Meu nome é Joailton Carvalho Buenos
Aires, nasci em Itainópolis, Piauí, tenho 52 anos, sou Médico Radiologista,
moro atualmente em Caruaru-Pe. Entrei num cinema pela primeira vez aos 8 anos
de idade em Teresina e vi uma televisão funcionando, em Picos-Pi, quando fui
morar lá, início dos anos 70, para fazer um exame de admissão e o ginásio. Na
minha cidade só havia o antigo primário e olhe lá! Em Picos, havia dois lugares
que projetavam filmes regularmente: um improvisado(O Círculo Operário) e o
outro oficial, O Cine Spark, que também não conseguiu fugir de uma sentença de
morte , decretada e disseminada de forma epidêmica, no final das anos 80, que
atingiu inúmeros cinemas deste Brasil:”Virar um templo evangélico”.
Em Picos, a televisão era apenas uma
promessa e cara, os circos não passavam por lá todos os meses, transformando
assim, o cinema como a principal e constante fonte de diversão de massa, onde o
filme “de faroeste”, reinava absoluto. Lembro-me que fui muitas vezes impedido
de ver estes filmes, por falta de idade e também pelo excesso de lotação do
espaço em dias de exibição de um faroeste famoso. Curiosamente, estas pequenas
cidades do interior do Brasil, exibiam muitos filmes como novidades, que já
haviam sido lançados há 4 ou 5 anos. Sempre achávamos que eram novos, nos
integrando ao velho conceito, que todo filme que você não viu, é novo e é
lançamento. Quando o gênero faroeste já estava sem fôlego em outros mundos, paradoxalmente,
no meu mundo, o das cidades do interior, na década de70, ainda reinava o
faroeste na preferência popular e ainda estava num galope desenfreado nas
pradarias da nossa ilusão e nós, simplesmente ignorávamos o conceito de gênero
ou subgênero. Com certeza, naquela época, no interior, poucos de nós estavam
interessados em enumerar e analisar as diferenças entre um faroeste Americano e
o Italiano, só queríamos nos divertir e sair do cinema dando tiros. A verdade é
que os faroestes Italianos reinaram absoluto naqueles tempos e que deixaram
muita saudade.
Não me enquadro no conceito de Cinéfilo,
sou mais um “filméfilo”, não sou nenhuma autoridade no assunto, tenho uma
lacuna irreparável, de muitos anos sem ver filmes, pois estava cuidando da minha
formação e perambulei por alguns Estados, com mudanças esporádicas de lugares e
de empregos, dentro deste imenso pais, tentando sobreviver; lacuna esta, que só
recentemente com a internet está aos poucos sendo preenchida.
A escolha de dez filmes entre dezenas, é
sempre difícil e injusta e quase sempre depende do emocional daquele momento em
que o assistimos; com bastante esforço
consegui chegar ao final desta missão.
1.º) Três Homens em Conflito (Il Buono,Il Brutto, Il Cattivo), 1966 –
Sergio Leone
Uma
história em que três pistoleiros, por acaso, “Blondie”(Clint
Eastwood), Tuco(Eli Wallach), Angel
Eyes(Lee Van Cleef), ficam sabendo da existência de duzentos mil dólares em ouro, enterrados num
cemitério, durante a guerra civil americana e que a contragosto, se associam
para buscar esta grana, mas logo torna-se óbvio, que esta associação não
correrá tranquila, pois nenhum dos três, sabe por completo aquele segredo e
inevitavelmente, terão que “confiar’ um no outro, se quiserem chegar à tão
almejada fortuna.
Este
filme fechou com maestria a Trilogia dos Dólares. O western com o maior grau de
diversão do gênero. Ainda me lembro do quanto fiquei impressionado quando o vi
pela primeira vez. Voltei ao cinema no outro dia, num dia de 1972. Ele tem tudo
que os outros cineastas, ao longo de sessenta anos não fizeram, com esta
maestria. É um espetáculo diferente, que
foge praticamente dos padrões Hollywoodianos, do já visto, do previsível, do
lugar comum, dando sempre a impressão de que nunca havíamos visto aquilo antes,
daquela maneira, com aquela roupagem, com aquela trilha sonora do (G)Ennio
Morricone (este maestro, já esgotou todos os adjetivos que o qualificam), com
cenas de ação em sequencias contínuas, bem encaixadas, imprevisíveis, num
casamento perfeito entre a violência e o humor, com poucos diálogos. Como
poderia dizer o Tuco: Filme de ação é para atirar e não para falar.
