UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

26 de abril de 2020

HONRA SEM FRONTEIRAS (POWDER RIVER) – WYATT EARP E DOC HOLLIDAY MUDAM DE NOMES


Sam Hellman
Aquele fã de westerns que não presta muita atenção aos créditos, após algum tempo assistindo “Honra Sem Fronteiras” certamente pensará que já conhece essa história. E claro que conhece pois ela é calcada em uma das mais famosas narrativas do Velho Oeste, celebrada especialmente na obra-prima “Paixão dos Fortes” (My Darling Clementine). Stuart N. Lake que conheceu Wyatt Earp e foi seu biógrafo escreveu “Wyatt Earp - Frontier Marshal”, livro no qual foram baseadas três versões do mais famoso duelo ocorrido no Curral OK. São elas: “O Último Favor” (Frontier Marshal), de 1934; “A Lei da Fronteira” (Frontier Marshal), de 1939; e finalmente o referido “Paixão dos Fortes”. Nestes dois últimos westerns Sam Hellman se incumbiu da adaptação e o mesmo Sam Hellman fez nova adaptação em 1953 e que resultou em “Honra Sem Fronteiras” (Powder River). E está lá o nome de Stuart N. Lake nos créditos, só que desta vez Wyatt Earp virou ‘Chino Bullford’ e Doc Holliday aparece como ‘Mitch Hardin’. E estão lá a moça do saloon e nem a jovem educada vindo do Leste. Sumiram os irmãos de Wyatt Earp mas o que não falta é muita ação mostrando que Louis King era bom no gênero, assim como seu versátil irmão Henry King, de “O Matador” (The Gunfighter).


Acima Rory Calhoun e Frank Ferguson;
abaixo Robert J. Wilke e Carl Betz
Um assassinato mal esclarecido - Chino Bullford (Rory Calhoum) é um conhecido ex-pistoleiro que se dedica a garimpar ouro na companhia de seu sócio Johnny Slater (Frank Ferguson). Chino vai à cidade de Powder River para comprar mantimentos, Slater é morto e a porção de ouro que guardavam é roubada. Chino acredita que os assassinos sejam Loney Hogan (Carl Betz) e Will Horn (Robert J. Wilke) e aceita o cargo de xerife de Powder River para acertar as contas com os dois bandidos. Na cidade Chino conhece Frenchie Dumont (Corinne Calvet), dona do saloon Belle Union, que é protegida por Mitch Hardin (Cameron Mitchell), médico que abandonou a profissão por ter um tumor cerebral e não mais poder fazer cirurgias. Hardin se tornou pistoleiro e chega a Powder River, vinda do Leste, a jovem Debbie Allen (Penny Edwards) que ama Hardin apesar deste ser alcoólatra. Chino se sente atraído por Debbie enquanto Frenchie disputa com Debbie o amor de Chino. Famosos, Hardin e Chino são rivais quanto a qual deles é o mais rápido no gatilho mas se tornam amigos e se defrontam com a quadrilha comandada por Harvey Logan (John Dehner), irmão de Loney. Hardin e Chino exterminam o bando mas Chino descobre que foi Hardin quem matou seu sócio Johnny Slater. Os dois fazem um duelo e Hardin leva a melhor mas sem ferir Chino. Em seguida Hardin sente-se mal e vem a falecer, após o que Frenchie decide partir de Powder River e Chino é quem fica com Debbie.

