UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

27 de fevereiro de 2015

A MORTE ANDA A CAVALO (DEATH RIDES A HORSE) – CLÁSSICO DO WESTERN SPAGHETTI


No alto Luciano Vincenzoni; de camisa vermelha
Giulio Petroni; Antonio Margheriti; nas fotos
menores John Phillip Law e Lee Van Cleef.
Muitos cinéfilos costumam afirmar que dos mais de 800 westerns spaghetti produzidos não mais que uma dúzia merece ser classificada entre os grandes filmes do gênero. Essa afirmação pode ser provocante e polêmica, mas nenhuma dúvida existe que entre os melhores euro-westerns de todos os tempos está “A Morte Anda a Cavalo” (Death Rides a Horse), exibido na Itália com o título “Da Uomo a Uomo”. Um tanto mais discutível é a autoria da história desse filme dirigido por Giulio Petroni em 1967, ano de seu lançamento nos cinemas italianos. Oficialmente Luciano Vincenzoni é o autor do texto original, mas o ‘Dizionario Del Western all’Italiano’ indica que Antonio Margheriti colaborou com o script, informação desmentida por Petroni. Este sustenta que ele sim deveria ter seu nome como co-autor do roteiro. E para aumentar a dúvida, Giulio Petroni disse em outra entrevista que Lee Van Cleef e John Phillip Law, principais atores do filme, foram responsáveis pela alteração de um sem número de diálogos de seus personagens. Luciano Vincenzoni foi um dos mais prolixos e conceituados escritores de histórias para o cinema, bem como de roteiros. Entre seus principais trabalhos como escritor-roteirista estão “O Ferroviário” e “Seduzida e Abandonada”, ambos clássicos de Pietro Germi, e “A Grande Guerra”, de Mario Monicelli, todos da década de 50. Nos anos 60 Vincenzoni iniciou uma colaboração com Sergio Leone nos filmes “Por Uns Dólares a Mais” e “Três Homens em Conflito”, escrevendo em seguida a história de “A Morte Anda a Cavalo”. Um desentendimento afastou Vincenzoni de Sergio Leone e o roteiro virou filme dirigido por Giulio Petroni, diretor ainda sem maior expressão e nenhuma experiência em westerns. Um fato, porém é inegável, “A Morte Anda a Cavalo” com as inúmeras citações a westerns norte-americanos em seu roteiro, resultou num admirável faroeste, ou melhor, western spaghetti.


Bill quando criança e iniciando sua vingança.
Dois homens e uma vingança - Uma família é massacrada por quatro bandidos, sobrevivendo apenas um menino de nome Bill, salvo por um quinto fora-da-lei. O menino vislumbra detalhes de cada um dos assassinos e nos próximos 15 anos se prepara para vingar seus pais e irmã mortos e sua casa queimada. Ryan (Lee Van Cleef), um dos bandidos e justamente aquele que salvou o menino, é traído, julgado e preso e cumpre 15 anos de prisão. Quando em liberdade parte em busca do quarteto que o traiu, cruzando em seu caminho com Bill (John Phillip Law). Os quatro bandidos procurados são: Burt ‘Four Aces’ Cavanaugh (Anthony Dawson) que se tornou proprietário de um muito frequentado saloon em Holly Spring; Walcott (Luigi Pistilli) virou um próspero banqueiro e político em Lyndon City; os irmãos Pedro (José Torres) e Paco (Angelo Susani) seguem sob o comando do poderoso Walcott. A vingança tem início com ‘Four Aces’ Cavanaugh sendo morto por Bill. Os demais bandidos rumam para um lugarejo chamado El Viento onde se defrontam com Bill e Ryan que consumam a vingança. Em El Viento Bill descobre que Ryan foi um dos bandidos presentes à chacina de seus pais e desafia para um duelo o homem que o salvara 15 anos antes.

