UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

8 de abril de 2020

O MORTO VENCEU (GUN BATTLE AT MONTEREY) – ...E O ESPECTADOR PERDEU!!!



Sterling Hayden
“A Face Oculta” (One-Eyed Jacks) é bastante lembrado por ser um faroeste com muitas sequências passadas à beira-mar, mais precisamente em Monterey, na Califórnia. Porém esse, que foi o único filme dirigido por Marlon Brando, não foi o western pioneiro ao utilizar como cenário o oceano Pacífico. Três anos antes uma ultraeconômica produção da Allied Artists também levou homens do Oeste a cavalgar pelas areias de Monterey. E mais que isso, com uma história bastante parecida com a do tumultuado faroeste de Brando. Tendo recebido o nada entusiasmante título nacional de “O Morto Venceu”, o que poderia levar a crer que, assim como muitos outros títulos estranhos, este filme tivesse mantido o mesmo título com que foi batizado em Portugal, o que não é verdade uma vez que nossos patrícios lusitanos o intitularam, mais apropriadamente, como “Traidores Infames”. Exibido recentemente na TV por assinatura, o canal Telecine Cult achou por bem mudar o jocoso título para “Duelo em Monterey”. Ocorre que a história, em sua maior parte, sequer transcorre em Monterey e sim em Del Rey. E mesmo o título original em Inglês (‘Gun Battle at Monterey’) engana o espectador porque não há nenhuma batalha em Monterey. Aliás não temos nem mesmo o aguardado duelo final neste western que começou a ser dirigido por Sidney Franklin Jr. e foi concluído com direção de Carl K. Hittleman, provavelmente descontente com o trabalho de Franklin Jr. Mas Hittleman também não conseguiu melhorar muita coisa porque este western é dos mais fracos.


Ted de Corsia
Um assalto, uma traição e uma captura - Um dos autores do roteiro original foi Jack Leonard, o mesmo que escreveu o excelente thriller policial “Rumo ao Inferno” em 1952. Em “O Morto Venceu” dois assaltantes de banco, após praticarem um assalto, se escondem num local à beira-mar. Um deles é Max Reno (Ted de Corsia) que decide ficar com o dinheiro do roubo só para ele e atira pelas costas no companheiro Jay Turner (Sterling Hayden) quando este distraidamente entra no mar. Reno acredita que Turner tenha morrido e o deixa para que as ondas o levem e os peixes o devorem. Aparece na praia a jovem Maria Salvador (Pamela Duncan) que resgata Turner ainda com vida, o leva para o pequeno rancho do pai e consegue curá-lo das feridas provocadas pelos tiros de Reno. Turner se recupera e parte determinado a se vingar, procurando seu quase assassino por várias cidades. Encontra-o em Del Rey, onde Max Reno se tornou dono do saloon local. Reno reconhece Turner que está sem barba, mas este o engana dizendo chamar-se ‘John York’. Turner/York é nomeado delegado de Del Rey e mais tarde revela sua real identidade para Reno, prendendo-o e o conduzindo até Monterey, onde ele é procurado por assassinato e por roubo a banco. Atendendo aos pedidos de Maria, Turner também se entrega e confessa ao xerife de Del Rey ser um dos assaltantes do banco.

Sterling Hayden
Confundindo Sterling Hayden - A princípio a história de “O Morto Venceu” desperta certo interesse, até pela similaridade com “A Face Oculta”. A trama, no entanto, se torna absurda quando o bandido Max Reno se deixa convencer que Turner não é Turner. Quer dizer, convencido mas nem tanto. E que não se pense que seu ex-comparsa usou algum disfarce que o tornasse irreconhecível pois o que fez apenas foi retirar a barba, barba rala por sinal. Imagina-se quantos homens tem a cara nórdica de Sterling Hayden, sua altura, porte físico, voz (inalterada), jeito de andar e a ironia em cada frase. Só mesmo se Ted de Corsia fosse substituído por Larry, Moe ou Curly...  Por fim vem a opção dos roteiristas por um desfecho inusitado, inconvincente e totalmente sem graça, sem o aguardado duelo prometido pelos títulos nacionais, mesmo porque o ‘morto’ não vence o oponente e acaba preso como ele. O que leva Turner a esse gesto tão honesto? O amor pela mexicana que lhe salvou a vida e que lhe pede para agir com nobreza de caráter incomum. Só que esse amor aflorou em algum momento que o filme deixou de mostrar. Nesse ponto merece ser comentado um pouco da personalidade do ator Sterling Hayden.

Sterling Hayden e Pamela Duncan; Pamela Duncan

Lee Van Cleef
Lee Van Cleef salva o filme - Lançado em Hollywood como ‘o homem mais bonito do cinema’, Sterling Hayden desde logo mostrou ser avesso ao star-system não permitindo ser usado pelos estúdios e pelos produtores. Ao contrário, ele é quem usava Hollywood ganhando dinheiro para fazer o que mais gostava na vida que era navegar pelos diversos mares. A indústria vingou-se dele rebaixando-o para filmes de categoria inferior, para não dizer ínfima. E o comportamento de Hayden é facilmente percebido na tela com o desdém com que interpreta Jay Turner mesmo sequências ‘de amor’. Daí que o menos provável é o que o roteiro tentou impor como solução, ou seja, que Turner tivesse se apaixonado pela mexicana. E Hayden não está sozinho ao não levar a sério esta produção já que o mesmo acontece com Ted de Corsia que claramente também não faz o mínimo esforço para ser o vilão cruel e ameaçador de tantos filmes. Mas nem tudo está perdido neste western porque Lee Van Cleef brilha com boa atuação como o traiçoeiro capanga, além da bonita e sensual Mary Beth Hughes como a moça má de coração de ouro.

Lee Van Cleef e Sterling Hayden; Ted de Corsia e Lee Van Cleef

Sterling Hayden
Direção claudicante - Sem duelos, sem ator principal comprometido e com roteiro e direção claudicantes, “O Morto Venceu” tem lugar assegurado entre os mais fracos westerns dos anos 50, década repleta de grandes westerns e de pequenos grandes westerns também. Sidney Franklin Jr. nunca mais dirigiu filme algum e Carl K. Hitleman, que dirigiu poucas vezes, atuando mais como produtor, também desistiu de dirigir. Ainda bem. Estes westerns menores utilizam atores que se especializam em papeis característicos como I. Stanford Jolley e Mauritz Hugo, ambos no elenco que traz ainda em uma única sequência Kermit Maynard. O irmão de Ken Maynard chegou a ser mocinho em pequenos westerns nos anos 30. Outra curiosidade é a presença de Pat Comiskey, ex-boxeur peso-pesado com o invejável retrospecto de ter nocauteado 60 oponentes em 87 lutas disputadas. Mary Beth Hughes que surgiu como uma bela promessa como atriz não chegou fazer sucesso, isto apesar de sua beleza. Sterling Hayden que já havia tido dias melhores no cinema, viria a ter momentos muito melhores pelas mãos de Stanley Kubrick e Francis Ford Coppola. O que o ajudou a se esquecer de filmes como “O Morto Venceu”.

Mary Beth Hughes; Mary Beth e Sterling Hayden


2 comentários:

  1. APRENDI A GOSTAR DE FAROESTES COM O MEU PAI. QUANDO TINHA FOLGA DO TRABALHO NOS LEVAVA.

    ResponderExcluir
  2. Podia ser bem melhor, porém é assistível! Vale mesmo é pelo L. V. Cleef!

    ResponderExcluir