UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

31 de dezembro de 2011

CARAVANA DE BRAVOS (Wagon Master), ADMIRÁVEL PEQUENA JÓIA DO FAROESTE


O mais poético, singelo e agradável faroeste de John Ford é ao mesmo tempo o mais puro e menos conhecido de seus westerns. Rodado em 30 dias, quase que inteiramente em locações, com orçamento equivalente ao salário de um grande astro (Cooper, Wayne, Gable), "Caravana de Bravos" (Wagonmaster) é de um lirismo enternecedor que se assiste com enorme prazer. Sem exagero, é uma pequena obra-prima do Mestre das Pradarias. Pequeno porque tudo nele é cativantemente simples, desde seu elenco sem nenhuma estrela até sua concisão em meros 86 minutos narrando uma sucessão de incidentes


GRUPOS INDESEJÁVEIS - O próprio John Ford concebeu o roteiro de "Caravana de Bravos", roteiro assinado por seu filho Patrick Ford e que foi 'polido' por seu genro Frank S. Nugent. Praticamente não há uma história em "Caravana de Bravos", mas sim a narração da marcha de 60 mórmons rumo à Terra Prometida que fica além do Rio San Juan e das montanhas de Utah, em 1849, numa jornada que só é possível com muita coragem e fé na ajuda divina. E essa ajuda providencial chega aos religiosos através de Travis (Ben Johnson) e Sandy (Harry Carey Jr.), dois cowboys que vivem do comércio de cavalos. Os mórmons, liderados pelo Ministro Wiggs (Ward Bond) são indesejados na cidade de Crystal City e lhes é dado um prazo para deixar a cidade. Junta-se à caravana dos mórmons um grupo de quatro artistas de uma espécie de 'medicine show', que também não é aceito na cidade. Um terceiro grupo, o bando de cinco foras-da-lei chefiado por Uncle Shiloh Clegg (Charles Kemper) une-se também à caravana mórmon. O bando, acusado de roubo a banco e assassinato, é procurado pelo xerife de Crystal City (Clyff Lyons). Durante a jornada Uncle Shiloh subjuga toda a caravana porém ao final a ação heróica de Travis e Sandy liquida o bando e permite o final feliz da épica caminhada.

The Medicine Show (acima) e os mórmons

ATMOSFERA LÍRICA - Menos do que pretender contar uma história, "Caravana de Bravos" é uma visão otimista da conquista do Velho Oeste, onde raças, religiões e modos de vida possam coexistir respeitadas suas diferenças. Um perfeito retrato do encontro possível dos tipos que construíram uma nação. Católico que era, John Ford enaltece o estoicismo de um grupo religioso capaz de acreditar na força divina para superar as quase intransponíveis dificuldades geográficas, materiais e humanas. O diretor reuniu neste western uma série de elementos de alguns de seus grandes filmes que compuseram a chamada 'Americana', mosaico de diferentes épocas da formação da nação norte-americana. Realizado imediatamente após os bem sucedidos crítica e comercialmente "Sangue de Heróis" (Fort Apache) e "Legião Invencível" (She Wore a Yellow Ribbon), Ford substituiu a Cavalaria pelo grupo de mórmons peregrinos, mantendo igualmente o ideal de disciplina e comunidade. "Caravana de Bravos" guarda ainda ressonâncias com "Vinhas da Ira" (o sofrimento imposto aos seres humanos durante a longa jornada) e mais especialmente com os westerns "No Tempo das Diligências" (Stagecoach) e "Paixão dos Fortes" (My Darling Clementine). Deste último há a semelhança entre os bandos dos Clanton e Clegg e como na obra-prima de 1939 há o grupo heterogêneo que se reúne na caravana, bem como as figuras de 'Travis' e 'Ringo'. E desses memoráveis filmes John Ford manteve em "Caravana de Bravos" a lírica atmosfera que  somente seu gênio criador é capaz de realizar.


BEN JOHNSON, O HERÓI DISCRETO - A série de episódios que vão se sucedendo são relacionados entre si pela figura de Travis, cowboy de bom coração que se apieda dos mórmons e se deixa fascinar por Denver (Joanne Dru) 'artista' jovem mas com boa experiência de vida. E é Travis ainda quem, ajudado pelo parceiro Sandy se defronta com os brutais Cleggs. A escolha do então ainda quase desconhecido Ben Johnson para interpretar o cowboy Travis foi um acerto de John Ford. Ainda que esse personagem lembre bastante o 'Ringo' de "No Tempo das Diligências", somente um ator como Johnson poderia dar a Travis o tom discreto e anti-heróico do personagem. E se Travis tem de 'Ringo' a simpatia pelos desprezados pela sociedade, de certa forma ele antecipa o senso de justiça e respeito pelo ideal da comunidade de 'Shane'. De ambos Travis tem o passado obscuro e a coragem. E Ben Johnson incute em seu personagem uma irresistível simpatia ampliada pelo excepcional cavaleiro que o ator demonstra ser em momentos como o da maravilhosa cavalgada perseguido pelos navajos. Um crítico bem lembrou que Ben Johnson a cavalo é uma imagem plasticamente tão bonita quanto uma dança de Fred Astaire.


A ADORÁVEL JOANNE DRU - Além de Ben Johnson é Ward Bond quem sobe magnificamente o tom das interpretações como o mórmon praguejador ante as adversidades, ainda que seja humildemente capaz de pedir desculpas a seu próprio cavalo. Este western gerou anos mais tarde a série de TV "Wagon Train", grande sucesso estrelado por Ward Bond. Harry Carey Jr., Jane Darwell, Russell Simpson, Alan Mowbray, Charles Kemper encabeçam a enorme lista de atores característicos que dão a "Caravana de Bravos" o sabor unicamente encontrado nos filmes de John Ford. Como o diretor expressa o que quer dizer com poucas palavras, um simples gesto ou mesmo um olhar, os mórmons Elder Wiggs (Ward Bond) e Sister Ledeyard (Jane Darwell) flertam impudicamente com os mundanos artistas Fleuretty Phyffe (Ruth Clifford) e Dr. A. Locksley Hall (Alan Mowbray). E Sandy (Harry Carey Jr.) corteja abertamente a mórmon Prudence (Kathleen O'Malley). Mas o namoro de Travis com Denver (Joanne Dru) é que mais cativa o espectador. Alguns artistas tornam-se inesquecíveis devido a uma única interpretação e esse é o caso de Joanne Dru, a petulante Denver de "Caravana de Bravos". Joanne já era conhecida de "Rio Vermelho" (Red River) e de "Legião Invencível", mas em nenhum desses filmes teve oportunidade de mostrar o quanto podia ser divertida, provocante e adorável. Não sem razão o personagem de Joanne chama-se 'Denver' enquanto Claire Trevor era 'Dallas' a prostituta que conquista John Wayne em "No Tempo das Diligências". Assim como Claire, Joanne Dru quase tão coquette quanto La Dietrich também entrou para a galeria das personagens femininas maravilhosas dos faroestes.