A demagogia política de Walcott; o jogador
Burt 'Four Aces' Cavanaugh.
O crime que compensa - A história de “A Morte Anda a Cavalo” coloca lado a lado um homem maduro e um jovem, ambos determinados a matar, como se viu em “Por Uns Dólares a Mais” (Coronel Douglas Mortimer/Lee Van Cleef e Manco/Clint Eastwood). E o recorrente tema da vingança ocorre no filme de Giulio Petroni aproximando os dois homens sedentos por ajustar as contas com aqueles que lhes causaram sofrimento. Se o tema é dos mais comuns em westerns, o inusitado é que o personagem Ryan foi também um fora-da-lei e visa ressarcimento em forma de dinheiro. Ryan exige 15 mil dólares de ‘Four Aces’ e quantia não especificada de Walcott, ambos agora cidadãos importantes nas cidades em que vivem. Apenas os irmãos mexicanos Pedro e Paco não se deram bem na vida, enriquecendo como os companheiros de chacina praticada 15 anos antes. E a história de Vincenzone faz uma menção política ao citar que Walcott usa de sua reputação como cidadão respeitado para conseguir junto a um senador, que a estrada de ferro Atchison-Santa Fé passe por Lyndon City, lugar por ele dominado. Mas pouco interessa ao demagogo Walcott o progresso de Lyndon City e sim a vultosa quantia colocada sob sua guarda no ‘Walcott Bank’, de sua propriedade. Walcott simula um roubo ao próprio banco para se apoderar da quantia que fará dele não apenas um milionário. As resenhas sobre “A Morte Anda a Cavalo” lembram sempre que o filme de Petroni é composto de situações vistas em faroestes clássicos norte-americanos, o que é um fato incontestável.

Verbas públicas para o bolso do escroque Walcott (Luigi Pistilli com Mario Brega).

Robert Mitchum acima em "Sua Única
Saída"; abaixo o menino Bill com a espora.
Referências explícitas - “Sua Única Saída” (Pursued/1947), e de “Nevada Smith” (1966) inspiraram o início de “A Morte Anda a Cavalo” com o massacre no Rancho Mesita. Do primeiro o filme de Petroni emulou inclusive a ideia da espora como objeto simbólico da vingança, ideia desenvolvida nos adereços presentes em cada um dos assassinos: o brinco e a caveira; o rosto cortado de Pedro e o peito tatuado de ‘Four Aces’ completam as marcas que perseguiriam o jovem Bill por década e meia. A chegada a El Viento com os amedrontados mexicanos que de imediato simpatizam com Bill e Ryan remetem inevitavelmente a “Sete Homens e Um Destino” (The Magnificent Seven). O preparo da defesa da pequena cidadela completa a explícita referência, assim como o próprio ataque ao reduto defendido como uma espécie de Álamo, incluído um torturante ‘Deguello’. E o duelo final entre Bill e Ryan, com a crise de consciência deste último, participante da chacina, lembra “O Último Pôr-do-Sol” (The Last Sunset), com Ryan e seu Colt vazio. A sucessão de referências que poderia comprometer o filme de Petroni transforma-se com um conjunto de agradáveis e bem utilizadas sequências entrelaçadas com o ritmo perfeito imprimido pelo diretor.

Flasjbacks trazem a visão inconfundível dos bandidos.

A cicatriz, o brinco, o pingente em forma de caveira e o peito tatuado; como esquecer?

Lee Van Cleef
No ritmo de um clássico - Giulio Petroni se disse fã de John Ford, citando “Sangue de Heróis” (Fort Apache) e “Rastros de Ódio” (The Searchers) como seus preferidos entre os westerns de Ford. Mas a grande influência de Petroni em “A Morte Anda a Cavalo” é sem dúvida Howard Hawks, especialmente por “Onde Começa o Inferno” (Rio Bravo), outro western que Petroni diz admirar. A obra-prima de Hawks é admirável por seu andamento em que os muitos e deliciosos diálogos e poucas mas excelentes sequências de ação se mesclam com perfeição. E justamente no andamento que é mais brilhante “A Morte Anda a Cavalo”, jamais cansando o espectador e não tornando banais os inúmeros momentos de confronto entre vingadores e seus algozes. Assim como Hawks, Petroni parece não ter pressa e pretende que cada situação e cada linha de diálogo sejam saboreados devidamente. Quentin Tarantino, fã declarado de Petroni, usa em seus roteiros a técnica de constantes reviravoltas, no que Petroni se mostra um mestre em “A Morte Anda a Cavalo”. Quem será vítima de quem na próxima sequência é uma forma de provocar o espectador, fugindo da previsibilidade tão comum às histórias de vingança. E até o último momento não se sabe como o filme terminará, ainda que se torça para que Bill e Ryan permaneçam vivos.

