dar emoção à narrativa num estilo musical próximo daquele que Dimitri Tiomkin compunha com maestria. E buscou a canção nuances que remetem à música latina, acentuando o uso de instrumentos de percussão tão em voga na época. O resultado final foi apenas um pretensioso bolero. Quem atingiu com total brilho a mescla de música para western com a latinidad foi Elmer Bernstein em “Sete Homens e um Destino” e mais tarde Jerry Fielding em “Meu Ódio Será Sua Herança”. De qualquer forma vale à pena conhecer a canção “Vera Cruz”, aquela que não foi escutada nessa incrível aventura cinematográfica dirigida por Robert Aldrich e estrelada por Burt Lancaster e Gary Cooper.


Tony Martin e sua maravilhosa esposa Cyd Charisse, dona das mais belas
pernas do cinema. Tony e Cyd foram casados e felizes por 60 anos.

Um comentário:

  1. Que texto maravilhoso sobre o filme Vera Cruz, especialmente com relação a cancao que acabou não sendo usada na excelente obra do diretor Robert Aldrich.

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