UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

28 de agosto de 2011

“OS COWBOYS” (THE COWBOYS) – MEMORÁVEL WESTERN DE JOHN WAYNE


Há certos filmes que têm tudo para dar errado. Uma fórmula infalível para o fracasso é juntar num filme o reacionário John Wayne órfão de seus amigos de tantos filmes com um pouco experiente diretor intelectual novaiorquino e claro, democrata. Some à dupla um ator negro ativista liberal, um vilão de filmes de gangs de motociclistas e... onze adolescentes. Você colocaria um centavo numa produção dessas? Pois “Os Cowboys” (The Cowboys), lançado em 1972 se transformou num razoável sucesso de bilheteria, com uma das melhores interpretações da carreira de John Wayne e é um western carinhosamente lembrado.

Duke fazendo piada com a própria barriga
ONZE MENINOS E UMA MANADA - O diretor Mark Rydell já havia dirigido alguns episódios da série “Gunsmoke” para a TV e sua experiência em westerns se resumia nisso. Seus dois primeiros filmes foram “Apenas Uma Mulher”, uma adaptação de D.W. Lawrence e o drama rural “Os Rebeldes”, com Steve McQueen. Mark Rydell foi avisado que teria toda sorte de dificuldades para dirigir John Wayne, assim como Roscoe Lee Browne foi também alertado que não se daria bem com Duke Wayne. Em entrevista, já nos anos 90, o diretor Mark Rydell elogiou a extrema boa vontade, paciência e generosidade de John Wayne durante as filmagens. E ressaltou a amizade que Duke fez com cada um dos pequenos cowboys desse western. A incomum história de William Dale Jennings lembra vagamente “Rio Vermelho” (Red River) e “Pistoleiros do Oeste” (Lonesome Dove) pois trata da condução de 1.500 cabeças de gado por mais de 600 quilômetros. O gado pertence a Will Andersen (John Wayne), criador de 60 anos de idade que tem urgência em levar o gado a Belle Fourche, antes do inverno, para vendê-lo. Ocorre que não há mais cowboys para esse trabalho pois estão todos em busca de ouro descoberto em Beverhead. A única alternativa é Andersen contratar dez meninos entre nove e quinze anos, todos em férias na escola. Como cozinheiro Andersen contrata Jebediah Nightlinger (Roscoe Lee Browne), negro experiente e dono de forte personalidade. Junta-se ao grupo outro adolescente, o mexicano Cimarron (A. Martinez). Andersen sofre o assédio de um bandido recém-saído da prisão chamado Long Hair (Bruce Dern). Long Hair quer ser contratado junto com seu bando para conduzir o gado de Andersen, mas sua verdadeira intenção é se apossar da manada. Andersen rejeita a proposta de Long Hair e segue com seus cowboys adolescentes quando são atacados pelo bando de Long Hair. Andersen é morto pelo facínora mas os garotos liderados por Nightlinger conseguem liquidar o bando e conduzir o gado a Belle Fourche.

Roscoe, Coleen e Bruce
MENINOS VIRANDO HOMENS - Todo garoto dos anos 40 e 50 sonhava ser mocinho, mas antes de ser mocinho precisava ser cowboy. Ainda bem que aqueles meninos, hoje beirando ou já passados dos 70 anos, só veriam John Wayne transformando meninos em cowboys neste western, já maduros e menos sonhadores. O filme de Rydell mostra como poucos westerns as agruras e a dura realidade da vida de um cowboy. Mostra como é brutal o amadurecimento dos homens do Oeste quando se defrontam não só com as adversidades geográficas ou atmosféricas, mas, e principalmente, ao travar contato com as piores espécies de seres humanos, como o Long Hair interpretado por Bruce Dern, personagens tão comuns no universo do Velho Oeste. Will Andersen (John Wayne) se vê obrigado a dissipar a inocência dos adolescentes incutindo neles não só a força necessária para o difícil enfrentamento da vida mas também para que ele ajam sempre com integridade, honra e força de caráter. E Will Andersen faz isso até com excessiva e desnecessária rudeza, como quando empurra um garoto que dorme em cima do cavalo para fora da sela. Ou quando exige de outro menino que se expresse sem gaguejar. E ao dizer aos garotos: “Vocês são meninos, não cowboys ainda. E eu vou lembrar isso a vocês a cada minuto do dia e da noite”. Mas todos os garotos, sem exceção, tornam-se precocemente amadurecidos ainda que adolescentes. E há a colaboração de Nightlinger, estranho por ser negro, até naquele parte do corpo, como pergunta um menino, também fazendo de cada garoto um homem. A magnífica história de Williams D. Jennings, mostra ainda o primeiro contato dos meninos com a bebida, com as prostitutas e especialmente com o bando de Long Hair. Toda essa transformação transcorre num filme que emociona em cada cena, em cada gesto e em cada olhar, dos homens, dos meninos e das mulheres do filme.

'THAT SON OF A BITCH CAN ACT' - A incrível beleza plástica de “Os Cowboys” deve-se ao cinegrafista Robert Surtees que realizou um magnífico trabalho. As cenas de condução de gado são deslumbrantes, assim como os cenários que vão sendo percorridos com as paisagens do Novo México, Colorado e mesmo no San Cristobal Ranch (Novo México), onde se passa a primeira parte da história. Porém a maior atração de “Os Cowboys” são as excepcionais interpretações que Mark Rydell conseguiu extrair do elenco. Exceto Robert Carradine (Slim), o mais jovem dos filhos de John Carradine e Nicolas Beauvy (Dan), todos os demais garotos faziam suas estréias no cinema e mesmo assim têm performances magníficas. A sequência em que Dan tem seus óculos quebrados por Long Hair é simplesmente sublime. Bruce Dern entrou para a galeria dos bandidos inesquecíveis não apenas por haver matado John Wayne de forma covarde, mas por haver criado um dos mais cruéis bandidos de um western. A quase desconhecida (das telas) Coleen Dewhurst tem uma participação pequena mas deliciosa. Nightlinger é interpretado magnificamente por Roscoe Lee Browne, que por pouco não domina o filme, só não o fazendo porque “Os Cowboys” é um filme de John Wayne. Na sua vasta filmografia poucas vezes John Wayne recebeu elogios por suas interpretações e Duke como Will Andersen pode ser colocado ao lado de suas grandes atuações como Ethan Edwards (“Rastros de Ódio”), Capitão Nathan C. Brittles (“Legião Invencível”), J.B. Books (“O Último Pistoleiro”) e Thomas Dunson (“Rio Vermelho”). Este último western foi aquele que John Ford, após ver o filme de Howard Hawks declarou: “That son of a bitch can act” (Esse filho da mãe é capaz de atuar). Depois de assistir “Os Cowboys” deve-se aduzir à exclamação de Ford: E como ele sabe atuar!

26 de agosto de 2011

LEO GORDON – EX-BANDIDO, ATOR E ESCRITOR


Depois de cumprir pena em San Quentin, Leo Gordon voltaria à assustadora prisão,
desta vez como ator. Don Siegel, que o dirigia no filme rodado na famosa prisão,
afirmou: “Jamais em minha vida eu estive próximo a um homem tão amedrontador
como Leo Gordon.” Com seus quase 1,90m de altura, impressionante compleição
física, voz poderosa e penetrantes olhos azuis, Leo Gordon aterrorizava
não só os mocinhos dos filmes, mas também os espectadores.


QUATRO ANOS EM SAN QUENTIN - Leo Vincent Gordon nasceu na mais extrema pobreza em Nova York, em 2 de dezembro de 1922. O garoto Leo cresceu na época da depressão e pouco se sabe de sua juventude, até que entrou para o Exército onde não se deu muito bem com a disciplina exigida na vida militar. Foi dispensado do Exército em 1943, portanto em plena guerra, ficando sem família e sem profissão, chegando a morar na rua. Leo decidiu viver na Costa Oeste, indo para a Califórnia onde acabou se envolvendo com marginais. Preso ao praticar um assalto a mão armada Leo Gordon foi condenado a quatro anos de prisão, cumpridos numa tenebrosa cela do Presídio de San Quentin, num tempo em que ali ainda eram permitidos os interrogatórios sob tortura. Leo Gordon foi um dos prisioneiros que mais dificultaram a vida dos guardas por se envolver constantemente em brigas com outros presidiários que normalmente acabavam na enfermaria do presídio. Em San Quentin os criminosos mais perigosos tinham respeito por aquele preso já famoso por suas reações violentas. Após ser colocado em liberdade Leo Gordon passou a trabalhar na construção civil e pode fazer uso de uma lei que amparava ex-prisioneiros possibilitando que eles fizessem cursos de reabilitação. Foi então que Leo frequentou a Academia Americana de Artes Dramáticas onde teve como professor Jason Robards, que anos depois se tornaria ator famoso (“Era Uma Vez no Oeste” e “A Hora da Pistola”) e vencedor de dois prêmios Oscar como Melhor Ator Coadjuvante.