Mais que amizade, carinho quase paterno.
Sarcasmos e ironias - Sem nenhuma pretensão de cair na tentação de explorar aspectos psicológicos da relação filial que se instala entre Ryan e Bill, “A Morte Anda a Cavalo” joga o tempo todo com a necessidade que um acaba tendo do outro. Certo que é Ryan quem, por força da experiência, determina o rumo das ‘caçadas’, mas a Bill cabe não só salvar o maduro companheiro das grades como mostrar-lhe que é capaz de aprender as lições do mestre, deixando-o para trás em uma das semicômicas reviravoltas. E se Ryan diz “Queria ter tido um filho como você”, o faz com total simplicidade do homem do oeste que não teve tempo para formar família e admira o arrojado jovem, sabedor que um dia qualquer morrerá com uma bala nas costas. Essa reflexão de Ryan contrasta com o tratamento que Bill lhe dispensa, chamando-o a toda hora de ‘vovô’. Psicologismos baratos mais prejudicam que acrescentam em faroestes, o que fez os mestres do gênero – Ford, Hawks, Peckinpah e Leone – fugirem dessa armadilha. Já o tom certo de fazer o espectador rir através de diálogos espirituosos sem cair na galhofa, isto é para a pena de grandes roteiristas e diretores de sensibilidade aguçada. Num western de alta dramaticidade como “A Morte Anda a Cavalo”, Petroni mais uma vez faz lembrar o Howard Hawks de “Rio Bravo” com respostas irônicas e comentários sarcásticos incrivelmente inspirados.

Ironias a todo momento.

Ryan (Lee Van Cleef) não perde nenhuma oportunidade para debochar do
jovem Bill (John Phillip Law).

O experiente Mestre e o atento aprendiz.

Lee Van Cleef
Lee Van Cleef, o dono do filme - História interessante que, mesmo esbarrando em clichês do gênero, foge do previsível; ritmo perfeito mesclando ação e diálogos; e sequências de confrontos bem realizadas sem o excesso de estilização que se tornou marca dos westerns spaghetti. Tudo isso não seria suficiente para que “A Morte Anda a Cavalo” se transformasse num grande filme não fosse a estupenda atuação de Lee Van Cleef. Estigmatizado por repetir sempre os mesmo papéis, Van Cleef foi (re)descoberto por Sergio Leone que possibilitou ao público conhecê-lo como os tipos marcantes do Coronel Douglas Mortimer e Sentenza, revitalizando sua decadente carreira. Mas foram Sergio Solima (“O Dia da Desforra”/La Resa dei Conti) e Giulio Petroni com este filme que mostraram ao mundo aquilo que em tantos anos e tantos filmes Hollywood não conseguiu perceber: Lee Van Cleef era não só um tipo marcante com suas feições de cascavel, mas e acima de tudo um excelente ator. E “A Morte Anda a Cavalo” é todo ele de Van Cleef, até porque John Phillip Law, apesar de todo esforço, é um ator inexpressivo que se impôs (sem ir muito longe na carreira) pela bela estampa de galã. Em 1967 Clint Eastwood já estava de malas prontas para retornar e conquistar a América. John Phillip Law talvez fosse o mais próximo que havia à disposição para chegar perto da dupla Manco/Mortimer. Sem abrir mão do poncho e colete idênticos aos de Eastwood, Law trocou a cigarrilha por um palitos de dente, perfeita indicação da diferença entre ambos.