A MÚSICA DE STAN JONES - Certamente "Caravana de Bravos" não seria tão perfeito se não contasse com as canções de Stan Jones que pontuam a marcha da caravana parecendo mesmo dar vigor e alegria a ela. E ouve-se The Sons of the Pioneers entoar as emocionantes "Wagons West" e "Song of the Wagons Master" ou a melancólica "Shadow in the Dust" ilustrando poeticamente as belíssimas imagens de Bert Glennon pelo Vale de Moab e pelo Colorado River, em Utah. E western de John Ford sem cena de baile não é completo e a alegre "Chuckawalla Swing", também de Stan Jones serve para a caravana dançar o Star Texas Square. Ford abre espaço até para Jane Darwell soprar seu 'horn' (berrante), Francis Ford bater um bumbo e Danny Borzage tocar seu acordeão. Há ainda o prazer de ver em cena Cliff Lyons comandando um grupo excepcional de stuntmen, entre eles 'Bad' Chuck Roberson (sendo alvejado e caindo sobre um cavalo), 'Good' Chuck Hayward, Fred Kennedy e Slim Hightower. "Caravana de Bravos" foi uma produção da Argosy (John Ford e Merian C. Cooper) e é um dos menos conhecidos westerns de John Ford, mas suficientemente conhecido para um crítico norte-americano ter afirmado no ano do lançamento em DVD: "Os dois acontecimentos culturais mais importantes do ano (2002) foram o relançamento remasterizado da obra do conjunto musical The Beatles e do DVD "Caravana de Bravos". Mais não é necessário dizer.

29 de dezembro de 2011

STAN JONES, O CHARLES RUSSELL DAS CANÇÕES DO VELHO OESTE


Em uma cena de "E o Céu Mandou Alguém" (3 Godfathers), rodado no Vale da Morte, na Califórnia, John Wayne deveria cortar um cacto e retirar água para o sedento bebê que Harry Carey Jr. segurava. Duke cortou o cacto e... nem uma gota d'água. Atrás da equipe que rodava a cena ouviu-se uma voz dizer que aquele tipo de cacto não tem água. John Ford que estava sentado dirigindo virou-se para trás e gritou: "Quem foi que falou isso?" Um guarda florestal (Park Ranger) respondeu: "Eu disse. Esse cacto não tem água nenhuma". Ford nervoso perguntou o que ele entendia de cactos. O guarda disse que há muito tempo trabalhava naquela região e tinha bom conhecimento sobre cactos. Ford perguntou ao guarda qual seu nome e a resposta foi: "Park Ranger Stan Jones, Mr. Ford". No dia seguinte Ford pediu para colocar um fino condutor dentro do cacto, acionado por uma bombinha cheia de água. John Wayne cortou o cacto, a bombinha foi apertada e jorrou água do cacto. Satisfeito com a cena Ford avisou que estava muito bom. Virou-se para trás e gritou "Onde está aquele Ranger Jones?" O guarda que assistia à cena se apresentou e Ford todo orgulhoso disse: "Ranger Jones, viu como aquele cacto tem água!?" Stan Jones deu uma gargalhada acompanhando Ford que também ria.


Acima Stan e Olive Jones

O PARK RANGER DO VALE DA MORTE - Stan Jones já havia servido de consultor técnico no faroeste "Sete Homens Maus" (The Walking Hills), de 1949 e estrelado por Randolph Scott, filme que teve locações no Vale da Morte. Nessa região do Arizona Jones fazia patrulhas ajudando turistas de todas as formas, inclusive trocando pneus ou repondo água nos radiadores dos automóveis quando estes secavam sob o inclemente sol daquela inóspita área. Stan Jones era Park Ranger desde os 26 anos. Nascido na cidade de Douglas, no Arizona, em 5 de junho de 1914, com o nome de Stanley Davis Jones, Stan aprendeu a montar aos 12 anos, idade em que já contava histórias estranhas sobre cowboys para os outros meninos. Histórias meio sobrenaturais que até assustavam os amiguinhos. Aos 20 anos Stan participava de rodeios como cowboy, no circuito de Los Angeles,  para onde sua família havia se mudado. Stan trabalhou também como mineiro e como bombeiro das brigadas que combatiam os incêndios florestais na Califórnia. Em 1940 Stan ingressou no National Park Service, tornando-se um guarda florestal. Durante a II Guerra Mundial Stan Jones atuou como instrutor de campo da Cruz Vermelha em Bend, no Oregon. Lá conheceu uma voluntária de 20 anos chamada Olive, com quem se casou. Finda a guerra Stan e Olive foram para o Death Valley, para onde ele como Park Ranger foi destacado para trabalhar.

Nas fotos abaixo Stan Jones em seu trabalho como Park Ranger do Death Valley em série de fotos  da revista "Life". O público queria muito conhecer quem era o Park Ranger que compôs a música de maior sucesso dos Estados Unidos em 1948.


UMA MÚSICA MUDOU SUA VIDA - Stan gostava daquele cenário infinito e do isolamento. Olive lhe deu um volão de presente e Stan começou a compor, tocar e cantar. Quando a equipe de "Sete Homens Maus" se reunia após as filmagens, Stan tocava suas músicas para alegrar a noite. O talento de Stan chamou à atenção de todos que insistiram para que ele procurasse uma editora para suas músicas. Uma pessoa do grupo, após ouvir uma música de Stan chamada "Ghost Herds in the Sky" se arrepiou de emoção e colocou Stan em contato com o cantor folclórico Burl Ives que foi o primeiro a gravar a canção. A equipe técnica do estúdio acabou divulgando a qualidade da música e Bing Crosby, Peggy Lee e Vaughn Monroe também gravaram a música de Stan quase que simultaneamente com o título alterado para "(Ghost) Riders in the Sky". O estrondoso sucesso nacional daquela canção diferente de tudo que se fazia no mundo da música folk ou country, tornou Stan Jones repentinamente famoso. O único norte-americano que não o conhecia Stan Jones era John Ford. Ou melhor, conhecia sim, era o Ranger Jones da história do cacto sem água.

ROY ROGERS NÃO! - George O'Brien convidou Stan Jones para ir até sua casa e chamou também Harry Carey Jr. A intenção de O'Brien era apresentar Stan Jones a John Ford e lá foi o trio até o escritório de Ford. O'Brien avisou ao Pappy que ele iria conhecer um compositor extraordinário. O imprevisível John Ford reconheceu Jones mas não fez referência ao encontro no Death Valley, somente dizendo: "Então o Ranger Jones sabe cantar? Cante uma música para eu escutar." Por incrível que pareça Ford não conhecia "(Ghost) Riders in the Sky" que tocava em todas as rádios do país e Jones disse a ele que iria cantar essa música. Após a audição Ford gostou bastante e ficou sabendo que a canção havia se tornado um sucesso nacional. O'Brien e Dobe Carey estavam felizes pois o Mestre das Pradarias estava contente com o 'Ranger Jones'. Stan então disse a Ford que havia composto uma espécie de sequência de "(Ghost) Riders in the Sky", canção chamada "Wagons West". Ford ouviu a canção e disse a Stan que queria usá-la em seu próximo western, que se chamaria "Wagon Master" (Caravana de Bravos), mas falou a Stan que precisava de mais umas três músicas para o filme, perguntando se o Ranger Jones conseguiria compô-las bem depressa. Stan respondeu que poderia trazê-las no dia seguinte. Ford então pediu a sua secretária que trouxesse um roteiro de "Wagon Master" para Stan Jones levar para casa, ler e compor as músicas. Ford ainda perguntou a Stan quem poderia cantá-las e Stan perguntou a Ford se ele conhecia 'The Sons of the Pioneers'. Ford perguntou se era outra música e Stan explicou que era um grupo vocal liderado por Bob Nolan e que Roy Rogers começara no grupo. John Ford então exclamou: "O quê?! Você quer que eu coloque Roy Rogers no meu filme? Nada disso. Os heróis serão Dobe Carey e Ben Johnson." Desfeita a confusão, Ford gostou da idéia de as canções serem cantadas por esse grupo vocal cujo nome ele ficou repetindo várias vezes pois gostara muito.

