UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

23 de abril de 2011

A IMPERDOÁVEL INJUSTIÇA DE CLINT EASTWOOD


Ninguém desconhece que a maioria das atrizes do cinema tinha que se submeter ao famoso teste do sofá, o que nem sempre era garantia de estrelato. Com os atores não era muito diferente e muitos deles tiveram também que agradar homens influentes nos estúdios para galgar os íngremes degraus da fama. Alguns desses poderosos chegavam mesmo a adotar atores como seus protegidos facilitando-lhes o acesso aos filmes. O exemplo mais conhecido é o de Rock Hudson, protegido por Douglas Sirk e que muito o ajudou na sua carreira. Sirk era um diretor alemão e foi quem deu a Rock o primeiro papel como astro principal em uma película. E dirigiu Rock Hudson no western “Herança Sagrada” (Taza, son of Cochise), fazendo dele um astro verdadeiro com o filme “Sublime Obsessão”, preparando Rock para “Assim Caminha a Humanidade”. A parceria de Rock e Sirk perdurou por toda a década de 50, na qual fizeram oito filmes juntos.

Clint Eastwood dedicou o western “Os Imperdoáveis” aos seus amigos diretores Sérgio Leone e Don Siegel que foram muito importantes em sua carreira, inclusive moldando o tipo de herói que lhe rendeu tanta fama e dinheiro (The Stranger + Harry Callaghan). É importante jamais esquecer quem nos presta alguma forma de ajuda e por isso Clint acertou na homenagem. Só que ela foi incompleta, ou no mínimo injusta com outro diretor, igualmente importante na sua carreira, quando ninguém sabia quem era Clint Eastwood. Seu nome é Arthur Lubin. Quando o iniciante Clint Eastwood já estava cansado de bater de porta em porta nos grandes e pequenos estúdios à procura de trabalho, Arthur Lubin foi quem, incansavelmente lutou por Clint. Lubin, dirigia filmes desde 1932 e nos anos 40 foi um dos mais profícuos diretores da Universal, dirigindo qualquer filme para o qual fosse escalado. Em 1950 acertou em cheio com a comédia “Francis”, em que um mulo falante (a voz era de Chill Wills) era a grande atração. O filme fez bastante sucesso e a Universal filmou várias sequências, todas dirigidas por Arthur Lubin. Clint Eastwood havia feito um teste na Universal e quem dirigiu o teste foi o próprio Lubin que gostou daquele moço alto e simpático pretendente a ator, aprovando-o com louvor no teste. Lubin encaminhou Clint para assinar contrato com o estúdio, logo colocando-o no elenco de “Francis na Marinha”, filme que ele estava para começar a dirigir. Depois de lhe conseguir o contrato com a Universal, Lubin passou a escalar Clint em todos os filmes que dirigia, num total de quatro e ainda, forçando que Clint aparecesse em outras produções do estúdio. Lubin fazia de tudo para que seu protegido alcançasse a fama, de preferência pelas suas mãos pois pretendia que Clint Eastwood fosse para ele o que Rock Hudson representou para Douglas Sirk. Ocorre que Douglas Sirk possuía um evidente talento, tornando-se uma espécie de Rei do Melodrama em Hollywood.

Percebendo que a ajuda de Lubin não o estava levando a parte alguma, Clint conseguiu o papel de Rowdy Yates na série “Rawhide”, em 1959. Semana após semana Clint foi se tornando um nome e um rosto conhecido do público. Lubin, por sua vez, passou a dirigir séries para a TV produzidas pela Universal, entre elas “Mr. Ed”, aquela em que Rocky Lane dava voz ao cavalo falante chamado Mr. Ed. E Lubin teve a idéia de convidar Clint para o episódio “Mr. Ed Encontra Clint Eastwood”, episódio que foi ao ar em 22/4/1952, batendo o recorde de audiência da série. Da TV Clint foi filmar na Itália e o resto é história. Só que para Lubin essa história teve um final triste pois Clint Eastwood, após atingir a fama, passou a evitar seu protetor de todas as formas. Clint temia que Louella Parsons, Hedda Hopper e Sheyla Graham, as três maiores fofoqueiras de Hollywood viessem a prejudicar sua agora promissora carreira com intrigas comprometedoras. Clint até que tinha lá suas razões, mas bem que poderia por uma questão de justiça, ter sido grato a Lubin e acrescentado seu nome ao lado dos nomes de Leone e Siegel em “Os Imperdoáveis”.


3 comentários:

  1. Na minha curta visão de cinéfilo, haviam apenas dois nomes impulsionadores da carreira do nosso querido Clint; o Siegel e o Leone.
    Ainda na minha visão curtissima, havia o mesmo feito, antes de Leone levá-lo para seus westerns amacarronados, um seriado. Nada além disso.
    Quanto ao demais explicito no texto acima me soa como novidade e de muita valia para uma melhor consolidação de meu conhecimento desta arte, me dourando o espirito cada vez mais.
    O que posso administrar a mais neste conteúdo é que, seja quem deu voz à disseminação do talento deste grandioso ator, o fez para nosso agrado e deleite. Isto assim como outros, tal qual o magistral Rock Hudson, que nos deleitou os olhos vezes inumeras com seu talento
    formidável.
    jurandir_lima@bol.com.br

    ResponderExcluir
  2. Muito bom saber da importância do Arthur Lubin no início da carreira do Eastwood.
    Mas penso que quando Eastwood homenageia Leone e Siegel ele o faz em relação à importância que eles tiveram em sua visão de cinema.
    Em todos os seus primeiros filmes vemos sinais da influência dos dois grandes diretores citados. Principalmente nos westerns e policiais.
    Leone e Siegel ensinaram a Eastwood o ofício de dirigir. E, em alguns aspectos, ele até chegou a superar seus mestres.
    Lubin pode tê-lo ajudado a entrar no mundo do cinema, em termos de oportunidades e visibilidade. Mas nada que o tornasse um ídolo ou ator importante pois os filmes eram obscuros e pouco conhecidos. Tanto que acabou na tv, na época um veículo destinado aos que não davam certo na tela grande ou que estavam em próximos da aposentadoria e/ou longe das glórias do passado.

    Já Leone e Siegel ensinaram Eastwood a ser um dos grandes de todos os tempos. Compreendo perfeitamente a dívida que julga ter com eles. Dívida esta que ele não se cansa de citar a cada entrevista que concede á imprensa.

    Edson Paiva

    ResponderExcluir
  3. Édson, a injustiça a que me referi foi não no aspecto de influência artística, mas sim de renegar uma amizade que num determinado momento serviu de escada. Mas o fato é que Clint não queria ver seu nome ligado a um homossexual, o que poderia prejudicá-lo.

    ResponderExcluir