Um
filme compacto, que tem literalmente começo, meio e fim, num mesmo ritmo. Não
há pausas irritantes. São três horas de um absoluto deleite. Uma homenagem
perfeita aos personagens do oeste “spaghettiano”, considerados os protótipos
dos atuais politicamente incorretos. Imorais, violentos, gananciosos, covardes,
frios, selvagens e torturadores. Ia me esquecendo: humanos. Em suma, uma junção
perfeita, impensável e pouco provável de três anti-heróis, que chegarão ao
final das suas aventuras, com um desfecho espetacular. Os personagens não estão
envoltos com dramas psicológicos, não há o mínimo interesse em deixar mensagens
construtivas e elevadas, para o desenvolvimento pessoal e moral de qualquer
expectador, nada de proselitismo. Ninguém vai ver um spaghetti para auto-ajuda,
vai para se divertir, passar o tempo e este filme realmente cumpre este papel
com sobras.
Destaque
1 – TUCO –
O personagem chave deste faroeste é o Tuco (O Feio), um vagabundo errante , uma
espécie de andarilho perigoso e esperto, cheio de inimigos, que praticava um
miríade de crimes por onde passava, um espécie de serviço geral do crime, do
submundo do velho oeste, que ao contrário dos outros personagens, tem um nome (Benedicto
Pacífico Juan-Maria Ramirez), teve uma família, um passado, uma história. Tuco acaba por
tornar-se o principal personagem da trama, fazendo ou fazendo as piores
maldades, mas mesmo assim torcemos por ele.
As cenas de pancadarias são muito comuns nos
westerns Italianos, não sendo incomum o personagem principal levar umas três
surras ou até mais, durante o filme. Após uma farta refeição oferecida pelo seu
algoz, Angel Eyes, regada a vinho e com direito a um fundo musical
que era para facilitar a digestão, Tuco leva uma das mais longas (5 min),
consistentes e convincentes surras da história do western. É inesquecível e
cômica, uma paradinha rápida, nesta sessão de porradas, para o Tuco conferir,
com os dedos na boca, quais dentes estão faltando ou quais ainda estão
presentes.
Destaque
2 – O TRIELO –
A mais famosa e criativa cena de duelo, jamais vista em qualquer outro filme ou
imaginada, em qualquer gênero, nem mesmo escrita. É a marca registrada de
Leone, que prolonga uma situação de tensão, que nos coloca magistralmente,
durante uns cinco minutos cruéis, dentro de uma sufocante ansiedade, numa
expectativa que parece não ter fim, quando os três homens se defrontam, para
decidir quem vai ficar com o ouro. É a única cena em que há realmente um drama
psicológico entre os personagens, pois é pra lá de cruel numa situação destas,
não saber em quem vou atirar primeiro ou quem primeiro vai atirar em mim. O desfecho dura só uns segundos, quando
involuntariamente podemos até soltar um palavrão.
2.º) Era Uma Vez no Oeste (C’Era Uma Volta Il West), 1968 – Sergio Leone
Um Irlandês Brett McBain (Frank
Wolff), dono de muitas terras num lugar isolado do velho oeste, se prepara para
transformar este lugar numa estação de trem, com o sonho de ficar rico. Mas, as
suas terras estão nos planos de um poderoso empresário, Morton (Gabriele Ferzetti), que quer
tomá-las e para isto usa um pistoleiro, Frank (Henry Fonda), que elimina sua
família. Mas há uma herdeira, Jill McBain (Claudia Cardinale), uma
ex-prostituta casada com Brett, que estava vindo do leste, para viver neste
lugar e isto muda todos os planos de Morton e Frank. Ao mesmo tempo, outro
pistoleiro, Harmônica (Charles Bronson), procura Frank para uma vingança , sem
que ninguém saiba os motivos. Ao assassinar aquela família, Frank espalha
evidências falsas, que incriminam um bandido fugitivo, Cheyenne (Jason
Robards), que passa a se interessar também por Frank. A viúva Jill fará de
tudo, ajudada pelos dois, Harmônica e Cheyenne, para construir a estação
sonhada pelo marido e deter Frank.
