UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

21 de dezembro de 2012

WINCHESTER 73 – O TEMA DA VINGANÇA NO INFLUENTE WESTERN DE ANTHONY MANN


O escritor Stuart N. Lake conheceu Wyatt Earp por volta de 1925. Earp faleceria em 1929. Lake diz que ouviu muitas histórias contadas pelo ex-Sheriff de Tombstone e se encarregou de ampliar ainda mais a lenda que envolvia o nome do famoso homem da lei. Além disso, Lake escreveu boas histórias que foram aproveitadas pelo cinema. Uma das melhores é “Winchester 73” (Winchester ’73), na qual o autor cria verdadeiro mosaico de situações num genial apanhado do Velho Oeste. E Lake não se esqueceu de seu amigo Wyatt Earp, que na história promove em Dodge City uma competição entre atiradores, justamente no dia da comemoração do Centenário da Independência, 4 de julho de 1876. O vencedor da competição tem como prêmio o cobiçado mais perfeito rifle até então fabricado, apelidado de “Um Entre Mil”. Fritz Lang deveria dirigir “Winchester 73”, mas desistiu e, num desses felizes encontros que o destino costuma promover, o pouco conhecido diretor Anthony Mann e o consagrado astro James Stewart se reuniram nesse western da Universal International, ambos ajudando a mudar o jeito de Hollywood fazer faroestes.





Rifle de muitos donos - Lin McAdam (James Stewart) chega a Dodge City não para competir pelo rifle, mas para encontrar e se vingar de seu irmão Matthew McAdam, fora-da-lei mais conhecido por Dutch Henry Brown (Stephen McNally). Dutch havia matado o próprio pai atirando nele pelas costas e o bom filho Lin decide fazer justiça com as próprias mãos, Colt 45 ou até mesmo com a Winchester 73. Dutch, por seu lado, quer o rifle a todo custo pelo valor que ele possui e para usá-lo em seus próximos projetos como ladrão de bancos. Lin vence a competição mas Dutch o embosca e lhe rouba a Winchester 73. Tem início então a sequência de mudança de donos do rifle que passa para o traficante de armas Joe Lamont (John McIntire), depois para o índio Young Bull (Rock Hudson), o rifle é depois achado pelo soldado Doan (Tony Curtis), a arma permanece um pouco com um oportunista chamado Steve Miller (Charles Drake), de quem é tomada à força pelo facínora Waco Johnny Dean (Dan Duryea), até voltar para Dutch Henry Brown. Um assalto ao Banco de Tascosa não dá certo e Dutch foge com o rifle, sendo perseguido pelo irmão. Defrontam-se numa elevação de formações rochosas e Lin, finalmente, se vinga ficando com a Winchester 73 e com o bem vencendo o mal.

Sequências do torneio de tiro-ao-alvo, indefinido até o último tiro.


John McIntire, Stephen McNally e a Winchester 73.
História em capítulos - A história de Stuart N. Lake é de certa forma simples, mas foi brilhantemente roteirizada pela dupla Borden Chase e Robert L. Richards. Esse roteiro consistente ao integrar as mudanças de dono da Winchester 73, possibilitou que a direção de Anthony Mann desenvolvesse a história em forma de capítulos todos eles emocionantes. Isto desde a sequência da chegada de Lin McAdam a Dodge City e a saborosa competição pelo rifle que abre o filme, torneio organizado por Wyatt Earp (Will Geer). Excelente também o encontro de Dutch e seus comparsas Wesley (Steve Brodie) e Wheeler (James Millican), com o traficante de armas Joe Lamont. Poucas vezes o clássico jogo de pôquer foi tão determinante num filme como o travado entre Joe Lamont e Dutch Henry Brown, valendo 300 dólares ou a Winchester 73. Mas o rifle não para nas mãos de ninguém e é com ele que o jovem chefe Young Bull comandando uma centena de índios tenta repetir Little Big Horn contra um pequeno grupo de soldados da Cavalaria sob as ordens do Sargento Wilkes (Jay C. Flippen). Nova sequência de ação acontece com o psicótico bandido Waco Johnny Dean e seus homens encurralados pelo sheriff Noonan (Ray Teal). Waco consegue fugir com o rifle e no saloon de Tascosa, em frente ao banco local, encontra o raivoso Lin McAdam em novo momento de ação. O duelo de rifles entre Lin e Dutch é extremamente realista com balas ricocheteando por entre as rochas. Um único vacilo de Dutch põe fim à perseguição e concretiza a vingança.

A família McAdam antes da tragédia.
Falhas na Winchester 73 - Porém “Winchester 73” não é somente um filme de ação pois tem o componente psicológico da vingança que justifica a obsessão de Lin McAdam. E isto sem que esse fator interrompa o andamento incessante da ação em seus 92 minutos de duração. Aceita-se psicologismos em qualquer gênero, menos nos faroestes dos quais se espera apenas movimentação. E acusa-se os faroestes de se tornarem cansativos quanto tentam mostrar que habitantes do Velho Oeste eram também humanos. Motivado pelo trágico passado familiar o personagem Lin McAdam é levado à beira da loucura, como na sequência do bar com Waco Johnny Dean. A revelação das razões da ira e sede de vingança de Lin McAdam são citadas gradativamente levando o espectador a aceitar a ferocidade do personagem. Para muitos uma obra-prima, “Winchester 73” tem alguns pecados que, se não comprometem sua qualidade, o impedem de ser um filme excepcional. O ataque dos índios foi feito com muita economia e seu desfecho com a morte de Young Bull é inconvincente. A fotografia dos irmãos McAdam exposta na cabana onde os bandidos estão escondidos é uma total incoerência pois um homem capaz de matar o pai não carregaria a foto da família, por sinal em excelente estado de conservação. E Dutch em momento algum denota arrependimento, tentando, isto sim, matar também o irmão. Lola tentando salvar uma criança em meio ao tiroteio após o assalto ao banco é um desses clichês inaceitáveis em um filme tão brilhantemente concebido.