Acima Penny Edwards; abaixo
Cameron Mitchell e Corinne Calvet
Semelhanças e depois diferenças - Assim como Doc Holliday, Mitch Hardin abandonou a Medicina e mantém um caso com a moça do saloon mas ama de verdade a ex-noiva que deixou no Leste e que atravessa o país para visitá-lo sabendo-o irreversivelmente doente. Por sua vez Chino Bullford veio de uma cidade turbulenta, não gosta de usar armas de fogo e quer vingar o sócio morto, tornando-se xerife de Powder River. Isto após retirar do saloon um desordeiro que apavorava a cidade. A diferença para Wyatt Earp é que Bullford não tem irmãos mas, de resto, a estrutura inicial de “Honra Sem Fronteiras” é a mesma das adaptações que Sam Hellman havia feito anteriormente. E Hellman não viu nenhum problema em usar a mesma história desde que desse o devido crédito a Stuart N. Lake, autor de ‘Wyatt Earp, Frontier Marshal’. Na segunda metade do filme as semelhanças são reduzidas e o roteiro do filme de Louis King passa a ter vida própria e de certa forma até mais interessante que o sobejamente conhecido evento do Curral OK. E por ser um filme sem maiores pretensões artísticas, King cria ótimas sequências de ação não deixando de mostrar o clássico e esperado duelo final.

Cameron Mitchell e Rory Calhoun 

Rory Calhoun 
Nuances surpreendentes - A adaptação de Sam Hellman roteirizada por Daniel Mainwaring apresenta uma criativa alternância que surpreende o espectador pois Mitch Hardin, ainda que involuntariamente, é o verdadeiro assassino de Johnny Slater, o que dá ainda maior sabor à trama. À parte a questão da vingança a que Chino Bullford se dispôs, há também a disputa entre ele e Hardin para saber qual é o mais rápido e o duelo entre os dois tem desfecho surpreendente. Sam Hellman manteve em sua adaptação os envolvimentos amorosos com as inerentes situações de ciúmes e hesitações fazendo de Frenchie uma mulher adiante de seu tempo, dona de saloon aventureira, administrando os ganhos nem sempre ilícitos e usando os homens segundo seus interesses. Não há Clantons e seus asseclas que são substituídos pelos irmãos Logan e seus capangas sempre prontos para alguma maldade.

Rory Calhoun, Zon Murray, John Dehner
e Ethan Laidlaw
Western movimentado - Produzido pela 20th Century-Fox que realizara todas as três versões anteriores, algumas mais outras menos baseadas no livro de Stuart N. Lake, demonstrando o estúdio estar sempre pronto a recontar a mesma história, “Honra Sem Fronteiras” é acrescido nesta adaptação por uma sequência em um rio (o Powder River do título) com Rory Calhoun correndo o risco de ser levado pela corredeira assim como ocorreu em “O Rio das Almas Perdidas” em que Calhoum contracenou com Robert Mitchum e Marilyn Monroe. Este é um dos muitos momentos movimentados do faroeste em que não faltam uma fuga de cadeia e enfrentamentos diversos entre Chino Bullford ao lado de Mitch Hardin e o bando de Harvey Logan. As sequências passadas em Powder River permitem reconhecer as ruas do estúdio da 20th Century-Fox vistas em tantos e tantos westerns como por exemplo “Minha Vontade é Lei” (Warlock), onde duelaram Henry Fonda, Anthony Quinn, Richard Widmark e outros.

À esquerda Carl betz, Robert J. Wilke e Ethan Laidlaw

Corinne Calvet
Corinne Calvet, a provocante Frenchie - Em nenhuma das versões anteriores (desconheço “O Último Favor”) houve uma garota de saloon tão provocante como a ‘Frenchie’ de Corinne Calvet. Binnie Barnes, que foi ‘Jerry’ em “A Lei da Fronteira”, e Linda Darnell, a ‘Chihuahua’ de “Paixão dos Fortes” perdem longe para a deliciosa interpretação da francesa Corinne, a ponto de ficar difícil aceitar que nem Hardin ou Bullford sucumbam aos seus encantos no filme. Claro que haveria de ser seguido o roteiro no qual a doce Debbie Allen cativasse mais o coração dos durões Bullford e Hardin, repetindo Nancy Kelly e Cathy Downs das versões de 1939 e 1946. De modo geral as atrizes oriundas do cinema francês nunca chegaram a fazer maior sucesso em Hollywood e Corinne Calvet não fugiu à regra apesar de ter participado de inúmeros filmes na capital do cinema. De longe Corinne é a melhor do elenco que tem Cameron Mitchell com seu estranho cinturão ganhando o duelo contra Rory Calhoun que, mais uma vez, é Rory Calhoum, ou seja, não muito expressivo. Penny Edwards, que atuou em diversos westerns B da Republic Pictures, é a pouco convincente pivô da disputa amorosa entre Mitchell e Calhoun no filme. John Dehner poderia ser melhor aproveitado como vilão principal, assim como Robert J. Wilke. Destaque para as boas presenças de Harry Hines e Frank Ferguson.

