UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

29 de fevereiro de 2012

TOP-TEN WESTERNS DE VINICIUS LEMARC


Cearense de Fortaleza, o educador Vinicius LeMarc tem duas paixões na vida: sua família e a arte, esta última desdobrada em literatura, música e cinema. LeMarc lê bastante e entre suas preferências estão Machado de Assis, Mário Quintana, Miguel de Cervantes e Franz Kafka; LeMarc é também escritor. Na música aprecia tanto a erudita quanto a popular, tendo herdado do pai o amor pela música. O pai de LeMarc era sanfoneiro chegando a liderar uma banda; já o filho Vinicius foi músico até os 20 anos. Quem já visitou o blog de LeMarc, o SarrabulhadaCult conhece sua outra paixão que é o cinema, especialmente o gênero western. E foi justamente o faroeste que aproximou Vinicius LeMarc do CINEWESTERNMANIA que solicitou a ele a lista com seus westerns favoritos. Gentilmente LeMarc nos atendeu e publicamos com enorme satisfação o Top-Ten de Vinicius LeMarc, bem como a íntegra do texto que ele nos enviou como introdução e os comentários de cada um dos faroestes.

À semelhança do que acontece em outros campos dominados pela afetividade, uma das mais difíceis tarefas a qualquer amante de uma dada arte, seja música, literatura, cinema, etc., é escolher as suas obras preferidas. Todos terminamos por desenvolver tal identificação com o conjunto que tal ramo constitui, que, sempre que nos voltamos para uma obra em particular, restamos com a certeza de que preterimos tantas outras iguais ou melhores que as escolhidas. Mesmo no interior de um recorte rigorosamente delimitado, encontramos ainda tal dificuldade. Pois bem. É com essa dificuldade que me deparo neste instante, frente ao desafio proposto pelo amigo Darci: relacionar meus 10 westerns favoritos. Mas a dureza acaba por aí, posto que, afora esse fator complicador, é sempre um enorme prazer falar sobre essas obras que nos encantam a todos, ademais em tão virtuoso espaço, um verdadeiro Saloon, daqueles onde jovens audazes e míticos cavaleiros das pradarias, com a barba por fazer, apeiam para beber um pouco de cultura e fruir seu merecido descanso. E, com a rudeza sábia e calibrada dos homens calejados e conhecedores dos caminhos, vamos todos juntos, na cavalgada, aprendendo um pouco mais sobre o western, o cinema e a vida.

Sobre a lista que segue, posso dizer que é de fato a do momento, porque nunca posso ficar muito seguro de que não me apaixonarei por um novo filme, velho ou novo conhecido, porque essa é uma licença a nós todos facultada, sem embargo para a consciência.Peço licença, ainda, para colocar os títulos dos filmes na versão original, pois não sou muito afeito a algumas “adaptações” de títulos operadas por estas bandas. Vejam o que fizeram a Last Train from Gun Hill, adaptado para Duelo deTitãs, ou a High Noon, que virou Matar ou Morrer. Lamentável! Vamos, então, à lista:

1. C’ERA UMA VOLTA IL WEST (Era uma vez no Oeste)

Este é, entre todos, o meu número um. Devo confessar que sou fã de carteirinha de Sergio Leone. Coloco-o mesmo como o meu diretor predileto. Entre os diretores de western, há duas lendas, a meu ver: John Ford e Sergio Leone. Ambos constituem a quintessência do gênero. O primeiro tem uma obra indiscutível, e representa o melhor do western de linha americana. Sozinho, é o mais belo e necessário capítulo do western mundial. Pela outra trilha, cavalga um gênio extravagante, diferente, e que, com inigualável talento, reescreveu um gênero que já se achava totalmente sem munição.Para mim, John Ford representa o western realista, puro, e cautelosamente equilibrado; Leone, por seu lado, representa o sonho, o onírico; enfim, representa a nossa mais fervorosa paixão pelo gênero e pelo cinema. Leone, tomando a voz a cada um de nós, bradou sem reservas como amava o western, suas histórias e personagens maravilhosos. C’era una volta il West é um filme brilhante e que ilustra essa sua paixão pelo gênero. Trata-se de uma extraordinária homenagem, feita em tom de epopeia. As referências, as interpretações, a reunião de astros indiscutíveis do gênero, a música, a fotografia, o ritmo operístico, tudo, enfim, reunido de uma só vez no mais belo espetáculo que alguém jamais conseguiu apresentar. Se há algo mais modesto nesse filme é a trama, que não apresenta praticamente nada realmente invulgar, mas que é compensada largamente por um roteiro bem feito, e com uma exemplar quebra de linearidade, operada com mestria pelo gênio de Leone. A história do filme é a velha luta pela terra, que tem massacrado muitas vidas ao longo da história, um tema sempre atual em um gênero dito ultrapassado, e o tema da vingança, executada em grande estilo pela personagem do Gaita.