Quatro homens para segurar Leo Gordon,
entre eles Lee Marvin e Neville Brand,
enquanto Phil Carey segura Donna Reed;
o filme é "Irmãos Inimigos"
COM O DUKE EM “HONDO” - Na turma de Leo Gordon estavam Grace Kelly e Anne Bancroft, que morriam de medo do colega de classe. Outra aluna chamada Lynn Cartwright superou a má impressão inicial e passou a namorar com Leo, apoiando-o na sua recuperação e acabou se casando com ele em 1950. Lynn teve uma carreira discreta como atriz atuando muitas vezes ao lado do marido. Após terminar o curso de ator Leo Gordon passou a esperar pela primeira oportunidade o que não demoraria a surgir para quem possuía um físico privilegiado como o dele. Em 1953 Don Siegel filmou “Aventura na China”, filme de guerra que marcou a estréia de Leo Gordon no cinema. Apesar do papel pequeno, Don Siegel ficou impressionado com o porte de Leo Gordon e as histórias que ele lhe contou. O filme seguinte do ator novato foi “Todos os Irmãos Eram valentes”, estrelado por Robert Taylor. Naqueles dias Hollywood rodava muitos westerns e Leo Gordon logo faria sua estréia nesse gênero. O primeiro desses faroestes foi “Cidade do Mal” (City of the Bad Men), faroeste que teve como destaque uma luta de boxe pelo título mundial dos pesos pesados, com Dale Robertson e Richard Boone nos principais papéis ao lado de Jeanne Crain. Em seguida Leo Gordon atuou num daqueles filmes que a Universal produzia para fazer de Rock Hudson um astro, dirigido por Raoul Walsh e intitulado “Irmãos Inimigos” (Gun Fury). A mocinha do filme é Donna Reed e entre os bandidos estão Neville Brand, Lee Marvin e Leo Gordon, todos já bastante notados pela virulência de seus modos na tela, especialmente Leo. O próximo trabalho de Leo Gordon foi em “Caminhos Ásperos” (Hondo), um dos melhores westerns da carreira de John Wayne e onde Leo interpreta o violento marido de Geraldine Page que retorna para casa onde ocorre uma platônico relacionamento entre Duke e sua esposa no filme. Os próximos westerns de Leo Gordon nos quais ele era sempre um dos bandidos foram “Morro da Traição” (Yellow Mountain), com Lex Barker; “Arizona Violento” (Ten Wanted Men), com Randolph Scott; “Sete Homens Enfurecidos” (Seven Angry Men), com Jeffrey Hunter; “Massacre Traiçoeiro” (Santa Fé Passage), com John Payne e Rod Cameron); “Covil de Feras” (Robber’s Roost), com George Montgomery e Richard Boone; “Armado até os Dentes” (Man With a Gun), com Robert Mitchum, outro ator que também foi cliente de uma prisão. Em “A Audácia é Minha Lei” (Tennessee’s Partner), de Allan Dwan, com Ronald Reagan e John Payne, Leo Gordon passa para o lado da Lei e interpreta um xerife.

Leo Gordon e Neville Brand
provocando rebelião na prisão
DE VOLTA À PRISÃO - Na década de 50 Leo Gordon participou de 35 filmes, ao lado de grandes atores e lindas atrizes, nada mal para quem alguns anos antes tomava sol na companhia de perigosos facínoras sob as vistas de guardas fortemente armados. Muitos dos filmes de Leo Gordon eram westerns, mas ele mostrava sua brutalidade em qualquer gênero, especialmente depois que foi visto no clássico “Rebelião no Presídio” (Riot in Cell Block 11). A história desse drama é inusitada pois quando Walter Wanger decidiu produzir um filme sobre sua passagem pela prisão de San Quentin, entregou a direção a Don Siegel. O diretor já conhecia Leo Gordon enquanto Wanger e Gordon conheciam bem San Quentin pois estiveram naquela prisão em épocas diferentes. As experiências pessoais de cada um resultariam certamente num ótimo filme sobre o sistema penitenciário norte-americano e foi o que aconteceu ainda mais juntando também Neville Brand ao elenco. Leo Gordon interpretou o bandido Crazy Mike Carnie e quem o viu na tela nesse filme certamente não mais o esquecerá pelo pavor que seu personagem espalhou nas cenas em que coloca San Quentin em polvorosa. (Leia mais no artigo sobre ‘Walter Wanger - O Produtor de No Tempo das Diligências’, neste blog). Também fora do gênero western Leo Gordon participou dos elencos de “O Egípcio”, com Victor Mature; “Átila, o Rei dos Hunos” com Jeff Chandler e Jack Palance como Átila; “O Aventureiro de Hong Kong”, com Clark Gable e Susan Hayward. Leo Gordon voltou a trabalhar com a irresistível Susan Hayward no fatídico “Sangue de Bárbaros”, com John Wayne interpretando Genghis Khan (focalizado aqui no CINEWESTERMANIA no post ‘Leo Gordon - Um Homem Dífícil de Morrer’). Na refilmagem de Hitchcock “O Homem que Sabia Demais”, com Doris Day e James Stewart, Leo Gordon faz uma ponta como um motorista.

O ESCRITOR LEO GORDON - Seria quase inimaginável que Leo Gordon, um ator que como poucos expressava a faceta brutal e psicótica dos seres humanos tivesse o dom de escrever. Por isso o meio cinematográfico ficou surpreso quando passou a ver roteiros de episódios de séries de TV e mais tarde roteiros de filmes serem baseados em histórias de um certo Leo Vincent Gordon, que não era outro senão o já conhecido ator. Entre dezenas de histórias utilizadas na TV, Leo Gordon escreveu os originais de “Oeste Selvagem” (The Black Patch), western em que George Montgomery interpreta um xerife que usa um tapa-olho, doze anos antes de John Wayne também colocaria um tapa-olho em “Bravura Indômita” (True Grit). Por esse filme Leo Gordon recebeu remuneração como ator e autor. O mesmo aconteceu em “Missão audaciosa” (Escort West), faroeste com Victor Mature, já comentado neste blog. Como escritor Leo Gordon gostava de escrever histórias de terror que viraram filmes como “The Cry Baby Killer”, estrelado pelo jovem Jack Nicholson; “Sangue na Estrada” (Hot Car Girl), com Jack Lambert; “A Mulher Vespa” e “Ataque das Sanguessugas Gigantes”; dois policiais dirigidos por William Witney intitulados “The Cat Burglar” e “Valley of the Redwoods”; “Sombras do Terror” e “A Torre de Londres”, ambos de Roger Corman, respectivamente com Vincent Price e Boris Karloff. Leo Gordon voltou a escrever uma história de faroeste aproveitada para o cinema que foi “Dólares Malditos” (The Bounty Killer), da série de westerns produzida por A.C. Lyles, com elenco composto pelos veteranos Dan Duryea, Johnny Mack Brown, Buster Crabbe, Bob Steele e Rod Cameron. A história que mais dinheiro rendeu a Leo Gordon foi “Tobruk”, sobre as manobras do Afrika Korps de Rommel no Egito, possivelmente a mais ambiciosa produção de Roger Corman. Rock Hudson e George Peppard lideraram o elenco que teve também Leo Gordon. Outro filme que usou uma história de Leo Gordon foi “Corruptos e Sanguinários”, de 1970, estrelado por Tony Curtis, Charles Bronson e Michelle Mercier, aventura em tom de comédia na qual Leo Gordon também atuou como ator. Para a televisão Leo Gordon escreveu uma incontável série de roteiros, muitos para seriados westerns como “Maverick”, “Tombstone Territory e “Bat Masterson”.

OUTROS NÃO-WESTERNS – Dos quase 100 filmes da carreira de ator de Leo Gordon, merecem ser destacados “Tarzan Vai à Índia”, com Jock Mahoney como Tarzan; “O Castelo Assombrado”, com Vincent Price; “Os Reis do Sol”, com Yul Brynner; “Armas para o Caribe” (L’Arme à Gauche), produção européia com Lino Ventura e Sylva Koscina nos papéis principais; a versão filmada em 1966 de “Beau Geste’, com Telly Savallas e Leslie Nielsen; “Anjos do Inferno” (Devil’s Angels), filme de motoqueiros rebeldes com John Cassavetes em que Leo Gordon interpreta um xerife; “O Filho de Hitler”, com Bud Cort. Em “O Massacre de Chicago” (St. Valentine’s Day Massacre), Leo Gordon teve oportunidade de atuar com seu ex-professor Jason Robards que interpretou Al Capone neste filme que recontou o massacre de 14 de fevereiro de 1929. Entre os muitos filmes em que Leo Gordon interpretou gângsters, um dos mais notáveis foi “O Assassino Público N.º 1” (Baby Face Nelson), dirigido por Don Siegel e com Mickey Rooney como Baby Face Nelson, enquanto Gordon viveu o bandido John Dillinger. Nas fotos à esquerda os inimigos públicos Rooney e Gordon; Leo Gordon em "Sangue de Bárbaros" e com Vincent Price em "O Castelo Assombrado".