Corinne Calvet


Louis King em grande momento - Olhando-se a filmografia de Louis King percebe-se que ele foi, durante seus 40 anos de carreira, um mero diretor de produções de rotina. Dirigiu exemplares de séries como ‘Bulldog Drummond’, ‘Charlie Chan’, filmes de aventura, comédias e muitos pequenos westerns. Este “Honra sem Fronteiras” certamente está entre seus melhores trabalhos e o recomendaria para filmes mais importantes, honraria que ficou para seu irmão mais velho Henry King. Os muitos fãs de Rory Calhoun e de modo geral aficionados de faroestes não devem perder este movimentado western.

Na foto à direita o diretor Louis King.


Cameron Mitchell e Rory Calhoun; Cameron Mitchell

19 de abril de 2020

EXPIAÇÃO (PANHANDLE) – LESLEY SELANDER COMPROVANDO SUA MAESTRIA


Lesley
Selander e
Blake

Edwards

Lesley Selander dirigiu 133 filmes em sua carreira como diretor iniciada em 1936 e que se encerrou em 1968. Foram dirigidos por Selander praticamente todos os ‘mocinhos’ do cinema, de Buck Jones a Audie Murphy, passando por Hopalong Cassidy, cuja série teve em Lesley Selander um dos mais frequentes diretores. Ao lado de William Witney, Lesley Selander é considerado como o mais importante entre os cineastas que faziam ‘milagres’ com pequenos orçamentos, como é o caso deste “Expiação”, western que recebeu esse título nada funcional aqui no Brasil. O título original ‘Panhandle’ faz menção à formação de áreas territoriais sob o domínio de um homem poderoso e os autores da história e também roteiristas foram John C. Champion e Blake Edwards, dois jovens de respectivamente 22 e 25 anos. Eles ainda juntaram 40 mil dólares de suas economias para produzirem na Allied Artists este western, primeiro trabalho dos dois no cinema. Blake Edwards se tornaria nas décadas seguintes um extraordinariamente bem sucedido diretor, produtor e roteirista. É de Blake Edwards a série de filmes ‘The Pink Panther’, entre muitos outros sucessos, ele que foi casado com Julie Andrews por 41 anos, até sua morte em 2010. John C. Champion continuou produzindo filmes, um deles “O Bandoleiro Temerário” (The Texican), estrelado por Audie Murphy e que, curiosamente, conta a mesma história de “Expiação”.


Rod Cameron
A vingança completa - John Adams (Rod Cameron) é um ex-pistoleiro que decidiu se aposentar e se torna comerciante. Essa nova vida tranquila é alterada com a notícia que seu irmão Billy Sands foi assassinado na cidade de Sentinel que é dominada por Matt Garson (Reed Hadley). Garson comanda seus pistoleiros do seu saloon ‘Last Frontier’ tendo sido ele o assassino de Billy Sands. John Adams conhece Jean ‘ Dusty’ Stewart, ex-namorada de seu irmão. Dusty teve o pai assassinado por Matt Garson e confirma ter sido ele o responsável pela morte de seu então noivo. June O’Carroll (Anne Gwynne) é a secretária de Garson e se enamora de John Adams que também gosta dela. Garson sabe que o intento de Adams é vingar a morte de seu irmão e pacientemente aguarda o momento melhor de liquidar Adams. Porém Floyd Schofield (Blake Edwards), o mais jovem de seus pistoleiros desafia Adams para vencê-lo num duelo e se tornar famoso. Adams enfrenta num duelo a tiros Schofield e os capangas de Garson e os vence, fazendo o mesmo com Matt Garson, consumando sua vingança. Entre as duas moças que o cortejam Adams decide ficar com June o’Carroll.

