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19 de junho de 2012

ROLETA FATAL (THREE YOUNG TEXANS) – TRIÂNGULO AMOROSO NO VELHO OESTE


Marilyn, Barbara. Susan e
Joan Crawford em papéis
importantes nos faroestes.
Território predominantemente masculino, os faroestes viram as atrizes ganhar destaque nos westerns no início dos anos 50. Barbara Stanwyck em “Almas em Fúria” (1950), Susan Hayward em “Correio do Inferno” (1951), Marlene Dietrich em “O Diabo feito Mulher” (1952) e até mesmo Doris Day em “Ardida Como Pimenta” (1953) são exemplos desse fenômeno. Em 1954, claramente os estúdios decidiram privilegiar os personagens femininos fazendo com que eles deixassem de ser meramente o interesse romântico dos heróis dos faroestes. E tivemos nesse ano atrizes famosas em papéis de maior importância como Barbara Stanwyck em “Montana, Terra do Ódio”, Susan Hayward em “Jardim do Pecado”, Joan Crawford em “Johnny Guitar” e “Marilyn Monroe em “O Rio das Almas Perdidas”. Seguindo essa tendência Mitzy Gaynor, mesmo sem possuir o status das atrizes citadas, teve papel destacado em “Roleta Fatal” (Three Young Texans), sendo o primeiro nome dos créditos desse pequeno western. Melhor teria sido a talentosa Mitzy Gaynor ter permanecido nos musicais que a 20th Century-Fox produzia e onde ela cantava e dançava maravilhosamente pois os faroestes, decididamente, não eram seu reduto. “Roleta Fatal” comprovou esse fato, tanto que nunca mais Mitzy participou de outro western.


Mitzy e Hunter, emprestados pela Fox.
A TURMA DA FOX - “Roleta Fatal” foi a segunda produção da recém criada Panoramic Productions, produtora de Leonard Goldstein. A Panoramic se especializou em produzir filmes de pequeno orçamento e Goldstein conseguiu para “Roleta Fatal” um acordo com a Fox que, em troca da distribuição do filme, lhe emprestaria atores e técnicos e seria filmado na cidade cenográfica do estúdio. Isso explica as presenças de Mitzy Gaynor e de Jeffrey Hunter no elenco, além do diretor Henry Levin e do maestro Lionel Newman contratados do estúdio dirigido por Darryl F. Zanuck. A Panoramic Productions produziu um total de dez filmes entre 1953 e 1955, entre eles os faroestes “Corações Divididos”, com Van Johnson e Richard Boone; “Vingança Terrível”, com Lee Marvin e Van Hefllin; “Eu me Vingarei”, com Dale Robertson; “A Lei do Bravo”, com Robert Wagner e Jeffrey Hunter. A presença de Henry Levin na direção deveria trazer uma expectativa positiva pois mesmo sendo um típico diretor de estúdio, realizou alguns bons trabalhos na Fox. São de Henry Levin o bom western “O Bandoleiro Solitário”, com Jack Palance e Anthony Perkins e o delicioso “Viagem ao Centro da Terra”, com James Mason. A impressão que fica após se assistir “Roleta Fatal” é que Levin se esforçou o mínimo para realizar um western de melhor qualidade apesar da boa história que tinha nas mãos.

Aaron Spelling, Harvey Stephens e Michael Ansara.
TRAMA INTRINCADA - O roteirista Gerald Drayson Adams é o autor dos roteiros de “Onde Impera a Traição” (Audie Murphy), “O Levante dos Apaches” (Jeff Chandler), “Herança Sagrada” (Rock Hudson), entre outros westerns. Desta vez Drayson Adams escreveu um roteiro mais complexo e que renderia um excelente filme policial, contando a história de um assalto a trem realizado com a melhor das intenções. Jim Colt (Harvey Stephens) trabalha para a estrada de ferro na estação de Twin Buttes e sabe quando ocorrerá o transporte do pagamento dos soldados do Exército. Além de ferroviário, Jim é também um jogador e numa partida de pôquer dispara contra Bill McAdoo (Frank Wilcox), um outro jogador, acreditando tê-lo matado. As testemunhas são os maus elementos Apache Joe (Michael Ansara) e Catur (Aaron Spelling) que dizem a Colt que ele matou McAddo. Para não testemunhar contra Colt os bandidos o forçam a participar do roubo do trem que leva o soldo da tropa. Johnny Colt (Jeffrey Hunter), o filho de Jim Colt, descobre a trama e ele próprio assalta o trem com a intenção de impedir que o ajude a concretizar o assalto. Johnny pretende posteriormente devolver o dinheiro roubado. Mas Johnny é amigo de Tony Ballew (Keefe Brassellle) e ambos são amigos de Rusty Blair (Mitzy Gaynor), formando o trio do título original “Three Young Texans”. Mais que isso, os três formam um estranho e indefinido triângulo amoroso. Tony se apodera do dinheiro roubado pelo amigo Johnny mas não fica com o dinheiro pois Apache Joe e seus asseclas Catur e McAddo se apossam do dinheiro após matar Tony Ballew. Rusty Blair descobre a trama e ajuda a inocentar Johnny Colt que com o auxílio do xerife Carter (Dan Riss) acaba por liquidar o bando de Apache Joe, inocentando Jim Colt.