O sempre violento Leo Gordon
estrangulando Barry Sullivan;
apanhando de George Mongtgomery;
e à mercê de Phil Carey
DIRIGIDO POR SERGIO LEONE - Se Leo Gordon era um escritor bem sucedido, o cinema não podia abrir mão de um tipo que impressionava como ele. E Leo pode ser visto em inúmeros outros faroestes como “Dívida Amarga” (Great Day in the Morning), com Robert Stack; “Redenção de um Covarde” (Johnny Concho), o famoso primeiro western de Frank Sinatra; “Onde Imperam as Balas” (Red Sundown), com Rory Calhoun; “O Fantasma do General Custer” (7th Cavalry), com Randolph Scott; “Os Indomáveis” (The Restless Breed), com Scott Brady; o néo-western “A Soldo do Diabo” (Man in the Shadow) de Jack Arnold, com Jeff Chandler e a presença magnífica de Orson Welles; “Audácia de um Estranho” (The Tall Stranger), com Joel McCrea. Em “Quantrill’s Raiders” Leo Gordon interpretou o sanguinário Coronel Confederado William Clarke Quantrill. Outros westerns com participação de Leo Gordon foram “O Poder da Vingança” (Apache Territory), com Rory Calhoun; “Na Rota dos Proscritos” (Ride a Crooked Trail), com Audie Murphy, Walter Matthau e Henry Silva; o já citado “Missão Audaciosa” (Escort West); “Encruzilhada dos Facínoras” (The Jayhawkers), em que Jeff Chandler interpreta um personagem chamado Darcy; “Noose for a Gunman”, western B estrelado por Jim Bannon. Nos anos 60 Leo Gordon fez menos westerns, entre os quais “Quando um Homem é Homem” (McLintock), que ficou famoso porque John Wayne reclamou que tinha que lutar com um bandido do tamanho de Leo Gordon, dizendo uma frase que ficou famosa: “Eu vou para o inferno mas não luto com esse cara!”; “Satã, o Urso Cinzento (The Night of the Grizzly), com Clint Walker; “O Perigo Caminha ao Meu Lado” (Buckskin), com Barry Sullivan; “Pistolas Inimigas” (Hostile Guns), com George Montgomery e Yvonne De Carlo. Em 1973 Leo Gordon seria dirigido por Sergio Leone em “Meu Nome é Ninguém” (Il Mio Nome è Nessuno). Leone foi creditado apenas como autor do roteiro nesse spaghetti-western oficialmente dirigido por Tonino Valerii e que teve no elenco Henry Fonda e os bandidos norte-americanos R.G. Armstrong, Geoffrey Lewis e Leo Gordon. A derradeira participação de Leo num faroeste foi ao lado de James Garner em “Maverick”, de 1994, em que um envelhecido Leo Gordon interpreta um jogador de pôquer. A brilhante carreira de Leo Gordon seria encerrada com sua criação do lendário Wyatt Earp para a série de TV “As Aventuras do Jovem Indiana Jones”, em 1995.

BOTA DE OURO - Ao contrário do homem desajustado que foi quando jovem, na vida real, ou dos tipos que interpretou no cinema e na TV por quase 50 anos, Leo Gordon se transformou num homem tranquilo, tendo permanecido casado por exatos 50 anos com Lynn Cartwright até o dia de sua morte em 26 de dezembro de 2000. A morte de Leo Gordon foi também tranquila, em contraste com sua vida, pois faleceu vítima de um ataque cardíaco enquanto dormia, deixando a esposa Lynn e uma filha. Em 1997, três anos antes de falecer, Leo Gordon recebeu o Prêmio Golden Boot, passando a fazer, merecidamente, parte da galeria dos imortais dos western no cinema.
Na foto ao lado Leo Gordon já no final de sua carreira; abaixo homenagem chefe de família Leo Gordon.


24 de agosto de 2011

WARREN OATES, O MAIS CULTUADO ATOR DA CONTRACULTURA CINEMATOGRÁFICA


Seus maiores amigos eram Sam Peckinpah, Peter Fonda e Monte Hellman,
diretores que o dirigiram inúmeras vezes. Ele tem como admiradores cineastas
modernos como Quentin Tarantino e Richard Linklater e vários filmes foram
a ele dedicados. Ele é um dos mais cultuados atores, ainda que não aquele tipo
de cult de consumo fácil como James Dean, Elvis e tantos outros.
Ele nunca foi capa de revista e raramente uma foto sua é vista em qualquer mídia.
Mais do que interpretar bandidos ele interpretou melhor que ninguém os tipos
perdidos da vida e sujeitos desgarrados da sociedade.
Seu nome era WARREN OATES.


ATOR DE TELEVISÃO – Nascido na pequena Depoyt no Estado do Kentucky, em 5 de julho de 1928, Warren Mercer Oates era filho de um dono de armazém, o famoso ‘General Store’ que vemos em quase todos os westerns. Frequentou a Universidade de Louisville onde demonstrou interesse pelo teatro, estreando aos 23 anos. Em 1957 ele já estava na televisão e se tornou um dos mais requisitados atores para interpretar cowboys autênticos. Isso ocorreu em praticamente todas as séries westerns da TV, entre elas “Caravana”, “Bronco”, “Johnny Ringo”, “Procurado Vivo ou Morto”, “Johnny Yuma, o Rebelde”, “O Paladino do Oeste”, “Big Valley”, “Bat Masterson”, “Bonanza” e “Gunsmoke”. Quando Sam Peckinpah criou, em 1960, sua série própria para a televisão, série que se chamou “The Westerner”, reservou um personagem para Warren Oates. A série durou apenas treze episódios, mas representou o início de uma grande amizade entre o escritor-diretor e o jovem ator. Além de atuar na televisão, Warren Oates participou também de alguns filme, fazendo sua estréia no cinema em 1959 no filme “Periscópio à Vista”, dirigido por Gordon Douglas e estrelado por James Garner, que já era famoso devido à série “Maverick”. Embora tenha cumprido serviço militar como mariner, Warren Oates sentia-se mais à vontade como cowboy e seu segundo filme, também dirigido por Gordon Douglas, foi o western “A Lei do Mais Valente” (Yellowstone Kelly), num pequeno papel interpretando um cabo do Exército. Seu filme seguinte foi, sob a direção de Budd Boetticher, “O Rei dos Facínoras”, biografia do gângster ‘Legs’ Diamond, interpretado por Ray Danton. Warren interpreta Eddie Diamond, também gângster e irmão de ‘Legs’ Diamond. Seu próximo trabalho no cinema seria com Sam Peckinpah.

Acima com Warren Oates
com Sidney Poitier;
abaixo em "Barquero"
NO CINEMA COM PECKINPAH - “Pistoleiros do Entardecer” (Ride the High Country) surpreendeu o meio cinematográfico e fez de Sam Peckinpah, um mais prestigiados novos diretores de Hollywood. Nos papéis principais de “Pistoleiros do Entardecer” estavam Joel McCrea e Randolph Scott e esse elegíaco western representou a despedida das telas dos dois grandes cowboys. Porém se o faroeste ficava sem Scott e McCrea, o filme de Peckinpah revelava atores novos vindos da televisão, como R.G. Armstrong, L.Q. Jones, James Drury, John Anderson e principalmente Warren Oates que interpreta um dos irmãos Hammond. Peckinpah imediatamente colocou Warren Oates na sua lista de atores preferidos. A seguir Oates fez uma ponta no western-comédia “Ginetes Intrépidos” (The Rounders), estrelado por Glenn Ford e Henry Fonda. A participação de Warren Oates nesse filme é tão pequena que sequer mereceria ser lembrada, mas foi nesse filme que se tornou amigo de outro jovem cheio de idéias que também fazia um pequeno papel. Esse jovem era Peter Fonda. Quando Peckinpah foi filmar “Juramento de Vingança” (Major Dundee), levou parte da sua turma formada por L.Q. Jones, R.G. Armstrong e Warren Oates para fazer parte do elenco, ainda que em papéis menores, mas o suficiente para os tornar conhecidos. Tanto que Warren Oates foi escolhido para ser um dos sete homens em “A Volta dos Sete Magníficos”, sequência de “Sete Homens e Um Destino” dirigida por Burt Kennedy. Yul Brynner reviveu o pistoleiro Chris e o elenco tinha ainda Claude Akins, Emílio Fernández, Rodolfo Acosta e Fernando Rey. Dentre eles destacou-se Warren Oates. Também dirigido por Burt Kennedy, Warren Oates atuou em “O Homem com a Morte nos Olhos”, com Henry Fonda no papel principal. O filme seguinte de Warren Oates foi um estrondoso sucesso de bilheteria em 1967 e ganhador de cinco prêmios Oscar, o policial “No Calor da Noite”. Oates interpretou um policial e sua magnífica participação foi vital para a história, trazendo a ele o necessário reconhecimento como ator. Na intensa guerra de maneirismos entre Rod Steiger e Sidney Poitier o vencedor foi aquele ator magro chamado Warren Oates que agora já não era mais admirado apenas por Sam Peckinpah.