Blake Edwards
Clichês do jovem roteirista - Muitos espectadores são atraídos pelos títulos dos filmes, até mais que pelos atores e atrizes ou diretores. Certamente “Expiação” não foi uma boa escolha como título, sendo muito melhores o francês “O Justiceiro das Serras”, o italiano “O Plano da Morte” e o espanhol “O Império do Crime”. Porém Rod Cameron era já, com seus quase dois metros de altura e rosto que lembrava muito o de Randolph Scott na integridade, um dos cowboys preferidos do cinema entre aqueles que faziam filmes um pouco mais bem elaborados que os rotineiros das séries como as de Roy Rogers, Rocky Lane e outros. Por trás desse título nacional bizarro e do mocinho canadense que interpretara o inesquecível ‘Rex Bennett’ no seriado “A Adaga de Salomão”, estava Lesley Selander em momento inspirado. O roteiro dos estreantes Champion e Edwards contém alguns clichês como o ‘botão denunciador’ que caíra da roupa de Matt Garson e a clássica história de vingança, desta vez de um irmão (geralmente vingava-se o pai ou a mãe ou ambos). E o noviciado do roteirista Blake Edwards é notório com o personagem que ele próprio interpreta, vaidoso e vestido afetadamente, parecendo mais que Edwards queria brincar de mocinho em um filme. O vilão principal (Matt Garson), para não ficar atrás, esmera-se igualmente nas vestimentas com botas de fazer inveja a Roy Rogers, Rex Allen e Gene Autry.

Cathy Downs
Briga de tirar o fôlego - O roteiro de “Expiação”, à parte esses pequenos senões, prende o interesse do espectador, especialmente quanto à disputa pelo coração de John Adams, disputa surda entre June O’Carroll e Dusty. June mais tarimbada não tem a doçura de Dusty mas é, afinal, a escolhida. John Adams enfrenta, antes do confronto de morte com Garson, uma sucessão de situações perigosas como os duelos a tiros e principalmente uma encarniçada luta de socos contra o fortíssimo capanga Jack (Jeff York). Nessa briga, uma das melhores já vistas em filmes de pequenos orçamentos leva os contendores a praticamente destruir o saloon e só vai terminar na rua com Adams vencendo o oponente. Visivelmente o dublê de Rod Cameron é mais baixo que ele e, depois de uma briga selvagem que dura mais de cinco minutos, John Adams na sequência seguinte não apresenta uma marca sequer no rosto que levou muitos socos do brutamontes Jack. Cochilo de Selander...

Jeff York e o dublê de Rod Cameron

Reed Hadley
Morte antológica na mesa de pôquer - A direção de Selander é admirável em algumas sequências como quando John Adams e June O’Carroll se agarram libidinosamente no chão do quarto, o que não é pouco para um western ‘B’ de 1948. Ou ainda quando o mesmo Adams narra ao deslumbrado Schofield o encontro que teve com Billy the Kid. Sem esquecer dos duelos finais travados sob uma chuva intensa, algo raro em faroestes e, mais que todas as demais boas sequências, a da rodada de pôquer que leva à morte um dos jogadores (Francis Macdonald) que sucumbe deixando sobre a mesa seu ‘full house’ perfurado pelo tiro disparado por Matt Garson. Assistir a tantos excelentes momentos em um western ‘B’ é mais do que compensador. Fazendo de “Expiação” um programa imperdível.