Harry Carey Jr. e Roy Barcroft em cena
na série "Spin and Marty"
O ATOR STAN JONES - "Caravana de Bravos" foi a primeira colaboração de Stan Jones para westerns de John Ford. A seguir veio nova colaboração em "Rio Grande", em que Stan Jones teve pequena participação como ator mas viu três de suas canções serem usadas na trilha sonora . Com o dinheiro ganho com os direitos autorais de "(Ghost) Riders in the Sky", a solicitação de novas músicas e os convites que chegavam para se tornar ator, Stan Jones deixou o National Park Service, comprando uma propriedade em Tarzana, Los Angeles, tendo como vizinho o cowboy Rex Allen. O novo filme de Gene Autry, em 1951 chamou-se "Whirlwind", título de uma canção composta por Stan Jones e cantada no filme por Autry. Jones teve uma participação como ator nesse filme. O amigo e vizinho Rex Allen também chamou Stan Jones para atuar em seu próximo faroeste que se chamou "O Último Mosqueteiro" (The Last Musketeer), em 1952, dirigido por William Witney. A carreira de ator de Stan Jones teve uma interrupação e ele só voltaria a atuar em 1955, apresentado a Walt Disney por Rex Allen. Stan foi contratado para atuar na nova série de TV "As Aventuras de Spin e Marty", série na qual atuavam Harry Carey Jr. e Roy Barcroft, entre outros. Stan Jones atuou nas duas primeiras temporadas e compôs várias canções para o programa. Stan participou como ator do filme "Spin and Marty - The Movie", espécie de piloto da série de TV.

John Ford
PAREM COM ESSA MAZURKA! - 1956 foi um ano positivo para Stan Jones que teve participação como ator em "Lágrimas do Céu", estrelado por Burt Lancaster e Katharine Hepburn e em "Têmpera de Bravos" (The Great Locomotive Chase), eletrizante faroeste sobre a Guerra Civil produzido pela Disney e estrelado por Fess Parker. Nesse mesmo ano Stan Jones assinou contrato para co-estrelar a série de TV "Sheriff de Cochise", que posteriormente teve o título mudado para "U.S. Marshal". John Bromfield foi o principal ator dessa série em que Stan Jones interpretou o Delegado Harry Olson. A música-tema do seriado "Cheyenne" têm Stan Jones como co-autor. Em 1956 o western "Rastros de Ódio" havia ficado pronto mas John Ford não deixou lançar o filme com o tema-musical criado por Max Steiner, pedindo então ao Ranger Jones para compor uma canção mais adequada à introdução e final do filme. Jones compôs "The Searchers", que foi cantada pelo "The Sons of the Pioneers" completando o início e final mais bonitos e emocionantes de toda a história dos faroestes no cinema.
Ler mais no post "Parem com esssa mazurka", neste blog.

Stan Jones como Ulysses S. Grant
A MORTE PREMATURA - O novo encontro de Stan Jones com John Ford aconteceu em 1959 quando Ford dirigiu "Marcha de Heróis" (The Horse Soldiers). Na trilha sonora Ford queria usar canções tradicionais da Guerra Civil como "When Johnny Comes Marching Home", "The Bonnie Blue Flag" e "Dixie", pedindo a Stan Jones que compusesse uma música de cavalaria para as sequências de marcha dos soldados. Stan compôs então a alegre "I Left my Love", canção que não sai da cabeça após assistir a "Marcha de Heróis". Em agradecimento Ford deu a Stan Jones o papel do Gen. Ulysses S. Grant nesse filme estrelado por John Wayne e William Holden. Em 1960 Stan Jones atuou na produção da Disney "Ten Who Dared", estrelada por Brian Keith e ainda em três episódios da série "Abertura Disneylândia". O último trabalho como ator de Stan Jones foi em "Convite a um Pistoleiro" (Invitation to a Gunfighter), lançado em 1964 mas rodado em 1963. Stan Jones faleceu em dezembro de 1963, aos 49 anos, vítima de câncer, sendo enterrado num pequeno cemitério em sua cidade natal de Douglas.

O POETA DO VELHO OESTE - Provavelmente Stan Jones tenha sido a pessoa mais importante nascida em Douglas, deixando uma obra musical com mais de 200 composições, a mais importante delas, sem dúvida, a imortal "(Ghost) Riders in the Sky". Como cantor Stan Jones deixou apenas dois álbuns gravados em 1958 na Buena Vista Records, o primeiro "Creakin' Leather", relançado como "Ghost Riders in the sky" e "This Was the West". Este último com título bastante apropriado para a obra de Stan Jones que, como nenhum outro compositor descreveu as belezas das pradarias, dos rios e dos lagos, a majestade das montanhas. Ouvir as músicas de Stan Jones é sentir a solidão e a melancolia dos cowboys, conhecer suas paixões, suas aventuras e amor pelo melhor amigo, sua montaria. A melhor definição da música de Stan Jones talvez seja a feita por Marilyn Carey, filha de Paul Fix e esposa de Harry 'Dobe' Carey Jr.: "Stan Jones representou para a música dos cowboys o mesmo que a pintura de Charles Russell significou para o Velho Oeste".

"CAVALEIROS DO CÉU" (RIDERS IN THE SKY), A FANTÁSTICA CANÇÃO DE STAN JONES


Se fosse feita uma enquete para se saber qual a mais representativa canção sobre cowboys até hoje composta, certamente "(Ghost) Riders in the Sky" seria a vencedora. Essa emocionante canção de autoria de Stan Jones fala de um conto popular em que um cowboy tem a estranha visão de um estouro de gado tonitroando pelo céu. O gado tem olhos vermelhos e patas de aço e a manada é perseguida por cowboys amaldiçoados.

SUCESSO COM VAUGHN MONROE - "(Ghost) Riders in the Sky" foi composta por Stan Jones em 5 de junho de 1948 e gravada inicialmente por Burl Ives em fevereiro de 1949. Outros artistas também se interessaram em gravar a canção de Stan Jones, entre eles Bing Crosby, Peggy Lee, a orquestra maluca de Spike Jones, Gene Autry e Vaughn Monroe. Este último era um band-leader e comandava sua orquestra na qual também era cantor com sua voz de barítono. A Orquestra de Vaughn Monroe tocava um pouco de tudo e isso explica porque ele gravou "(Ghost) Riders in the Sky" que era uma canção country. Mas foi justamente a gravação de Vaughn Monroe que atingiu o primeiro lugar do Billboard Best Sellers, onde ficou por dez semanas no encabeçando a lista dos discos mais vendidos. As demais gravações também venderam razoavelmente, o que fez da canção de Stan Jones a mais vendida de 1949. Aproveitando-se do inusitado sucesso fonográfico, Vaughn Monroe deixou sua orquestra de lado para atuar no faroeste "Armas Fumegantes" (Singin' Guns), em 1950, ao lado de Ella Raines e Walter Brennan. Porém sua carreira como 'ator' não teve o mesmo sucesso e Monroe logo deixou de ser mocinho no cinema. Gene Autry foi outro que também não perdeu tempo e em 1949, com o sucesso da música encomendou um roteiro que envolvesse a história da canção e lançou oportunisticamente o western B "Cavaleiros do Céu" (Riders in the Sky).