Cenas do ataque dos índios comandado por Rock Hudson (abaixo);
Acima James Stewart, Tony Curtis, James Best (morto),
Millard Mitchell, Charles Drake e Jay C. Flippen.

Dan Duryea com Shelley Winters.
Dan Duryea mudaria tudo - Provavelmente de todos os ‘Wyatt Earps’ que o cinema mostrou, o de Will Geer é o menos carismático, além de pesado e idoso demais  (Geer estava com 48 anos). No ano do torneio Earp tinha 28 anos enquanto Will Geer parece ter o dobro disso e é inevitável a saudade da elegância de Henry Fonda. Na história Wyatt Earp se impõe como o mais temido homem do Oeste e na realidade Earp, em 1976, era apenas assistente do irmão James Earp, este sim o Marshall de Dodge City. Pobre Shelley Winters, totalmente perdida, mudando mais de braços que o disputado rifle mudava de mãos, num personagem sem brilho e totalmente desnecessário. Outro personagem fraco por força do roteiro é o de Charles Drake, que, no entanto, em uma cena incomum de covardia foge deixando a noiva Lola à mercê dos índios. Millard Mitchell seria o companheiro de jornadas de James Stewart sem conseguir ser interessante quando filosofa ou mesmo quando quer ser cômico, ao dizer que se senta no hífen de seu apelido ‘High-Spade’. Muito melhor momento de descontração, momento quase sublime, é Jay C. Flippen recebendo agrados de Lola (Shelley Winters). Stephen McNally se esforça para parecer capaz da atrocidade de matar o pai, isto no mesmo filme em que está o perverso Dan Duryea. Inacreditável que ninguém tenha tido a idéia de transformar Duryea no irmão de Stewart e tornar “Winchester 73” perfeito? Uma pena pois até fisicamente Duryea e Stewart são mais parecidos.

Luta entre Chuck Roberson e James Stewart.
Coadjuvantes e futuros astros - Mas o enorme elenco tem compensações de sobra com as esplêndidas atuações de John McIntire, Jay C. Flippen, John Alexander (o dono do bar-hotel no meio da estrada) e a pequena participação de Ray Teal. E há os novatos Rock Hudson tentando não provocar risos como índio, ele que ainda viria a interpretar também Taza, outro índio em "Herança Maldita"; Tony Curtis e James Best com poucos momentos na tela, assim como os bandidos Abner Biberman, Stevie Brodie e os excelentes James Millican e John Doucette. De quebra o filme mostra também o fortíssimo Chuck Roberson sendo batido pelo esquálido mas raivoso James Stewart na porta do saloon em Tascosa. A festa de rostos conhecidos que a Universal convocou para pequenas participações em “Winchester 73” parece não ter fim e com prazer o espectador vê, entre outros, Steve Darrell, Guy Wilkerson, Chief Yowlachie e Tex Cooper.

Faceta de James Stewart jamais vista
no cinema até então;
abaixo o conhecido bom
moço com Millard Mitchell.
Um novo James Stewart - Nada, porém, foi mais importante em “Winchester 73” que ter revelado para o faroeste um de seus mais importantes cowboys, James Stewart. Descontado seu ‘Destry’ de 1939, Stewart teve pelas mãos de Anthony Mann o início do processo que o consagraria como um dos maiores atores norte-americanos de todos os tempos. Foi aqui antecipado o tipo neurótico e vingativo com que Stewart enriqueceria o cinema com uma fantástica galeria de personagens nos próximos dez anos, culminando com suas criações máximas em “o Preço de um Homem” e “Um Corpo que Cai”. “Winchester 73” é a perfeita transição entre o western de rotina, acelerado e vazio e o grande faroeste que a década de 50 se acostumou a assistir. Muitos comparam Anthony Mann a John Ford como grande diretor de westerns. Anthony Mann, além de desenvolver a ação de seus filmes em cenários abertos e majestosos, coloca em seus personagens dimensões trágicas e intensidade psicológica. Se os westerns de Mann são magníficos, alguns soberbos mesmo, se ressentem no entanto, numa comparação com os de John Ford, do lirismo e da poesia com que o Mestre das Pradarias inspiradamente emoldurava seus filmes. Ford teve John Wayne, Anthony Mann teve James Stewart e nós tivemos grandes faroestes como não deixa de ser “Winchester 73”.


Jimmy Stewart, depois de "Winchester 73" definitivamente um
homem do Oeste e dos melhores.







19 de dezembro de 2012

QUADRILHAS DOS FAROESTES (XII) – OS BANDOS DE “WINCHESTER 73”


Um dos clássicos do gênero western, “Winchester 73” é um faroeste completo pois tem índios, cavalaria, uma disputa de pontaria, jogo de pôquer brigas, tiroteios e muitos bandidos. Há no filme de Anthony Mann não apenas um, mas dois bandos. O primeiro bando que aparece é liderado por Stephen McNally, com destaques para James Millican e Steve Brodie; no decorrer do filme aparece o bando de Dan Duryea, com destaques para John Doucette e Abner Biberman. Para assaltar o banco de Tascosa, Dan Duryea une-se aos homens de McNally, então contando também com Chuck Roberson. Esses bandidos merecem que se fale deles pois formaram em “Winchester 73” uma das inesquecíveis quadrilhas dos faroestes.

