UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

26 de abril de 2011

O JESSE JAMES DO POLÊMICO NICHOLAS RAY



Nicholas Ray tornou-se um diretor célebre quando tratou da rebeldia dos adolescentes, num tempo em que isso era tabu no cinema. Seu “Juventude Transviada” (Rebel Without a Cause), 1955, deu o que falar e praticamente abriu as portas do cinema para analisar o comportamento dos jovens. Logo a seguir Ray tentou fazer o mesmo em um western chamado “Quem foi Jesse James” (The True Story of Jesse James), filmado em 1956 e lançado em 1957. Ray pretendia que James Dean interpretasse Jesse James, uma vez que o diretor queria dar um tom de rebeldia à vida do lendário fora-da-lei. James Dean faleceu antes e Robert Wagner, sem o carisma de Dean acabou protagonizando Jesse James, enquanto seu irmão Frank foi vivido por Jeffrey Hunter. Na versão de “Jesse James” de 1939, estrelada por Tyrone Power (Jesse) e Henry Fonda (Frank), os irmãos James tornaram-se malfeitores devido aos acontecimentos sócio-econômicos que ocorriam nos estados do Sul derrotados pelas forças nortistas americanas na Guerra Civil. Em “Quem Matou Jesse James”, Ray tentou mostrar que os irmãos foram atraídos para a criminalidade por não conseguirem se enquadrar num mundo em que os jovens não tinham vez, restando a eles apenas obedecer. Portanto Ray descobriu uma causa para os irmãos sulistas jovens e rebeldes. A 20th Century-Fox, que produzira a versão de 1939, dirigida por Henry King, também produziu o western de Ray que antes de “Juventude Transviada” já havia chamado bastante a atenção da crítica, especialmente com o intrigante western “Johnny Guitar”. Mas a Fox não ficou satisfeita com o trabalho de Nicholas Ray em “Quem Matou Jesse James” e drasticamente editou o filme, tirando do mesmo a interpretação psicológica que Nicholas Ray havia dado ao filme. A Fox reduziu esse western de 105 para 92 minutos, o que fez com que Ray nunca aceitasse “Quem Matou Jesse James” como um filme seu e o relegasse a um plano inferior na sua cinematografia.

O temperamental casal Gloria e Nicholas
RAY E OS ADOLESCENTES - Poucos diretores tentaram compreender os jovens como Nicholas Ray. Desde seu primeiro filme que foi “Amarga Esperança” (They Live by Night), com Farley Granger e Cathy O’Donnell, não exatamente adolescentes, mas já se defrontando com a inadequação em um mundo adulto. E veio “Juventude Transviada”, em que Nicholas Ray tentou tão inteiramente compreender os jovens que até manteve um tórrido relacionamento amoroso com Natalie Wood, não respeitando nem a gritante diferença de 27 anos entre suas idades. Ele tinha 43 e ela 16. Dennis Hopper queria matá-lo pois a volúvel Natalie era, então, sua namorada. Interessante que, nesse affair, Ray não procurou compreender o jovem e já incompreendido eviolento Dennis Hopper. Mas Nicholas Ray se entendeu bastante bem com James Dean e com Sal Mineo, dos quais se tornou grande amigo e mentor. Poucos diretores teriam a coragem que teve Ray, ao colocar na tela um gay ainda adolescente interpretado por Sal Mineo. Tanto e tão profundamente Ray entendia os adolescentes que, quando encontrou seu filho do primeiro casamento (Anthony Ray), então com 13 anos, na cama com sua esposa, a atriz Gloria Grahame, Nicholas Ray não tomou nenhuma atitude passional, como teria tomado aquele personagem de Lee Marvin que jogou café fervendo no rosto de Glória em “Os Corruptos” (The Big Heat). Ray separou-se da inquieta atriz, é verdade, mas ninguém saiu mortalmente ferido do escândalo. Difícil mesmo deve ter sido para Ray ser trocado pelo filho já que Anthony Ray casou-se com Gloria Grahame em 1960 e com ela viveu por 14 anos, enquanto Gloria e Ray ficaram casados apenas quatro anos. Gloria era uma madura mulher de 37 anos e o filho de Nicholas Ray mal tinha completado 20 anos quando se casaram. A única atitude de Nicholas foi pedir a guarda do filho Timothy que ele tivera com Gloria pois sabe-se lá o que poderia passar pela cabeça da ex-mulher.

