As respostas estão abaixo da 10.ª pergunta. |
UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN
28 de setembro de 2013
25 de setembro de 2013
O MATADOR (THE GUNFIGHTER) – A INGLÓRIA FAMA DE UM PISTOLEIRO
Entre os westerns que abriram a incomparável
década cinematográfica dos anos 50, o historiador de cinema William K. Everson em seu
fundamental livro “The Pictorial History of the Western Film” (1975) aponta
“Caravana de Bravos” (Wagonmaster), “Flechas de Fogo” (Broken Arrow) e “O
Matador” (The Gunfigther) como os mais importantes, dizendo que este último é
de longe o melhor deles. E Everson conclui afirmando que os muitos prêmios e
fama conquistados por “Matar ou Morrer” (High Noon), de 1952, deveriam ser
atribuídos a “O Matador”, do qual o filme de Fred Zinnemann usurpou as
decantadas inovações que o consagraram. Desprestigiado até ter sua importância
lembrada por Everson, “O Matador” tornou-se através dos anos um dos westerns
mais reverenciados do gênero e não para poucos, uma autêntica obra-prima.
Jack Dempsey |
O
bigode de Gregory Peck - Para compor a imagem do pistoleiro
Jimmy Ringo foi pedido a Gregory Peck que deixasse crescer o bigode e se
submetesse a um esquisito corte de cabelos, além de usar botas de cano alto e
uma vestimenta bastante simples. Jimmy Ringo em nada lembrava o extravagante
Lewt McCanles que Peck interpretara no grande êxito comercial que havia sido
“Duelo ao Sol”. O fato era que Jimmy Ringo não lembrava nenhum mocinho de outros
westerns. Talvez lembrasse vagamente, na aparência, o Henry Fonda de “Jesse
James” e de “Paixão dos Fortes” (My Darling Clementine). Após duas semanas de
filmagens o presidente da Fox Spyros Skouras assistiu a alguns trechos já
filmados e se desesperou com o que viu: o maior astro dos estúdio totalmente
desglamurizado, mais que isso, inteiramente sem graça e com aquele horroroso
bigode. Skouras ordenou que tudo que havia sido filmado fosse refeito, mas
Nunnally Johnson e Henry King argumentaram que isso teria um custo de 300 mil
dólares, o que levou o grego Skouras a aceitar Peck sem sal, sem brilho e ainda
com aquele bigode. Skouras, que presidia a 20th Century-Fox de seu escritório
em Nova York demonstrou entender pouco de cinema pois Gregory Peck com aquela
aparência iria protagonizar uma incomum história do Velho Oeste.
O jovem provocador em busca da fama efêmera. |
Gregory Peck e Helen Westcott. |
Millard Mitchell e o relógio que indica o momento da partida de Ringo. |
Karl Malden |
O mais simples dos faroestes - “O Matador” tem a esplêndida a
fotografia de Arthur C. Miller, famoso por "A Marca do Zorro" (Tyrone
Power), "Como era Verde o Meu Vale" e também por "Consciências
Mortas". E Alfred Newman responde pela trilha sonora, discreta como o
filme pedia. A austera Direção de Arte e a Decoração de Cenários completa a
concepção modesta de “O Matador” como se fosse um western ‘B’. John Ford se
aproximaria dessa simplicidade, doze anos mais tarde, com “O Homem que Matou o Facínora”. No aspecto financeiro “O
Matador” não chegou a dar prejuízo porque os fãs de westerns e fãs de Gregory
Peck foram assistir ao filme de Henry King, mas ficou longe de dar o lucro que
a 20th Century-Fox esperava. E Spiros Skouras quando encontrou Gregory Peck
disse a ele que aquele bigode fora o responsável pelo fracasso de “O Matador”. Mal
sabia o presidente da Fox que nas décadas seguintes seria cada vez mais difícil
encontrar um cowboy de rosto limpo e que aquele western com Gregory Peck seria,
para muitos críticos, o melhor de toda a carreira do ator.