MAIS DE UMA CENTENA DE GRAVAÇÕES - Através dos anos "(Ghost) Riders in the Sky" nunca deixou de ser gravada e executada, tornando-se um verdadeiro hino do gênero Cowboy Music. Poucas músicas do cancioneiro norte-americano superaram "(Ghost) Riders in the Sky" em número de gravações e entre os artistas mais famosos que gravaram a canção de Stan Jones estão, além dos já citados, Frankie Laine, Dean Martin, Marty Robbins, Johnny Cash, Roy Rogers, Elvis Presley, Lorne Greene, The Outlaws (Willie Nelson, Kris Kristofferson, Waylon Jennings), The Brothers Four, Duanne Eddy, The Shadows, The Ventures, Boston Pop Orchestra e Lawrence Welk. Como não poderia deixar de ser, "(Ghost) Riders in the Sky" ultrapassou fronteiras e teve gravações, entre outras do mexicano Pedro Vargas ("Jinetes en el Cielo") e no Brasil com o título de "Cavaleiros do Céu" por Carlos Gonzaga e Milton Nascimento, este último no álbum "Caçador de Mim", de 1981. Um dos mais espetaculares aproveitamentos de "(Ghost) Riders in the Sky" ocorreu no filme "Blue Brothers 2000", interpretada por John Goodman e Dan Aykroid. A fama da canção de Stan Jones fez com que um trio de country-music a adotasse, em 1977, como próprio nome do conjunto, o famoso "Riders in the Sky". Essa banda existe até hoje, tendo posteriormente virado um quarteto.

CANÇÃO DE METALEIROS - A melodia composta por Stan Jones para "(Ghost) Riders in the Sky" guarda enorme semelhança com a tradicional "When Johnny Comes Marching Home". A banda The Doors inspirou-se na canção de Stan Jones para compor um de seus grandes sucessos que foi "Riders in the Storm". O andamento da composição de Stan Jones permite facilmente a adaptação para rock e inúmeras bandas de heavy metal a utilizam em seus shows para incendiar a platéia. Naquele ano de 1948, o tranquilo e modesto Stan Jones jamais poderia suspeitar que sua trepidante e pungente canção se tornasse eterna e caísse no agrado de pessoas tão diferentes como cowboys e metaleiros, ainda que haja muitos roqueiros-cowboys como o amigo Wilton Christiano, lá de Americana, SP, seguidor deste blog. Abaixo, a letra original e um vídeo com "(Ghost) Riders in the Sky" cantada por Vaughn Monroe.
Stan Jones

(GHOST) RIDERS IN THE SKY


An old cowboy went riding out one dark and windy day
Upon a ridge he rested as he went along his way
When all at once a mighty herd of red eyed cows he saw
A-plowing through the ragged sky and up the cloudy draw

Their brands were still on fire and their hooves were made of steel
Their horns were black and shiny and their hot breath he could feel
A bolt of fear went through him as they thundered through the sky
For he saw the Riders coming hard and he heard their mournful cry

Yippie yi ooh / Yippie yi yay / Ghost Riders in the sky

Their faces gaunt, their eyes were blurred, their shirts all soaked with sweat
He's riding hard to catch that herd, but he ain't caught 'em yet
'Cause they've got to ride forever on that range up in the sky
On horses snorting fire
As they ride on hear their cry

As the riders loped on by him he heard one call his name
If you want to save your soul from Hell a-riding on our range
Then cowboy change your ways today or with us you will ride
Trying to catch the Devil's herd, across these endless skies

Yippie yi ooh / Yippie yi yay
Ghost Riders in the sky
Ghost Riders in the sky
Ghost Riders in the sky


27 de dezembro de 2011

O CONFLITO ENTRE WILLIAM WYLER E GREGORY PECK EM “DA TERRA NASCEM OS HOMENS”


“Da Terra Nascem os Homens” (The Big Country) é um filme grandioso e está entre os westerns preferidos de muitos cinéfilos. Grandes atuações, grandes cenários, belíssima cinematografia e tema musical de Jerome Moross que está entre os melhores, senão o melhor, do gênero. Porém engana-se quem pensa que esse foi um filme fácil de ser feito, mesmo tendo sido dirigido por William Wyler, diretor indicado 12 vezes para o prêmio Oscar, levando a famosa estatueta para casa por três vezes como Melhor Diretor, sendo ainda o recordista de atores indicados como melhores atores ou atrizes (nada menos de 30 vezes, com uma dúzia de vitoriosos) sob sua direção. Gregory Peck já havia atuado uma vez sob a a direção de Wyler em "A Princesa e o Plebeu". Os problemas do veterano diretor em “Da Terra Nascem os Homens” começaram logo no primeiro dia de filmagens com o excesso de pessoas chamadas ‘Chuck’...

Chuck Heston, Chuck Connors (acima);
Chuck Roberson e Chuck Hayward (abaixo).
CONGRESSO DE ‘CHUCKS’ - ‘Chuck’ é um apelido comum para quem se chama Charles, mas pode ser dado também a portadores de outros nomes, como por exemplo Charlton Heston. Chamado formalmente de Mr. Heston, os amigos somente o chamam de ‘Chuck’. Em “Da Terra Nascem os Homens” havia, além de ‘Chuck’ Heston, outros três ‘Chucks’: Chuck Hayward (Charles B. Hayward), Chuck Roberson (Charles Hugh Roberson) e Chuck Connors (Kevin Joseph Aloysius Connors). E não foram contados Chuck Hammon (responsável pelo transporte) e Chuck Gay (Charles Gay), do Departamento de Arte. Com mais de 30 anos dirigindo filmes, o alemão William Wyler fez uso de sua experiência determinando que Heston seria o ‘Chuck One’, Connors seria o ‘Chuck Two’, Hayward seria o ‘Chuck Three’ e Roberson seria o ‘Chuck Four’. Quando Wyler gritava ‘Chuck Two’, Connors se apresentava e assim por diante. Esse problema nominal foi de fácil solução. Muito mais difícil para Wyler foi se entender com Gregory Peck.

Atores e técnicos de "Da Terra Nascem os Homens":
da esq. para dir.: Bickford (3.º); Burl Ives (4.º); Peck (5.º);
Roberson (6.º); Bob Morgan (9.º); Hayward (10.º);
Heston (11.º) e Connors (último à direita).

Wyler dirigindo a sequência do conflito
e orientando Peck e Carroll Baker
ÉTICA OU ARTE - William Wyler e Gregory Peck eram os produtores de “Da Terra Nascem os Homens”, sentindo-se cada um com direito e obrigação de realizar o melhor dos filmes. Numa das primeiras cenas filmadas, aquela em que James McKay (Peck) chega à Fazenda do Major Terrill (Charles Bickford) e é recebido no caminho por Pat Terrill (Carroll Baker), ocorreu o conflito que fez com que Peck e Wyler deixassem de se falar. William Wyler gostava de rodar inúmeros takes de uma cena até ficar satisfeito e não raro rodava a mesma cena oito e até dez vezes. Porém nas tomadas feitas da charrete guiada por Peck, Wyler entendeu que elas haviam ficado perfeitas sem necessidade de repeti-las. Gregory Peck, porém, achou que poderia fazer melhor e queria que a câmara permanecesse em close em seu rosto por mais tempo. Wyler prometeu a Peck que depois da sequência editada eles a assistiriam e caso Peck não ficasse satisfeito, aí então refariam algumas tomadas. Após assistir à cena nos 'dailies' (exibição das tomadas do dia), Gregory Peck disse a Wyler que deveriam refilmá-la. Wyler respondeu que havia ficado bom e que não refaria o trabalho. Peck argumentou que ele havia assumido um compromisso e estava faltando com sua palavra, o que para Peck significava falta de ética. Wyler retrucou que, para ele, a Arte estava acima da Ética. E não mais falaram sobre a cena e não mais se falaram durante o resto das filmagens, dificultando com isso o relacionamento com os demais membros da produção, entre eles os muitos ‘Chucks’. Se a sequência não é primorosa pode-se afirmar que ficou excelente, assim como o resultado final de “Da Terra Nascem os Homens”, o que só comprova o grande diretor que era William Wyler.