Difícil o enquadramento de quem é o
melhor: “Três Homens em Conflito” ou “Era Uma Vez no Oeste’?
“Três Homens em Conflito” é pura
aventura e divertimento e “Era Uma Vez no Oeste” um filme sério e reflexivo.
Coloquei nesta ordem apenas por que vi o primeiro, primeiro.
Incrivelmente, Leone dá início a
outra trilogia, desta vez batizada de Trilogia da América, com um western
praticamente imposto pela Paramount, onde ela só financiaria um outro filme dele se ele fizesse este,
antes.
Novamente Leone surpreende com um
western completamente fora do esperado pelos produtores, onde uma mulher é a
protagonista principal, com uma história do fim do velho oeste e seus
personagens típicos. O filme é iniciado fantasticamente com uma cena que já
está na história do cinema, com duração de 12 minutos, numa estação de trem
distante de tudo, aonde chegam três pistoleiros perigosos. Esta cena acontece
sem diálogos, com uma trilha sonora inimaginável para a época, feita de sons
ambiente: o vento, um cata-vento, um telégrafo, portas, uma mosca irritante, o
estalar de dedos de um dos facínoras, uns pingos d’agua e da movimentação e
expressões dos personagens, olhando o horizonte, como esperando um trem. Cena
esta que só é interrompida com o apito de um trem distante, sobrepondo a um
zumbido de uma mosca presa no cano de uma arma e assim começa um dos mais belos
filmes de western, se não o mais belo, de todos os tempos.
O duelo final é a chave para
desvendar um mistério, que Leone habilmente esconde do expectador até o fim,
dando apenas mínimas e desfocadas pistas em flash back, mas insuficientes para
decifrá-lo. A preparação para o duelo tem um cerimonial quase macabro, onde os
personagens circulam, com aquela trilha sonora, que parece estar sussurrando
aos protagonistas, que chegou a hora de apagar o passado e fazer as pazes com a
morte.
Este filme, como parece ser uma
regra, de tão grandioso, inovador e diferente, não fez sucesso quando lançado,
como muitas outras obras de vanguarda, que quebraram paradigmas e só muito
tempo depois foram reconhecidas. Hoje, pertence a muitas listas dos 10 melhores
de todos os tempos e já é considerado um clássico, um Cult, uma obra prima.
Leone é um dos raros exemplos de
evolução dentro da sua arte; tinha talento, era original, independente,
realizando obras cada vez melhores que valorizavam as suas anteriores e o
coloca dentro de um padrão, dando-lhe uma identidade própria, uma marca
registrada, facilmente reconhecida. Talvez, o seu maior talento era o de
ignorar os críticos, aqueles seres parasitas, que vivem as expensas dos
verdadeiros artistas.
“Era Uma Vez no Oeste” é considerado
o Spaghetti Western de gala, de fraque e cartola, maduro, definitivo, uma jóia
lapidada e reinventada pela maestria de Leone, uma espécie de Bíblia do
western, com homenagens merecidas ao Western Clássico, trazendo neste filme,
referências os trabalhos dos geniais diretores americanos, entre eles, Anthony Mann, Howard
Hawks, John Ford, Fred Zinnemann...
Como referido anteriormente, Leone e
todos os cineastas Europeus, beberam bastante no cálice dos grandes diretores
americanos, onde tiraram idéias, que certamente foram usadas para o
desenvolvimento das suas idéias inovadoras e para uma marcante repaginação do
western, pois dificilmente alguém cria algo do nada, fato corriqueiro e normal
no mundo artístico. Mas, poucos admitirão, que Leone ditou tendências e que
outros diretores beberam no cálice de Leone, sem sombra de dúvida. Para
exemplificar, com um olhar livre de preconceitos, não será difícil perceber
que, o diretor do tão aclamado filme “Meu Ódio Será Tua Herança” (The Wild Bunch), 1969, de Sam Peckinpah, bebeu neste cálice. Muitos recursos empregados neste
filme trazem traços fortes do DNA de Leone, como: tom de cores gastas,
enquadramento, zoons, violência explícita, cenas com som ambiente e câmera
lenta.