Dan Duryea
Dan Duryea foi modelo de Lee Marvin e isso bastaria para transformá-lo num dos maiores homens maus do cinema de todos os tempos. WESTERNCINEMANIA já biografou o ator com a postagem ‘Dan Duryea, Bandido Cínico e Perverso’. Além de Lee Marvin, Duryea certamente influenciou também Richard Widmark. Aquele sorriso sinistro que se tornou marca registrada de Widmark nada mais era que o aperfeiçoamento do perverso e ameaçador riso que Dan Duryea criou e tantas vezes já havia mostrado nos filmes que fez. Quando Dan Duryea entra em cena em "Winchester 73", nem mesmo um ator do porte de James Stewart resiste à marcante presença do famoso bandido.

Stephen McNally
Stephen McNally foi bandido em “Winchester 73”, mas em outros filmes esteve do lado da lei ou defendendo a América em filmes de guerra. McNally nasceu em Nova York em 1913 e começou no cinema em 1942, usando seu nome verdadeiro que era Horace McNally. Nos anos 50 adotou o nome artístico que o tornou famoso pelos muitos filmes nos quais atuou com destaque para os policiais e faroestes. Entre os mais famosos estão “Baixeza”, “Onde Impera a Traição”, “A Ferro e Fogo”, “A Caravana da Morte”, “Com o Dedo no Gatilho”, “Honra a um Homem Mau” e “Sábado Violento”. Stephen McNally faleceu em razão de problemas cardiácos em 1994, em Los Angeles, aos 80 anos de idade.

Steve Brodie ao lado de Tim Holt nos tempos da RKO.
Steve Brodie nasceu em El Dorado, no Kansas, em 1919, começando no cinema em 1944. Seu primeiro faroeste foi “A Lei dos Homens Maus”, de 1946, estrelado por Randolph Scott no qual Brodie  interpretou o bandido ‘Bob Dalton’. Assinando contrato com a RKO, Steve Brodie atuou em faroestes ‘B’ de Tim Holt, até conseguir melhores papéis em filmes como “Rancor” e “Fuga do Passado”. Em 1948, no western “A Volta dos Homens Maus”, com Randolph Scott, Steve Brodie voltou a interpretar um bandido famoso, desta vez ‘Cole Younger’. Brodie pode ser visto também em “O Amanhã que não Virá”, “Capacete de Aço”, “Resistência Heróica” e “Região do Ódio”. Pessoa muito alegre e comunicativa, Steve Brodie participou no fim de carreira dos filmes de Elvis Presley “Feitiço Havaiano” e “Carrossel de Emoções”. Brodie marcou presença na série de TV “Wyatt Earp”, interpretando o xerife ‘Johnny Behan’. Steve Brodie faleceu na Califórnia, em 1992 aos 72 anos, vitimado por um câncer.

Cartaz anunciando aula do Dr. John Doucette.
John Doucette era filho de um sapateiro e como seu pai não parava em cidade alguma, Doucette estudou em 32 escolas diferentes. Com dificuldade o jovem nascido em 1921, no Massachussetts, conseguiu estudar Arte Dramática e se tornar ator. Doucette fez muito teatro antes de ser convocado para se tornar soldado do Exército e nessa condição passou três anos defendendo seu país na Europa, fazendo parte das tropas do General Patton. No retorno começou a carreira de ator em 1947. Mesmo com sua bagagem de ator de teatro, John Doucette sempre esteve restrito a papéis secundários nos quais nunca deixou de mostrar competência. John Doucette pode ser visto em muitos westerns, entre eles “Serras Sangrentas”, “Flechas de Fogo”, “Matar ou Morrer”, “Os Mal-Encarados”, “Região do Ódio”, “Antro da Perdição”, “Gatilho Relâmpago”, “Os Filhos de Katie Elder”, “Nevada Smith”, “Bravura Indômita”e “Jake, o Grandão”. John Doucette teve oito filhos, cinco homens e três mulheres e era um desses atores a quem faltou um pouco de sorte pois não lhe faltava técnica interpretativa. Aos 50 anos de idade Doucette passou a lecionar Arte Dramática na Universidade de Portland, onde recebeu o título de Doutor e mais tarde na Escola de Teatro de Palo Alto, na Califórnia. John Doucette contraiu câncer e faleceu na cidade de Cabazon, na Califórnia, aos 73 anos, em 1994.

Abner Biberman
Abner Biberman é mais conhecido como diretor que como ator. Entre os filmes que dirigiu estão “Hienas Humanas”, “Atrás das Grades”, “Arma para um Covarde” e “Loucura Assassina”. Nascido em 1908, no Wisconsin, Abner Biberman foi instrutor de voo durante a 2.ª Guerra Mundial. Ator de teatro, Biberman acumulou grande experiência, atuando como professor de atores novos na Universal International. Foi com ele que Tony Curtis tomou sua primeira aula como ator. Com suas feições eurasianas, Abner Biberman era perfeito para interpretar personagens étnicos como ‘Chota’ em “Gunga Din”. Sempre como tipos exóticos, Biberman pode ser visto em “As Chaves do Reino”, “Capitão Kidd”, “A Estirpe do Dragão”, “Viva Zapata” e “No Caminho dos Elefantes”. Quando passou a se dedicar mais à direção, na TV, Biberman dirigiu muitos episódios das séries “Além da Imaginação”, “Maverick”, “Os Intocáveis”, “O Homem de Virginia”, “Ben Casey” e “Havaí 5-0”, entre outras séries. Abner Biberman faleceu em 1977, aos 68 anos, em San Diego, na Califórnia.