Ray dando uma
tragada...
PROFESSOR MUITO LOUCO - A trajetória de Nicholas Ray como diretor teve um final prematuro pois o cigarro e as drogas minaram sua saúde. Depois de “O Rei dos Reis” (deixar Nick Ray filmar a vida de Cristo foi uma temeridade...) e “55 Dias em Pequim” a carreira (cinematográfica) de Ray estava acabada. Nesta última superprodução Ray teve um ataque cardíaco que o afastou do filme. O antigo desafeto Dennis Hopper foi quem ajudou Nicholas Ray conseguindo que ele passasse a ministrar aulas na Universidade de Nova York. O homem que deu espaço para os jovens e seus problemas nas telas, era agora professor de cinema de alunos como Jim Jarmusch (diretor do controvertido western “Dead Man”, com Robert Mitchum). Como professor, Nicholas Ray pedia aos seus alunos que fumassem maconha durante as aulas para melhor interpretar suas teorias. E depois tem gente que ainda diz que a juventude que é transviada...

4 comentários:

  1. Amigos comentaristas e leitores. Mais uma vez estou fazendo meu comentario em mais de um bloco, em vista do mesmo não absorver mais que determinado numero de palavras ou digítos.
    Parte primeira do comentário sobre Nicholas Ray;

    È extremamente fantastico, grotesco, admirável e muitas vezes incompreensivel, o mundo dos bastidores, seja de que tipo de arte venha a ser
    Como voltar a enquadrar um Nicholas Ray, de quem tantos bons filmes assisti, depois do conhecimento de tantos deslizes.
    E pergunto? Foram mesmo deslizes? Deslizes ou uma forma que ele encontrou de viver melhor sua vida?
    Nos espantamos com bobagens que, muitas vezes, o protagonista, por estar envolvido, não tem qualquer pingo de culpa. Acham que posso estar errado? Então vejamos;
    1 - Onde cabe a culpa em Nicholas Ray de ter um affair com a adolescente Natalie Wood? Onde anda a culpa dele? Quem de nós, estando no seu lugar, e tendo a chance de ter um romance com uma mulher daquela, não o teria? Quem?
    E mais: quem vai por em duvida se o "ofendido" Hopper entrasse na graça da mulher de Ray e esta lhe desse tregua? Alguém vai me jurar que ele não atacaria feito um torpedo invadindo o casco de um navio? Quem vai me dizer que isto não aconteceria?
    Se alguém desejar tirar uma de santo do pau oco, se alguém vier dizer para mim que ele errou e que "você" jamais faria uma coisa assim, que então seja franco e diga. Mas...é claro que nonguém vai dizer uma coisa assim, não é isto mesmo? E sabem porque? Porque neste mundo terrivelmente machista e individualista, é cada um por si. Sicrano que se dane.
    Procuramos tirar sempre uma de um moralismo miúdo e vago, no desejo de mostrar para a sociedade que somos diferentes. Mas não somos. Não fomos, não somos e nunca seremos. Qualquer um que tiver uma oportunidade de ter um caso daqueles com uma ninfeta hoje, vai ter. E se me disser que eu estou completamente enganado, terá de me provar isto.
    Então indago? Porque Nicholas andou errando? Onde está seu grande erro? No fundo, quem eu acho quem andou errando foi o descontrolado Hopper. Estaria a Natalie plenamente satisfeita com o romance que mantinha com o alienado rapaz? Imaginemos que, se ela estivesse se sentindo assim tão bem com o apoquentado ator de Sem Destino, ela não iria para os braços de um homem mais velho e que, possivelmente, lhe atolou dos prazeres que ela sempre desejou ter e que o "traido" Hopper nunca lhe deu.
    É preciso que tudo seja analisado por mais de um angulo. Ninguém se suicida sem que uma causa forte lhe tivesse assomado o fraco espirito. Nunca se bebe água sem ter sede e nem se enche a barriga sem que esteja com voraz apetite. Tudo tem uma razão para acontecer, esta é a verdade. Ninguém esmurra a face de um oposto apenas por um desejo atroz de fazer isto!
    Assim, sem culpas para o Nicholas Ray.
    2 - Onde mora a culpa do Ray Senior, do mesmo ter pego na cama o Ray Junior com sua mulher? Pode existir uma dezena de respostas para esta pergunta, como; o filho puxou ao pai. A mulher foi quem errou. Ou até; ele, o pai, o Senior, corria atrás de ninfetas e esqueceu a madurona que tinha em casa. E, como destas formas, muito mais.
    Neste ponto não se pode por culpas em ninguém. Na verdade eu acho que os dois queriam e fizeram. O que se pode fazer com aquilo que se chama desejo? Aconteceu, acontece ou irá acontecer tal fato somente com a familia Ray? Claro que não. Isto acontece toda hora neste mundo perverso e individualista. Apenas não tomamos conhecimento, apenas tapam as noticias ou mesmo fingem que não estão vendo e que nada aconteceu. Mas que a toda hora fatos iguais se revelam, isto é um fato.
    Finalmente, e para o desagrado de muitos, tudo faz parte da vida. E cada vida tem de ser vivida em toda sua plenitude, pois ninguém a irá vive-la por nós. E que cada qual que se cuide, que cada qual tome conta de si, esta é a verdade. Crua, dura, mas esta é a verdade da vida.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  2. 2a. Parte do meu comentário sobre Nicholas Ray;