3.º) Uma Bala para o General (El Chuncho), 1967 – Damiano Damiani
Este
filme se passa durante a Revolução Mexicana, quando um trem com armas, soldados
e pessoas comuns é atacado por El Chuncho (Gian Maria Volonté), pois ele é um
fornecedor de armas para o General Elias (Jaime Fernandez), um revolucionário,
entretanto, ele tem dificuldades para parar este trem, mas inesperadamente, o
trem é parado por um americano que estava no trem como passageiro, Bill Tate -
El Nino (Lou Castell), que cai nas graças de Chuncho por este feito e pede para
acompanhar o bando. Logo El Nino começa a dar sinais que tem um objetivo
obscuro, uma bala de ouro guardada e não terá escrúpulos para usar os
bandoleiros para este fim.
O director Damiano Damiani, pode-se assim dizer, inaugura uma vertente que faltava no Gênero spaghetti sestern, que ganharia duas denominações: Zapata Spaghetti e ou Zapata Western, pois tendo uma conotação fortemente política e situado dentro da Revolução Mexicana. Considerado um dos melhores filmes do período, mostra aquele clássico mosaico de miséria do povo Mexicano, com seus conhecidos contrastes entre os ricos latifundiários, a fome e a miséria da população, que ainda se arrastam até hoje. Este filme teve forte influência em outro grande filme com o mesmo tema, feito em 1971, “Quando Explode a Vingança”, por Sergio Leone, mostrando o grau de competência de Damiani, em produzir uma obra inspiradora para outro diretor de porte de Leone.
Mais uma vez Volonté, uns dos poucos atores de verdade, nos Spaghetti Westerns, que com sua presença abrilhantou dois filmes de Leone (“Por um Punhado de Dólares” e “Por Uns Dólares a Mais”) tem uma atuação impecável, encarnando um personagem complexo, Chuncho, que tem variações repentinas no seu comportamento e que nos deixa realmente sem saber quem ele é afinal. Quais os seus objetivos? É um revolucionário, saqueador ou um vagabundo perigoso? Sempre com um riso escrachado, parece que está numa grande brincadeira, ri feito uma criança ao disparar uma metralhadora, toca tambor e canta ao atacar um trem, é impiedoso, nutre um grande afeto pelo El Nino e não se importa em matar um dos seus homens por ele. Apesar de parecer um desses mexicanos desmiolados e perigosos, vamos perceber que ele tem muito sentimento, uma personalidade forte, inteligência e um fino senso de observação e discernimento, qualidades estas, que vão definir o sua ação num final sensacional e inesperado deste filme, final este, por sinal, muito emblemático que nos obriga a refletir entre princípios e amizade.
Destaco ainda a presença de
Klaus Kinski (El Santo), irmão de Chuncho,uma espécie de beato que reza, dá
tiros, joga bombas, sempre dominando a
cena com o sua expressão de desajustado e também uma trilha sonora impecável,
de Luis Bacalov, que realmente nos leva e ao México e nos coloca no meio de uma
revolução.O director Damiano Damiani, pode-se assim dizer, inaugura uma vertente que faltava no Gênero spaghetti sestern, que ganharia duas denominações: Zapata Spaghetti e ou Zapata Western, pois tendo uma conotação fortemente política e situado dentro da Revolução Mexicana. Considerado um dos melhores filmes do período, mostra aquele clássico mosaico de miséria do povo Mexicano, com seus conhecidos contrastes entre os ricos latifundiários, a fome e a miséria da população, que ainda se arrastam até hoje. Este filme teve forte influência em outro grande filme com o mesmo tema, feito em 1971, “Quando Explode a Vingança”, por Sergio Leone, mostrando o grau de competência de Damiani, em produzir uma obra inspiradora para outro diretor de porte de Leone.
