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Burt Kennedy e John Wayne |
Muitos críticos entendem que na década
de 70 os faroestes nos quais John Wayne atuou perderam qualidade, especialmente
se comparados aos melhores de sua carreira. O ‘Duke’, porém, sempre se esforçou
para manter o bom nível de seus filmes, mais ainda quando ele mesmo os
produzia. Este foi o caso de “Os Chacais do Oeste”, produzido pela sua Batjac e
escrito e dirigido por Burt Kennedy. Após a série de cinco westerns que
roteirizou para a parceria Budd Boetticher-Randolph Scott, Burt Kennedy passou
também a dirigir westerns, entre eles “Gigantes em Luta” (The War Wagon) e as
elogiadas comédias “Uma Cidade Contra o Xerife” (Support Your Local Sheriff!) e
“Latigo, o Pistoleiro” (Support Your Local Gunfighter). E John Wayne voltou a
trabalhar sob as ordens de Kennedy em “Os Chacais do Oeste” também por ele
escrito. Para este western a Batjac reuniu um elenco com astros que desfrutavam
de sucesso naqueles anos, como Rod Taylor e Ann-Margret, além dos experientes
Ricardo Montalban e Ben Johnson. Como já ocorrera em outros filmes estrelados
por John Wayne, este contou com a presença de um jovem astro da música
norte-americana, Bobby Vinton, que já atuara com Wayne em “Jack, o Grandão”
(Big Jake).
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Ann-Margret; John Wayne, Rod Taylor, Ben Johnson, Bobby Vinton e Christopher George |
Uma
viúva e muito dinheiro - Em Liberty, no Texas, o cowboy Lane
(John Wayne) junta-se aos antigos amigos Grady (Rod Taylor) e Jesse (Ben
Johnson) e mais três novos companheiros, reunidos com a missão de prestar ajuda
a uma viúva, a senhora Lowe (Ann-Margret). Matt Lowe, seu finado marido assaltara
um trem anos atrás e escondera o produto do roubo num local remoto que somente
ela conhecia. São 500 mil dólares que, devolvidos à estrada de ferro, renderiam
uma recompensa de 50 mil dólares. O grupo se divide entre os que pensam em
ficar com os 500 mil dólares e os que se satisfazem com a recompensa. Porém a
senhora Lowe pretende devolver o produto do roubo para assim limpar o nome do
marido, ao mesmo tempo que precisa de dinheiro para educar o filho de seis anos,
criança que não é vista com ela. Partem então para o deserto mexicano onde o
dinheiro está escondido dentro de um cofre no forno de uma locomotiva abandonada.
Durante a caminhada percebem que são seguidos à distância por outro grupo de 20
homens comandados por um misterioso e elegante líder também armado (Ricardo
Montalban). Após encontrar o cofre e se apoderar do dinheiro, Lane e seus
homens são atacados pelo pequeno exército, conseguindo reduzi-lo à metade na
troca de tiros. Lane e seu grupo retornam então a Liberty onde voltam a ser
atacados pelos sobreviventes do grupo que, afinal, são exterminados. De comum
acordo Lane e seus companheiros decidem que a senhora Lowe fique com o dinheiro
roubado para entregá-lo à ferrovia e assim receber a recompensa. Só então é
revelado pelo misterioso atirador que a mulher era uma farsante e que eles
foram por ela enganados.
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Ann-Margret; John Wayne |
A
mulher mais esperta do Oeste - “Os Chacais do Oeste” se inicia com
uma imagem evocativa de outros westerns famosos, com o cowboy Jesse aguardando
pacientemente a chegada de um trem à estação da pequena Liberty, no Texas.
Imediatamente o espectador se lembra de “Matar ou Morrer” (High Noon) e também
de “Era Uma Vez no Oeste” (C’Era Uma Volta Il West), clássicos do gênero. Com o
desenrolar da história percebe-se ressonâncias com outros roteiros de Burt
Kennedy feitos para filmes de Boetticher nos quais há também a presença de uma
única mulher (Maureen O’Sullivan, Karen Steele, Nancy Gates, Gail Russell) em
meio a um grupo de brutos. Desta vez, porém, os homens demonstram altruísmo ao
abrir mão dos 50 mil dólares de recompensa em favor da viúva e de seu filho,
atitude inútil pois ocorre uma inesperada guinada na história. O grupo de
homens ter sido enganado por uma farsante é o ponto insólito do roteiro que é previsível
durante o transcorrer de todo o filme. Relativamente curto em seus 92 minutos
de duração, Kennedy abriu mão de uma conclusão o que frustra o espectador uma
vez que a falsa viúva não escaparia tão facilmente. Kennedy preferiu a blague
final em tom de ironia num western que passa longe de ser exatamente uma
comédia.