2. IL BUONO, IL BRUTTO, IL CATTIVO (Três Homens em Conflito)

Eurowestern Épico, também de Sergio Leone, e que impõe muitas dificuldades para figurar na segunda posição, se comparado a C’era una volta il West. Na cotação do IMDB aparece em primeiro entre os westerns de todos os tempos, seguido de perto por aquele. Como aconteceu com a maioria dos filmes de Leone, sofreu com a tesoura das produtoras, que acabaram apresentando mutilada uma verdadeira obra-prima do cinema mundial. Ainda assim, restou-nos a maior parte do espetáculo. É um filme longo, mas que incrivelmente não cansa o espectador, pelo contrário, aguça mais e mais a curiosidade do mesmo a cada cena, para chegar, em sua maravilhada companhia, a um final simplesmente extraordinário. As cenas, como a Surra de Tuco, o Êxtase do Ouro, o trielo, etc., o humor, especialmente a cargo do magnífico Eli Wallach, as personagens perfeitamente construídas e sintonizadas, a música do brilhante maestro Ennio Morricone, o estilo grandiloquente de Leone, enfim, toda a sua urdidura impecável, faz de Il buono, il brutto, il cattivo um filme inenarrável e apenas assistível. Não é possível descrever sua grandiosidade. Sua história é a busca por um tesouro em moedas, enterrado em um cemitério, próximo aos campos de batalha da guerra civil americana. O Bom e o Feio sabem, cada um, parte do segredo que leva ao tesouro, e, para complicar as coisas, o Mau sabe que os dois anteriores sabem o “mapa da mina”. Assim, os três embrenham-se numa aventura monumental para conseguir alcançar seu objetivo.

3. HIGH NOON (Matar ou Morrer)

Um western que também merece todo o apreço que tem. De 1952, e ainda em preto e branco, traz um Gary Cooper angustiado ante a necessidade de enfrentar o próprio destino. Grace Kelly quase não faz nada, mas aparece linda de fazer gosto, trajando em um belo vestido de noiva. Afora as discussões teóricas sobre psicologismo freudiano, ou sobre o macarthismo, sempre evocados pelos estudiosos, prefiro, ainda mais, ater-me na paixão irrefreável de ver cenas como a de Cooper literalmente sozinho na rua principal da cidade, abandonado por aqueles que defende. É o tipo de western que mais me apetece. A certeza de que mesmo próximo dos outros, vivemos mergulhados no nosso próprio universo. Recomendadíssimo.

4. SHANE (Os Brutos também amam)

Outro filme obrigatório para os amantes de cinema, especialmente western. Inspirado na luta ocorrida no Wyoming, no fim do século XIX, conhecida como Guerra do Condado de Johnson, teve parte das filmagens na mesma região, especialmente nas belas montanhas Grand Teton. Shane é um forasteiro que busca se estabelecer e construir uma nova vida. Como se fora impossível fugir do próprio destino, Shane termina se vendo em meio à luta entre os colonos e os grandes pecuaristas, que buscam expulsar aqueles do vale, para expandir seus negócios com o gado. É um filme riquíssimo, de que se pode falar muita coisa, mas que não nos permite esquecer a figura de Joey, o filho do casal de colonos, que passa a idolatrar Shane, e que tem uma atuação inesquecível. Alan Ladd sempre foi muito pouco valorizado, mas, eu, particularmente, gosto de vários trabalhos seus, e, claro, em Shane ele mostrou todo o seu valor. Não dá pra pensar em Shane com outro protagonista.