Mais uma vez Volonté, uns dos poucos atores de verdade, nos Spaghetti Westerns, que com sua presença abrilhantou dois filmes de Leone (“Por um Punhado de Dólares” e “Por Uns Dólares a Mais”) tem uma atuação impecável, encarnando um personagem complexo, Chuncho, que tem variações repentinas no seu comportamento e que nos deixa realmente sem saber quem ele é afinal. Quais os seus objetivos? É um revolucionário, saqueador ou um vagabundo perigoso? Sempre com um riso escrachado, parece que está numa grande brincadeira, ri feito uma criança ao disparar uma metralhadora, toca tambor e canta ao atacar um trem, é impiedoso, nutre um grande afeto pelo El Nino e não se importa em matar um dos seus homens por ele. Apesar de parecer um desses mexicanos desmiolados e perigosos, vamos perceber que ele tem muito sentimento, uma personalidade forte, inteligência e um fino senso de observação e discernimento, qualidades estas, que vão definir o sua ação num final sensacional e inesperado deste filme, final este, por sinal, muito emblemático que nos obriga a refletir entre princípios e amizade.
4.º) O Dia da Desforra (La Resa Dei
Conti), 1966 – Sergio Sollima
A um xerife competente, Jonathan
Corbett (Lee Van Cleef), lhe é oferecido uma oportunidade de ser eleito senador,
por um político corrupto, se ele capturar um mexicano, Cuchillo (Tomas Milian),
acusado de estupro e morte de uma adolescente. Corbertt sai na captura de
Cuchillo, mas logo percebe que a tarefa não é nada fácil, o mexicano é
inteligente, cheio de artimanhas e perigoso com uma faca. Logo percebe que pode
estar perseguindo o homem errado.
Outro Spaghetti Western, de cunho
político, dirigido por um dos famosos participantes do clube dos Sergios
Italianos, Sergio Sollima. Os outros dos Sergios, conhecidíssimos são: Sergio Leone
e Sergio Corbucci. Neste, Sollima dá ênfase ao binômio que já nasceu de mãos
dadas: política e corrupção. Um filme bastante movimentado, com as belas,
conhecidas e imortalizadas paisagens do deserto Espanhol, tendo um fundo
musical do onipresente Morricone. O mexicano Cuchillo dá um passo à frente,
escapando com criatividade de todos os cercos do caçador, repetindo sempre, que
jamais será apanhado.
Destaco a atuação excelente do Tomas Milian,
ator de origem Cubana, com mais um convencível desempenho que lhe é peculiar,
em todos os filmes em que atua. Este ator já esteve no Brasil, para atuar em um
filme de cangaceiro, “Rebelião dos Brutos”, em 1972 e também contracenou com
Volonté em outro clássico Italiano, “Face a Face – Quando os Brutos se
Defrontam”, também do diretor Sergio Sollima.
5.º) Mato em Nome da Lei (Lawman), 1971 – Michael Winner
Um xerife durão e inflexível, Jared Maddoxv(Burt
Lancaster), vai a uma cidade vizinha à sua, Sabbath, para prender 7 vaqueiros,
empregados de um rico fazendeiro Vincent Bronson (Lee J. Cobb), que ao passarem
pela sua cidade e após em bebedeira, atiraram aleatoriamente e mataram
acidentalmente um morador da sua cidade. O xerife desta cidade, Cotton Ryan (Robert
Ryan), corrompido por Bronson, nega-se ajudá-lo diretamente. Maddox dá um
ultimato de 24 horas para os homens de Bronson se entreguem, mas eles
recusam-se a ser presos e preferem enfrentar o xerife, que não mudará de
opinião e cumprirá a lei até as últimas conseqüências.
Com
um elenco de primeira categoria, especializado em westerns, dificilmente
decepcionaria. Faroeste com muita violência e uma dose certa de psicologia. É
interessante como este filme mostra que uma brincadeira inconseqüente, pode levar
pessoas boas não adeptas da violência a autodestruição, pelo desdobramento de
situações que aparentemente poderiam ser controladas. Mostra também, que existe
uma quase invisível fronteira, que delimita até que ponto podemos chegar com
nossas condutas, como também existe outra, em que outras pessoas podem não
permitir que avancemos tanto. Quando resolveu recuar, Maddox, já havia ido
longe demais.