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John Wayne; Ricardo Montalban |
Tiroteio
entre as dunas - Burt Kennedy conseguiu excelentes momentos de ação quando
o incansável grupo de duas dezenas de perseguidores alcança os homens liderados
por Lane. Inicialmente o ataque ocorre num deserto, no México, onde uma
locomotiva enferruja em meio às dunas em impressionante e rara imagem com as
duas dezenas de cavaleiros surgindo no horizonte numa espécie de Lawrence da
Arábia em Durango. A sempre brilhante cinematografia de William H. Clothier
ganha contornos dalinianos ao mostrar a semidestruída locomotiva e restos de
vagão encobertos pelas dunas. E é nesse cenário que Lane comanda a defesa que
rechaça o ataque impondo-lhe a considerável baixa. E é onde brilha o time de
stuntmen dirigido por Cliff Lyons. John Wayne já esteve inúmeras vezes em
desertos mas jamais como mostrado neste western. O segundo grande confronto ocorre
à noite em Liberty com intenso tiroteio e explosões de dinamite que exterminam
de vez com o misterioso contingente, o que poderia encerrar a aventura que no
entanto reserva ainda a grande surpresa.
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Ben Johnson, Christopher George e Rod Taylor; John Wayne e Bobby Vinton |
Heróis
caridosos - Em meio à perseguição, a falsa Senhora Lowe tenta se
insinuar junto a Lane, ocasião em que este diz à mulher “Moça, minha sela é
mais velha que você...”, a melhor frase do filme e que expressa com felicidade
que Lane/Wayne há tempos deixara de ser o galã das heroínas jovens de seus
filmes. O que seus personagens nunca perderam por que o ator impunha essa
condição era uma certa abnegação, generosidade e mesmo sacrifícios, como fez
Ethan Edwards ao renunciar a entrar na casa dos Jorgensens ao final de “Rastros
de Ódio” (The Searchers). Após Sam Peckinpah e Sergio Leone, principalmente, os
homens do Oeste incorporaram o cinismo e a amoralidade às suas personalidades
nos westerns, distanciando-se dos exemplos altruísticos dos personagens de John
Ford e outros diretores. Eis que em “Os Chacais do Oeste”, enquanto Lane e os
demais cowboys se mostram capazes de um gesto filantrópico, a sordidez está
escondida na infeliz senhora Lowe. Como a mais perfeita atriz, ela, saída de um
saloon, ludibria a todos mostrando que a patifarias não são exclusivas dos
homens. Hilário é o quadro com os rostos dos cowboys ao serem avisados da farsa
de que foram vítimas.
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John Wayne, Rod Taylor e Ben Johnson; Ann-Margret |
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John Wayne |
Faltou
Jack Elam - John Wayne ainda estava relativamente bem aos 65 anos de
idade e após a retirada de um pulmão e exibe razoável boa condição física neste
western em que é o John Wayne de sempre, isto é, um ator que enche a tela com
sua personalidade mostrando que ele é o filme. Ann-Margret por mais que se
esforce não consegue se fazer passar por boa moça, o que ao final revela-se que
não é, muito pelo contrário. Ainda assim tem bons momentos quando dialoga sob
as estrelas com Ben Johnson e com Wayne. Johnson já havia provado que era um
excelente ator que passara a maior parte da carreira mostrando sua habilidade como
cavaleiro. Difícil saber em qual arte era melhor. Inicialmente Jack Elam
interpretaria ‘Grant’, mas ocorreu o veto de John Wayne que sabia que Elam poderia
roubar-lhe o filme. Rod Taylor ficou com o papel numa escolha equivocada que desperdiçou
um bom personagem.
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Burt Kennedy |
Burt
Kennedy, um resistente - Dominic Frontiere é o responsável
pela ótima trilha sonora que cria a atmosfera perfeita para as sequências no
deserto, casando-se com rara felicidade às imagens de Bill Clothier. Frontiere era um acordeonista que tornou-se
maestro-compositor. Entre os poucos westerns para os quais compôs trilha
musical está “A Marca da Forca” (Hang ‘em High), que marcou o retorno de Clint
Eastwood aos westerns hollywodianos. De conceituado roteirista de westerns,
Burt Kennedy tornou-se um dos últimos diretores do gênero western que já se
exaurira e nunca mais teria o apogeu das décadas anteriores. Este “Os Chacais
do Oeste” é agradável de se assistir mas deixa a impressão que poderia ser bem
melhor. John Wayne ainda faria mais três westerns antes de descer
definitivamente da sela, quando já era uma lenda viva do cinema.
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Rod Taylor, John Wayne, Ann-Margret e Ben Johnson; Ricardo Montalban |
Excelente western. já vi e revi algumas vezes e continuo a gostar bastante, pelo seu equilíbrio e pela estética clássica que Burt Kennedy consegue.
ResponderExcluirWestern mediano apesar de john Wayne. Mais vale apena assistir pela fotografia.
ResponderExcluirRazoável western!!!
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