21 de setembro de 2013
DUELO DE TITÃS (LAST TRAIN FROM GUN HILL) – VIGOROSO ESTUDO SOBRE O PODER
Hal B. Wallis foi um dos mais bem
sucedidos produtores de Hollywood, além de ter lançado atores como Kirk Douglas
e Burt Lancaster. Wallis ficou milionário nos anos 50 produzindo os filmes da
dupla Dean Martin e Jerry Lewis e os primeiros filmes de Elvis Presley. Em
1957 Wallis produziu “Sem Lei e Sem Alma” (Gunfight at the OK Corral), faroeste
que alcançou enorme sucesso de bilheteria e que o levou a vislumbrar a
possibilidade de repetir o êxito com outro faroeste e a mesma fórmula
utilizando dois atores de renome, no caso Burt e Kirk. Wallis adquiriu os
direitos de uma história chamada “Showdown at Gun Hill” e convocou John
Sturges, o mesmo diretor de “Sem Lei e Sem Alma” para dirigir. Em seguida
procurou Lancaster que não se interessou em filmar outro western. Para Kirk Douglas porém Wallis fez uma
irrecusável proposta: além dos 300 mil dólares de salário Kirk teria sua
produtora Bryna como associada na produção, o que aumentaria ainda mais o lucro
do ator-produtor que precisava de muito dinheiro para seu projeto chamado
“Spartacus”.
Acima o escritor Elmore Leonard; abaixo Glenn Ford e Van Heflin. |
Copiando
Elmore Leonard - Dois westerns que marcaram sobremaneira a década de 50
foram “Matar ou Morrer” (High Noon) e “Galante e Sanguinário” (3:10 to Yuma). O
primeiro uma denúncia contra a covardia da comunidade de Hollywood no episódio
da ‘Caça às Bruxas’; o segundo baseado numa surpreendente e incomum história
escrita pelo jovem autor Elmore Leonard narrando a condução de um perigoso
prisioneiro por parte de um homem que se vê, assim como o xerife Will Kane de “Matar ou
Morrer”, abandonado por aqueles que deveriam ajudá-lo. Tanto o western de Fred
Zinnemann quanto o de Delmer Daves tornaram-se filmes bastante influentes e um
dos melhores exemplos dessas influências é justamente o faroeste que Hal B.
Wallis decidiu produzir e que teve o título mudado para “Last Train from Gun
Hill”, no Brasil “Duelo de Titãs”. A história de autoria de Les Crutchfield foi
roteirizada por James Poe e possui grande semelhança com aquela que Elmore Leonard escreveu. Leonard faleceu, aos 87 anos, em agosto
último, ele que foi também o autor das histórias originais dos faroestes
“Resgate de Bandoleiros” (The Tall T), “Hombre”, “O Retorno de Valdez” (Valdez
is Coming) e “Joe Kid”. Mas John Surges percebeu que “Last Train from Gun Hill”
teria também pontos em comum com “Conspiração do Silêncio”, um western moderno
e para muitos o melhor filme de sua carreira.
Acima Ziva Rodann; abaixo Carolyn Jones. |
Enfrentando
a lei de Gun Hill - Em “Duelo de Titãs” Matt Morgan (Kirk
Douglas) é o xerife de Pawley, cidade não muito distante de Gun Hill. Morgan é
casado com uma índia Cherokee (Ziva Rodann), que é estuprada e morta por Rick
Belden (Earl Holliman) em companhia de Lee Smithers (Brian G. Hutton), dois
cowboys embriagados. O filho de Morgan, ainda menino, sem presenciar a cena
brutal monta no cavalo de Rick Belden e retorna para Pawley, avisando o pai do
ocorrido. Morgan encontra o corpo inerte da esposa e descobre as iniciais C.B.