James Millican em "Matar ou Morrer".
James Millican nunca será esquecido pelos fãs de faroestes pois interpretou um dos covardes que abandonam Will Kane (Gary Cooper) à própria sorte em “Matar ou Morrer”. E raras vezes Millican interpretou bandidos estando quase sempre ao lado da lei e como amigo dos heróis dos filmes. Nascido em Nova Jersey em 1910, Millican estreou no cinema em 1932 em uma ponta no filme “O Sinal da Cruz”, de Cecil B. DeMille. Apesar de seu bom tipo físico e simpático ar irlandês, James Millican continuou fazendo pontas pelos próximos 15 anos, entre elas um policial em “Do Mundo Nada se Leva”, de Frank Capra. No final dos anos 40 as coisas começaram a melhorar para James Millican que participou de “Trágica Decisão”, “No velho Colorado”, “Rivais em Fúria” e “A Gangue dos Daltons”. Na virada da década Millican esteve no elenco de alguns dos mais importantes westerns daqueles anos, ou seja, “O Matador”, “Winchester 73”, “O Caminho do Diabo” e “Correio do Inferno”, além do citado “Matar ou Morrer”. O rosto de James Millican ae tornoue familiar aos fãs de faroestes e Millican interpretou ‘Wyatt Earp’ em “De Homem para Homem”, estrelado por George Montgomery. Millican foi o ‘General Crook’ em “O Grande Guerreiro” e atuou em “Um Certo Capitão Lockarth”, ambos filmes de Anthony Mann. O último filme do qual Millican participou foi “Onde Imperam as Balas”, com Rory Calhoun, pois lamentavelmente ele viria a falecer em 1955, aos 45 anos de idade.

John Wayne e seu dublê Chuck Roberson;
percebe-se que até mesmo o cinto é igual
com a fivela de "Rio Vermelho".
Chuck Roberson era mais conhecido como ‘Bad Chuck’ para não ser confundido com Chuck Hayward, este o ‘Good Chuck’. Ambos eram dublês dos melhores, na linha do grande Yakima Canutt. Nascido em 1919, no Texas, com o nome Charles Hugh Roberson e criado em meio a rancheiros, Chuck Roberson era um perfeito cowboy. Após se casar Chuck foi para Hollywood onde entrou para a o Departamento de Polícia local. Seu primeiro contato com o cinema foi quando foi designado para patrulhar a portaria da MGM. Depois de cumprir seu serviço militar Roberson foi designado para trabalhar portaria da Warner Bros. onde conheceu o stuntman Fred Kennedy que lhe disse: “Com essa sua altura (1,93) você pode ganhar muito mais dinheiro no cinema do que como policial". Kennedy levou Roberson para a Republic Pictures e logo foi notada a semelhança com John Wayne, grande astro do estúdio. Roberson se tornou o dublê oficial do Duke, que o introduziu na Ford Stock Company, grupo que acompanhava John Ford em quase todos seus filmes. De 1946 a 1988 Chuck Roberson dublou dezenas de atores em cenas perigosas em 134 filmes. Como ator Chuck apareceu em 136 filmes e em quase todos filmes de John Wayne a partir de 1948 pois muitas vezes dublava Wayne e fazia pontas como ator. Em “Winchester 73” é Roberson quem luta com James Stewart na porta do bar em frente ao banco em Tascosa. Facilmente reconhecível pelo seu porte físico, Chuck Roberson apareceu bastante como ator em “Da Terra Nascem os Homens”. Uma curiosidade é que em “Rastros de Ódio”, na cena do casamento de Vera Miles com Ken Curtis, casamento que não acontece, os dois Chucks são os bestmen (padrinhos). Roberson era um dos parceiros preferidos de John Wayne para jogar pôquer nos intervalos das filmagens. Chuck Roberson faleceu de câncer, aos 69 anos, na Califórnia, sendo mais um dos muitos que trabalharam em “Sangue de Bárbaros” que contraíram câncer.

18 de dezembro de 2012

WESTERN TESTE MANIA N.º 19 - OS DUELOS


Faroeste que se preze tem que ter um bom duelo para emocionar o espectador.
Alguns duelos foram eletrizantes e ajudaram a tornar o filme inesquecível.
Mostre que você é rápido e certeiro no gatilho respondendo às dez perguntas
abaixo, todas relacionadas a duelos em westerns famosos.
As respostas encontram-se no último quadro desta postagem.

















15 de dezembro de 2012

DOMINADOS PELO TERROR (Track of the Cat) – ROBERT MITCHUM CONTRA A PANTERA NEGRA


William A. Wellman foi o diretor do western clássico “Consciências Mortas” (The Ox-Bow Incident), filme de 1943 baseado em livro de Walter Van Tilburg Clark. Em 1954 Wellman foi contratado pela Wayne-Fellows, a então produtora de John Wayne, para dirigir “Dominados pelo Terror” (Track of the Cat), baseado também em história de Van Tilburg Clark. A elaboração do roteiro foi entregue a A.I. Bezzerides e Wellman percebeu a possibilidade de realizar um filme bastante diferente, um western-terror. Em seus primeiros contatos com o co-produtor Robert Fellows, Wellman disse que tencionava fazer um filme colorido em preto e branco. Fellows que confiava no talento do diretor o informou que havia conseguido Robert Mitchum, por empréstimo junto à RKO, para estrelar “Dominados pelo Terror”. Melhor impossível para aquela história estranha passada numa região castigada pela neve.