Acima Wyler com Heston
e Stephen Boyd e
abaixo com o Oscar
recebido por "Ben-Hur"
REENCONTRO NA ENTREGA DO OSCAR - Gregory Peck e William Wyler ficaram três anos sem se falar, até que se reencontraram no dia 17 de abril de 1960, no Santa Monica Civic Auditorium, em Los Angeles, na noite da premiação da Academia de Artes e Ciências de Hollywood. Wyler recebeu o Oscar de Melhor Diretor por "Ben-Hur" e estava saindo do palco com o prêmio nas mãos quando adentrou o palco justamente Gregory Peck para entregar o prêmio seguinte. Wyler e Peck se encontraram na frente dos quase dois mil atentos convidados que nem piscavam para ver o que aconteceria. Gregory Peck parou, esticou a mão direita para Wyler cumprimentando-o pelo prêmio recebido. O diretor passou o Oscar para a mão esquerda e retribuiu o cumprimento, sorrindo e dizendo a Gregory Peck: “Não adianta insistir que eu não vou refazer aquela cena de jeito nenhum...”. Peck sorriu e foi entregar o prêmio para Charlton ‘Chuck’ Heston por sua interpretação como 'Judah Ben-Hur'. Acredita-se que a verdadeira origem da hostilidade entre Peck e Wyler seriam as diferenças políticas do ator que era Republicano e conservador e o Democrata William Wyler que flertava com a esquerda. Wyler queria fazer de “Da Terra Nascem os Homens” uma alegoria à Guerra Fria entre as duas maiores potências (Estados Unidos e União Soviética) que à época dominavam o cenário político mundial. Se todos os conflitos de bastidores resultassem em tão bons filmes como “Da Terra Nascem os Homens”, todos deveriam brigar sempre nos sets de filmagens...

26 de dezembro de 2011

ANDREW V. McLAGLEN DIRIGINDO AS ‘FERAS’ DOUGLAS, MITCHUM E WIDMARK


Ele tinha dois metros e mais um centímetro de altura e com esse tamanho todo, às vezes surgiam dificuldades para ele lidar com os astros de Holywood. Andy, como era carinhosamente chamado pelos amigos era uma pessoa educada, respeitosa, calma e jamais fazia valer seu status de diretor junto àqueles a quem dirigia, fossem eles artistas famosos ou não ou técnicos e ajudantes de produção. Andrew McLaglen aprendeu bastante com John Ford, de quem foi assistente de direção em “Depois do Vendaval”. Talvez mesmo um pouco de sua personalidade tenha sido moldada por ter presenciado a tudo que o genial e genioso John Ford tenha feito com seu pai, Victor McLaglen, nesse inesquecível filme. Andy testemunhou seu pai ser humilhado inúmeras vezes por John Ford, sem nada poder fazer a não ser aprender a lição de vida de como lidar com pessoas de temperamento difícil. E esse tipo de gente era o que mais havia em Hollywood.

McLaglen dirigindo (acima) e
os três grandes atores abaixo
DIRIGINDO UM TRIO DE FERAS - Andrew V. McLaglen já havia dirigido John Wayne e James Stewart, no cinema, bem como Clint Eastwood, James Arness e Richard Boone, estes em suas séries de TV. Todos adoravam trabalhar com Andy que se revelou um diretor especialista em westerns. Nascido na Inglaterra, Andrew V. McLaglen teria, em 1967, sua prova de fogo quando foi contratado pelo produtor Harold Hecht para dirigir “Desbravando o Oeste” (The Way West). Hecht, que também sofrera muitas humilhações quando era sócio de Burt Lancaster na Hecht-Lancaster Productions, avisou a McLaglen que seria mais difícil lidar com o elenco, do que realizar aquele faroeste que narra de forma épica as aventuras de famílias que iriam colonizar o Oregon. Os três atores que encabeçavam o elenco de “Desbravando o Oeste” eram Kirk Douglas, Richard Widmark e Robert Mitchum. O papel do Senador ‘William J. Tadlock’, que lidera a caravana foi reservado para Kirk Douglas. Harold Hecht e Andrew V. McLaglen então perguntaram a Mitchum qual papel ele gostaria de interpretar, o do batedor ou o do principal colono da caravana. Mitchum, com seu jeitão tranquilo respondeu: “I don’t care...” (tanto faz). Então Bob ficou com a parte do batedor ‘Dick Summers’ e Richard Widmark interpretou o colono ‘Lije Evans’.

Kirk, Richard
e Bob Mitchum
A PSICOLOGIA DE UM DIRETOR - Andrew V. McLaglen conseguiu domar um pouco o egocentrismo de Kirk Douglas, mas mesmo assim o ator despertou bastante antipatia durante as filmagens de “Desbravando o Oeste”, especialmente entre os atores do segundo escalão como Harry Carey Jr. e Jack Elam. Por outro lado, Bob Mitchum e Richard Widmark se entenderam bastante bem e Douglas respeitou o talento de Dick Widmark. Não houve hostilidades declaradas entre nenhum dos três e a expectativa de um conflito entre Kirk Douglas e Bob Mitchum ou mesmo entre Douglas e Widmark foi frustrada e nunca ocorreu. Esse fato chamou a atenção de todos ligados ao mundo do cinema e somente anos depois McLaglen explicou sua ‘psicologia’ para lidar com os atores. Contou Andy que o único problema que tinha com Mitchum era que ele gostava de pescar e por vezes se afastava dos locais de filmagem para pescar no Crooke River Gorge, no Oregon. Comentava-se que Bob Mitchum era encontrado devido ao cheiro forte daquele cigarro que ele costumava fumar. Já Widmark, segundo McLaglen, era o que se pode chamar de profissional perfeito, estupendo mesmo. Quanto a Kirk Douglas, McLaglen usava uma estratégia diferente e quando rodava uma cena com Douglas, não dizia somente “cut”, ao final da sequência. Dizia sempre: “Ótimo, Kirk!”, “Douglas, ficou perfeito!”, “Magnífico, Kirk!”. O ego de Kirk Douglas se inflava feito o papo de sapo e ele se sentia o maior ator de todos os tempos, não precisando demonstrar isso a ninguém.

Andrew V. McLaglen
UM PRÊMIO PARA McLAGLEN - “Desbravando o Oeste” é um belo faroeste-épico, destacando-se a maravilhosa cinematografia de William H. Clothier. Na guerra de performances o vitorioso foi Robert Mitchum, seguido por Richard Widmark. Os excessos de Kirk Douglas são percebidos em cada cena e acabaram comprometendo ligeiramente o filme. Sempre que fala de “Desbravando o Oeste”, McLaglen lamenta que Harold Hecht haja permitido que a United Artists tenha cortado 20 minutos do filme, prejudicando-o enormemente. Esse faroeste não recebeu nenhum prêmio, o que é uma grande injustiça, pois seu diretor, Andrew V. McLaglen, bem que merecia um prêmio por ter conseguido com sua calma e psicologia ter realizado todo o filme sem maiores problemas de relacionamento entre os três difíceis astros do elenco. Este foi o primeiro filme da atriz Sally Field, então com 21 anos. Alguns anos depois de “Desbravando o Oeste” Sally Field viria a ser premiada duas vezes com o Oscar, o que certamente faria Kirk Douglas sofrer um pouquinho mais. Como se sabe, esse grande e injustiçado ator concorreu por três vezes ao prêmio de Melhor Ator pela Academia de Artes de Hollywood, perdendo todas as vezes. Concorreu também por três vezes ao prêmio Emmy de Melhor Ator de Televisão e igualmente foi sempre derrotado. Andrew V. McLaglen, por sua vez, recebeu um único prêmio em toda sua carreira, o Golden Boot Award, em 1991. Esse prêmio é dedicado àqueles que deram significativa contribuição ao gênero Western, no cinema e na televisão. Mais que merecido, no caso de Andrew V. McLaglen que juntamente com Burt Kennedy foram os últimos diretores especialistas em faroestes.