5. HEAVEN’S GATE (O Portal do Paraíso)

Este é outro filme western incrível. Até já fiz uma pequena resenha sobre ele, discutindo alguns de seus aspectos. Não é preciso dizer que ele é conhecido pela maioria dos amantes do western, e por muito mais gente, como um filme maldito. Responsável pela derrocada definitiva do gênero. Sinceramente, não consigo me acostumar com a ideia de que um filme como esse possa ser visto apenas assim. É preciso reabilitá-lo, se é que isso é possível, depois de todo o estrago. Como Shane, trata exatamente da mesma guerra entre colonos e fazendeiros. Mas, em Heaven´s Gate, Cimino foi extremamente pretensioso, o que pode ter ajudado, de início, no insucesso do filme junto ao público e à critica, ao fazer um filme que queria ser o maior western de todos. No meu entendimento, Cimino foi muito bem, apesar de ter falseado algumas coisas no espetáculo. O inacreditável é não termos no Brasil uma edição em DVD ou Blu-ray desse filme indispensável aos amantes do western, mesmo os que o odeiam.

6. THE MAN WHO SHOT LIBERTY VALANCE (O homem que matou Liberty Valance)

Dos filmes de John Ford, talvez esse não seja o melhor, mas a mim me parece. Gosto demais do contraponto entre as personagens de James Stewart e John Wayne. Cada um com suas convicções, e lutando para manter-se no interior das mesmas. Além disso, a relação entre ambos é das mais bem construídas do cinema. Homens que travam uma batalha relativamente silenciosa entre si, mas que ainda assim, admiram-se mutuamente, reconhecendo no outro virtudes que a si poderiam completar perfeitamente. Diria que são uma pequena alegoria sobre a vida, dois lados de uma mesma moeda, que se completam para poder subsistir. The Man Who Shot Liberty Valance conta a história de Ransom Stoddard, um advogado que vai para o velho oeste e lá encontra o império da força dominando a cidade de Shinbone. Tentando educar as pessoas para um novo modo de vida, entra em conflito com o fora da lei Liberty Valance. Propõe-se a enfrentá-lo por mecanismos legais e termina virando alvo de chacotas. Após muito relutar, descobre que a lei naquele fim de mundo ainda não seria capaz de assegurar toda a tranquilidade às pessoas e a si próprio. A disputa entre Stoddard e Tom Doniphon pelo amor de Hallie oferece alguns dos momentos mais agradáveis do filme.

7. THE APPALOOSA (Sangue em Sonora)

Marlon Brando fez muitos filmes essenciais, dentre eles, alguns poucos westerns, realmente memoráveis. Neste grupo, há um, que me apraz muito: Appaloosa, de 1966. O filme, encarado como um todo é bom, mas os cerca de 40 minutos iniciais, são fabulosos. Consiste no trecho que se estende até a sua saída para buscar seu lindo cavalo Appaloosa. A interpretação característica de Brando, as falas, a câmera, o ritmo, tudo funciona, criando um espetáculo para ser apreciado com atenção e real deleite, o que é impressionante, tendo em vista os problemas de Brando com o diretor no set de filmagens. A história do filme começa quando Matt retorna da guerra, decidido a reencontrar-se com o irmão mexicano de criação e começar um rancho. Acontece que ele tem os planos frustrados por Chuy Medina, que lhe rouba o belo cavalo. A partir daí, Matt inicia uma perigosa busca por seu garanhão, no meio do bando de Chuy. A relação de Matt com a família é por vezes ambígua e de dominação, mas, no geral, funciona bem. Uma cena, entre tantas interessantes, é a da queda de braço, com os escorpiões à espreita. Muito interessante!

8. IL GRANDE SILENZIO (O Vingador Silencioso)

Belo Eurowestern do cineasta italiano Sergio Corbucci. A personagem do vingador silencioso chega a Snow Hill durante um inverno rigoroso e encontra praticamente todos os homens da cidade escondidos na imensidão gelada das montanhas. Eles buscam fazer pequenos assaltos para sobreviver e são impiedosamente perseguidos por caçadores de recompensa. Dentre estes, destaca-se Loco, interpretado de forma inconfundível por Klaus Kinski. Não demora e o Vingador Silencioso entra em rota de colisão com Loco, após ser contratado por Pauline para vingar a morte do marido desta, que ocorrera pelas mãos do facínora. O final é antológico. A fotografia branca, a paisagem desoladora e a música triste de Morricone fazem deste um filme obrigatório para os amantes do gênero.