O monocromatismo quebrado pelo casaco de Mitchum.
Preto e branco em cores - William A. Wellman era também conhecido pelo apelido de ‘Wild Bill’ devido às histórias que contava nos tempos em que pertenceu à ‘Esquadrilha Lafayette’ na 1.ª Guerra Mundial. ‘Wild Bill’ conversou longamente com o cinegrafista William H. Clothier e lhe explicou como queria que fossem as imagens de “Dominados pelo Terror”. A Warner Bros. que também colocaria dinheiro na produção e faria a distribuição do filme, exigiu que a película fosse filmada no novo processo Cinemascope. E claro, em cores! Logo ao início do filme o espectador é surpreendido pelas imagens em preto e branco e durante quase todo o filme o que se vê na tela é justamente o preto e branco e os muitos tons de cinza prevalecendo sobre o colorido. Sobressai-se nas cenas exteriores somente o vermelho do casaco de Robert Mitchum. Jack Warner ao ver o filme depois de pronto ficou à beira da apoplexia gritando: “Eu gasto 500 mil dólares no processo WarnerColor e o que vejo é uma porcaria de filme em preto e branco! E ainda em Cinemascope!” Jack Warner exagerou ao chamar “Dominados pelo Terror” de porcaria devido a sua fotografia estilizada em tons predominantemente escuros pois o que há de melhor no filme de Wellman é justamente o trabalho de William H. Clothier.

O bom aproveitamento do Cinemascope com
quase todos os atores em cena, como se fosse
um palco de teatro; abaixo Beulah Bondi.
Drama familiar - “Dominados pelo Terror” tem apenas oito personagens confinados no rancho dos Bridges, rancho localizado em meio a uma floresta. Alguns desses personagens saem da casa principal apenas para caçar um felino que está dizimando o gado. Segundo o índio Joe Sam (Carl ‘Alfafa’ Switzer), com a chegada da primeira nevasca da estação reaparece também a pantera negra assassina não só de animais mas também de seres humanos. Assim como os cavalos, Joe Sam pressente a proximidade do grande gato negro (Black Cat). Porém muito pior que se expor ao perigo de ser atacado pelo felino é permanecer dentro do rancho dos Bridges. Quem manda na casa é a matriarca 'Ma' Bridges (Beulah Bondi), espécie de beata que determina o que cada um pode fazer naquela casa. 'Ma' Bridges não admite que o filho caçula Harold (Tab Hunter) se case com Gwen Williams (Diana Lynn), filha de um rancheiro vizinho. Vendo pecado em tudo, 'Ma' Bridges faz vistas grossas para a maneira obscena com que Curt (Robert Mitchum), seu outro filho, olha para Gwen. 'Ma' Bridges entende que quem deve se casar com Gwen é o prepotente Curt. Assim também pensa 'Pa' Bridges (Philip Tonge), isto quando sua embriaguez permite que ele consiga raciocinar e falar. E 'Pa' Bridges é ainda mais libidinoso que Curt em seus constrangedores agrados a Gwen. Arthur, o mais velho dos irmãos é o único que tem respeito pela moça. Diferente de Curt, Arthur é educado, leitor de poesia e em desacordo constante com a intimidação que Curt impõe a todos com seu comportamento sórdido e agressivo.

Acima a morte de Arthur (William Hopper);
abaixo Bob Mitchum.
Mortes na neve - A oitava personagem presente na casa é Grace (Teresa Wright), irmã solteira e frustrada pela vida que leva. Grace quer não apenas que Harold se case com Gwen, como também que Curt deixe de se imaginar como sendo o senhor absoluto da propriedade. Com tantas questões familiares a serem resolvidas, Joe Sam, que com mais de cem anos de idade se esqueceu de morrer, alerta para o perigo do felino assassino e, de fato, algumas cabeças de gado são encontradas trucidadas. Curt e Arthur saem para caçar a pantera negra e Arthur é morto pelo invisível animal. Curt traz o corpo do irmão para o rancho e retorna para a caçada, menos preocupado com a morte do irmão que pelo risco que corre seu rebanho. Mesmo com sua experiência e conhecimento da região, Curt desliza na neve e cai do alto de um penhasco. Após descobrir Curt morto, o tímido Harold é tomado por súbita coragem e consegue fazer o que o destemido irmão não conseguiu: matar o felino a tiros sob o olhar e a expressão feliz de Joe Sam. Harold faz então por merecer o amor de Gwen, mesmo porque já não há mais o despótico Curt para diminui-lo com o imoral assédio a Gwen.

O místico índio de Joe Sam
(Carl 'Alfafa' Switzer).
Terror inconsequente e incoerente - Dos 102 minutos que é a metragem de “Dominados pelo Terror”, a maior parte desse tempo é passada na sala do rancho, espécie de palco no qual são expostos os conflitos de cada um dos Bridges. Pode-se imaginar até que o texto seja de Tennessee Williams de tão sexualmente provocante que é. Curt assedia a namorada do irmão; esta por sua vez sente-se atraída por Curt enquanto o pai reencontra a vontade de viver com a presença da jovem que será sua nora. Fora do teatro filmado dentro da casa ronda, qual em conto de Edgar Allan Poe, o aterrorizante animal negro. Mas as duas situações nunca se integram e a narrativa não é capaz de prender a atenção enquanto as mortes ocorrem de forma inconvincente. Se a intenção do filme é a de assustar com as interpretações possíveis do significado do grande felino negro e da figura mística do índio Joe Sam, nada funciona a contento. Com seus simbolismos o filme de Wellman acaba se transformando num exercício de terror inconsequente e incoerente, com direito a uma sequência risível de grosseiro erro de continuidade em que a neve cai em Bob Mitchum e não em William Hopper a seu lado.