    3 - Qual o problema grave que reside no grande diretor em ter seu polo cinematográfico voltado para compreender ou mostrar o comportamento dos jovens? Quantos outros diretores enveredaram por outros caminhos e somente faziam filmes dentro de um mesmo tema? Quantos? Querem que eu cite apenas um? O John Ford mesmo somente gostava de fazer faroestes. Ele mesmo dizia. E vocês me perguntarão; mas ele fez outros generos de filmes. Fez. Fez mesmo. Mas o Nicholas Ray também o fez. Ou ninguém se lembra mais de Johnny Guitar? De No Silencio da Noite e muitos outros mais?
    Eu mesmo adoro escrever. Já escrevi umas vinte ou trinta historias. Porque eu somente escrevo dentro do ramo faroeste? Porque é algo que está amarrado em mim, algo que eu gosto e que me identifico. Porque com o Ray não poderia ser assim?
    Então não podemos cruxificar ou taxar o homem Ray de nada de anormal em querer entender a juventude, mostrar este lado, ou momento, da vida. Fumar Maconha? Isto é a mais tola bobagem que eu já ouvi, se é que o condenam por isto. Quanto de gente, mais que importantes, conhecemos e que hoje diz abertamente que um dia usou machona? Quantos?
    Então, porque taxar o Ray de viciado em drogas ou mesmo criticá-lo por isto? Foi a vida dele e que somente "ELE" a poderia, e devia, tela vivido.
    4 - Não desejo de forma alguma que nosso amado editor se mostre ofendido com meus pontos de vista, já que o que ele nos mostra aqui não é um ponto de vista pessoal dele. Claro que ele pesquisou e pos no seu blog o resultado de suas pesquisas. Portanto, quase que não são deles estes tópicos. Ele apenas nos faz conhecer um pouco mais de tudo o que gira no mundo do cinema, nos bastidores do cinema, no mundo do cinema. E são coisas tão importantes que ele nos mostra que, sem isto, sem ele, sem estas informações jamais irámos tomar conhecimento de fatos semelhantes.
    Então, estimado Darci, somente o parabenizo por esta amostra vossa, nos fazendo ver um pouco mais da vida de nossos ídolos, que jamais deixou de ser uma vida comum, uma vida como a nossa, a vida de um ser humano. Foram nossos herois? Foram sim. Mas até os herois são humanos como nós. Assim, sujeitos a todo o tipo de dependencias ou fraquezas que nos mesmos estamos sujeitos.
    De verdade que, de Nicholas Ray, para mim, resta apenas a avaliação e a louvação de sua obra, o que ele nos deixou de legado, o que ele nos presenteou de maravilhoso.
    E isto ele fez, basta que se veja sua filmografia e se assista seus filmes.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  3. Incrível Postagem Darci! Sou louco pra ver esse filme, porém, o mesmo é bem difícil de ser encontrado no mercado nacional. Nick Ray pode ter sido realmente um ótimo diretor, que o digam NO Silêncio da Noite, Johnny Guitar e Juventude Transviada, no entanto, como vc bem escreveu, no final de sua carreira, sua imagem não era das melhores, em todos os sentidos.

    Ótimo Texto, como sempre!

    Grande Abraço!

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  4. Olá, Jefferson
    A cópia que eu possuo é a de 92 minutos e copiada de uma daquelas sessões da tarde. Esse é um faroeste que merece uma resenha mais completa.
    Um abraço do Darci

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