9. PER UM PUGNO DI DOLLARI (Por um Punhado de dólares)

Mais um eurowestern indispensável de Leone, aliás, todos os seus filmes são. É reconhecidamente o filme que estabeleceu o paradigma do western italiano, que renovaria o gênero e que influenciaria muito do que foi feito depois no cinema, western ou não. Nele, um estranho sem nome chega a uma cidadezinha dominada por duas facções criminosas, e com motivações pouco claras, se interpõe aos dois grupos, dando início a um audacioso plano, que termina por livrar a cidade de sua tirania. Baseado em Yojimbo, de Akira Kurosawa, Per um Pugno di Dollari é um filme que sempre me agradou muito, primeiro, por tudo o que representa, e, depois, pelo roteiro, pelas performances e, principalmente, pela forma inovadora com que Leone o filmou. Outro ponto que não se pode esquecer é da música de Morricone. Sem dúvida, aqui se inaugura a mais bem sucedida parceria entre diretor e compositor, no cinema.

10. UNFORGIVEN (Os Imperdoáveis)

Dos westerns da nova safra, acredito seja este o melhor. Conta a história de William Munny, um pistoleiro aposentado que resolve se unir a um jovem caçador de recompensas e sair em busca dos cowboys responsáveis por desfigurar o rosto de uma prostituta. Will convida para a jornada seu velho parceiro Ned, que, como aquele, se afastara do crime, para construir família. O que começa como motivação por dinheiro acaba por se tornar uma questão pessoal. Gene Hackman está fabuloso como o xerife linha dura e meio louco. Eastwood, por sua vez, mostra que é um eterno cowboy. Digamos que foi, para ele, uma despedida à altura do gênero que o alçou ao posto de um dos maiores nomes do cinema mundial. Nos créditos, o justo agradecimento a seus dois grandes mestres: Don Siegel e Sergio Leone. A fotografia de Unforgiven é um ponto alto do filme, os diálogos em alguns momentos são de arrepiar, a expressão taciturna do pistoleiro sem coração é uma das mais marcantes do cinema. Indispensável!


                                                                                                       Vinicius LeMarc

28 de fevereiro de 2012

DOCUMENTO - ARCHIMEDES LOMBARDI FALA SOBRE "RASTROS DE ÓDIO" PARA O CINEMAX

Em 2003 o Canal Cinemax programou o western "Rastros de Ódio"
(The Searchers), para comemorar o centenário do gênero e do próprio cinema.
Dada a importância do filme, o Cinemax convidou Archimedes Lombardi
para fazer um rápido comentário sobre a obra-prima de John Ford.
CINEWESTERNMANIA reproduz a íntegra desse documento, em vídeo, para
que os seguidores não-paulistanos deste blog conheçam Archimedes Lombardi,
essa grande personalidade ligada ao cinema e muito especialmente ao faroeste.

26 de fevereiro de 2012

A TRÁGICA MORTE DE UMA ATRIZ DURANTE AS FILMAGENS DE “O ÁLAMO”


Entre as dezenas de histórias ocorridas durante as filmagens de “O Álamo”, há uma pouco conhecida e verdadeiramente trágica, a da morte da atriz LeJean Etheridge.

LEJEAN EM FORTE CLARK - As informações a respeito de LeJean são bastante vagas e mesmo o nome da atriz é grafado de forma diferente, dependendo da fonte. LaJean, LeJean, Legeane são algumas das grafias encontradas, sendo a mais constante LaJean, cujo nome completo era LaJean Guye Etheridge. A idade de LaJean também é incerta podendo ser 26 ou 29 anos, segundo a fonte encontrada. O certo é que a jovem atriz foi contratada pela Batjac para uma pequena participação em “O Álamo” no papel de esposa de um soldado que deixa o Álamo com as filhas. A cena foi rodada em um dia e John Wayne gostou do trabalho de LaJean dizendo a ela que gostaria de contar com ela em futuros filmes. Duke pediu a LaJean que permanecesse mais alguns dias em Brackettville acompanhando as filmagens. Atores e técnicos ficavam hospedados no Forte Clark, bastante próximo do local onde foi edificada a fortificação do Álamo. Forte Clark era um forte que havia servido de residência para os oficiais Robert E. Lee e Ulysses S. Grant, em épocas diferentes, antes da Guerra Civil. Durante a rodagem de “O Álamo” foi autorizada uma reforma no Forte Clark, reforma que transformou o local numa espécie de hotel e escritórios para a produção do épico produzido pela Batjac.