A entrada do xerife na cidade transportando um
cadáver num cavalo, lembra o início de “O Homem dos Olhos Frios’, com Henry
Fonda (Dir. Anthony Mann) e a tenacidade do xerife para cumprir a sua missão a
qualquer custo, com aquele jeitão mecânico, impassível aparentemente sem
sentimentos, sem nenhum sorriso, também lembra “O Exterminador do Futuro”, com
Arnold Schwarzenegger.
6.º) O Último Pistoleiro
(The Shootist), 1976 – Don Siegel
No
início do século 20, na cidade de Carson City, um famoso pistoleiro, J.B. Books,
doente e velho, procura um médico seu amigo, Dr. E.W. Hostetler (James
Stewart), que diagnostica um câncer incurável e o pistoleiro resolve ficar
naquela cidade, numa pensão de uma viúva, Bond Rogers (Lauren Bacall), para morrer em paz.
Mas um homem com um passado daqueles, não ficaria restrito a um quarto de
pensão esperando que os seus movimentados dias, cheguem ao fim, de uma maneira
monótona, sem emoção e preferiria morrer lutando. Aconselhado pelo médico, toma
uma decisão e resolver ter um fim digno da sua história e manda um recado para
três desafetos seus...
Este filme me marcou muito, quando vi
o ídolo máximo do western, John Wayne, viver a sua história real e também
porque presencio no meu cotidiano, situações parecidas, pessoas que vão morrer,
não por tiros, mas com a mesma doença do ídolo em questão. Impressiona-me
aquela sua face de cansaço, envelhecida, mas serena, sem esperar nenhuma
compaixão, cheia de dignidade e ainda esbanjando um interessante humor negro.
Escolhe a própria maneira de morrer, encomenda sua lápide a um coveiro vestido
à caráter (John Carradine, também velho e doente com as suas mãos fritadas pela
artrite reumatóide). Não pensa em suicídio, prefere uma eutanásia, não aquela
convencional, num hospital, mas no mais clássico dos ambientes urbanos de interação
do velho oeste, o Saloon e de preferência levando uns desafetos consigo.
É simbólico quando J.B. Books, no seu
quarto de pensão, ao desfazer sua bagagem, dizendo que era um agente da lei;
como um mágico, retira várias armas que carregava nos seus bolsos, cintura, sob
o olhar atônito da viúva, mostrando o quanto ele era feito de armas, íntimo e
dependente delas.
Pela grandeza e imortalidade do
astro, Don Siegel e o cinema, não poderiam ter-lhes prestado maior homenagem
com tamanha sensibilidade. Realmente, foram necessárias duas mortes para
derrotar o quase imortal John Wayne e uma delas teria que ser pelas costas.
7.º) O Vingador Silencioso (Il Grande Silenzio), 1968 – Sergio Corbucci
Filme realizado inteiramente na neve, traz como
tema principal um pistoleiro mudo (Silenzio - Jean-Louis Trintignant), que
quando criança teve sua família morta e a sua garganta cortada, por caçadores
de recompensa, passando a partir de então a exterminar qualquer caçador de
recompensa, que cruzasse o seu caminho.
Silenzio é contratado por uma viúva Pauline (Vonetta McGee), de Snow Hill, em Utah, para matar Loco (Klaus Kinski), um caçador de recompensas que matou o
seu marido, covardemente, entretanto, esta missão na será tão simples. Loco
vive rodeado de outros caçadores de recompensa tão perigosos quanto ele.
Este é mais um daqueles westerns spaghettis
sensacionais, que ficaram longe do grande público por um bom tempo, como uma
espécie de condenação injusta, muito peculiar no cinema, quando este apresenta
uma obra que traz uma dose cavalar de criatividade, inova, sai do já visto, dos
clichês, surpreende os fãs e deixa os críticos perdidos.
Também com Sergio Corbucci, a crítica não poupou
referências pejorativas, como: o segundo Sergio, o Sergio menor, o primeiro e o
maior Sergio, evidentemente era Leone, que a exemplo deste, Corbucci também deu
uma banana daquelas para os críticos e outros tantos pseudos-cinéfilos de
plantão, continuou a produzir filmes e com muita criatividade deixando uma obra
de respeito, mostrou também que não precisava da sombra de Leone e ainda ditou
tendências.