Criativas tomadas feitas a partir da visão do morto dentro do túmulo aberto.


Acima o excessivo Philip Longe e a ótima Beulah
Bondi; abaixo Teresa Wright e Diana Lynn.
Teresa Wright mal aproveitada - Robert Mitchum se impõe em “Dominados pelo Terror” criando aquele tipo de personagem que levaria à perfeição em seu filme seguinte “O Mensageiro do Diabo” e anos mais tarde em “O Círculo do Medo” e que o ajudaram a se transformar em um dos melhores atores de Hollywood. Beulah Bondi está ótima como a matriarca religiosa fanática, ao contrário da atuação do inglês Philip Longe, aqui um bem acabado exemplo de overacting. William Hopper discreto e seguro, enquanto Tab Hunter e Diana Lynn fazem aquilo que poderia esperar deles. A lamentar que a brilhante Teresa Wright tenha seu desempenho limitado a um irrelevante personagem secundário. Completa o elenco o infeliz ex-ator infantil Carl ‘Alfafa’ Switzer, com pesada maquiagem para transformá-lo, aos 27 anos de idade, no centenário índio Joe Sam. Carl Switzer viria a falecer quatro anos depois, aos 31 anos. Diana Lynn viveria até os 45 anos e William Hopper, filho da colunista Hedda Hopper, morreria aos 55 anos de idade. Nada a ver, claro, com a maldição do felino negro de “Dominados pelo Terror”. Além da excepcional fotografia de William H. Clothier, merece destaque a música de Roy Webb, destaques insuficientes para tornar o filme de Wellman memorável. Esse filme esteve durante mais de 50 anos fora de circulação e faz parte do lote de filmes que a Batjac finalmente lançou em DVD.

Teresa Wright, excelente e pouco lembrada atriz norte-americana.


13 de dezembro de 2012

TOP-TEN WESTERNS DE MÁRIO PEIXOTO ALVES, UM CINÉFILO COMO POUCOS



Mário Peixoto Alves começou a se interessar por faroeste com a leitura de gibis, no início dos anos 50. Como todo garoto Mário ficava extasiado com as fotos dos mocinhos nas bonitas capas e reconhecia quase todos os mocinhos dos gibis: Hopalong Cassidy, Bill Elliott, Roy Rogers, Gene Autry, Rocky Lane e outros. Mas foi exatamente em 1953, aos dez aos de idade, que Mário, começou a ampliar seus conhecimentos sobre o faroeste. Isso aconteceu quando ele ganhou de presente uma edição especial publicada pela Rio Gráfica Editora intitulada “Almanaque do Faroeste”. Esse almanaque com quase 200 páginas não continha apenas as clássicas histórias em quadrinhos, mas também uma seção especial com minibiografias acompanhadas de fotos tamanho 2x2 de todos aqueles que compunham o universo do gênero western em Hollywood. O almanaque se tornou inseparável para o garoto e era consultado a cada filme que ele assistia para ler, por exemplo, sobre Edgar Buchanan, Lyle Talbot, Gail Davis, Alan Ladd, Andy Clyde, atores mirins como Dean Stockwell e Natalie Wood e até mesmo cowboys do cinema mudo como William S. Hart.

Cinema, revistas e livros - Com a boa memória que sempre possuiu, Mário se tornou o expert entre a garotada da cidadezinha de São Félix, interior da Bahia, passando a ser o ‘consultor’ que conhecia quase todos os artistas de cinema. O primeiro faroeste que Mário assistiu, ainda menino, foi “Rápido no Gatilho” (Quick on the Trigger), com Charles Starrett, o Durango Kid. Dali em diante era rara a semana em que Mário não assistia faroestes estrelados por Tom Mix, Buck Jones, Roy Rogers, Gene Autry, Rex Allen, Tim Holt, Allan Lane, Charles Starrett, Randolph Scott, Joel McCrea, John Wayne, George Montgomery  e outros. E como quase todo menino Mário colecionava as revistas de faroeste da EBAL e da RGE, entre elas ‘Roy Rogers’, ‘Gene Autry’, ‘Rocky Lane’, ‘Reis do Faroeste’ e ‘Super-X’, coleções que por sinal Mário mantém conservadas até hoje. Passada a adolescência, já nos anos 60, os gibis de faroeste praticamente desapareceram e chegou a vez dos livros e revistas sobre cinema, especialmente westerns, que Mário passou a comprar ou assinar avidamente. Mário atualmente é assinante das publicações 'Western Clippings', 'Films of the Golden Age', 'Classic Images' e 'True West'.

George Montgomery
Contato com astros e estrelas - Morando em Salvador Mário Peixoto Alves se tornou colaborador do hoje extinto 'Portalcine', periódico editado na capital baiana. Apaixonado por cinema, Mário não se contenta apenas em assistir filmes e aumentar quase diariamente seu acervo, primeiro de VHSs e agora de DVDs. Como verdadeiro cinéfilo Mário procura conhecer, sempre que possível, os astros que visitam a Boa Terra e nos contou sobre aqueles que conheceu: “Conheci pessoalmente George Montgomery, Robert Wagner, David Niven, Arnold Moss, Thomas Milian, Anthony Steffen, Giuliano Gemma, Eduardo Fajardo, Rhonda Fleming (linda e muito educada), seu filho Kent e seu então marido Hall Bartlett, Tony Curtis e Christine Kaufmann (muito bonita) e a bela Jaqueline Bisset com o chato Mickey Rourke (arrodeado de guarda-costas) filmando, no prédio da Associação Comercial da Bahia, em Salvador, o filme “Orquídea Selvagem” (Wild Orchid). O citado prédio foi também usado como cenário de “O Cangaceiro”, semi-western italiano.

