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7 de fevereiro de 2016

DE ARMA EM PUNHO (THE MAN BEHIND THE GUN) – MISSÃO SECRETA PARA RANDOLPH SCOTT


O filme noir marcou época em Hollywood e, mesmo após o fim do gênero, ecos das tramas difíceis de ser acompanhadas pelos espectadores mais atentos perduraram em muitas produções, inclusive em westerns. “De Arma em Punho” (The Man Behind the Gun), rodado em fins de 1952 e lançado em janeiro de 1953 é um desses filmes com trama intrincada digna de um bom e complicado noir. E o autor da história original, Robert Buckner, entre dezenas de trabalhos para o cinema, não se notabilizou por escrever argumentos para o gênero que consagrou Humphrey Bogart, mas sim roteiros mais simples, muitos deles westerns. São de autoria de Buckner as histórias originais e roteiros de “Uma Cidade que Surge” (Dodge City), “Caravana do Ouro” (Virginia City), “A Estrada de Santa Fé” (Santa Fé Trail), todos grandes sucessos coincidentemente estrelados por Errol Flynn. Os últimos trabalhos de Robert Buckner nos faroestes foram os roteiros de “Ama-me com Ternura” (Love-me Tender) e “Caçada Humana” (From Hell to Texas), respectivamente de 1956 e 1958. Nenhum desses westerns, no entanto, exigem tanto a atenção para ser entendido, como “De Arma em Punho”, fugindo do padrão dos faroestes de Randolph Scott.


Acima Patrice Wymore e Randolph Scott;
abaixo a autorização do Major Cullicut.
Separatismo ao Sul da Califórnia - O Major do Exército Ransome Callicut (Randolph Scott) chega a Los Angeles, por volta de 1850, designado para uma missão secreta disfarçado como professor.  Com o ‘professor estão, igualmente disfarçados, o Sargento ‘Monk’ Walker (Dick Wesson) e o Cabo Olaf Swenson (Alan Hale Jr.). A missão do Major Cullicut consiste em descobrir quem são os responsáveis por um movimento separatista no Sul da Califórnia, sufocar o movimento e apaziguar Los Angeles. As tropas do Exército estão sob o comando do Capitão Roy Giles (Philip Carey), cuja noiva Lora Roberts (Patrice Wymore) chega à cidade na mesma diligência que o Major disfarçado de professor. O Capitão Giles mantém um caso com Chona Degnon (Lina Romay) a cantora que se apresenta no Buckley’s Palace e que participa da causa separatista. O Major Callicut e Lora Roberts se atraem reciprocamente mas o Major se aproxima também de Chona Degnon, um pouco como parte de sua estratégia e outro tanto por não resistir aos encantos da sensual Chona. Um Senador chamado Mark Sheldon (Roy Roberts) é contra o separatismo e simula a própria morte, forma de poder agir pelo domínio da distribuição de água da cidade. Em meio às intrigas o jovem bandido salteador e traficante de armas Joaquim Murieta (Roberto Cabal) alia-se ao Major Cullicut. Em dado momento é revelada a identidade de Cullicut e reaparece o Senador Sheldon que mata sua ex-cúmplice Chona Degnon, mas é desmascarado e dominado pelo Major. Este, abafada a rebelião no Sul da Califórnia, fica com a professora Lora Roberts.

Acima Patrice Wymore e Randolph Scott;
abaixo Dick Wesson.
Reviravoltas contínuas - Randolph Scott está ótimo em “De Arma em Punho”, fato surpreendente pois sabe-se que Randy sempre deu mais importância ao seu hobby pessoal (jogo de golfe) que a seu trabalho como ator. E num filme difícil de ser compreendido o normal seria uma maior displicência de Randy que não gostava de participar das sequências de luta e menos ainda de beijar a mocinha. Scott, porém, beija mais de uma vez Patrice Wymore, então senhora Errol Flynn na vida real, e corteja Lina Romay. As reviravoltas se sucedem em “De Arma em Punho” e, a partir da metade do filme, quando se torna possível compreender a trama, aí então temos um daqueles faroestes agradáveis ao gosto do público menos exigente. E com Randolph Scott dominando o filme com sua persona, ao lado de dois ‘sidekicks’, há até momentos engraçados proporcionados por Dick Wesson e Alan Hale Jr. Assim como ocorreria em “Ardida Como Pimenta” (Calamity Jane), também de 1953, Dick Wesson traveste-se de mulher, desta vez para enganar não o público como no clássico estrelado por Doris Day, mas para ludibriar bandidos. E Phil Carey, que disputa a maravilhosa ‘Calamity Jane’ com Howard Keel em “Ardida Como Pimenta”, é vencido em rivalidade semelhante, agora por Randolph Scott.

Philip Carey e Randolph Scott; à direita Lina Romay.