21 de dezembro de 2011

RETROSPECTIVA CINEWESTERNMANIA 2011

No seu primeiro ano de existência o blog CINEWESTERNMANIA totalizou
349 postagens. Foram resenhas de faroestes, biografias, histórias de bastidores,
Cinetestemanias, vídeos, variedades e os Top-Ten Westerns dos experts.
As aberturas de todas essas postagens estão reunidas nos seis vídeos abaixo e o
leitor pode rapidamente relembrar as matérias lidas nos onze meses do blog.
Feliz Natal a todos.

RESENHAS DE FILMES



BIOGRAFIAS



BASTIDORES




TOP-TEN WESTERNS




CINETESTEMANIA - GRANDES QUADRILHAS





ENQUETES E VARIEDADES




20 de dezembro de 2011

PISTOLAS FLAMEJANTES (Blazing Guns) – HOOT GIBSON E KEN MAYNARD


No final dos anos 20 Ken Maynard e Hoot Gibson eram os mocinhos mais populares do cinema, à frente até mesmo de Tom Mix e Buck Jones. Nos anos 30 tanto Ken Maynard quanto Hoot Gibson já não mais faziam parte do primeiro time dos cowboys favoritos do público. A perda de popularidade de ambos era proporcional aos quilos a mais que exibiam nas apertadas roupas de cowboy que usavam. Mesmo assim, com as roliças cinturas, foram contratados pela Monogram Pictures no início dos anos 40 para cavalgarem como os Trail Blazers. A reunião de antigos mocinhos era uma estratégia dos pequenos estúdios para enfrentar a nova safra de mocinhos como Roy Rogers, Charles Starrett, Gene Autry,  William Boyd, Bill Elliott e Allan Lane que eram os preferidos dos frequentadores das matinês. Entre os westerns “B” que Hoot Gibson e Ken Maynard atuaram juntos como Trail Blazers está “Pistolas Flamejantes” (Blazing Guns), de 1943.


LeRoy Mason ameaçado por Ken Maynard
BANDIDOS DO LADO DA LEI - Escrito e dirigido por Robert Emmett Tansey, “Pistolas Flamejantes” começa com a o Governador  Brighton (Lloyd Ingraham), convocando os delegados Ken Maynard e Hoot Gibson para apaziguar a cidade de Willow Springs que está à mercê do poderoso Duke Wade (LeRoy Mason). Maynard e Gibson levam juntos o amigo Eagle-Eye (Emmett Lynn). Duke Wade tem Vic (Weldon Heyburn) como capanga principal de um bando formado por Blackie (Charles King), Red Higgins (Keene Duncan) e Trigger (Dan White), entre outros malfeitores. Além deles Wade controla também o covarde Juiz Foster (John Bridges). Duke Wade tem um irmão chamado Jim Wade (Roy Brent) de quem quer se livrar para se apossar da terras do próprio irmão. Para enfrentar o poderoso bando de Duke Wade, os delegados Maynard e Gibson concebem um plano ousado que é libertar os bandidos Cactus Joe (Eddie Gribbon), Lefty (Frank Ellis) e George Kamel (Weasel) para que estes se infiltrem junto à quadrilha. Mesmo com Weasel traindo os delegados Maynard e Gibson, estes ajudados por Cactus Joe, Lefty e Eagle Eye conseguem exterminar a quadrilha de Duke Wade e limpar a cidade de Willow Spings que volta  a ter paz.


Quase todo o elenco de "Pistolas Flamejantes" em cena.

Nas fotos menores os bandidos Dan White e
Charles King; à direita Hoot Gibson com seu
ar de deboche ao lado de Ken Maynard
UM WESTERN QUASE CÔMICO - Essa história rotineira é conduzida com razoável ritmo e interesse, ainda que tudo seja previsível. As cenas de ação com a participação de Hoot Gibson beiram a comédia provocando mesmo boas risadas, o que compensa sua falta de mobilidade. O mesmo não pode ser dito de Ken Maynard que substituído por um dublê(*) nas sequências de troca de socos, se mostra lento e pesado para montar e caminhar, não tendo o histrionismo de Gibson.  É com tristeza que se assiste a “Pistolas Flamejantes”, constatando-se as presenças de Ken Maynard e Hoot Gibson envelhecidos e fora de forma, longe dos tempos em que eram mocinhos incomparáveis sobre seus cavalos. Nas sequências em que participa o cavalo Tarzan, de Ken Maynard, o animal rouba totalmente as cenas com sua inteligência e beleza. Emmett Lynn é responsável pelos momentos de comédia e é bastante engraçado como o velhote Eagle Eyes. O bandidão LeRoy Mason deixa sempre a impressão que poderia ser um homem mau na linhagem de Roy Barcroft ou Harry Woods mas fica longe desses dois excepcionais vilões. Bons momentos de comédia são proporcionados nos embates entre Hoot Gibson e Charles King, este sempre como vítima, o que leva a crer que o diretor Tamsey apostou mais no tom engraçado do que na ação intrépida que levava ao delírio o público infanto-juvenil desses westerns.

* No time de dublês de "Pistolas Flamejantes" atuaram Ben Johnson e Cliff Lyons, dois dos melhores stuntmen de todos os tempos.

Acima Ken Maynard em 1970 (foto à esquerda)
e Hoot Gibson com John Wayne em "Marcha
de Heróis"; abaixo os Trail Blazers Hoot e Ken
AVIÕES E POBREZA - Ken Maynard deixaria a seguir os Trail Blazers e encerraria a carreira de ator, enquanto Hoot Gibson permaneceria até o final da série, em 1945. Nenhum dos dois teria novas oportunidades como mocinhos no cinema. Tanto Maynard quanto Gibson estavam entre os atores mais bem pagos dos westerns “B”, mas gastavam o que ganhavam com a mesma rapidez com que faziam seus pequenos faroestes. Ambos tinham a aviação como hobby, cada um possuindo seu próprio avião. Certa ocasião quando faziam peripécias no ar Hoot Gibson perdeu o controle do seu pequeno avião que se espatifou no chão, com Gibson salvando-se por verdadeiro milagre. Ken Maynard sempre teve o vício da bebida e no final da vida morava num trailler, vindo a falecer em 1973, aos 77 anos. O final de Hoot Gibson não foi muito melhor e em 1960 o amigo John Ford lhe garantiu alguns poucos milhares de dólares por uma pequena participação em “Marcha de Heróis” (The Horse Soldiers). Esse dinheiro recebido o ajudou nos dois anos seguintes em que sobreviveu, pois Gibson faleceu em 1962, aos 70 anos de idade. Tristes finais de vida para dois atores que marcaram uma geração de fãs de faroestes. “Pistolas Flamejantes”  não é o filme indicado para quem quiser conhecer verdadeiramente os arrojados mocinhos e excepcionais cavaleiros que foram Hoot Gibson e Ken Maynard.