Mário Peixoto Alves e Roy Rogers.
Com os mocinhos da tela - Viajando regularmente para os Estados Unidos, Mário Peixoto Alves esteve no ‘The Roy Rogers and Dale Evans Museum’, em Victorville. Lá teve oportunidade de conhecer Roy Rogers, Dale Evans e Dusty Rogers. Ao saber que Mário era brasileiro e se expressava muito bem em Inglês, Roy se interessou em conversar mais longamente com aquele fã. Quando visitou o Museum of Western Heritage, criado por Gene Autry, Mário conheceu Monte Hale que era um dos diretores do fantástico museu. Nas suas andanças por Los Angeles, Mário teve a oportunidade de abraçar Rex Allen, um de seus ídolos de infância e também Harry Carey Jr. e Ben Johnson, queridos atores da Ford Stock Company. Mário Peixoto Alves é casado, pós-graduado em Administração de Empresas e reside em Salvador, de onde envia seus abalizados comentários para este blog. E este cinéfilo baiano gentilmente atendeu ao pedido de WESTERNCINEMANIA nos enviando a lista de seu Top-Ten Westerns, todos acompanhados de brilhantes comentários, lista publicada a seguir sem ordem de preferência.


Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 – John Ford
É um filme por demais comentado, pouco ou nada se tem a acrescentar. Está praticamente em todas as listas dos melhores filmes e melhores westerns. Acredito ser uma das grandes interpretações de John Wayne como Ethan Edwards, ao lado de J. B. Brooks em “O Último Pistoleiro” (The Shootist), Rooster Cogburn em “Bravura Indômita” (True Grit), Tom Dunson em “Rio Vermelho” (Red River) e como o Cap. Nathan Brittles em “Legião Invencível” (She Wore a Yellow Ribbon). Pode-se, também, afirmar que foi o filme de John Ford que mais contém cenas memoráveis e como sempre, o mestre Ford já entregava suas obras aos editores praticamente montadas, assim evitava as intervenções dos produtores.

Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch), 1969 – Sam Peckinpah
Filme polêmico e maldito quando do seu lançamento, porém posteriormente tornou-se um clássico. Sam Peckinpah dá uma lição de cinema, narrando os últimos dias de um grupo de bandoleiros que têm por objetivo praticarm um assalto que lhes garantiria um polpudo rendimento para se aposentarem e viverem em algum lugar no México. A direção, a edição, o roteiro, a fotografia, a trilha sonora e o elenco são excepcionais. É um western violento e realista nas cenas em que o “slow motion” mostra a violência com toda a sua crueldade.

Pistoleiros do Entardecer (Ride the High Country), 1962 – Sam Peckinpah
Filme que teve péssimo lançamento pela MGM e foi, também, ignorado pela crítica até ser reconhecido quando ganhou diversos prêmios em festivais internacionais (entre outros o Gran Prix na Bélgica e Silver Goddess no México). Foi o segundo longa metragem dirigido por Sam Peckinpah, produção que antecede “Wild Bunch” em cinco anos. Narra a história de dois aposentados homens-da-lei (Randy Scott e Joel McCrea) que vivem de trabalhos avulsos, sendo contratados para buscarem um carregamento de ouro em uma mineração na região de High Sierras. Quando partem para a missão, acompanhados pelo jovem Heck (Ron Starr), são surpreendidos com a presença da, também, jovem Elsa (Mariette Hartley) que fugia de seu pai fanático religioso para se casar com um dos irmãos Hammond. O filme retrata a nostálgica transição do velho oeste para a civilização, o conflito das gerações, a brutalidade e a perversidade de uma família (os irmãos Hammonds), o preconceito religioso, a corrupção, a repressão sexual e, sobretudo, o respeito pela amizade (brevemente interrompida) entre os dois protagonistas como retratado no confronto final quando Scott e McCrea enfrentam cara a cara os psicóticos Hammonds. Direção, roteiro, diálogos e interpretações de primeira linha.

Sete Homens Sem Destino (Seven Men from Now), 1956 – Budd Boetticher
Foi o primeiro filme do trio Scott-Boetticher-Kennedy e produzido pela empresa de John Wayne a Batjac. Randolph Scott (Ben Stride) é um homem obcecado pela vingança que parte à procura de sete homens desconhecidos, sendo que um deles matou a sua mulher durante um assalto no escritório da Wells Fargo.  No caminho encontra um inexperiente casal de viajantes (Gail Russell e Walter Reed) que estão a caminho de um pequeno povoado. A tensão vai aumentando quando o psicótico Lee Marvin (excelente) e seu companheiro Donald Barry juntam-se ao grupo, ao mesmo tempo em que John Larch e o seu bando esperam o produto do roubo da Wells Fargo, o qual vinha sendo transportado por um imprevisível emissário. Daí até o inevitável confronto entre Scott e Marvin, há sequências memoráveis. É um filme para se ver mais de uma vez para captar todo o seu potencial, apesar dos 78 minutos de projeção.