TRIÂNGULO RASO - O que faz de “Roleta Fatal” um western desinteressante é o tratamento dado por Henry Levin à história, tornando inteiramente previsível uma história que contém boa dose de mistério. E mesmo a subtrama que envolve os três jovens texanos é mal conduzida e não se descobre quem gosta de quem no triângulo. É sempre bom lembrar que em 1954 o Código Hays começava a dar sinais de fraqueza o que permitia que diretores e roteiristas mais criativos colocassem na tela temas ainda proibidos, mesmo em faroestes. Tony Ballew gosta bastante do amigo Johnny Colt e sonha em irem juntos para a Califórnia, quiçá mesmo acompanhados pela jovem Rusty. Nada porém é aprofundado nesse triângulo situação pouco sutilmente sugerido. Some-se a isso as cenas de ação filmadas de forma quase amadorística por Levin e captadas sem brilho pela cinematografia de Harold Lipstein. Lionel Newman, por sua vez, poucas vezes produziu uma trilha musical tão sem força.

DESPERDIÇANDO MITZY GAYNOR - Jeffrey Hunter foi dos poucos atores de sua geração que tiveram a sorte de filmar três vezes com John Ford, uma delas foi nada menos em “Rastros de Ódio”. Num certo momento parecia que Hunter se tornaria um grande astro, chegando mesmo a interpretar Jesus Cristo e “O Rei dos Reis”. Jeffrey era um ator que expressava virilidade combinada com uma certa sinceridade, mas jamais passou de uma grande promessa não plenamente concretizada. E é de Jeffrey Hunter a melhor interpretação do filme, o que não significa muito diante dos demais nomes do elenco. Keefe Brasselle passou a carreira indeciso entre imitar James Dean e Kirk Douglas, indecisão que levou sua carreira a lugar nenhum. Já a adorável Mitzy Gaynor foi talvez o maior desperdício de talento artístico de Hollywood. Graciosa, cantava e dançava como poucas e era engraçadíssima, mas quando atingiu o estrelado os musicais já agonizavam. Em “Roleta Fatal” Mitzy está inteiramente perdida, tentando fazer graça com caretas intermináveis e caricatamente vestida como cowgirl. Por pouco não destrona a Joan Collins de “Estigma da Crueldade”. Uma pena. Michael Ansara deixando cocar e lança de lado é um mexicano chamado Apache Joe. E finalmente há a presença bizarra de Aaron Spelling como o magérrimo e careteiro capanga de Ansara. Os ensandecidos criadores de títulos brasileiros chamaram o filme de “Roleta Fatal”, faroeste indicado apenas para ser assistido sem nenhum outro compromisso que não seja passar o tempo.


2 comentários:

  1. Incrivel, como um roteiro bem arquitetado como este, e não aproveitado como deveria ou poderia.
    Digo sempre à minha filha e meus amigos que gostam de cinema; veja os filmes e memorize o nome do diretor. Ele será sempre uma indicação, uma referencia, claro que positiva ou negativa, para ver filmes futuros.

    Até que gostava dos faroestes, filmes de aventuras e amor dirigidos por Levin. Porém, Eu me Vingarei foi ruim demais! Tão ruim quanto tudo que o péssimo Dale Robertson fez.

    No entanto, o Levin fez um filme que, para mim, se sobressaiu sobre todos os demais. O Destino Me Persegue, além de ter um titulo belissimo, é uma fita que recomendo, por seu conteudo e interpretações.

    Quanto à Roleta Fatal eu não assisti. Mas um roteiro deste nas mãos, até mesmo de um Ray Enright, um Tay Garnete ou mesmo um Nathan Juran (nem falo num Budd Boeticher, Walsh ou Daves), deveria vir com uma cara nova e MUITO melhor, pelo que acabei de ler, pois é um roteiro com bom conteudo.

    Pelo que li desperdiçou-se uma boa trama por imperfeições em todos os parametros. E cinema nunca deveria ser feito desta forma; por necessidade. O sucesso de uma fita está no amor e carinho de como ela é construida. Fazer um filme como este foi feito, usando todos nos lugares erroneos, nunca surtiria um efeito positivo. E o resultado está na resenha acima.

    Certo dia liguei a TV e passava um filme com Sinatra. E na cena ele dialogava dentro de um carro com uma jovem tão linda, que me despertou a atenção toda aquela graça radiante e até vi brilho no seu semblante.
    Parei de ver, gravei o nome do filme e esperei ele passar de outra vez.
    O filme era o formidável Chorei por Você/57, do muito bom Charles Vidor, e a jovem do carro era Mitzi Gaynor.

    De fato ela era muito linda. Mas, o que ocorreu com ela ocorre com muita frequencia; cada macaco no seu galho.
    Por exemplo, eu achei a Grace Kelly totalmente fora de sua seara em Mogambo, enquanto a Ava dava seu show. Natural.
    Ela, a Gaynor, poderia ser uma boa cantora, dançarina ou atriz dramática. Entretanto no faroeste não funcionou.
    O erro não foi dela e sim da necessidade de precisar usa-la ali.
    jurandir_lima@bol.com.br

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