Oates com Peckinpah em
"The Wild Bunch"
UM WESTERN EXTRAORDINÁRIO – A American International Pictures, de Roger Corman, era famosa por revelar artistas de talento, entre eles o jovem Monte Hellman, que só filmava tendo Jack Nicholson como ator principal. Em 1968 Monte Hellman filmou “Disparo para Matar” (The Shooting), estrelado por Jack Nicholson e Millie Perkins, com Warren Oates num papel coadjuvante. Muitos críticos consideram esse um dos melhores westerns de todos os tempos, mas exageros à parte o certo é que Monte Hellman era um diretor diferente de qualquer outro e notava-se que seus filmes eram tão fascinantes quanto intrigantes. A empatia entre Hellman e Oates foi total e ali começou outra grande amizade no mundo do cinema, mais precisamente do cinema da contracultura. Sam Peckinpah que também era amigo de Hellman, já havia anunciado a Warren Oates que tinha um grande projeto a ser iniciado em 1968. Enquanto aguardava o novo filme de Sam, Warren atuou em um western intitulado “Smith”, com Glenn Ford. Finalmente tiveram início as filmagens de “Meu Ódio Será Sua Herança” (The Wild Bunch), totalmente em locações no México. Teddy, a esposa de Warren Oates não queria que ele viajasse pois quando filmou “A Revolta dos Sete Homens”, também no México, Warren contraira hepatite. Teddy sabia que Oates recebera proposta para atuar em “Uma Cidade Contra o Xerife” (Support Your Local Sheriff) que seria rodado ao mesmo tempo de “Meu Ódio Será Sua Herança”. Burt Kennedy queria Oates para interpretar o papel que acabou ficando com Jack Elam. Entre o filme de Burt Kennedy e ficar perto da mulher, Warren Oates preferiu viajar para o México com Peckinpah onde passou quatro meses. Quando retornou, sua esposa havia ido embora levando os três filhos do casal, deixando um pedido de divórcio. Se a escolha do ator foi certa ou errada só ele poderia responder, mas que o western de Peckinpah se transformou num dos maiores filmes da história do cinema isso é fora de dúvida e Warren Oates ganhou seu passaporte definitivo para a eternidade interpretando Lyle Gorch em "Meu Ódio Será Sua Herança".

Lição de amizade com Peter Fonda no magnífico
"Pistoleiro Sem Destino"
O BELO FAROESTE DE PETER FONDA - Gordon Douglas voltou a dirigir Warren Oates no western “Barquero”, em que Warren se defronta com ninguém menos que Lee Van Cleef, num duelo de grandes bandidos e ainda com Forrest Tucker no elenco. A seguir Oates atuou em um western apropriadamente intitulado “Ninho de Cobras” (There Was a Crooked Man...) estrelado por Kirk Douglas e Henry Fonda e dirigido por Joseph L. Mankiewicz, todos eles nomes importantes de Hollywood mas que viam o cinema de modo diferente de Monte Hellman e Peter Fonda, por exemplo. E com esses dois diretores-amigos Warren Oates faria de 1971 um dos mais importantes anos de sua carreira. Primeiro filmou com Monte Hellman “Corrida Sem Fim” (Two-Lanes Backtop), em que James Taylor, então no auge da fama como cantor, interpreta ‘The Driver’, dirigindo um Chevrolet 1955 equipado com motor Big Block 427 e Warren Oates interpreta ‘G.T.O.’, dirigindo um Pontiac GTO 1970 equipado com motor Big Block 455. O filme, na mesma linha de “Sem Destino” e “Corrida Contra o Destino” se tornou um cult movie instantaneamente e aparentemente foi aí que começou a se formar a legião de fãs de Warren Oates. Peter Fonda havia ganhado muito dinheiro com “Sem Destino” (Easy Rider), do qual foi produtor, mais dinheiro que seu pai ganhou durante a vida inteira. E Peter pode se dar ao luxo de dirigir um faroeste existencialista oportunisticamente chamado no Brasil como “Pistoleiro Sem Destino”. O título original é “The Hired Hand”, com deslumbrante fotografia de Vilmos Szigmond e dolente música de Bruce Langhorne, conta a história de dois amigos (Fonda e Oates), com brilhante interpretação de Verna Bloom como esposa de Fonda. Uma das mais desprezadas obras-prima do cinema.

Warren Oates em "Tragam-me a Cabeça
de Alfredo Garcia"
A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA - Warren Oates passou a ser um dos mais requisitados atores, trabalhando sem parar em filmes como o policial “Chandler”, em que foi o astro principal; “O ladrão que Veio Para Jantar”, estrelado por Ryan O’Neal; uma versão de “Tom Sawyer”; o esplêndido “Terra de Ninguém” (The Badlands), de Terrence Malik; “The White Dawn”, de Philip Kaufman, sobre caçadores de baleias em que outra vez Oates é o ator principal. Em 1973 Warren Oates interpretou John Dillinger no filme biográfico de John Milius sobre o gângster, filme que se chamou “Dillinger, o Gângster dos Gângsters” (Dillinger), com excelente elenco composto por Ben Johnson, Cloris Leachman, Michelle Phillips (Mamas & Papas), Harry Dean Stanton, Geoffrey Lewis e Richard Dreyffus como Baby Face Nelson. O próximo filme de Warren Oates foi o western “Kid Blue não Merece a Forca” (Kid Blue), com Dennis Hopper como o bandido Kid Blue, filme que não empolgou nem crítica e nem público. Novamente sob a direção do amigo Monte Hellman, Oates interpretou um criador de galos de briga que quer ganhar o título norte-americano de rinhas em “Galo de Briga” (Cockfighter), outro filme que tem admiradores apaixonados apesar do tema violento. E novamente Sam Peckinpah chamou Warren Oates para mais um projeto ambicioso chamado “Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia” (Bring me the Head of Alfredo Garcia), um dos filmes mais pôlemicos do diretor. Contando a história de um músico que carrega o tempo todo a cabeça de um homem procurado pelo poderoso El Jefe (Emílio Fernández), “Alfredo Garcia” foi proibido em diversos países, sendo retirado de exibição no Brasil no tempo da ditadura militar não podendo ser exibido nem mesmo com cortes. Repulsivo para muitos, obra-prima para outros, este foi o filme mais marcante da carreira de Warren Oates e que determinou definitivamente a persona de desajustado do ator nas telas.


Em "Contrato para Matar", com
Jenny Agutter (acima);
Peckinpah, o cinegrafista
Giuseppe Rotunno, Sergio
Leone e Monte Helmann;
abaixo em "Kid Blue não Merece
a Forca" com Dennis Hopper
WESTERN ÍTALO-AMERICANO - Estranhamente, depois desse seu quarto e último trabalho com Sam Peckinpah, a carreira de Warren Oates declinou ligeiramente, ainda que nunca lhe faltasse trabalho. Fez 16 filmes em oito anos, alguns muito bons, mas nenhum memorável como aqueles que lhe deram notoriedade. Fez uma ponta em “Amigos e Aventureiros” (Rancho de Luxe) com Jeff Bridges, outro western cult; ao lado de Peter Fonda atuou em “Corrida com o Diabo” (Race with the Devil); também com Peter Fonda dividiu a cena na comédia “92 Graus à Sombra”; na voga de filmes de perseguição com carros da polícia interpretou um fugitivo em “Dixie Dynamite”; reuniu-se novamente com Isela Vega (de “Alfredo Garcia”) em “Drum”. Em todos esses filmes Oates fez o papel principal. Para a TV fez dois remakes, o primeiro interpretando o Capitão Charlie Allnut em “Uma Aventura na África” (personagem anteriormente vivido por Humphrey Bogart); o segundo foi como Reuben J. ‘Rooster’ Cogburn em “Bravura Indômita” (True Grit), personagem que deu um Oscar a John Wayne e foi recentemente interpretado por Jeff Bridges. Em 1978 Warren Oates atuaria em um western pela última vez, num faroeste dos mais curiosos dirigido por Monte Hellman. Monte conseguiu financiamento europeu para realizar “Contrato para Matar”, que teve o estranho título Inglês de “China 9, Liberty 37”, que significa a distância entre as cidades de China e Liberty. Rodado em Almería, o elenco foi composto por Oates, pela australiana Jenny Agutter, pelos italianos Fabio Testi e Franco Interlenghi e ainda por Sam Peckinpah em uma participação especial. Quando Sergio Leone soube que Hellman, Peckinpah e Oates estavam fazendo aquele western foi visitar o trio. “Contrato para Matar” é um magnífico western, muito acima da média das centenas ed faroestes filmados em Almería. E Warren Oates tem uma fantástica atuação como um velho que vê sua jovem esposa traí-lo.