na ornamentada sela do cavalo. Morgan sabe que aquelas iniciais significam
Craig Belden, nome de um amigo que há tempos ele não vê e que é dono de tudo
que existe em Gun Hill, sendo também pai de Rick Belden. Morgan parte então em
busca dos assassinos. Antes de receber a visita de Matt Morgan em sua fazenda,
Craig Belden (Anthony Quinn) dá pela falta de seu cavalo e sua sela e faz o
filho confessar o crime. Matt Morgan informa Craig Belden que pretende levar Rick
para Pawley onde será julgado, mas o barão de gado diz que não permitirá que isso
aconteça com seu filho. Matt consegue prender Rick e mesmo sofrendo pressão de
Craig Belden, de seus muitos capangas e de toda cidade de Gun Hill, não desiste
de seu intento. Morgan recebe uma inesperada ajuda de Linda (Carolyn Jones), namorada de
Craig que trabalha no Horse Shoe Saloon. Na tentativa de libertar Rick Belden,
seu amigo Lee Smithers acaba atingindo e matando Rick. Inconformado Craig quer
se vingar de Morgan e o desafia para um confronto mortal. Matt Morgan é mais rápido que Belden no duelo de titãs
que ocorre na estação de Gun Hill.
Kirk Douglas e o rosto marcado de Earl Holliman; Anthony Quinn defrontando-se com Kirk Douglas. |
Tensão
perma-nente - Um terço de “Duelo de Titãs” se passa com o xerife Morgan
mantendo preso o assassino Rick Belden até o momento de embarcar com ele no
trem que às 21 horas (9PM) irá passar e parar rapidamente em Gun Hill. Tudo muito
parecido com o que acontece em “Galante e Sanguinário” no qual o destino é Yuma
e o trem é o das 15:10 horas (3:10PM). Mas a história do filme de John Sturges é
construída inteiramente diferente pois Craig Belden não é um bandido como Ben
Wade (Glenn Ford) no filme de Delmer Daves. Craig Belden não tenta corromper
Matt Morgan como fez o personagem de Ford, mas sim o intimida, inclusive
psicologicamente lembrando que o filho de Morgan órfão de mãe pode também
perder o pai. Enquanto “Galante e Sanguinário” é um filme bastante discursivo,
John Sturges imprimiu a “Duelo de Titãs” um ritmo de permanente tensão
entremeado por diversos momentos de ação elaborados por ele com maestria. O
único a manter a necessária calma é Morgan, enquanto todos os demais
personagens parecem sempre prestes a explodir tamanho o desespero crescente que
toma conta de Craig Belden. Quando o objetivo de Morgan parecia impossível de
se concretizar, desperta em Linda o desejo de se vingar não só de Craig pelos
maus tratos que sofreu por parte dele, mas também de Rick, o crápula e agora
assassino de uma mulher indefesa como ela.
Dalton Trumbo |
Diálogos
especiais de Dalton Trumbo - Outra diferença entre “Duelo de
Titãs” e os westerns aqui referidos, especialmente “Galante e Sanguinário” é a
riqueza de parte de seus diálogos. James Poe, o autor do roteiro tem a seu
crédito excelentes trabalhos em diversos dramas levados ao cinema, embora tenha
recebido um Oscar pelo roteiro de “A Volta ao Mundo em 80 Dias”. Após ler o
roteiro de James Poe, Kirk Douglas o repassou para seu amigo Dalton Trumbo que
criou uma série de diálogos extras que tornaram o texto mais amargo em relação ao
comportamento de alguns personagens. Dalton Trumbo talvez seja o mais notório
entre os perseguidos pelo macarthismo, tendo ficado quase dez anos proibido de
assinar roteiros. Trumbo sobrevivia tendo seus roteiros creditados a outros
escritores (fronts) até que Kirk Douglas num ato de enorme coragem desafiou
Hollywood e contratou Trumbo para roteirizar seu épico “Spartacus”. De posse
dos novos diálogos escritos por Dalton Trumbo, Kirk Douglas os mostrou a John
Sturges que ficou admirado com a qualidade dos mesmos, comentando depois com o
produtor Hal B. Wallis. Douglas disse a Wallis que para aduzir àqueles diálogos
aos escritos por James Poe ele teria que pagar a bagatela de três mil dólares a
Trumbo. Mesmo em 1958 essa quantia mal daria para algumas semanas do uísque que
Trumbo tomava ao escrever. Mais que o dinheiro, Trumbo tentava mesmo se mostrar
grato a Douglas.
