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15 de abril de 2011

O SABRE E A FLECHA (The Last of the Comanches) - PEQUENO, DESPRETENSIOSO E ÓTIMO WESTERN



O título nacional foi “O Sabre e a Flecha” e em Inglês este western teve dois títulos diferentes: The Sabre and the Arrow e Last of the Comanches. Produzido pela Columbia em 1953 foi dirigido por André De Toth, húngaro que nos anos 50 se especializou em westerns, dirigindo nada menos que dez, seis deles com Randolph Scott. “O Sabre e a Flecha” é um dos melhores, mesmo porque De Toth teve nas mãos um elenco sem grandes estrelas e contando uma história que o cinema já vira por duas vezes: em 1935 (“A Patrulha Perdida”, de John Ford) e em 1943 (“Sahara”, de Zoltan Korda). Transportada para o western, esta versão conta como o pelotão da Cavalaria reduzido a seis homens, encontra uma diligência, tendo que atravessar uma região inóspita em plena seca e com os índios hostis fortemente armados e chefiados por um cacique sanguinário chamado Black Cloud (John War Eagle). O rude e experiente Sargento Matt Trainor (Broderick Crawford) lidera não só seus cinco soldados, mas também todo e qualquer movimento dos relutantes civis. O grupo sofre um ataque dos índios e perde toda a água que tinham, restando só os quase vazios cantis. Na fuga encontram o pequeno índio Little Knife que indica onde há um poço numa missão espanhola abandonada. Mas os índios, que também estão sem água, sabem do poço e assediam desesperadamente a missão. O Sargento Trainor decide enfrentar os índios para retê-los por mais tempo, e relembra a todos o gesto heróico do General Custer em Little Big Horn. Little Knife é incumbido, sozinho, de atravessar 150 quilômetros de deserto e alcançar o forte mais próximo, em busca de ajuda da Cavalaria. O Sargento Trainor e o grupo resistem bravamente e, quando o extermínio de todos parece inevitável, ouve-se ao longe o toque da salvadora Cavalaria que chega a tempo e resgata ainda com vida o Sargento Trainor e outros quatro sobreviventes.


Heroica resistência - Nunca houve um elogio maior nem a “O Sabre e a Flecha” e muito menos a André De Toth. As referências a esse diretor são sempre modestas, para dizer o mínimo, nunca sendo comparado, por exemplo, a Budd Boetticher, diretor que também com orçamento limitado realizava westerns de qualidade e nos quais os críticos sempre encontraram profundidade psicológica. Poucos westerns de médio orçamento e com 85 minutos de duração, como “O Sabre e a Flecha”, conseguiram tanta ação e tão intensas sequências dramáticas, resultando num excelente filme. Cuidadosamente explica-se que o chefe índio Black Cloud é um dos últimos caciques que não aceitam a paz, ou seja, os demais índios aceitaram a paz dos brancos e com os brancos convivem bem. Mas esse é um dos raros aspectos de “O Sabre e a Flecha” que levam a refletir sobre o roteiro conciso e de notável simplicidade. 

Yakima Canutt movimentando o western - Broderick Crawford, aos 42 anos e já entrando na péssima forma física que o caracterizaria até o final de sua carreira, não poderia ter sido uma escolha menos adequada para liderar o elenco pois o papel era talhado para John Wayne, Kirk Douglas, Burt Lancaster ou James Stewart, todos atrações de bilheteria. Porém, grande ator que era, Broderick Crawford domina o filme todo como o áspero e frio Sargento Trainor. Barbara Hale (Julia) representa o lado humano e moderador de Trainor. Completam o elenco Lloyd Bridges (que também atuou em “Sahara”), Mickey Shaughnessy em sua estréia no cinema, Martin Milner, Chubby Johnson e George Mathews. Pontas de Steve Forrest e Jay Silverheels. Participação quase especial de Carleton Young num momento a la John Ford, na cena final. Filmado totalmente em locações nas Buttercup Dunes da Califórnia, em meio a tempestades naturais de areia e sol abrasador, salienta-se nas sequências de ação o dedo de Yakima Canutt como diretor de 2.ª unidade, realizando cenas espetaculares, dignas de um Western de grande orçamento e fazendo com que “O Sabre e a Flecha” seja um pequeno e despretensioso ótimo western.


O tão cobiçado Oscar que premia as melhores interpretações nem sempre impulsiona as carreiras de quem o leva para casa e são diversos os casos de atores que encontraram dificuldades para conseguir bons papeis depois de premiados. São s casos de Victor McLaglen (“O Delator”, 1936), Paul Lukas, (“Horas de Tormenta”, 1944), Ernest Borgnine (“Marty”, 1956), Art Carney (“Harry, o Amigo de Tonto”, 1974). Em comum eles têm a característica de não serem exatamente o tipo de ator que Hollywood sempre busca para atrair o público que prefere ver gente bonita nos papeis principais. Atores acima do peso, com traços fisionômicos brutos e desprovidos de charme só funcionam mesmo como coadjuvantes, até para ressaltar a ‘perfeição’ física dos galãs que ao final ficam com as heroínas. Broderick Crawford é outro desses intérpretes que após receber um Oscar como Melhor Ator (“A Grande Ilusão”, 1949) raras vezes viu seu nome ser cogitado para papeis principais. “Nascida Ontem” (1950) e “A Trapaça” (de Federico Fellini, 1955) são exceções numa filmografia pontilhada de participações como coadjuvante. Corpulento, rude e até mesmo desagradável com sua voz áspera, Broderick Crawford sabia das limitações que sua imagem lhe impunha. E ainda havia o vício da bebida que o ajudou a envelhecer muito rapidamente. Apesar do prêmio recebido em 1950 o salário por filme de Crawford era baixo o suficiente para ser contratado, com vantagem para os produtores, como astro principal de um faroeste da Columbia. Nada mal um recente vencedor do Oscar estrelando uma movimentada aventura no Velho Oeste. Sabe-se lá por qual razão Randolph Scott ou Glenn Ford, atores de muito maior prestígio, mesmo sem Oscar nas prateleiras, não foram escalados para esse western dirigido pelo competente André De Toth. 



3 comentários:

  1. Assisti a pouco tempo...é um daqueles filmes q pouco se tem noticias dele, mas quando assisti pela primeira vez, vc percebe q encontrou um grande achado. filmão!

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