Warren Oates em "Alfredo
Garcia" e pouco antes de
seu falecimento
RETRATO DE UM TEMPO - Aos 50 anos de idade Warren Oates interpretou um coronel no filme de guerra intitulado “The Sleeping Dogs” filmado na Nova Zelândia. Em seguida foi um guarda de fronteira ao lado de Jack Nicholson em “Fronteira da Violência”, filme sobre a corrupção na fronteira EUA-México. Para a TV atuou em “Saga de Valentes” (The Blue and the Gray), mini-série sobre a Guerra da Secessão, onde interpretou um major. Curiosamente foram comédias os filmes de melhor bilheteria dessa fase da carreira de Warren Oates, que interpretou o Coronel ‘Maluco’ Maddox em “1941 – Uma Guerra Muito Louca”, de Steven Spielberg e como o Sargento Hulka em “Recutas da Pesada”, com Bill Murray uma das maiores bilheterias de 1981. Os últimos filmes de Warren Oates, lançados postumamente foram “Trovão Azul”, onde novamente interpreta um militar e “Sede de Triunfo”, ambos de 1983. Warren Oates havia comprado nos últimos anos de sua vida uma propriedade de 700 acres, em Livingston, onde passou a morar. Vendeu 25 acres para Sam Peckinpah que tencionava morar próximo do amigo. Chegaram a fazer um contrato para explorar em sociedade 600 acres daquelas terras, o que nunca chegou a ser feito pois Warren sofreu um ataque cardíaco fulminante em 3 de abril de 1982, vindo a falecer aos 53 anos de idade. Peckinpah não mais voltou à casa que construiu nas terras que pertenceram ao amigo Oates, em Livingston, morrendo dois anos depois, em 1984. Warren Oates deixou viúva sua quarta esposa e foram dedicados a ele os filmes “Trovão Azul” e “Sede de Triunfo”. Foi produzido em homenagem a Oates, em 1993, o filme “Warren Oates: Across the Border” e lançada em 2009 a biografia “Warren oates: A Wild Life”, de autoria de Susan Compo. Mesmo 30 anos depois de sua morte, Warren Oates mantém um número enorme de fãs que cultuam não só os tipos que criou no cinema (onde raramente foi o ator principal), mas a soma de sua vida pouco regrada e do homem simples do interior que jamais deixou de ser. E isso fez de Warren Oates um personagem admirável, o melhor retrato da época louca de Sam Peckinpah.



22 de agosto de 2011

LEE J. COBB, O MAIS VELHACO DOS VILÕES


Seu olhar penetrante, sobrancelha arqueada, boca com o mais cruel dos risos
e figura corpulenta e ameaçadora fizeram de Lee J. Cobb um dos mais
admirados vilões do cinema. Memorável como o gângster Johnny Friendly
em “Sindicato de Ladrões” ou como o Jurado n.º 3 em “Doze Homens e
uma Sentença”, para os fãs de westerns Lee J. Cobb foi igualmente
marcante como Dock Tobin em “O Homem do Oeste” (Man of the West).
Três filmes da década de 50, a década cinematográfica mais importante
na carreira desse ator que se tornou famoso em Hollywood
depois de grandes trabalhos no teatro.

Lee J. Cobb com o mocinho Hopalong
Cassidy e o sidekick Gabby Hayes
SERIADOS E HOPALONG CASSIDY - Nascido em 8 de dezembro de 1911, em Nova York, Leo Jacoby foi um menino-prodígio que tocava violino como verdadeiro virtuose. Porém um acidente em que quebrou o punho colocou fim à sua carreira como músico. Leo cursava Engenharia Aeronáutica, mas decidiu tentar a sorte no cinema, indo para Los Angeles. Sua estréia ocorreu em 1934 no seriado da Universal “A Sombra Misteriosa” (The Vanishing Shadow). Depois dessa primeira experiência como ator, Lee J. Cobb retornou a Nova York e se juntou ao Group Theatre, grupo que reunia a vanguarda teatral na Broadway, subindo ao palco pela primeira vez na peça “Crime e Castigo”, de Dostoievsky. Depois de participar da encenação de inúmeras outras peças Lee voltou à capital do cinema agora para atuar em “Vingança de Irmão” (North of Rio Grande) e “O Fim da Quadrilha” (Rustlers’ Valley), ambos estrelados por Hopalong Cassidy, em 1937. Lee J. Cobb havia deixado excelente impressão na Broadway e a turma do Group Theatre o chamou novamente, desta vez para atuar na peça “Golden Boy”. O elenco de “Golden Boy” era formado por nomes que mais tarde ficariam bastante famosos como Luther Adler, Howard Da Silva, Frances Farmer e os futuros diretores de cinema Elia Kazan, Martin Ritt e Michael Gordon. Devido ao sucesso de “Golden Boy” a peça virou filme com Barbara Stanwyck e William Holden, recebendo o título nacional de “Conflito de Duas Almas”. Lee J. Cobb havia impressionado tanto nessa encenação que foi contratado para interpretar o papel do Sr. Bonaparte, pai de Joe Bonaparte (William Holden) no filme com Barbara Stanwyck. Lee J. Cobb era apenas sete anos mais velho que Holden, mas possuía uma incrível capacidade de compor personagens mais velhos, característica que o cinema aproveitaria muito bem.

"A Morte do Caixeiro Viajante", com
Arthur Kennedy e Cameron Mitchell
SUCESSO IGUAL AO DE MARLON BRANDO - Mesmo depois do sucesso de “Conflito de Duas Almas”, Lee J. Cobb ainda atuou em filmes de pequeno orçamento como “Lá no Texas” (Down Rio Grande Way), western B da Columbia com Charles Starrett e “Buckskin Frontier”, com Richard Dix e o os bandidões Albert Dekker e Victor Jory também no elenco. O ano de 1943 seria decisivo para Lee J. Cobb pois sua atuação em “A Canção de Bernardette” (com Jennifer Jones) chamaria definitivamente a atenção para seu talento de ator. Lee atuou a seguir numa série de bons filmes como o drama “Anna e o Rei do Sião” (com Rex Harrison), que mais tarde viraria musical da Broadway e filme estrelado por Yul Brynner; “O Justiceiro”, com Dana Andrews e dirigido por seu amigo Elia Kazan; o capa-e-espada “O Capitão de Castela”, com Tyrone Power. O tipo durão de Lee J. Cobb era perfeito para o gênero mais em voga no pós-guerra que era o filme noir, o que possibilitou que Lee atuasse em “Dama, Valete e Rei” (Johnny O’Clock), com Dick Powell; “Passado Tenebroso” (Dark Past), com William Holden; “Mercado de Ladrões” (Thieves Highway), de Jules Dassin, estrelado por Richard Conte; “Sublime Devoção” (Call Northside 777), com James Stewart. Mas a consagração de Lee J. Cobb como ator seria mesmo nos palcos, em 1949, sob a direção de Elia Kazan na peça de um jovem autor chamado Arthur Miller que recebeu o estranho título de “A Morte do Caixeiro Viajante”. Willy Loman era o personagem principal da peça, interpretado por Lee J. Cobb. A reunião desses três talentos (Kazan, Miller e J. Cobb) foi um marco do teatro norte-americano. No elenco de “A Morte do Caixeiro Viajante” estavam também Mildred Dunnock, Arthur Kennedy, Cameron Mitchell e Constance Ford. Lee J. Cobb arrebatou o mundo teatral com sua interpretação, algo muito parecido com o que havia feito Marlon Brando dois anos antes sob a direção do mesmo Elia Kazan em “Um Bonde Chamado Desejo”.

Interprtetações inesquecíveis:
Lee J. Cobb e Marlon Brando
DELATOR COMO ELIA KAZAN - Lee J. Cobb voltou a filmar já na década de 50 como ator principal de “Por Uma Mulher Má” (The Man Who Cheated Himself), de Felix E. Feist. Atuou em seguida com Humphrey Bogart em “Sirocco”, mas os papéis que lhe eram oferecido estavam longe do seu talento e da fama que havia adquirido como ator de teatro. Exatamente nesse período ocorreu a nefasta “Caça às Bruxas” em Hollywood, como se chamou a tentativa dos reacionários políticos norte-americanos de eliminar os comunistas do mundo cinematográfico. Assim como fez Elia Kazan, Lee J. Cobb também depôs diante da famigerada comissão no Senado e acabou denunciando os possíveis comunistas que conhecia. Cobb ficou marcado na comunidade artística e amargou um período de ostracismo em que teve que aceitar até um papel de Sultão em “Escravas do Harém”, escapismo estrelado por Jeff Chandler e Rhonda Fleming. Nesse período apareceu em um western de menor expressão mas que merece ser lembrado por ter sido dirigido por Elmo Williams, o famoso montador de “Matar ou Morrer”. Foi “The Tall Texan”, com Lloyd Bridges. Em "A Besta Negra" Lee J. Cobb contracenou com outro Lee, o Marvin, que viria a ser um dos grandes bandidos do cinema em todos os tempos. Lee J. Cobb teria que esperar até 1954 para brilhar novamente no cinema e isso ocorreu em nova reunião com Elia Kazan na obra-prima “Sindicato de Ladrões”. Esse excepcional filme brilhantemente interpretado possibilitou que quatro de seus coadjuvantes fossem indicados ao Oscar: Lee J. Cobb, Karl Malden, Rod Steiger e Eva Marie Saint, sendo que esta acabou levando o prêmio de Melhor Coadjuvante Feminina na premiação de 1955. Brando e Kazan também foram premiados como Melhor Ator e Melhor Diretor por “Sindicato de Ladrões”. Entre os imortais momentos do cinema certamente está a desesperada tentativa de Johnny Friendly (Lee J. Cobb) de manter o controle sobre os trabalhadores do cais de Nova York e a realística luta entre Friendly e Terry Malloy (Brando).