O NAMORADO VIOLENTO - LaJean residia em Spofford, pequeno município próximo de Brackettville. Com ela moravam o namorado Chester Harvey Smith, de 32 anos e mais dois homens e uma mulher, todos dividindo a mesma casa e todos contratado como figurantes para participar de “O Álamo”. Chester possuía uma ficha criminal na qual havia sido acusado e preso por agressões, sendo um homem violento. LaJean decidiu que não voltaria a morar com Chester, avisando-o que procuraria uma outra casa para morar, provavelmente acreditando que sua participação em “O Álamo” lhe traria novas oportunidades de trabalho no cinema. Sabemos que John Wayne era generoso com seus amigos possibilitando sempre que possível participações em seus filmes. O maior exemplo da generosidade de John Wayne foi com Gail Russell, a quem ajudou bastante. LaJean, a pedido de John Wayne, continuou ocupando um dos quartos construídos em Forte Clark, o que desgostou o namorado que como figurante não tinha aquele privilégio.

MADRUGADA TRÁGICA - Segundo Donald Clark e Christopher Andersen, autores de “John Wayne’s The Alamo – The Making of the Epic Film”, na noite de 14 de setembro de 1959 Chester armou-se com uma faca, identificada como sendo uma 'Bowie' e rumou para o Forte Clark. Já em plena madrugada de 15 de setembro, Chester passou a bater de porta em porta, até que chegou ao quarto onde estava LaJean Etheridge que abriu a porta e se deparou com o namorado armado. Este sem nada dizer golpeou LaJean violentamente no peito. A moça gritou desesperadamente e caiu sangrando com abundância enquanto atores e técnicos acudiram em socorro. Chester estava com LaJean nos braços e assim ficou o tempo todo até a chegada de ajuda e do xerife de Brackettville. O crime foi parar nas primeiras páginas dos jornais norte-americanos numa publicidade bastante negativa. As filmagens de “O Álamo” sofreram evidente prejuízo com o clima de tristeza que tomou conta de toda a equipe. Durante o inquérito John Wayne foi chamado para depor e Chester foi condenado por um júri de 12 pessoas a 30 anos de prisão.


CENA POUCO VISTA - Afogado pelas dívidas contraídas para realizar “O Álamo”, John Wayne perdeu o controle do filme durante o processo de distribuição e a United Artists lançou o épico em com diversas metragens que iam de 140 minutos a 192 minutos. Apenas na versão lançada como “Director’s Cut”, em 1993 com 203 minutos, é que pode ser vista a sequência com a infeliz e jovem atriz dirigida por John Wayne em “O Álamo”, filme que foi marcado pela tragédia da morte de LaJean Etheridge.

24 de fevereiro de 2012

ARIZONA VIOLENTO (Ten Wanted Men) – RANDOLPH SCOTT, ‘O HOMEM DINAMITE’


Em 1955 foram rodados 70 westerns nos Estados Unidos. Quatro deles estrelados por Randolph Scott, incansável aos 56 anos antes ainda da lendária série de filmes com Budd Boetticher. “Arizona Violento” (Ten Wanted Men) foi um dos quatro filmes de 1955 e tinha tudo para ser um desses pequenos grandes westerns, apenas não teve um roteiro de Burt Kennedy e Boetticher não estava na direção. Produzido pela Ranown, produtora de Scott e Harry Joe Brown e distribuído pela Columbia, a direção foi entregue a Bruce Humberstone e este western desigual ficou abaixo do que se poderia esperar. A história bastante boa e o elenco masculino com inúmeros nomes que logo viriam a ser respeitados no cinema, ficou comprometida por alguns aspectos técnicos.