Sequências 'emprestadas' de
"Cidade Sem Lei".
Cenas de arquivo - Como todo bom enredo puxado para o noir, “De Arma em Punho” tem muitos diálogos em sua primeira metade, quando os momentos de ação são raros. A parte final, no entanto, compensa com trocas de tiros, perseguições e uma violenta briga entre mulheres (Lina Romay e Patrice Wymore) que chega a lembrar a memorável sequência de “Atire a Primeira Pedra” (Destry), entre Marlene Dietrich e Una Merkel. Certo que a economia prevalece neste faroeste da Warner Bros. dirigido por Felix E. Feist, exibindo a rua principal de Los Angeles (San Antonio) e cenas da casa de show sempre lotada e mais tarde com uma enorme confusão, cenas ‘emprestadas’ sem o menor acanhamento de “Cidade Sem Lei” (San Antonio) e montadas com perfeição no filme de Feist. Também de “Cidade Sem Lei”, filme de 1945, foi extraída a famosa sequência em que Errol Flynn persegue Paul Kelly, caindo ambos, espetacularmente, no mesmo cavalo, num rio. Por falar em água, uma curiosidade é o vilão Roy Roberts desejar o monopólio da água da cidade e ter sua cabeça afogada por Randolph Scott que lhe diz: “Você não queria água? Não queria água?” Roy Roberts interpretaria 21 anos depois o prefeito de Los Angeles em “Chinatown”, obra-prima de Roman Polanski que aborda o tema da corrupção do suprimento municipal de água, como acontece em “De Arma em Punho”. Mas neste filme não há nenhum nariz rasgado a canivete num reservatório, como fez o ator Polanski com o narina de Jack Nicholson.

Mais uma sequência de "Cidade Sem Lei' utilizada em "de Arma em Punho".

A luta entre Lina Romay e Patrice Wymore.

Robert Cabal
Um caricato Joaquim Murieta - A produção deste western, que não é da safra da Scott-Brown, se descuidou um pouco e a inexatidão no uso das armas chega a ser escandalosa pois o filme se passa em 1850 e os revólveres são todos Colts Peacemakers, cuja fabricação começaria a ocorrer anos após finda a Guerra Civil. O mesmo vale para os rifles que ainda não eram de repetição quando se esboçaram os movimentos separatistas na Califórnia. O roteiro de “De Arma em Punho” coloca em cena a figura não muito lembrada de Joaquim Murieta, que Warner Baxter havia interpretado em “O Bandoleiro do El Dorado” (Robin Hood of El Dorado). Murieta que foi morto aos 24 anos de idade, é vivido caricatamente por Robert Cabal, rindo de tudo o tempo todo. Randolph Scott fez um único filme com Felix E. Feist, ao contrário de diversos outros diretores com quem Randy repetiu a parceria, entre eles Budd Boetticher e Edwin L. Marin (sete vezes cada), André De Toth (seis vezes), Ray Enright (quatro vezes), Joseph E. Lewis e Tim Whelan (duas vezes).

Scott duas vezes com Lina Romay.
Lina Romay encantando - Randolph Scott usa diversos trajes em “De Arma em Punho”, um deles o famoso traje preto que melhor o caracterizava e que fascinava seus estusiasmados admiradores. Randy deixa de lado a sisudez num de seus personagens mais alegres que é o Major Ransome Callicut. Patrice Wymore foi uma atriz sem maiores ambições e demonstra isso neste western em que Lina Romay é a grande atração feminina despertando o desejo dos personagens masculinos principais. Entre uma conquista e outra a linda Lina ainda encontra tempo para cantar duas canções latinas no mesmo palco onde Alexis Smith também cantou em “Cidade Sem Lei”. Phil Carey é o apático capitão, não se conformando em coadjuvar Scott. Dick Wesson comprova mais uma vez que merecia maiores chances no cinema, carreira que praticamente deixou de lado para se dedicar a escrever roteiros para séries de televisão. Absoluto desperdício dos atores Morris Ankrum e Tony Caruso em papéis insignificantes. Atenção para a pequena participação de Cliff Lyons, baleado numa escada por Randolph Scott, caindo sensacionalmente, ele que foi um dos grandes stuntmen de Hollywood. Apreciadores de westerns não se desapontarão com “De Arma em Punho” e os admiradores de Randolph Scott se deliciarão com mais este bom faroeste do inesquecível cowboy.

Randolph Scott e os trajes utilizados em "De Arma em Punho".

À esquerda Roy Roberts; no centro Morris Ankrum e Dick Wesson;
à direita Anthony Caruso.

Esta cópia do western "De Arma em Punho" foi gentilmente cedida pelo
cinéfilo e colecionador Marcelo Cardoso.

3 comentários:

  1. PREZADO DARCY,

    ÓTIMO COMENTÁRIO. QUE RANDY SCOTT E OUTROS GRANDES COWBOYS CONTINUEM POR MUITO TEMPO VIVO NOS DVD E NA MEMÓRIA DOS SEUS ADMIRADORES.

    MARIO PEIXOTO ALVES

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  2. Lendário Randolph Scott!

    Alguém saberia dizer se o Clint Eastwood chegou a conhece-lo?

    Outra dúvida e curiosidade: Randolph e Audie Murphy se davam bem? Será que alguma vez foi cogitada a chance de ambos fazerem um filme juntos?

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  3. Ontem e hoje assisti mais dois faroestes, ambos de 1953, de um dos reis do gênero, Randolph Scott:

    “Torrentes de Vingança” e “De Arma em Punho”!

    O 1º é razoável, melhora mesmo é na segunda metade, e vale pela trilha, pelas locações e pela presença do Fess, futuro "Daniel Boone", e tb pela presença de um dos ex-Tarzans, o Lex, porém dos que fez com o diretor André De Toth, é o que menos gostei!

    Já o 2º embora seja bem enfadonho ainda sim é assistível. até por causa da boa ação dos últimos cinco minutos!

    Enfim, nenhum dois estão entre os obrigatórios do RS, mas vale a conferida, claro!

    Estou para rever vários, daí atualizarei o meu ranking e postarei aqui!

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