Alguns dos expressivos diálogos de Dalton Trumbo. |
Reencontro
entre Douglas e Quinn - Entre os mais relevantes diálogos
escritos por Dalton Trumbo para “Duelo de Titãs” merecem ser lembrados a
desilusão com a profissão de homem da lei do xerife Bartlett (Walter Sande) que
é lacaio de Craig Belden; a sádica narrativa de uma execução por enforcamento
feita por Morgan para o aterrorizado prisioneiro Rick Belden; e também a ácida resposta de Linda a um cliente dizendo que “desde os 12 anos de idade eu nunca estive sozinha”, uma lacônica
denúncia sobre a corrupção de menores que não é fenômeno apenas dos séculos
seguintes. Kirk Douglas interpreta o mais destacado personagem de “Duelo de
Titãs”, personagem bastante mais forte que o de Anthony Quinn. O mesmo havia
ocorrido em “Sede de Viver”, biografia de Vincent Van Gogh na qual Kirk tem uma
de suas melhores atuações no cinema, o que lhe dava a certeza de vencer o Oscar
de Melhor Ator de 1955 após duas frustradas indicações. Kirk não só perdeu
novamente como viu Anthony Quinn com apenas oito minutos de participação em
“Sede de Viver” ser premiado como Melhor Ator Coadjuvante daquele ano. Nunca
mais o injustiçado Kirk Douglas seria indicado e receberia apenas um Oscar Honorário
em 1996. Prêmios à parte os dois grandes atores fazem “Duelo de Titãs” valer ainda
mais por suas atuações. Este foi o terceiro encontro de Douglas e Quinn no cinema
pois em 1954 haviam filmado “Ulysses” para a Lux Films, na Itália.
Kirk Douglas e Earl Holliman: permanente tensão. |
Kirk
Douglas, o destaque maior - Filmado em sua maior parte nos
estúdios da Paramount com a cidade cenográfica recebendo uma estrada de ferro
de 600 metros, as sequências da fazenda de Craig Belden foram filmadas no
histórico Empire Ranch, em Old Tucson, no Arizona. A sequência do estupro da
esposa índia do xerife Morgan se passa no mesmo túnel de árvores em que Rhonda
Fleming se decepciona com Burt Lancaster (Wyatt Earp) em “Sem Lei e Sem Alma”.
A bela fotografia de “Duelo de Titãs” é de Charles Lang Jr. que inicia o filme
luminosamente e no decorrer do mesmo torna-o soturno, sinistro até chegar ao clima
dantesco com o incêndio do hotel Harper House, seguindo orientação de John Sturges. E a ótima trilha sonora de
Dimitri Tiomkin bem que merecia uma canção-tema marcante, da qual este faroeste
se ressente. O sofrido e sedento por justiça Matt Morgan é personagem talhado
para Kirk Douglas que dá ao mesmo a necessária angustiada bravura. Anthony
Quinn expressa soberbamente a dor do pai cujo filho trai suas expectativas mas
mesmo assim ainda é amado. Ótimos Carolyn Jones e Earl Holliman, este apenas 13
anos mais novo que Tony Quinn, seu pai no filme. Entre os coadjuvantes as
figuras lembradas de atores menos conhecidos como Charles Stevens, Glenn
Strange e Bing Russell (pai de Kurt Russell). A israelense Ziva Rodann, a índia
Cherokee esposa de Matt Morgan, aparece pouco. Boa a participação de Walter
Sande como o xerife covarde de Gun Hill. Brad Dexter passa o filme todo apenas fumando.