Rod Cameron e Anne Gwynne

Anne Gwynne
Anne Gwynne, doce mulher-fatal - Rod Cameron se impõe pelo tamanho e pelo estilo discreto de atuar. Cathy Downs, a suave Clementine de “Paixão dos Fortes” perde a disputa do amor de John Adams para Anne Gwynne e não poderia ser de outra forma. A linda Anne (do seriado “Flash Gordon Conquista o Universo”) está excelente como uma mulher-fatal que age com firmeza e correção. Reed Hadley, que foi Zorro em seriado da Republic e se dividia entre interpretações e ser narrador com sua bela voz, faz vilão um tanto forçado enquanto Blake Edwards consegue provocar mais risos como um caricato bandido do que temor em John Adams/Rod Cameron que mais parece um gigante perto de Edwards. Jeff York tem boa oportunidade como o capanga corpulento e sai-se bem na espetacular luta contra Cameron (e seu dublê). Ótima fotografia de Harry Neumann com muitas sequências noturnas sem que isso canse o espectador tornando o filme sombrio demais. Rex Dunn responde pelo fundo musical. Esqueça o título e assista a este belo western ‘B’ pois vale a pena!


Rod Cameron

8 de abril de 2020

O MORTO VENCEU (GUN BATTLE AT MONTEREY) – ...E O ESPECTADOR PERDEU!!!



Sterling Hayden
“A Face Oculta” (One-Eyed Jacks) é bastante lembrado por ser um faroeste com muitas sequências passadas à beira-mar, mais precisamente em Monterey, na Califórnia. Porém esse, que foi o único filme dirigido por Marlon Brando, não foi o western pioneiro ao utilizar como cenário o oceano Pacífico. Três anos antes uma ultraeconômica produção da Allied Artists também levou homens do Oeste a cavalgar pelas areias de Monterey. E mais que isso, com uma história bastante parecida com a do tumultuado faroeste de Brando. Tendo recebido o nada entusiasmante título nacional de “O Morto Venceu”, o que poderia levar a crer que, assim como muitos outros títulos estranhos, este filme tivesse mantido o mesmo título com que foi batizado em Portugal, o que não é verdade uma vez que nossos patrícios lusitanos o intitularam, mais apropriadamente, como “Traidores Infames”. Exibido recentemente na TV por assinatura, o canal Telecine Cult achou por bem mudar o jocoso título para “Duelo em Monterey”. Ocorre que a história, em sua maior parte, sequer transcorre em Monterey e sim em Del Rey. E mesmo o título original em Inglês (‘Gun Battle at Monterey’) engana o espectador porque não há nenhuma batalha em Monterey. Aliás não temos nem mesmo o aguardado duelo final neste western que começou a ser dirigido por Sidney Franklin Jr. e foi concluído com direção de Carl K. Hittleman, provavelmente descontente com o trabalho de Franklin Jr. Mas Hittleman também não conseguiu melhorar muita coisa porque este western é dos mais fracos.


Ted de Corsia
Um assalto, uma traição e uma captura - Um dos autores do roteiro original foi Jack Leonard, o mesmo que escreveu o excelente thriller policial “Rumo ao Inferno” em 1952. Em “O Morto Venceu” dois assaltantes de banco, após praticarem um assalto, se escondem num local à beira-mar. Um deles é Max Reno (Ted de Corsia) que decide ficar com o dinheiro do roubo só para ele e atira pelas costas no companheiro Jay Turner (Sterling Hayden) quando este distraidamente entra no mar. Reno acredita que Turner tenha morrido e o deixa para que as ondas o levem e os peixes o devorem. Aparece na praia a jovem Maria Salvador (Pamela Duncan) que resgata Turner ainda com vida, o leva para o pequeno rancho do pai e consegue curá-lo das feridas provocadas pelos tiros de Reno. Turner se recupera e parte determinado a se vingar, procurando seu quase assassino por várias cidades. Encontra-o em Del Rey, onde Max Reno se tornou dono do saloon local. Reno reconhece Turner que está sem barba, mas este o engana dizendo chamar-se ‘John York’. Turner/York é nomeado delegado de Del Rey e mais tarde revela sua real identidade para Reno, prendendo-o e o conduzindo até Monterey, onde ele é procurado por assassinato e por roubo a banco. Atendendo aos pedidos de Maria, Turner também se entrega e confessa ao xerife de Del Rey ser um dos assaltantes do banco.