Os jurados Lee J. Cobb com Henry Fonda
e Papai Karamazov
GANGORRA ARTÍSTICA - Apesar do reconhecimento por sua atuação em “Sindicato de Ladrões”, Hollywood se vingava de Lee J. Cobb fechando-lhe as portas para melhores papéis. Cobb atuou no western “The Road to Denver”, com John Payne; interpretou um chinês em “Do Destino Ninguém Foge”, com Humphrey Bogart, dirigido pelo também delator Edward Dmytryk; interpretou um italiano em “Caminhos sem Volta” (The Racers), com Kirk Douglas; foi um juiz em “O Homem do Terno Cinzento”, estrelado por Gregory Peck. Um dos pontos mais baixos de sua carreira foi ao ser dirigido por Fred F. Sears, no policial B “Miami Expose”. Como não há mal que sempre dure, a segunda metade da década de 50 representaria a redenção artística para Lee J. Cobb que atuaria em uma dezena de excelentes produções. Lee J. Cobb foi o terrível e intransigente Jurado N.º 3 em “Doze Homens e Uma Sentença”; lutou novamente contra trabalhadores em “Clima de Violência”, num elenco em que fez o papel principal e contracenou com Richard Boone, Joseph Wiseman, Robert Loggia e Harold J. Stone; foi o psicanalista de Joanne Woodward em “As Três Máscaras de Eva”; interpretou o libidinoso pai de Yul Brynner em “Os Irmãos Karamazov”, que lhe valeu a segunda indicação ao Oscar de Ator Coadjuvante; sob a direção de Nicholas Ray foi o gângster Rico Angelo em “A Bela do Bas-Fond”; novamente gângster em “Armadilha Sangrenta”, com Richard Widmark; Lee J. Cobb foi o avô da maravilhosa Audrey Hepburn em “A Flor Que nâo Morreu”; fez com Clark Gable a comédia “Beijos que não se Esquecem” e fecharia a década auspiciosamente atuando na superprodução “Êxodus”. Entre esses filmes Lee J. Cobb foi dirigido por Anthony Mann em “O Homem do Oeste”.

Lee J. Cobb em "O Homem do Oeste"
com Julie London e Gary Cooper
VELHACO HOMEM DO OESTE - Para os fãs dos faroestes, o trabalho mais importante de Lee J. Cobb nos anos 50 foi sem dúvida como o velhaco facínora Dick Tobin, chefe da quadrilha que aterroriza Gary Cooper e Julie London no soberbo “O Homem do Oeste”. Secretamente costumamos torcer para os bandidos nos filmes, mas neste western sombrio que mais parece um pesadelo, torcemos para Gary Cooper liquidar o maléfico personagem de Lee J. Cobb. “O Homem do Oeste” foi a comprovação que com Lee em cena, mesmo grandes intérpretes como Gary Cooper passavam para um inevitável segundo plano, o que levava muitos atores a sentir caláfrios quando tinham que contracenar com ele. Nos anos 60 Lee J. Cobb participou da produção em Cinerama “A Conquista do Oeste” (How the West Was Won), desta vez do lado da lei, interpretando um xerife. Outra superprodução em que atuou foi no malfadado “Os Quatro Cavaleiros do Apocalípse”, com Glenn Ford. Lee J. Cobb atuou muitas vezes na TV e para a telinha foi produzida a versão de “A Morte do Caixeiro Viajante” em que ele repetiu sua criação como Willy Loman tendo novamente Mildred Dunnock como sua esposa Linda Loman. E a televisão reservou para Lee J. Cobb um lugar na série “O Homem de Virginia” (The Virginian), em que viveu o personagem do Juiz Henry Garth em 120 episódios semanais. Lee voltou a fazer comédia desta vez com Frank Sinatra em “O Bem Amado”. Na onda dos filmes de agentes secretos interpretou por duas vezes o chefe do Serviço de Inteligência em “Flint Contra o Gênio do Mal” e “Flint, Perigo Supremo”, ambos com James Coburn. Como muitos outros atores norte-americanos, Lee J. Cobb foi filmar na Itália, mas não no gênero spaghetti-western e sim no policial “O Dia da Coruja”, com Cláudia Cardinalle e Franco Nero. No retorno para a América Lee J. Cobb voltaria também para os faroestes.

Na TV (série "O Homem de Virgínia") e no teatro,
sempre um grande ator
O EXORCISTA E A MORTE - Quase um néo-western, “Meu Nome é Coogan” teve Lee J. Cobb como o Tenente McElroy, chefe de Clint Eastwood. Depois Lee apareceu em “A Pistola da Morte” (Day of the Evil Gun), estrelado por Glenn Ford. Lee esteve no superelenco liderado por Gregory Peck em “O Ouro de McKenna” (McKenna’s Gold), dirigido por J. Lee Thompson. Lee J. Cobb emprestou seu respeitado nome ao fraco western “Macho Callahan” e se defrontou com Burt Lancaster em “Mato em Nome da Lei” (The Lawman), de Michael Winner, ao lado de Robert Duvall e Robert Ryan. O próximo western de Lee J. Cobb foi “Amor Feito de Ódio” (The Man Who Loved Cat Dance), com Burt Reynolds e que se tornou um cult movie com muitos admiradores. Lee havia chegado aos 60 anos de idade e desapontado com a falta de oportunidades em Hollywood, foi atuar em diversos filmes na Europa, todos eles irrelevantes para sua filmografia. Até que em 1973 o veterano ator foi convidado para interpretar o Tenente William Kinderman em “O Exorcista”, que se tornou uma das maiores bilheterias do cinema em todos os tempos. O sucesso foi tão grande que em 1976 entrou em produção “O Exorcista II – O Herege”, sequência que deveria ter Lee J. Cobb novamente como o policial Kinderman. Porém Lee J. Cobb viria a falecer em 11 de fevereiro de 1976, aos 65 anos, vítima de um ataque cardíaco, deixando sua segunda esposa Mary Hirsch. Em dezembro próximo ocorre o centenário de nascimento de Lee J. Cobb. Uma frase de Lee J. Cobb que ficou famosa foi: “O teatro é o veículo artístico do ator; o cinema é o veículo artístico do diretor; a televisão não é veículo artistico nenhum.” Respeitado e vitorioso ator teatral e cinematográfico, os grunhidos de Lee J. Cobb e seu olhar devastador sob sua sobrancelha arqueada jamais serão esquecidos por quem o viu atuar.

21 de agosto de 2011

"EMBOSCADA PARA BILLY THE KID" (Billy the Kid Trapped) - O FIM DO BANDIDO NOS "Bs"


A PRC – Producers Releasing Corporation – era um dos mais pobres estúdios de Hollywood. Especializado naquele tipo de filme que só mesmo com muita boa vontade pode ser chamado de “B”. Mas foi dali que saiu, em 1945, o cult “Curva do Destino” (Detour), dirigido por Edgar G. Ulmer. Mas que ninguém espere algo parecido de um dos 214 filmes dirigidos por Sam Newfield e mais ainda se for um western. Sam Newfield, cujo verdadeiro nome era Samuel Neufeld, muitas vezes dirigia filmes usando os nomes de Sherman Scott e Peter Stewart. Era irmão de Sigmund Neufeld quem administrava o pequeno estúdio com mão de ferro na base da mais extrema economia. Sam Newfield dirigiu em 1942 “Emboscada para Billy the Kid” (Billy the Kid Trapped).

Al St. John
BILLY THE KID NA CADEIA - Na série ‘Billy the Kid’, o lendário personagem era um cowboy injustamente acusado de crimes e que tentava provar sua inocência praticando sempre o bem, colocando na cadeia os foras-da-lei. E em “Emboscada para Billy the Kid” não é diferente, com o roteiro de Joseph O’Donnell repetindo a conhecida fórmula de ser atribuído ao herói os assaltos a diligências que vêm sendo cometidos. Billy the Kid (Buster Crabbe) e seus companheiros Fuzzy Jones (Al St. John) e Jeff Walker (Bud McTaggart) são procurados porque três bandidos usando roupas iguais às suas cometem os assaltos. A intenção é incriminar Billy e seus amigos para condená-los. Esse plano engenhoso foi urdido por Boss Stanton (Glenn Strange), o chefão dos bandidos que atua em conjunto com o juiz da cidade (Milton Kibee). No final Billy the Kid e seus amigos conseguem desmascarar os bandidos trazendo a tranquilidade para Mesa City.

ELENCO DE PRIMEIRA - O melhor de “Emboscada para Billy the Kid” é a presença do elétrico sidekick Al St. John um dos melhores e mais engraçados ‘bobocas’ dos westerns em série. Buster Crabbe tem apenas uma cena de fistfights para mostrar que ele era bom de briga, além de simpático, sempre sorridente. O atlético Buster Crabbe era um mocinho bastante agradável de se ver e juntamente com Al St. John compensava a total inadequação de Bud McTaggart que completava o trio. Entre os bandidos está Glenn Strange, desta vez de terno e gravata, em nada lembrando o bartender ‘Sam’ do seriado “Gunsmoke” da TV. Glenn Strange atuou em nada menos que 229 episódios dessa que foi a mais bem sucedida série da TV norte-americana. Outros malfeitores são os conhecidos George Chesebro e Jack Ingram. Ted Adams desta vez é um xerife baleado em pleno peito e que tem o projetil extraído com uma faca, no meio do mato, por Billy the Kid. A cirurgia foi tão perfeita que no dia seguinte o xerife já está à postos atrás dos bandidos. Perdida entre mocinhos e bandidos está Sally Crane interpretada por Anne Jeffreys em sua estréia no cinema.