Vilões: Boone, Gordon e Van Cleef
A LEI DA VIOLÊNCIA - A história de “Arizona Violento” é de autoria da dupla Irving Ravetch-Harriet Frank Jr., responsáveis entre outros pelas histórias dos faroestes “Fora das Grades” (Run for Cover), “Hombre”, “Os Cowboys” (The Cowboys) e dramas como “O Mercador de Almas”, “O Indomado” e “Norma Rae”. O roteiro de “Arizona Violento”, porém, coube a Kenneth Gamet dono de uma invejável série de bons roteiros em seu currículo. Neste western John Stewart (Randolph Scott) é dono de muitas terras em Ocatilla, Território do Arizona. Stewart traz seu irmão, o advogado Adam Stewart (Lester Matthews) de Cincinnatti, Ohio, para dar início a um processo onde a Justiça não seja feita pelos mais poderosos, como o próprio John Stewart. Porem não compartilha dessa opinião o também dono de terras, em menor escala, Wick Campbell (Richard Boone). Campbell usa de meios escusos para se apropriar de pequenas propriedades importantes e apesar de seu poder não é correspondido por Maria Segura (Donna Martell), mexicana que trabalha para ele, Campbell, no saloon de sua propriedade. Junto com Adam Stewart chega também ao Arizona seu filho Howie Stewart (Skip Homeier), insatisfeito por estar longe da civilizada Cincinatti. Howie se enamora de Maria Segura e a jovem foge do domínio de Campbell. Determinado a aumentar seu poder no Arizona, Campbell contrata o fora-da-lei Frank Scavo e seu bando de pistoleiros. Clyde Gibbons (Dennis Weaver), o xerife de Ocatilla pouco pode fazer e a quadrilha de Scavo rouba gado para Campbell. Não satisfeito, Campbell mata o advogado irmão de John Stewart. Scavo percebendo certa fraqueza em Campbell decidi trai-lo e roubar todo seu dinheiro. Stewart, então se defronta com Campbell, matando-o e com a ajuda de Howie, Gibbons e outros enfrentam o bando de Scavo que é dominado por Stewart. Ao final ocorre um duplo casamento, o de John Stewart com a viúva Corinne Michaels (Jocelyn Brando) e o de Howie com Maria Segura.

Se o revólver falhar, lá vai TNT
O REVÓLVER QUE NÃO ESPOUCA - Entre os diversos temas abordados pelo roteiro, temos o da civilização do Velho Oeste, o do facínora traiçoeiro que se aproveita da tibieza de seu contratante, o do xerife impotente diante da violência e dois romances, um deles inusitado entre a jovem mexicana Maria Segura e o almofadinha recém-chegado da cidade grande. “Arizona Violento” comprova que uma boa história pode ser desperdiçada se não for bem tratada quando de sua roteirização. A visível aplicação dos atores para tornar seus personagens convincentes carece de uma melhor caracterização o que Burt Kennedy conseguia com suas frases de profundo alcance revelando a alma de cada personagem. O que se tem então em “Arizona Violento” é uma sucessão de clichês que mais lembra um faroeste B melhor produzido. Melhor produzido em termos, como será visto adiante. Os faroestes de médio orçamento dos anos 50, independente do estúdio que os produziam, tinham sempre uma excelente direção de arte e decoração de set e “Arizona Violento” não foge à regra, até que inesperadamente vem a catastrófica sequência em que Randolph Scott atira em Richard Boone que cai espetacularmente após ser alvejado por um revólver... que não dispara. Essa cena patética deveria ter sido refeita mas está lá para roubar a seriedade do filme. O que mais se espera em um bom e despretensioso faroeste são os tiroteios, mas em “Arizona Violento” foi descoberta a pólvora, ou melhor, as bananas de dinamite e é com elas que Leo Gordon ataca Ocatilla e até mesmo tenta acertar Scott num rio. E é também dessa maneira que Randolph Scott resolve a parada final expulsando os bandidos. O que mais havia em Ocatilla era dinamite, depois de cactus, claro.