John Sturges dirigindo "Duelo de Titãs". |
Obediência
cega ao dono de Gun Hill - “Duelo de Titãs” não é dos faroestes
mais citados entre os melhores do gênero, mas é um western empolgante,
emocionante e envolvente. Muito acima de “Sem Lei e Sem Alma”, ainda que mais
simples na história que conta e na sua produção. E nada fica a dever a “Galante e
Sanguinário” até porque Kirk Douglas e Anthony Quinn são atores superiores a
Glenn Ford e Van Heflin. E o mérito maior de “Duelo de Titãs” deve ser
atribuído a John Sturges que realizou um faroeste intenso e irrepreensível no
seu desenvolvimento. Repleto de criativos enquadramentos, este western de
Sturges demonstra o amadurecimento do diretor que fecharia sua magnífica
filmografia na década de 50 com o clássico “Sete Homens e Um Destino” (The
Magnificent Seven). “Duelo de Titãs” é um primoroso estudo sobre o poder, sobre como ele é implacavelmente exercido e sobre
como homens acovardados se submetem a esse poder. Craig Belden manda na cidade
e é temido e obedecido por todos que o cercam, intimidados pelo seu poder do
qual de alguma maneira se beneficiam inescrupulosamente. Situação não muito
diferente da encontrada em tantos outros rincões do Velho Oeste ou fora dele.
Anthony Quinn (Craig Belden) que exerce com mão de ferro o poder em Gun Hill, sendo cegamente obedecido por seus covardes capangas. |
Douglas e Quinn descansando durante as filmagens de "Duelo de Titãs"; Douglas como Ulysses e Quinn como Antinoos, em "Ulysses"; Quinn como Paul Gaugain e Douglas como Van Gogh em "Sede de Viver". |
Hal B. Wallis decidiu, em 1963, lançar um pacote para exibição reunindo em programa duplo os dois faroestes que produziu (poster abaixo à esquerda). |
18 de setembro de 2013
HONDO (CAMINHOS ÁSPEROS), JOHN WAYNE MELHOR QUE NUNCA
John Wayne (Wayne-Fellows Productions)
pensou em Glenn Ford para interpretar ‘Hondo Lane’ no western “Caminhos
Ásperos” (Hondo), rodado e lançado em 1953. Glenn Ford era, sem dúvida, um ótimo
ator de faroestes mas após alguém assistir a performance de John Wayne protagonizando
o herói desse filme, fica difícil imaginar qualquer outro ator no lugar do Duke
que tem uma de suas melhores atuações como... ‘John Wayne’. Mas
“Caminhos Ásperos” não se resume à perfeita interpretação de Wayne como um rude
batedor do Exército pois nos 83 minutos desse faroeste há muita ação de
excelente qualidade. Há, por certo, algumas sequências de ação risíveis devido
à necessidade de criar efeitos para emocionar as platéias que vibravam com a
novidade daquele ano, o processo 3D (3.ª Dimensão). Relançado em 1995 “Caminhos
Ásperos” é um filme creditado ao diretor John Farrow e que ganhou status de um dos melhores
westerns da extensa filmografia de John Wayne, na qual o que não falta são
grandes filmes.
A chegada do estranho ao rancho; Vittorio protegendo a família |
Hondo
protegendo uma família no
Arizona - Segundo aqueles que leram a história original escrita por Louis L’Amour
intitulada “Hondo”, o filme segue à risca o original, inclusive reproduzindo na íntegra alguns diálogos contidos no livro. Seria então um caso de grande coincidência
as semelhanças entre “Caminhos Ásperos” e “Shane” (Os Brutos Também Amam) filme
de George Stevens saudado imediatamente como obra-prima do gênero e que obteve
enorme sucesso em seu lançamento. Assim como Shane no Wyoming, Hondo Lane (John
Wayne) também chega a um sítio no Arizona onde uma família necessita de
ajuda, aqui ameaçada não por grandes criadores, mas pelos apaches, legítimos
donos da terra. A senhora Angie Lowe (Geraldine Page) e seu filho de seis anos
Johnny (Lee Aaker) sentem-se mais seguros com a presença de Hondo até porque
foram abandonados por Ed Lowe (Leo Gordon), marido de Angie e pai de Johnny. O
traiçoeiro Ed Lowe tenta emboscar Hondo mas é morto por este em legítima defesa.