18 de dezembro de 2011

GLENN FORD CONTRA RUSS TAMBLYN EM "GATILHO RELÂMPAGO"


Em 1956 Glenn Ford era um dos principais astros de Hollywood e como todo grande astro Glenn tinha muitas regalias durante as filmagens e tinha também certos poderes. "Gatilho Relâmpago" (The Fastest Gun Alive) era uma produção modesta para os padrões da MGM, com um diretor (Russell Rouse) que havia dirigido apenas quatro filmes que ninguém lembrava quais eram. No elenco, com exceção de Glenn Ford e Broderick Crawford, não havia nenhum outro nome de peso. Mesmo Jeanne Crain, apesar de todas as oportunidades que havia tido na 20th Century-Fox, nunca se consagrara como grande estrela. "Gatilho Relâmpago" deveria ser mais um veículo para o estrelato de Glenn Ford com o risco de Broderick roubar o filme, como costumava fazer. Mas Glenn Ford estava preparado para enfrentar Crawford porque, afinal de contas, Glenn era um excelente ator. A MGM tinha sob contrato uma jovem promessa chamada Russ Tamblyn e queria projetar Russ, que agradara em cheio em "Sete Noivas para Sete Irmãos", escalando-o para o faroeste com Glenn Ford.

O espetacular número acrobático de Russ Tamblyn
O VETO DE GLENN FORD - Russ Tamblyn não era exatamente um dançarino e sim um verdadeiro acrobata. O roteiro de "Gatilho Relâmpago" previa apenas uma sequência de dança durante uma festa, com participação de Russ que não ficou nada satisfeito pois queria mesmo era ter mais falas, interpretar e, por que não, até reeditar os empolgantes números de dança acrobática que havia feito em "Sete Noivas para Sete Irmãos". Para "Gatilho Relâmpago" Russ ensaiou com o coreógrafo Alex Romero e ficou claro que aquele seria um número espetacular. O roteiro indicava que Glenn Ford deveria estar presente no set de filmagem adaptado para ser um enorme celeiro onde ocorreria a festa. Porém Glenn filmou suas tomadas nas quais aparece sentado num canto, acabrunhado e depois foi dispensado. Após exaustivos ensaios a sequência de dança foi filmada em poucos takes e logo se espalhou o comentário que o número havia ficado espetacular. Glenn Ford se sentiu incomodado, pensando que agora teria que enfrentar o talento de Broderick e também a arte do rapazola dançarino. Glenn não teve dúvidas e procurou um executivo do estúdio explicando que não queria aquele número em "Gatilho Relâmpago". Como a retirada da sequência de dança não interferiria no desenrolar da trama, a MGM concordou e o modesto "Gatilho Relâmpago" foi editado sem a sequência com Tamblyn dançando.

NOME MANTIDO NOS CRÉDITOS - E "Gatilho Relâmpago" foi lançado sem a sequência de dança no celeiro. Porém os créditos do filme já estavam prontos e neles constava o número coreografado por Alex Romero (foto ao lado) e o público que assistia ao faroeste se perguntava, mas onde foi parar o tal número de dança? Executivos da MGM se reuniram e decidiram que seria melhor reeditar "Gatilho Relâmpago" incluindo  a sequência abortada e manter o crédito como estava. Quanto a Glenn Ford, este agora estava preocupado com Marlon Brando, com quem travava uma verdadeira guerra de vaidades em "A Casa de Chá Sob o Luar de Agosto", também da MGM. Claro que teria sido muito mais fácil refazer os créditos, mas aí quem perderia seria o público e a carreira ascendente de Russ Tamblyn. E assim foi feito. O pequeno western é hoje quase um clássico e quem vê o filme não se esquece da vibrante sequência da dança com Tamblyn que Glenn Ford queria fora do faroeste.

Russ Tamblyn gostava do penteado de Glenn Ford;
abaixo Jeanne Crain, atriz bonita e apática
IMITANDO GLENN FORD - Quatro anos depois, na mesma MGM, Glenn Ford e Russ Tamblyn se reencontraram em outro western, a super-produção "Cimarron", dirigida pelo aclamado Anthony Mann. Russ procurou Glenn Ford e perguntou por que ele pedira a retirada da sequência de dança em "Gatilho Relâmpago". Glenn tentou explicar mas não conseguiu ser convincente. Falou para Tamblyn que adorava dança e lembrou que muitas e muitas vezes acordava pela manhã com o som do sapateado de sua esposa Eleanor Powell vindo lá da cozinha, o que muito o alegrava. E ainda disse que Rita Hayworth também sempre dançava nos filmes que faziam. Glenn e Russ ficaram amigos e Glenn comentou que o papel de Russ Tamblyn em "Cimarron" era muito mais importante que no faroeste dirigido por Russel Rousse. Curiosamente em "Cimarron" Russ Tamblyn interpretando 'Cherokee Kid' tem uma cena de pontaria com revólver parecida com a de Glenn Ford em "Gatilho Relâmpago" (fotos abaixo). Russ ficou muito feliz quando Glenn lhe disse que ele estava fadado ao sucesso como ator e dançarino. Russ Tamblyn fazia muitas perguntas a Glenn Ford e uma delas foi como era possível ele, Glenn Ford, interpretar tão intensamente ao lado de uma atriz fria e insensível como Jeanne Crain, atriz que recitava suas falas quase mecanicamente. Glenn explicou a Russ que  um ator pode envolver emocionalmente o outro em uma cena, o que, infelizmente Glenn não conseguiu fazer com Jeanne Crain. Glenn Ford acabou sendo uma espécie de modelo para Russ que chegou até mesmo a pentear o cabelo do modo que Glenn fazia, puxando todo o cabelo para frente e levantando as pontas na testa, o que decididamente não ficava nada bem. Já imaginaram um chefe de gang dos 'Jets', adolescente rebelde de Nova York, com aquele penteado?!?!?! Para interpretar Riff em "Amor, Sublime Amor" Russ Tamblyn voltou a usar seu cabelo cacheado com um pequeno topete a la Elvis Presley. Russ Tamblyn voltou a se encontrar com Glenn Ford em 1972, no episódio "Ragged Edge" na série "Glenn Ford é a Lei" (Cade's County) feita para a TV, onde também atuava seu amigo Peter Ford, filho do verdadeiro cowboy e subestimado ator Glenn Ford.

17 de dezembro de 2011

TOP-TEN WESTERNS DE PAULO NÉRY


Paulo Nery é o editor  do “Filmes Antigos Club”, um dos melhores blogs brasileiros sobre cinema. Como o próprio título do blog indica, o carioca Paulo tem predileção pelo cinema dos bons tempos, dos grandes astros e estrelas e talentosos diretores; tempos em que o Departamento de Efeitos Especiais dos grandes estúdios raramente era acionado e tempos em que Hollywood não se cansava de fazer faroestes. Jovem ainda, Paulo não viveu aqueles admiráveis anos cinematográficos, mas desde cedo saiu à procura daquilo que melhor o cinema havia produzido, acumulando rapidamente uma invejável bagagem sobre cinema. Todo esse conhecimento reunido Paulo Néry compartilha em seu blog com postagens que são verdadeiras aulas sobre a 7.ª Arte. Ser seguidor do blog “Filmes Antigos Club” é se deleitar com a inesgotável fonte de informações expressa sempre com textos primorosos. Ser seguidor do blog editado por Paulo Néry é também se extasiar diante de tantas e tão belas fotos caprichosamente reunidas.