O Último Pistoleiro (The Shootist), 1976 – Don Siegel
Esse filme foi o adeus de John Wayne das telas dos cinemas e TV, na época, com quase 50 anos de profissão e que morreria aos 72 anos de idade em 1979. Narra os últimos dias de vida do pistoleiro J.B. Brooks que estava morrendo de câncer. A fim de se encontrar com um médico seu amigo (James Stewart) vai para Carson City, Nevada, com o objetivo de aliviar sua dor e morrer com dignidade. Assim, escolhe o dia do seu aniversário para enfrentar os seus maiores inimigos ainda vivos. O roteiro mostra o cinismo dos habitantes da cidade de Carson City, Nevada, em 1901, com sua modernidade (bondes, automóveis, telefone etc.), cuja ação se desenrola logo após a morte da Rainha Victoria. A narrativa inicia com “clips” de antigos filmes de JW nos quais ele enfrenta e mata diversos oponentes. Pode-se dizer que foi uma oportuna homenagem a um dos maiores astros do século 20, talvez o maior. Não sei porque John Wayne, não foi indicado ao Oscar de melhor ator daquele ano. A direção do veterano Donald Siegel, embora um pouco lenta, está contida dentro do clima proposto pelo roteiro, assim como a fotografia de Bruce Surtees e a música de Elmer Bernstein.

Um Certo Capitão Lockhart (The Man from Laramie), 1955 – Anthony Mann
É um dos cinco westerns dirigidos pelo “expert” no gênero Anthony Mann com o seu ator preferido James Stewart que juntamente com “O Preço de um Homem” (The Naked Spur) representam os seus melhores trabalhos. O tema é a vingança tendo como principal protagonista o eficiente James Stewart à procura do homem que vendeu armas aos índios causando a morte de seu irmão caçula. O roteiro leva JS ao povoado de Coronado e lá entra em confronto com o barão de gado local (Donald Crisp), cujo filho (Alex Nicol) é sanguinário e covarde, além do lobo em pele de carneiro (Arthur Kennedy).  Anthony Mann dirige com o olho na ação e proporciona a James Stewart um dos seus melhores desempenhos. Conhecidos coadjuvantes como Jack Elam, James Millican, Frank De Kova, Eddy Waller, John War Eagle e outros desfilam em pequenos papéis.

Um Homem Difícil de Matar (Monte Walsh), 1970 – William Fraker
Foi a estréia do diretor de fotografia William Fraker na direção, cujo roteiro teve como base o livro de Jack Schaefer (autor de Shane) com trilha sonora de John Barry. Monte Walsh (Lee Marvin) e Chet Rollins (Jack Palance) são dois cowboys de meia idade que enfrentam os últimos dias do velho oeste devido ao avanço da civilização, quando os cowboys estavam sendo desempregados e alguns deles para sobreviverem tornaram-se assaltantes ou assassinos de aluguel. A grande atriz francesa Jeanne Moureau interpreta uma prostituta que tem a esperança de se casar com Walsh. É um western sombrio, cujo roteiro procura retratar a realidade da vida dos cowboys em seu cotidiano, com brigas, momentos de ternura, amizade e vingança. Lee Marvin está convincente como sempre, Jack Palance sem caretas e exageros tem um desempenho discreto e até comovente, Jeanne Moreau dá força a sua personagem. O elenco de apoio se comporta com competência destacando-se Jim Davis, Mitchel Ryan, Roy Barcroft e Allyn Ann McLerie entre outros. A direção do estreante Fraker é segura e adequada ao roteiro.  Há certas semelhanças com “E o Bravo Ficou Só” (Will Penny), 1968, de Tom Gries.

O Homem que Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance) – 1962 – John Ford
Outro grande filme de John Ford e como “Rastros de Ódio” tudo ou quase tudo já foi dito pelos críticos. É uma produção fotografada em p&b, quase todo confinado aos palcos de som e ao “backlot” do estúdio da Paramount. É diferente dos outros westerns do diretor que privilegiava os grandes espaços, a narrativa é em “flash back” iniciando com o enterro do personagem Tom Doniphon, interpretado por John Wayne. Todo o elenco está perfeito, além dos principais, destacam-se Lee Marvin como o facínora do título e os seus dois comparsas Lee Van Cleef e Strother Martin, Edmond O’Brien brilha como o jornalista, Woody Strode é o ex-escravo, John Carradine é um dos oradores entre outros conhecidos coadjuvantes. A frase dita pelo repórter ao senador tornou-se antológica: "This is the west, sir. When the legend becomes fact, print the legend" (Este é o oeste, senhor. Quando a lenda se torna fato, imprima a lenda) que, Inclusive, serviu de inspiração para o título do livro do mestre A. C. Gomes de Mattos, “Publique-se a Lenda: A História do Western” (Editora Rocco, 2004).

Consciências Mortas (The Ox-Bow Incident), 1943 – William A. Wellman
“Western noir” realizado em 1943, em p&b, com 75 minutos de projeção, é um alerta sobre a justiça com as próprias mãos e o pré-julgamento, quando alguém movido pelo ódio leva cidadãos decentes em momento de fúria a matarem inocentes. Embora não seja um western tradicional com heróis e bandidos, a história é linear; porém, narrada com habilidade mantendo o interesse da audiência até o final quando tudo fica esclarecido e o mal feito não tem reparo. Foi indicado ao Oscar de melhor filme.

O Cavalo de Ferro (The iron Horse), 1924 – John Ford 
Se não foi John Ford quem inventou os chamados “clichês”, ele os reinventou e tornaram-se o básico para os westerns subsequentes. “O Cavalo de Ferro” (The Iron Horse) e “No Tempo das Diligências” (Stagecoach) se complementam nesse sentido. Embora seja um filme mudo realizado nos primórdios do cinema tem todos os ingredientes de um western clássico. “Aliança de Aço” (Union Pacific) de Cecil B. DeMille, produção de 1939, tem enredo similar.