Vingança é um dos temas mais utilizados nas histórias de faroestes. Vinga-se irmão, pai, mãe, filho, esposa e por vezes toda uma família, como no caso de “Dominó Kid, o Vingador” (Domino Kid), faroeste de 1957. Rory Calhoun, juntamente com Kenneth Gamet e Hall Biller, escreveu o roteiro em que um ex-confederado retorna da Guerra de Secessão e sua obsessão é a vingança que para ser consumada ele deve matar nada menos que os cinco assassinos de sua família. Dois anos depois deste western, Henry King dirigiu o clássico “Estigma da Crueldade” (The Bravados), no qual Gregory Peck persegue quatro supostos homens maus até descobrir que não foram eles os assassinos de sua esposa. “The Bravados” é um western A, enquanto “Dominó Kid” é um daqueles faroestes de pequeno orçamento (produzido por Rory Calhoun), filmado em preto e branco e destinado a ser um ‘double feature’, aqueles filmes que complementavam os programa duplo dos cinemas não lançadores. Os mais antigos devem se lembrar que, muitas vezes, o ‘double feature’ agradava mais que o filme principal e pode ter sido o caso de “Dominó Kid, o Vingador”, assim como os muitos outros pequenos westerns de Rory Calhoun. Essa série de westerns B de Calhoun foi interrompida pelas duas temporadas da série de TV “O Texano” (The Texan), em que em 79 episódios de 30 minutos ele interpreta Bill Longley, também um veterano da Guerra Civil, com o indefectível colete que Dominó Kid (Rory Calhoun) usa.
Matando um a um - A fama de pistoleiro de Dominó Kid já se espalhara pela vizinhança de Littlefield, cidade onde o comerciante Wade Harrington (Andrew Duggan) pretende ser o homem mais poderoso da região, comprando todas as pequenas propriedades. Ao retornar a Littlefield, Dominó Kid vinga-se de quatro dos assassinos de sua família, matando-os em confrontos em que é sempre mais rápido. Esses homens maus são Haimes (Fred Graham), Bob Trancas (Duane Grey), Ed Sandlin (Roy Barcroft) e Sam Beal (James Griffith). Resta a Dominó Kid descobrir quem seria o último nome da quintúpla vingança. Barbara Ellison (Kristine Miller) e Dominó Kid se conhecem desde a infância e Barbara quer que Dominó desista da vingança para não correr risco de ser morto e poderem se casar. Wade Harrington, além de querer comprar todas as propriedades ainda quer se casar com Kristine. Lafe Prentiss (Peter Whitney) é o quinto homem procurado por Dominó Kid e reaparece em Littlefield Ambos entram em confronto, com Harrington ajudando Dominó e impedindo que ele seja alvejado por um comparsa de Prentiss. Este é morto por Dominó Kid que ao final fica com Barbara.
Rory Calhoun; Andrew Duggan e Rory Calhoun |
Final surpreendente - Este western de Rory Calhoun tem 74 minutos de duração, 24 a menos que o citado “Estigma da Crueldade”. Enquanto o filme de Henry King é magnificamente desenvolvido mostrando psicologicamente como é cada um dos homens perseguidos por Gregory Peck, em “Dominó Kid” tudo é muito rápido e as mortes se sucedem pouco ou nada se sabendo sobre cada um dos assassinos da família do Vingador. Como Dominó atira sempre em legítima defesa, o sheriff Travers (Robert Burton) de Littlefield nada pode fazer contra ele e paralelamente aos showdowns “Dominó Kid, o Vingador” faz uma ciranda amorosa com Wade Harrington se mostrando apaixonado por Barbara Ellison que ama Dominó. E o vingador ainda desperta a paixão de Rosita, dançarina mexicana de quem Juan Cortez (Eugene Iglesias), amigo de Dominó, gosta. E quem é enganado na história é o espectador que tem certeza que o quinto homem da lista só pode ser o ganancioso Wade Harrington. Sem maiores explicações Lafe Prentiss ressurge para ser morto pelo Vingador e para a história ter um final feliz, ou quase feliz porque tanto Wade quanto Juan Cortez e Rosita saem frustrados amorosamente. E frustrado também o público porque a mudança de Wade Harrington de possível homem mau para homem de bem não é nada convincente.
Rory Calhoun e Yvette Duguay (acima); Yvette Duguay e Eugene Iglesias; Andrew Duggan e Kristine Miller; Rory Calhoun e Kristine Miller (abaixo) |
Faltou uma boa troca de socos - Fãs de faroestes matam neste filme a saudade de rostos muito conhecidos como Roy Barcroft, Denver Pyle, James Griffith, Dennis Moore, Fred Graham e outros, mas apenas Griffith tem maior oportunidade de exibir talento de homem mau antes de ser morto pelo Vingador. O sempre bom Andrew Duggan é perfeito como o negociante que quer lucrar com a desgraça alheia mas que inesperadamente mostra que tem bom coração e que sabe perder quando o assunto é amor. Kristine Miller fez longa carreira participando de séries de TV onde a exigência é sempre menor e perde longe e em tudo para a francesa Yvette Duguay, a sensual Rosita. Rory Calhoun, um tanto maduro para ser ‘Kid’, tem tudo que um mocinho da tela deve ter e é uma pena que as sequências de ação não tenham sido melhor desenvolvidas pelo diretor Ray Nazarro. Como Roy Barcroft já não tinha a mesma disposição física para brigas como nos tempos em que enfrentava Allan ‘Rocky’ Lane na série da Republic Pictures, uma boa troca de socos entre Calhoun e o corpulento Peter Whitney viria a propósito e “Dominó Kid, o Vingador” teria um desfecho ideal. Mas mesmo assim, merece ser visto pelos fãs do gênero.
Rory Calhoun com Roy Barcroft; abaixo James griffith |
Andrew Duggan; Rory Calhoun |