Paulo disserta com igual brilho em qualquer gênero do cinema norte-americano, inclusive sobre o western, um de seus preferidos. E CINEWESTERNMANIA pediu ao amigo Paulo que relacionasse seu Top-Ten Westerns para conhecimento dos nossos seguidores. Rápido como um raio, mostrando ser um verdadeiro 'Gatilho Relâmpago', Paulo nos encaminhou sua lista dos dez melhores westerns que ele já assistiu, lista que comprova não só o conhecimento sobre o gênero mas também um gosto apurado. Reproduzimos abaixo o Top-Ten Westerns de Paulo Néry:

  1.º) RASTROS DE ÓDIO (The Searchers), 1956 – John Ford

  2.º) OS BRUTOS TAMBÉM AMAM (Shane), 1953 – George Stevens

  3.º) DA TERRA NASCEM OS HOMENS (The Big Country), 1958 – William Wyler

  4.º) A FACE OCULTA (One-Eyed Jacks), 1961 – Marlon Brando

  5.º) MATAR OU MORRER (High Noon), 1952 – Fred Zinnemann

  6.º) A LEI DO BRAVO (White Feather), 1955 – Robert D. Webb

  7.º) DUELO DE TITÃS (Last Train from Gun Hill), 1959 – John Sturges

  8.º) SETE HOMENS E UM DESTINO (The Magnificent Seven), 1960 – John Sturges

  9.º) O PREÇO DE UM HOMEM (The Naked Spurs), 1953 – Anthony Mann

10.º) A ÁRVORE DOS ENFORCADOS (The Hanging Tree), 1959 – Delmer Daves


A 'surpresa' da lista de Paulo Néry é "A Lei do Bravo" (White Feather),
faroeste nunca antes citado em Top-Tens publicados por
CINEWESTERNMANIA. Vale à pena conferir "A Lei do Bravo".






16 de dezembro de 2011

"O MÉDICO DA ROÇA" (Bells of Coronado) - ROY ROGERS SOB A BATUTA DE WILLIAM WITNEY


Após assistir a "O Médico da Roça" (Bells of Coronado), duas perguntas são inevitáveis: Por que não foi dada a Roy Rogers a oportunidade de continuar fazendo no cinema westerns B na mesma linha de Randolph Scott e Audie Murphy? Por que William Witney nunca teve chance de dirigir um western com melhor orçamento? É fato conhecido que, antevendo o fim dos séries westerns "B", Roy Rogers criou sua própria produtora e passou a se dedicar à televisão com o "Roy Rogers Show", programa que fez a alegria de uma nova geração de crianças e adolescentes, assim como o "Rei dos Cowboys" havia feito no cinema com a geração anterior. Quanto a William Witney, prosseguiu sua carreira com alguns poucos trabalhos para o cinema, sempre filmes de orçamento reduzido, dirigindo ainda um enorme número de episódios das mais diferentes séries de TV, em sua grande maioria westerns. A qualidade de "O Médico da Roça" permite imaginar que Roy Rogers alcançaria sucesso pelo menos igual àqueles conseguidos por Randy Scott e Audie Murphy; e quanto a William Witney, com mais recursos financeiros, certamente brindaria os fãs com faroestes de alto calibre.


ROY ROGERS EM BUSCA DO URÂNIO - A história de "O Médico da Roça" é de autoria de Sloan Nibley, responsável pelos roteiros dos westerns de Roy Rogers a partir de "Os Sinos de San Angelo" (Bells of San Angelo). Desta vez Nibley coloca Roy Rogers como um investigador de uma seguradora que deve descobrir a causa da morte de George Perez (Jack Low), o proprietário de uma mina. Perez é atacado próximo a uma barragem quando transportava uma carga de urânio e cai da barragem. A valiosa carga é roubada por um grupo de bandidos e a missão de Roy é descobrir não só a causa da morte de Perez como o paradeiro da preciosa carga. Roy Rogers se faz passar por um empregado do novo proprietário da mina, homem mal-encarado chamado Craig Bennett (Grant Withers) cuja intenção é recuperar o urânio roubado. Pam Reynolds (Dale Evans), a atrapalhada secretária de Bennett é responsável por Roy Rogers se aproximar de Ross (Clifton Young) e do Dr. Frank Harding (Leo Cleary). Roy consegue descobrir que o médico é o responsável pela morte de Perez e que o Dr. Harding ajudado por seu capanga Ross havia negociado a venda do urânio para agentes de outro país. Quando a carga está prestes a ser embarcada num pequeno avião, Roy, ajudado por Robert Bice (Jim Russell), um agente da Receita Federal consegue chegar a tempo de impedir o grande prejuízo que estava prestes a ser sofrido por seu país, desbaratando a quadrilha do Dr. Harding.

FAROESTE CONTEMPORÂNEO - "O Médico da Roça", rodado em 1950, é, a exemplo dos últimos westerns da série de Roy Rogers para  Republic Pictures, um faroeste contemporâneo, com a presença de automóvel, avião, barragem, torres hidrelétricas e outras modernidades incomuns no Velho Oeste. O roteirista Sloan Nibley substitui o clássico roubo de dinheiro ou ouro pelo desaparecimento da carga de urânio, além de incluir agentes internacionais que contrabandeiam a posse do disputado minério. Esse tema vinha sendo comum no cinema norte-americano desde a década de 40 e um dos primeiros filmes a tratar do assunto foi "Alma Torturada" (1942), com Alan Ladd. Sem nenhum pudor Nibley faz da espionagem internacional e da Guerra Fria o pano de fundo para esta complexa trama. Lembrando os intrincados roteiros dos filmes noir, ocorrem em "O Médico da Roça" uma série de inesperadas alternâncias e bandidos como os personagens de Grant Withers e Robert Bice tornam-se agentes do Bem contra insuspeitos traidores de Tio Sam, como o médico da roça interpretado por Leo Cleary. Porém a trama é fácil de ser seguida porque "O Médico da Roça" foi produzido para as 'Saturday Afternoons' nos Estados Unidos ou as Matinês Dominicais, aqui no Brasil. Já acostumado com as mais inusitadas fórmulas físicas e químicas dos seriados dos anos 30 e 40, o público jovem estava preparado para um roteiro de faroeste em que a trama envolvesse contador Geiser, injeção letal e até mesmo uso do soro da verdade. E Roy Rogers lida com tudo isso com a mesma facilidade com que cavalgava Trigger, o cavalo mais esperto do Velho Oeste.

Algumas das muitas cenas que levavam ao delírio os pequenos frequentadores das matinês.

A GRAÇA DE DALE EVANS - Todos esses ingredientes nas mãos de William Witney fazem de "O Médico da Roça" um espetacular e divertidíssimo faroeste com mistério, suspense e muita ação seja com lutas, tiroteios, perseguições a cavalo ou mesmo escalando uma torre de transmissão. Merece destaque especial o trabalho empolgante dos stuntmen Duke Green, Ken terrell e Henry Rowland. Roy é a grande estrela do elenco que tem Grant Withers na linhagem dos melhores bandidos da Republic, conseguindo enganar até o espectador. O bandido que enfrenta Roy de verdade é Clifton Young,  ex-componente dos endiabrados petizes da Our Gang Kids das comédias curtas dos anos 30. O conjunto musical que acompanhou Roy Rogers nessa fase de sua carreira foi o "Riders of the Purple Sage", liderado por Foy Willing. Aqueles que não apreciam os números musicais nos faroeste terão que ter pequena dose de paciência pois apenas três números musicais ("Bells of Coronado," "Got No Time for the Blues," e "Save a Smile for a Rainy Day") fazem parte da trilha sonora de "O Médico da Roça". E mesmo Pat Brady deixa os momentos de comédia para Dale Evans, "A Rainha do Oeste", desta vez bastante engraçada, diferentemente de sua habitual seriedade. Rodado no processo Trucolor, exclusivo da Republic Pictures e filmado em belas locações em Little Rock e em Sand Canyon Road, na Califórnia, este western de William Witney é um ótimo programa para quem gosta de faroestes e indispensável para os fãs do "Rei dos Cowboys" Roy Rogers.

Acima Roy Rogers ao lado do Mestre dos Westerns-B William Witney;
abaixo Roy com Foy Willing (à direita) e os Riders of the Purple Sage