A elegância de Randolph Scott em quatro modelos diferentes de camisas

Acima Tom Steele saltando sobre
a parelha; abaixo os dublês Robert
Morgan e Chuck Roberson em ação.
TRABALHO DOBRADO PARA OS DUBLÊS - Todos sabemos que em faroeste com Randolph Scott há muito trabalho para seus stuntmen. Numa sequência em que Scott salta de seu cavalo sobre a parelha de uma carroça desgarrada, temos a ação (vale a redundância) cinematográfica de Tom Steele como dublê; na troca de socos entre Randy Scott e Leo Gordon não houve nenhum cuidado na edição e o que assistimos é mesmo uma fantástica luta entre... Robert Morgan (Scott) e Chuck Roberson (Gordon). É quase impossível deixar de perceber a substituição dos atores, assim como é difícil conter o riso pela evidente constatação. E ao final da encarniçada luta fica-se sem saber se o bandido Scavo (Leo Gordon) é capturado vivo ou morto. Randolph Scott criou uma persona na tela quase no mesmo nível de John Wayne e Gary Cooper, transmitindo enorme respeito e admiração, o que incute em seus personagens praticamente sem nenhum esforço interpretativo. E mais até que Duke e Coop, Randy Scott abre espaço para os demais personagens, permitindo em certo momento que a subtrama entre Leo Gordon e Richard Boone se torne mais interessante que a principal. E isso é bom para o filme pois atores tido como característicos têm oportunidade de demonstrar que podem ser bons atores.


Acima Skip Homeier e Dennis Weaver;
raro beijo de Randy Scott na felizarda Jocelyn;
Alfonso Bedoya e Denver Pyle
A GENEROSIDADE DE RANDOLPH SCOTT - Richard Boone em seu quinto ano no cinema deixa entrever o excepcional vilão que se tornaria em tantos filmes, um deles ao lado do próprio Randolph Scott, em “Resgate de Bandoleiros” (The Tall T). Leo Gordon segue a linha do bandido cínico e enervante com seu riso sarcástico, linha criada por Dan Duryea. Mais contido, Lee Van Cleef com sua fisionomia sempre ameaçadora. Dennis Weaver e Skip Homeier são outros coadjuvantes cujos papéis ganham importância graças à generosidade do ator-produtor Randolph Scott. Da mesma geração de ótimos atores, num papel menor aparece Denver Pyle, aquele tipo de ator que enganosamente alguns chamam de característico como se isso significasse uma limitação a seu talento. Por falar em talento, que belo grupo de veteranos, a começar por Alfonso Bedoya, Clem Bevans, Minor Watson (coadjuvante de clássicos da Warner Bros.), Tom Powers (de “Pacto de Sangue”) e Francis McDonald. “Arizona Violento” tem no elenco três atrizes cujas carreiras nunca deslancharam, uma delas, Jocelyn Brando, mesmo carregando o honroso sobrenome do irmão. Jocelyn mais do que impressionar por sua interpretação, consegue a proeza de arrancar um beijo e até se casar com Randolph Scott no filme. Donna Martell, ex-contratada da Republic Pictures onde atuava como Donna DeMario é decididamente uma atriz de poucos recursos dramáticos. Kathleen Crowley aparece pouco como a esposa de Dennis Weaver. Para os que gostam de se aprofundar nos elencos dos filmes, ótima oportunidade para ver em cena como ator o stuntman Boyd ‘Red’ Morgan, de incontável presença em faroestes (até em “Spartacus”), quase nunca creditado.

Bruce Humberstone
MELHOR ESQUECER BOETTICHER-KENNEDY – O diretor Bruce Humberstone dirigiu no cinema um pouco de tudo, desde os policiais de Charlie Chan na década de 30, passando pelo musicais da Fox nos anos 40, tempo em que dirigiu o clássico noir “Quem Matou Vicki?”, com Laird Cregar e Victor Mature, até chegar aos Tarzans de Gordon Scott. Mesmo sem ser o faroeste a sua especialidade “Arizona Violento” merece ser visto e pode agradar o espectador, desde que não seja comparado com os melhores filmes da dupla Boetticher-Kennedy estrelados por Randolph Scott, clássicos do gênero. Este western comprova que Scott merece o destacado lugar que ocupa como mocinho dos faroestes, ainda que tenha uma dívida enorme com Tom Steele, Bob Morgan e outros de seus dublês.



22 de fevereiro de 2012

CINETESTEMANIA N.º 9 - OS SHERIFFS








ATENÇÃO: Na pergunta n.º 4, a alternativa ' a' é
GEORGE BANCROFT e não ROY BANCROFT
como foi inicialmente publicado.