UMA ESTRANHA NO NINHO - Anne Jeffreys tinha apenas 19 anos quando foi lançada em “Emboscada para Billy the Kid”. Logo em seguida tornou-se a mocinha de Bill Elliott em seis de seus westerns na Republic. Atuou ainda em faroestes B com Robert Mitchum e em dois policiais “Dick Tracy” com Ralph Byrd. Em 1948 Anne Jeffreys interpretou a bandida ‘Cheyenne’ em “A Volta dos Homens Maus” (Return of the Bad Men), com Randolph Scott. O verdadeiro talento de Anne Jeffreys vinha sendo, de certa forma desperdiçado em filmes de pequeno orçamento e dirigidos ao público pouco exigente das matinês, pois Anne era uma cantora de belos recursos vocais no gênero operístico. Depois de sua passagem pelo cinema Anne chegou à Broadway onde alcançou grande sucesso atuando em “Kiss me Kate”, musical com canções de Cole Porter baseado em “A Megera Domada”, de Shakespeare. Anne Jeffreys subiu ao palco nada menos que 887 vezes para interpretar a Katherine/Lili Vanessi. Essa peça foi levada ao cinema com o título de “Dá-me um Beijo”. Anne Jeffreys participou ainda de outros musicais encenados na Broadway e teve duas séries próprias de televisão. Nascida em 23 de janeiro de 1929, Anne Jeffreys ainda vive e está em plena atividade artística.

O FIM DE BILLY THE KID - A série ‘Billy the Kid’ foi produzida pela PRC, inicialmente com o mocinho Bob Steele como Billy the Kid. Quando Steele foi para a Republic Pictures, em 1940 para fazer parte do trio The Three Mesquiteers, foi substituído por Buster Crabbe que ficou no estúdio até 1946. Buster Crabbe fez um total de 36 filmes para a PRC doze deles como ‘Billy the Kid’, personagem que fazia bastante sucesso entre crianças e adolescentes. Devido a esse sucesso setores da sociedade começaram a pressionar a PRC pois não era admissível que o cinema transformasse um notório assassino como Billy the Kid em ídolo dos jovens. Sigmund Neufeld decidiu então transformar ‘Billy the Kid’ em ‘Billy Carson’, que foi o personagem que Buster Crabbe interpretou até se desentender com o avarento Neufeld e deixar a PRC em 1946. Só o cinema mesmo para conseguir a proeza de fazer o público a imaginar que o lendário William Bonney (Billy the Kid) pudesse um dia ter a imagem atlética e simpática de Buster Crabbe. Nas fotos à esquerda vemos acima o verdadeiro Billy the Kid e abaixo o Rei dos Seriados do cinema.

19 de agosto de 2011

JACK ELAM, O BANDIDO DO OLHAR ATRAVESSADO


Jack Elam nunca foi capa de revistas de cinema e mesmo assim seu rosto era muito conhecido, um tipo de fisionomia que ninguém esquece, especialmente pela força de suas caracterizações que fizeram dele um ator muito especial e até mesmo famoso.

A data de nascimento de Jack Elam é controversa e há fontes que indicam 1916, 1918 e 1920. Seu nome verdadeiro era William Scott Elam e ele nasceu em Miami num dia 13 de novembro, tendo estudado no Santa Monica Junior College, na Califórnia. De lá saiu formado em Contabilidade, sendo contratado para exercer a função de auditor contábil na produtora de Samuel Goldwyn e depois na produtora de Hopalong Cassidy. Conseguindo fazer amigos no mundo cinematográfico, Elam esporadicamente era convidado para participar de filmes, isto apesar do defeito em um dos olhos. Aos 12 anos o menino William se envolveu numa briga com outro garoto, sendo ferido no olho com um lápis, tendo ficado definitivamente vesgo e por essa razão jamais sonhou em se tornar ator. Porém casado com Jean Louis e com dois filhos para sustentar, Jack se esqueceu do seu olhar vesgo e para aumentar a renda familiar acabou aceitando os convites para ser ator. A primeira vez foi em 1944, num short-western (20 minutos), intitulado “Trailin’ West” em que Elam interpretou um assassino. Outra oportunidade surgiu em 1947 no western B “Mistery Range”, no qual ele já utilizou o nome artístico de Jack Elam. Em 1949 interpretou novamente um bandido no policial “Wild Weed” e a partir daí abandonou de vez a rotina da vida burocrática do escritório, nunca mais deixando de fazer filmes, a maior parte deles faroestes e na primeira parte de sua carreira interpretando foras-da-lei. Magérrimo, arqueado, barba sempre por fazer e o olho esquerdo fortemente desviado, Jack Elam era, convenhamos, uma figura nada bonita e nada simpática num cinema repleto de rostos bonitinhos. Afinal, alguém tinha que ser bandido...

J.E. em "Homem Sem Rumo"
 CLÁSSICOS E MAIS CLÁSSICOS - A carreira de mais de 200 filmes de Jack Elam pode ser dividida em três partes: nos primeiros 20 anos foi predominantemente um vilão; de 1965 a 1975 atuou em muitos westerns cômicos; nos últimos 20 anos Jack Elam havia engordado, deixado a barba crescer e seus papéis eram sempre de cowboys envelhecidos mas bastante simpáticos. Na primeira fase de sua carreira como ator Jack Elam fez parte do elenco de alguns dos melhores westerns dos anos 50 entre eles “Matar ou Morrer” (High Noon), “O Diabo Feito Mulher” (Rancho Notorius), “Vera Cruz”, “Região do Ódio” (The Far Country), “Homem Sem Rumo” (Man Without a Star), “Um Certo Capitão Lockhart” (The Man from Laramie), “Ao Despertar da Paixão” (Jubal), “Sem Lei e Sem Alma” (Gunfight at the Ok Corral). As participações de Jack Elam eram normalmente pequenas, mas se o diretor percebia o potencial artístico de Jack Elam, seu papel era dimensionado e ele dominava o filme. Foi o que ocorreu em “Correio do Inferno” (Rawhide), dirigido por Henry Hathaway, a primeira grande atuação do bandido vesgo.

HOMEM MAU EM QUALQUER GÊNERO - Jack Elam levou seu tipo assustador a outros gêneros, especialmente o policial como nos clássicos “Os Quatro Desconhecidos” (Kansas City Confidential” de Phil Karlson e “A Morte num Beijo” (Kiss me Deadly), de Robert Aldrich e ainda em “O Assassino Público N.º 1” (Baby Face Nelson), de Don Siegel; “Nem o Céu Perdoa”, com Dan Duryea; “Um Grito no Pântano”, com Jeffrey Hunter; “Medo que Condena”, com Teresa Wright; “Covil da Morte”, com Cornel Wilde. Dramas como “Amo esse Bruto”, com Paul Douglas; “Sem Pudor”, com Shelley Winters; “Viver é Lutar”, com Rita Moreno. Elam fez comédias como “Artistas e Modelos” e a comédia-western “O Rei do Laço” (Pardners), ambos com a dupla Dean Martin-Jerry Lewis; e ainda “Mulher, a Quanto Obrigas”, com Clark Gable e “Vítimas da Sorte”, com Tom Ewell. Outros gêneros em que Elam atuou nos anos 50 foram os musicais “O Que Pode um Beijo” (A Ticket to Tomahawk) e “Estranho no Paraíso” (Kismet), atuou nas aventuras “Almas Selvagens” (Glenn Ford); “Os Homens Rãs” (Richard Widmark; “Contrabando de Armas” (Gun Runners) com Audie Murphy; “O Tesouro do Barba Rubra” (Stewart Granger) e “A Princesa do Nilo” (Debra Paget). Jack Elam vestiu um safári e ameaçou até Gordon Scott no seu primeiro filme como Tarzan intitulado “Tarzan na Selva Misteriosa”. Mas eram os faroestes que mais contavam com a presença de Jack Elam que na década de 50 fez parte dos elencos de “O Rebelde” (The Bushwhakers), com John Ireland; “A Revolta dos Pele Vermelhas” (The Battle at Apache Pass), com Jeff Chandler; “A Bela e o Renegado” (Ride, Vaquero!), com Robert Taylor; “De Homem para Homem” (Gun Belt), com George Montgomery; “Choque de Ódios” (Wichita), com Joel McCrea; “No Reino das Sombras” (The Moonlighter) e “Montana, Terra do Ódio” (Cattle Queen of Montana), os dois com Barbara Stanwyck; “Traição Cruel” (Ride Clear of Diablo), com Audie Murphy; “Thunder Over Arizona”, com Skip Homeier; “A Passagem da Noite” (Night Passage), com James Stewart.