Mesmo num cenário deslumbrante e espetacular da
região dos montes Pirineus, este filme não deixa de criar no expectador um
clima melancólico e até opressivo, acentuado pela trilha sonora do onipresente
maestro dos spaghettis, Ennio Morricone, dentro da sua normalidade, ou seja, no
máximo.
Klaus
Kinski, no seu melhor western, mostra todo o seu talento sem nenhum esforço, naturalmente,
como um ser ruim, cínico (“sempre respeito os mortos”), racista (“que tempos
são esses?-um negro valendo igual a um branco!”) perverso, sanguinário, mais
frio que o clima local e um auto controle de fazer inveja .
8.º) Sete Homens Sem Destino
(Seven Men from Now), 1956 – Budd Boetticher
Um
ex-xerife, Ben Stride (Randolph Scott), anda à procura de sete homens, que ao
assaltarem 20,000 dólares em ouro, de uma agência da famosa companhia Wells
Fargo, matam a sua esposa que era uma funcionária. Nesta procura, Stride
encontra um casal, Jack Greer (Walter
Reed) e Annie (Gail Russell) com sua carroça atolada. Após ajudá-los, ele os
acompanha como um protetor, pois o
território está sendo atacado por índios e encontra um antigo fora-da-lei, que
já havia sido preso por ele, Masters (Lee Marvin) e um seu cúmplice
Clete(Donald Barry), interessados em ficar com o ouro roubado, mas eles não
sabem que o casal tem um segredo.
Budd
Boetticher dirigiu sete westerns com Randolph Scott, em meados dos anos 50
e em 1960. O primeiro foi Sete Homens Sem Destino. Se você viu este filme como
o primeiro da série dos sete, há uma boa probabilidade de tratá-lo apenas como
mais um western B típico dos anos 50: 80 minutos de duração, solução final da
trama num piscar de olhos, nenhum glamour, roteiro com tema rotineiro e batido,
a vingança, que praticamente é tema máximo de quase todos os westerns. Se os
outros filmes posteriores a este forem vistos primeiro, aí sim, este filme
ganha outras dimensões. Comparado rapidamente com outros filmes de
Scott/Boetticher, de imediato é possível que não se perceba algumas diferenças,
que transformam este filme tão igual em diferente. Um faroeste que me cativou pela simplicidade,
uma história muito simples sem rodeios, diria até um clássico da simplicidade, sem
muita conversa, diálogos secos, cortantes, sem nenhuma lentidão, sem
psicologismos, belíssimas paisagens rochosas e uma imagem magistral quando
Scott entra num lago montado no seu inseparável star dust.
A
cena inicial, já demonstra que este filme vai ser diferente. Um ambiente
sombrio, chuvoso, relâmpagos, um homem a pé, de costas, lama, uma gruta, o
encontro com dois bandidos, diálogos curtos, mas esclarecedores, um duelo que
você sente subliminarmente que acontecerá (você não vai ver), a expressão
facial dos dois homens, a tensão crescente, a maneira como Stride troca
sutilmente a caneca de café de mão (café quente realmente!), dando a dica para
o que vai acontecer, os disparos e a tensão dissipada pela agitação e relincho
dos cavalos do lado de fora. Início de um western nada comum, para os
americanos, Cena inicial por demais criativa e Incomum para um western
americano, principalmente para um B.
Randolph
Scott na sua naturalidade de sempre, face marmórea, respostas lacônicas, sem sorrisos, tenso, com um férreo objetivo,
cavaleiro nato, desenrolado com uma arma na mão. Sei que muitos outros westerns
“enchem os olhos”, mas este também me presta para uma homenagem a um Cowboy,
que fica apenas a um pequeno degrau do John Wayne.
Lee
Marvin mostra toda a sua categoria, como um bandido cínico e perverso; elimina
um comparsa na maior tranquilidade e demonstra todo a sua frieza, ao acender
seu cigarro com outro, retirado da boca do homem que acabara de covardemente
liquidar.