Mais que nunca Hondo se vê obrigado a proteger Angie e o menino. O chefe apache
Vittorio (Michael Pate), que nutre simpatia pela valentia do pequeno Johnny,
passa também a dar proteção ao menino e à mãe. Com a morte de Vittorio e com os
apaches em pé de guerra é Hondo quem salva Angie e Johnny, bem como lidera uma ação para salvar o que
restou do batalhão que deveria retirar os colonos daquela região. Finalizando a
aventura Hondo, Angie e Johnny partem para o rancho dele na Califórnia.
Uma
cara pequena produção - O custo de produção de “Caminhos
Ásperos” foi relativamente alto para que possa ser chamado de pequeno faroeste.
Econômico como seu Mestre John Ford, John Wayne viu os custos de produção quase
duplicarem com as constantes quebras das pesadas câmaras 3D e com as semanas à
espera dos consertos das mesmas. As presenças de uma centena de índios a cavalo e da
Cavalaria, mais o trabalho apreciável de uma dezena dos melhores stuntmen de
Hollywood, liderados por Cliff Lyons, também tiveram seu custo. Para melhorar
ainda mais a qualidade da produção Wayne chamou Alfred Ybarra para a Direção de
Arte e Robert Burks e Archie Stout para a cinematografia. Burks, para quem não
se lembra, foi o diretor de fotografia de todos os filmes do exigente Alfred
Hitchcock desde “Pacto Sinistro” (1951) até “Marnie, Confissões de uma Ladra”
(1964). Com uma equipe técnica desse nível John Wayne e seu sócio Robert
Fellows cometeram o erro de entregar a direção ao irregular John Farrow. Wayne
queria um diretor a quem pudesse manipular e John Farrow (marido de Maureen
O’Sullivan) era adequado para isso, além de custar pouco. E para maior azar de
John Wayne ele acreditou em seu agente Charles K. Feldman que lhe disse ter a
atriz perfeita para interpretar a feiosa e simplória mocinha da história.
Geraldine Page exibindo os dentes restaurados; abaixo cenas difíceis para John Wayne. |
Chuck Hayward dublando John Wayne; o cão Sam participando de uma cena. |
O heróico
Hondo de John Wayne - O relacionamento entre
Hondo-Angie-Johnny era fundamental para o sucesso do filme em seu aspecto romântico-sentimental,
como se passara em “Shane”. Ocorre que John Wayne nunca se deu bem em cenas de
amor e sentia-se mais à vontade com a heroína (especialmente se ela fosse
Maureen O’Hara) se a relação fosse de amor e ódio. Sem um romance convincente
“Caminhos Ásperos” tem na ação seu ponto alto e, aos 45 anos de idade, ainda
magro, John Wayne se encontrava em excelente forma física, agigantando
extraordinariamente seu personagem. Mesmo visivelmente dublado por Chuck
Hayward na sequência em que doma um cavalo e por Chuck Roberson em sequências
de luta, John Wayne está magnífico como o batedor que respeita os apaches e que
conhece como ninguém a lida de um cowboy. E muito bom de briga, sua
especialidade, derrubando com um soco os dois metros de altura de James Arness
(Lennie) que ousou provocá-lo. E o fortíssimo Leo Gordon foi sua vítima por
duas vezes, numa delas, para não perder a viagem John Wayne soca também seu
amigo Ward Bond (Buffalo), talvez pela ridícula barba que Bond ostenta no filme.
Para John Wayne, lutar com facas contra o apache Silva (Rodolfo Acosta) chega a
ser uma covardia e mesmo assim Silva crava uma faca no ombro de Hondo. Poucas
vezes se viu um John Wayne mais heróico na tela em um faroeste, definindo sua
carismática persona criada em “Hondo” que repetiria ad infinitum. O que nunca
mais Wayne repetiu foi a companhia de ‘Sam’ o incrível cão que é sua sombra no
filme.