Homem da lei na TV
TIROTEIO DENTRO DA IGREJA - Nos anos 60 a televisão produzia muitas séries semanais de westerns, o que ajudou a reduzir os longa-metragens de faroestes para o cinema. Sem abandonar o cinema, Jack Elam migrou então para a telinha atuando em incontáveis episódios de séries westerns ou policiais. E atuou como personagem fixo em duas séries. A primeira foi “The Dakotas”, na qual Jack Elam era o delegado J.D. Smith, série que foi ao ar em 1963 e durou somente 20 episódios, tendo acabado de modo inusitado. No episódio n.º 19, intitulado “Sanctuary at Crystal Springs”, os delegados J.D. Smith (Jack Elam) e Del Stark (Chad Everett) invadem uma igreja e matam dois bandidos que mantinham um padre como refém. O tiroteio se passou dentro da igreja e o episódio gerou uma onda de protestos terminando com a retirada da série do ar. A segunda série de TV em que Jack Elam atuou foi “Temple Houston”, produzida e estrelada por Jeffrey Hunter que é ajudado por Jack Elam, série encerrada em 1964 e que durou 26 episódios. O bandido do olho atravessado atuava bastante na TV mas era muito requisitado pelo cinema e na década de 60 os papéis de Jack Elam já não eram de apenas um ou dois minutos. Atuou em “O Último Pôr-do-Sol” (The Last Sunset), com Kirk Douglas-Rock Hudson; “Os Comancheiros” (The Comancheros), com John Wayne; “Os Quatro Heróis do Texas” (4 for Texas), com Frank Sinatra; “Raça Brava” (The Rare Breed), com James Stewart; “Desbravando o Oeste” (The Way West), com Kirk Douglas-Robert Mitchum-Richard Widmark; “O Pistoleiro do Rio Vermelho” (The Last Challenge), com Glenn Ford; “O Último Tiro” (Firecreek), com Henry Fonda-James Stewart; “Satã, o Urso Cinzento” (The Night of the Grizzly), com Clint Walker. Jack Elam participou do spaghetti-western, intitulado “Sonora”, uma aventura de Sartana com Gilbert Roland. Uma curiosidade na carreira de Jack Elam é que ele atuou no único western dirigido por Alan LeMay, o célebre autor de “The Searchers” (Rastros de Ódio). O filme de Alan LeMay se chamou “High Lonesome”, e teve como ator principal John Drew Barrymore. Outra curiosidade é que Jack Elam havia participado do último filme do grande diretor Michael Curtiz que foi “Os Comancheiros” e coincidentemente atuou também no último filme de outro importante cineasta, Frank Capra, em “Dama por um Dia”, com Bette Davis e Glenn Ford.

Homenagem de Sergio Leone
UMA ODE A JACK ELAM - A década de 60 reservava em seu final uma agradabilíssima surpresa para Jack Elam. Ao longo de 20 anos de carreira ele havia enriquecido muitos faroestes com sua presença, invariavelmente como membro das mais temíveis quadrilhas que o cinema já conseguiu reunir. Com a indefectível deselegância, o esgar cínico e ameaçador e o sinistro olhar estrábico, Jack Elam vinha sendo um dos mais perfeitos contrapontos à pose certinha dos heróis. Não apenas contraponto, mas vítima constante dos mocinhos, para quem os filmes eram concebidos. Os westerns eram muitos, mas os momentos de Jack Elam, como já foi dito, nem tanto, o que não impediu Elam de roubar bancos, gados e principalmente cenas. Como santo de casa não faz milagres, foi necessário que Sergio Leone criasse uma sequência inteiramente dedicada a Jack Elam e isso ocorreu em “Era Uma Vez no Oeste”, o monumental painel do diretor italiano sobre o Oeste norte-americano e que acabou sendo uma justa e bonita homenagem ao ator norte-americano. Durante longos minutos no início do filme o rosto amedrontador de Jack Elam toma conta da tela em close-up. Mas ele não está sozinho pois uma mosca resolve atormentá-lo e Jack captura a mosca dentro do cano de seu revólver numa poética cena, magnífica ode ao ator num dos mais belos westerns de todos os tempos.

J.E. com Strother Martin, Ernest
Borgnine e a estonteante
Raquel Welch
O MAIS ENGRAÇADO DOS COWBOYS - Ter filmado com Sergio Leone trouxe muita sorte para Jack Elam pois veio então a fase dos westerns-cômicos. Lee Marvin havia revolucionado o gênero como o pistoleiro bêbado de “Dívida de Sangue” (Cat Ballou) e diversos westerns seguiram o filão descoberto por esse filme. Um deles foi “Uma Cidade Contra o Xerife” (Support Your Local Sheriff), com James Garner no papel principal e Jack Elam como um pistoleiro bêbado transformado em ajudante do xerife. Esse western fez enorme sucesso e mereceu uma espécie de continuação com “Latigo, o Pistoleiro” (Support Your Local Gunfighter), com o mesmo James Garner e Jack Elam num papel maior novamente como ajudante do xerife Garner. Jack Elam sempre foi um ladrão de cenas e quanto maior fosse seu papel mais ele roubaria o filme do ator principal, o que aconteceu em “Latigo, o Pistoleiro”. Outro western engraçado foi “Os Patrulheiros Aposentados” (The Over-the-Hill Gang), feito para a TV mas lançado nos cinemas, com um elenco de veteranos formado por Jack Elam, Walter Brennan, Andy Devine, Chill Wills e Edgar Buchanan. Em 1970 Jack Elam juntou-se a Dan Blocker, o Hoss de “Bonanza”, na comédia-western “Uma Noiva para Charlie” (Cockeyed Cowboys of Calico County), filme pouco visto e até hoje não lançado em VHS ou DVD, e que se tornou um cult movie do gênero, admirado pelos poucos que o assistiram à época de seu lançamento. No elenco ainda Mickey Rooney, Henry Jones, Stubby Kaye e Noah Beery Jr, todos garantindo boas gargalhadas. Nesse mesmo ano Jack Elam interpretou o célebre bandido John Wesley Hardin na comédia “O Mais Perigoso dos Bandidos” (Dirty Dingus Magee), feita sob medida para Frank Sinatra mas dominada inteiramente por Jack Elam cada vez melhor nesse tipo de filme. Ainda em 1970 Jack Elam se reencontrou com John Wayne em “Rio Lobo”, de Howard Hawks, agora como segundo nome masculino do elenco. Quando a TV decidiu refilmar “Cat Ballou”, Jack Elam foi chamado para interpretar ‘Kid Sheleen’ e seria muito interessante assistir a essa versão para comparar os pistoleiros bêbados Lee Marvin-Jack Elam. Em 1972 a Paramount resolveu apostar no western-comédia reunindo Ernest Borgnine, Jack Elam e Strother Martin para enfrentar a pistoleira Raquel Welch em “Hannie Caulder”, outro faroeste que provocou muitos risos pois o trio de bandidos era uma homenagem a Os Três Patetas. Em seguida Jack Elam atuou em “Sidekicks”, de Burt Kennedy, estrelado por Larry Hagman, na mesma linha de westerns engraçados.

ESTRANHOS PERSONAGENS - “Pat Garrett & Billy the Kid”, de Sam Peckinpah também contou com o talento de Jack Elam em mais uma destacada atuação num personagem aparentemente criado especialmente para ele. Jack Elam entraria pouco depois na última etapa de sua carreira, fase em que teve diversos papéis principais. Foi o primeiro nome do elenco numa refilmagem para a TV de “O Monstro da Lagoa Negra” (ele não interpreta a criatura....); co-estrelou com Ben Johnson o bonito “Grayeagle, western sobre um índio lendário; com Kirk Douglas como protagonista, Jack Elam atuou também em “Cactus Jack, o Vilão”; interpretou o ‘Doctor Nikolas Van Helsing’ nos grandes sucessos de bilheteria “Quem não Corre Voa” e “Um Rally Muito Louco”, com Burt Reynolds. Aos 70 anos de idade Burt Kennedy o chamou para participar de “Louis L’Amour’s Down the Long Hills”. Nesse mesmo ano de 1986 Jack Elam encabeçou o elenco de “The Aurora Encounter”, western-sci-fi sobre uma cidade do Texas chamada Aurora onde surgem aliens. Novamente dirigido por Burt Kennedy Jack Elam atuou em “Era Uma Vez No Texas”, com Willie Nelson e Richard Widmark. Outra vez foi o primeiro nome do elenco de um western-horror intitulado “The Uninvited”, em 1993.

50 ANOS DE CINEMA - O final de carreira Jack Elam aconteceu em dois westerns para a TV: “Bonanza – O Retorno”, com Lorne Greene e na continuação da obra-prima “Pistoleiros do Oeste” (Lonesome Dove), filmada em 1995. Após quase 50 anos como ator Jack Elam se aposentou. Havia ficado viúvo de Jean, sua primeira esposa em 1961. Tornou a se casar nesse mesmo ano desta vez com Margaret Jennison, com quem teve um filho e viveu até o fim de sua vida dia. Jack Elam faleceu em 20 de outubro de 2003, após uma brilhante carreira como ator, carreira em que foi homem mau, cowboy engraçado e simpático ‘old timer’ (velho do Velho Oeste). Mas será sempre lembrado como um dos mais queridos fora-da-lei do cinema, aquele bandido vesgo.