9.º) A Morte Anda a Cavalo (Da Uomo a Uomo), 1967 – Giulio Petroni
Após
um assalto, quatro bandoleiros, se abrigam de uma tempestade numa fazenda e
matam quase toda a uma família, excetuando um garoto que é salvo do fogo por um
quinto bandido. Já adulto, Bill ( John Phillip Law), se prepara para
encontrar os assassinos, tendo como pista apenas uma espora deixada na noite do
crime. Um pistoleiro traído por seus comparsas, Ryan (Lee Van Cleef), que
cumpriu 15 anos de prisão, sai em busca dos bandidos que o traíram. Bill e Ryan
acabam se conhecendo e saindo em busca dos mesmos, com alguns segredos a serem
revelados.
Filme com uns dos títulos mais fortes do western
spaghetti, novamente com uma magistral trilha sonora do onipresente Ennio
Morricone, dentro de um tema clássico, a procura de vingança, mas tratada de
uma maneira mais criativa que a média, onde dois personagens distintos se
cruzam com o mesmo objetivo e com desenrolar dos acontecimentos, seus conflitos
vêem à tona, se misturam e se acentuam, pois o jovem cego por vingança põe a
própria vida em risco, obrigando o velho pistoleiro a usar a sua experiência e
assim não colocar em risco o seu plano de vingança. Chamo a atenção para a
caracterização dos bandidos mexicanos, nunca os vi tão feios, com um visual de
meter medo.
Lee Van Cleef em boa atuação, já bem confortável
na Europa, com sua carreira resgatada por dois filmes anteriores de Sergio
Leone (“Por Uns Dólares a Mais” -1965 e “Três Homens em Conflito” -1966) e um
de Sergio Sollima (“O Dia da Desforra’ - 1966), num papel parecido com outro,
que faria no mesmo ano (“Dias de Ira” - 1967), onde serve de professor para um
jovem pária humilhado e lixeiro (Giuliano Gemma).
John Phillip Law, um desconhecido em westerns, não
compromete com a sua boa atuação (não é preciso muito talento para ser um ator
num western), faz bem o papel do jovem inexperiente e “cabeçudo”. Não tenho
notícias de outro western feito por ele. Faleceu em 13 de maio de 2008
10.º) Jogada Decisiva (A Big Hand for a
Little Lady), 1966 – Fielder Cook
Um casal Henry
Fonda (Meredith) Joanne Woodward (Mary Meredith) e um filho Jean-Michel Michenaud (Jackie Meredith), em mudança para a Califórnia, chegam a uma cidade onde cinco milionários
vão fazer uma maratona de pôquer entre eles, com altas apostas. Meredith, um
péssimo jogador entra no jogo, arrisca todo o dinheiro da família, tem um
ataque cardíaco durante o jogo e coloca sua esposa, Mary para jogar no seu
lugar, mas ela não sabe nada sobre como jogar pôquer e aí as surpresas começam
a acontecer.
“Quando nos é dito que
certo filme é um western, qualquer que seja o enredo, a violência da natureza e
dos homens, é parte essencial da paisagem; e provavelmente o clímax emocional e
moral acontecerá durante um ato singular de violência. (Buscombe, 1988, P.
233).”
Esta
citação acima, perde completamente o sentido em “Jogada Decisiva’. Sou adepto
de westerns com uma boa dose de violência, mas seria impossível não abrir uma
dessa exceção. Neste filme, zero violência, zero morte. Ninguém morre, ninguém agride
ninguém. Os dois únicos tiros disparados serviram apenas de aviso, que um dos
jogadores havia chegado à casa de um parceiro. Considero um dos filmes mais
inteligentes e criativos que já vi, com Henry Fonda e elenco num desempenho
extraordinário, numa trama realizada em torno de um jogo de pôquer. Mesmo quem não sabe o que é high stakes, western rules, all in
ou high rollers, ou não entende nada do jogo, assim como Eu, não perde de maneira nenhuma, em nenhum momento, o interesse por esta bela comédia; se envolve na trama e acaba tendo a
mesma ansiedade do personagem principal. As expressões faciais do Fonda te
encantam e corroboram a maestria da estrela que foi.
É o
outro lado da moeda do western. Incrível como este filme é desconhecido.