Sterling Hayden
Confundindo Sterling Hayden - A princípio a história de “O Morto Venceu” desperta certo interesse, até pela similaridade com “A Face Oculta”. A trama, no entanto, se torna absurda quando o bandido Max Reno se deixa convencer que Turner não é Turner. Quer dizer, convencido mas nem tanto. E que não se pense que seu ex-comparsa usou algum disfarce que o tornasse irreconhecível pois o que fez apenas foi retirar a barba, barba rala por sinal. Imagina-se quantos homens tem a cara nórdica de Sterling Hayden, sua altura, porte físico, voz (inalterada), jeito de andar e a ironia em cada frase. Só mesmo se Ted de Corsia fosse substituído por Larry, Moe ou Curly...  Por fim vem a opção dos roteiristas por um desfecho inusitado, inconvincente e totalmente sem graça, sem o aguardado duelo prometido pelos títulos nacionais, mesmo porque o ‘morto’ não vence o oponente e acaba preso como ele. O que leva Turner a esse gesto tão honesto? O amor pela mexicana que lhe salvou a vida e que lhe pede para agir com nobreza de caráter incomum. Só que esse amor aflorou em algum momento que o filme deixou de mostrar. Nesse ponto merece ser comentado um pouco da personalidade do ator Sterling Hayden.

Sterling Hayden e Pamela Duncan; Pamela Duncan

Lee Van Cleef
Lee Van Cleef salva o filme - Lançado em Hollywood como ‘o homem mais bonito do cinema’, Sterling Hayden desde logo mostrou ser avesso ao star-system não permitindo ser usado pelos estúdios e pelos produtores. Ao contrário, ele é quem usava Hollywood ganhando dinheiro para fazer o que mais gostava na vida que era navegar pelos diversos mares. A indústria vingou-se dele rebaixando-o para filmes de categoria inferior, para não dizer ínfima. E o comportamento de Hayden é facilmente percebido na tela com o desdém com que interpreta Jay Turner mesmo sequências ‘de amor’. Daí que o menos provável é o que o roteiro tentou impor como solução, ou seja, que Turner tivesse se apaixonado pela mexicana. E Hayden não está sozinho ao não levar a sério esta produção já que o mesmo acontece com Ted de Corsia que claramente também não faz o mínimo esforço para ser o vilão cruel e ameaçador de tantos filmes. Mas nem tudo está perdido neste western porque Lee Van Cleef brilha com boa atuação como o traiçoeiro capanga, além da bonita e sensual Mary Beth Hughes como a moça má de coração de ouro.

Lee Van Cleef e Sterling Hayden; Ted de Corsia e Lee Van Cleef

Sterling Hayden
Direção claudicante - Sem duelos, sem ator principal comprometido e com roteiro e direção claudicantes, “O Morto Venceu” tem lugar assegurado entre os mais fracos westerns dos anos 50, década repleta de grandes westerns e de pequenos grandes westerns também. Sidney Franklin Jr. nunca mais dirigiu filme algum e Carl K. Hitleman, que dirigiu poucas vezes, atuando mais como produtor, também desistiu de dirigir. Ainda bem. Estes westerns menores utilizam atores que se especializam em papeis característicos como I. Stanford Jolley e Mauritz Hugo, ambos no elenco que traz ainda em uma única sequência Kermit Maynard. O irmão de Ken Maynard chegou a ser mocinho em pequenos westerns nos anos 30. Outra curiosidade é a presença de Pat Comiskey, ex-boxeur peso-pesado com o invejável retrospecto de ter nocauteado 60 oponentes em 87 lutas disputadas. Mary Beth Hughes que surgiu como uma bela promessa como atriz não chegou fazer sucesso, isto apesar de sua beleza. Sterling Hayden que já havia tido dias melhores no cinema, viria a ter momentos muito melhores pelas mãos de Stanley Kubrick e Francis Ford Coppola. O que o ajudou a se esquecer de filmes como “O Morto Venceu”.

Mary Beth Hughes; Mary Beth e Sterling Hayden