20 de fevereiro de 2012

VAI TOMAR BANHO, COWBOY!!!


Em uma sequência de “E o Bravo Ficou Só” (Will Penny), Joan Hackett, diante do insuportável mau cheiro exalado pelo cowboy Charlton Heston, pergunta a ele se ele costumava tomar banho. Heston responde que tomava sete ou oito. “Por mês?”, pergunta Joan. “Não, por ano” responde Heston, completando: “Tomo banho antes de sair com um rebanho e outro quando retorno. No caminho, se encontrar um rio e se não estiver muito frio posso tomar outro.” E Joan Hackett obriga Charlton Heston a tomar um banho, e o cowboy obedece visivelmente a contragosto.

O primeiro banho que me lembro de ver um cowboy tomar foi em “Rastros de Ódio” (The Searchers). Jeffrey Hunter toma um banho após meses e meses cavalgando com John Wayne. Vera Miles ainda ajuda Jeffrey Hunter numa daquelas cenas engraçadas como só John Ford era capaz de fazer. Os cowboys não gostavam de se banhar e isto não é lenda, mas em muitos e muitos westerns nossos heróis entraram em tinas e até mesmo em barris para poderem depois beijar as mocinhas. CINEWESTERNMANIA reuniu algumas cenas de banhos extraídas de faroestes nesta que é a primeira parte da postagem “Vai Tomar Banho, Cowboy!” pois muitos e muitos outros cowboys apareceram na tela dentro de uma banheira do Wild West. Conto com sua colaboração, caro leitor, para lembrarmos de outros banhos nos faroestes...

Gene Hackman e James Coburn em "O Risco de uma Decisão"
 
Teria Jack Nicholson matado Marlon Brando no banho em"Duelo de Gigantes"?
 
Lee Marvin curando a ressaca em "Dívida de Sangue"; Tom Nardini ajuda.
 
Billy Curtis joga água em Clint Eastwood em "O Estranho Sem Nome"
 

Pobres baratas! Glenn Ford e Jack Lemmon em "Como Nasce um Bravo".
 
Bob Mitchum tomando um banho para tirar o sono em "Terra Maravilhosa"
Charles McGraw só observa...
 
Sem banho no cinema desde "Os Dez Mandamentos", Charlton Heston
tira a poeira em "E o Bravo Ficou Só"
 
Duke em "Fúria no Alasca", antes de ficar furioso com Ernie Kovaks
 
Burgess Meredith há 35 anos sem banho em "Ninho de Cobras"
 
Banho, Vivo ou Morto! Esse era o lema de Steve McQueen;
Tony Caruso não escapou.
 
Calma, Tuco, é só o Blondie! Eli Wallach em "O Bom, o Mau e o Sujo".
 
Sam Fuller monstrando em "Dragões da Violência" que os banhos eram
coletivos. Ensaboados Barry Sullivan e Gene Barry.
 
Robert Taylor no chuveiro em "Armadilha"
 
Dub Taylor é o gerente da casa de banhos em "O Preço de um Covarde";
mas o covarde era ele que não tomava banho como James Stewart.
 
O despudorado Kirk Douglas mergulhando na tina em "Ninho de Cobras",
acompanhado pelo recatado Henry Fonda
 
Dan Blocker toma banho em La Ponderosa por ordem de papai
Lorne Greene; o irmãozinho Michael London já deve ter tomado.
 
Jack Elam e seu patinho, possivelmente em "Dirty Dingus MaGee"
 
Kurt Russel tomando banho em "As Pistolas do Diabo"sob o
olhar amigo de Charles Bronson
 
Maverick pai ensinando Maverick filho a tomar banho;
James Garner e Mel Gibson em "Maverick"
 
 
Jeffrey Hunter tomando banho em pleno Monument Valley;
Vera Miles pronta para aprontar amorosamente em "Rastros de Ódio". 
 
Faye Dunnaway conferindo se é mesmo o "Pequeno Grande Homem";
Dustin Hoffman viveu 121 anos mas nunca esqueceu desse banho.
 
Stella Stevens escovando Jason Robards em "A Morte não Manda Recado"
 
Ainda a maravilhosa Stella Stevens lavando tudo carinhosamente...
 
A recíproca nem sempre é verdadeira, mas pode ser muito mais gostosa...