John Ford chega a Camargo para assumir a direção enquanto John Farrow (no centro) desapareceu. |
John
Wayne contra a crise - Numa história não muito bem
esclarecida pelas testemunhas, John Ford apareceu nas filmagens de “Caminhos
Ásperos” exatamente no momento em que John Farrow se afastou das locações em
Camargo. Muito provavelmente John Wayne sentindo a dificuldade que Farrow teria
para dar a necessária dimensão às sequências de ataque dos apaches, incumbiu o
amigo Ford dessa missão. Mesmo sem crédito como diretor John Ford foi o
responsável pelos últimos dez minutos de maior movimentação que se constituem no clímax
do filme com John Wayne sobressaindo-se espetacularmente. “Caminhos Ásperos” é
tudo que um fã do gênero pode querer, com Wayne demonstrando que era
incomparavelmente superior a qualquer outro mocinho do cinema. Quando uma crise se
abateu em Hollywood no início dos anos 50, com a população começando a preferir
a televisão ao cinema, Jack Warner declarou, provavelmente depois de assistir
“Caminhos Ásperos”: “Não há crise que não
seja superada por três ou quatro westerns estrelados por John Wayne”. Mais
ainda se Wayne estiver entre seu amigos, como em “Caminhos Ásperos” em que é
coadjuvado por Ward Bond, James Arness, Paul Fix e os stuntmen Frank McGrath,
Cliff Lyons, Chuck Hayward, Chuck Roberson e outros. E como assistente de
direção outro amigo seu, Andrew V. McLaglen. Todos formando uma espécie de
Wayne Stock Company. O elenco de “Caminhos Ásperos” tem ainda o australiano Michael Pate e o mexicano Rodofo Acosta como apaches. O menino Lee Aaker faria sucesso na TV como o Cabo Rusty da série "Rin-Tin-Tin". E o inteligentíssimo cão Sam, que se chamava 'Pal' seria filho de Lassie e seu dono o teria perdido para John Wayne numa partida de pôquer.
Wayne, que em 1952 já era considerado um dos homens mais importantes dos EUA. |
Western
simpático aos índios - “Hondo” foi uma das primeiras
histórias publicadas por Louis L’Amour, autor que vendeu com seus livros a
impressionante cifra de 200 milhões de exemplares, sempre com histórias sobre o
Velho Oeste. John Wayne nunca escondeu que não morria de amores pela causa dos
índios, entendendo que eles pagaram o preço do avanço da civilização, opinião discutível de um ultradireitista. Porém “Hondo”
é uma história inteiramente favorável aos nativos com o personagem tendo vivido
entre os apaches, casado com uma índia e absorvido os costumes dos índios. Com
surpreendente sinceridade John Wayne cita durante o filme a dignidade dos apaches e
ao final, quando se prenuncia o extermínio dos bravos que sobreviveram ao chefe
Vittorio, um pesaroso Hondo diz que aquilo "é o fim de um estilo de vida".
Enquanto isso os conquistadores brancos de “Caminhos Ásperos” são mostrados
como marido e pai irresponsável (Ed Lowe) e oficiais incompetentes (o jovem
Tenente McKay). A capa de uma edição da revista Time de 1952 mostra John Wayne à
frente de um cenário de faroeste mesclado com uma caixa registradora. Bons
tempos em que westerns eram lucrativos e mais que isso, estrelados por John
Wayne.
Hondo e o respeito pelos índios. |
Hondo (John Wayne), um verdadeiro homem do Oeste mostrando suas habilidades. |
A pobre Geraldine Page teve que ouvir diálogos irônicos referentes à sua higiene pessoal. |
Joga-se tudo contra a tela num filme em 3.ª Dimensão. Na foto maior 'Sam', versão canina de seu dono 'Hondo', com a enorme cicatriz entre os olhos. |
Diálogos fazendo zombaria com o início de "Shane". |
Sequência do ataque apache filmada por John Ford, com destaque para o trabalho dos fantásticos dublês. |
Pôsteres de "Hondo": o norte-americano anunciando 3D, o italiano, o francês e o alemão. |
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