Acima Luigi Pistilli; abaixo Bruno Corazzari.
O brilho dos vilões - Os principais bandidos de “A Morte Anda a Cavalo” ajudam a dar ao filme a dimensão necessária, com destaque para Luigi Pistilli como Walcott. O veterano Anthony Dawson, ator escocês de tantos filmes importantes fora do âmbito do western spaghetti faz com Pistilli uma perfeita dupla de vilões. José Torres e Ângelo Susani têm poucos momentos na tela, mas o suficiente para compor o quarteto impressivo de bandidos. O ótimo Bruno Corazzari pouco esforço precisa fazer para demonstrar que é sempre o menos confiável e o mais adulador dos tipos. Destoa Mario Brega que Petroni não conseguiu conter e atua como se estivesse na série ‘Trinity’. E que grata surpresa rever o irresistível Carlo Pisacane perguntando a John Phillip Law onde ele quer ser beijado... Archie Savage, bailarino norte-americano que atuou em “Vera Cruz” tem pequena participação, assim como Romano Puppo, como ajudante de xerife. Romano Puppo foi um grande amigo pessoal de Lee Van Cleef, de quem era dublê e sempre que possível participava como ator de filmes que o generoso amigo estrelava.


As qualidades de Petroni - Não se pode deixar de observar duas falhas neste western de Giulio Petroni, ambas referentes à pouca clareza do roteiro. Quem é o grupo de homens que é atacado sob uma chuva intensa no início do filme? Para onde foram os mexicanos de El Viento após a primeira investida dos homens de Walcott? Estes desaparecem misteriosamente da história deixando para Ryan e Bill a desigual tarefa de lutar contra o pelotão que os sitia. Assim como misteriosa é a presença daquele grupo de homens próximos da casa do pai de Bill. (*) E esta sequência é marcada pelo ruidoso arranjo de Ennio Morricone. O genial compositor alterna nesta trilha momentos de sua natural criatividade com outros repetitivos que parecem reciclados dos temas da Trilogia dos Dólares. Entre os pontos altos da composição de Morricone para este western está a fusão das vozes do Coral Alessandroni com instrumentos de percussão e guitarra marcando a tensão das sequências. Destaque para a composição sublime do encontro entre Bill e Ryan no que restou do Rancho Mesita, . A eficiente cinematografia é de Carlo Carlini. “A Morte Anda a Cavalo” foi um grande sucesso de bilheteria na Itália e dos primeiros western spaghetti a impressionar críticos do mundo inteiro que nele enxergaram de imediato suas inegáveis qualidades. Estranhamente Giulio Petroni considera “Tepepa” o melhor de seus quatro faroestes, com o que poucos concordam. E Petroni, falecido em 2010, sabia muito bem que “A Morte Anda a Cavalo” se tornara um clássico do western spaghetti.

(*) Após a leitura do comentário do amigo Róbson e uma revisão do início de "A Morte Anda a Cavalo", cabe retificar o comentário acima. Conforme explicou Róbson, o grupo de homens chega ao Mesita Ranch juntamente com o pai de Bill, transportando 20 mil dólares, razão do ataque de Walcott e os demais bandidos. Portanto não há nada de misterioso no início do filme que é coerente com a sequência do massacre.

Giulio Petroni e Lee van Cleef na tela; Luciano Vincenzone com Billy Wilder.

Carlo Pisacane à esquerda com John Phillip Law; Anthony Dawson e Law.

23 de fevereiro de 2015

QUADRILHAS DOS FAROESTES - "A MORTE ANDA A CAVALO" (DEATH RIDES A HORSE)


Lee Van Cleef faz parte de uma cruel quadrilha em “A Morte Anda a Cavalo” (Death Rides a Horse/Da Uomo a Uomo). Tão sádicos são os componentes do bando que o próprio Lee se volta contra ele durante este western. Quem comanda a quadrilha é Luigi Pistilli, que lidera os facínoras Anthony Dawson, José Torres e Angelo Susani. Não bastasse esse quarteto, Lee tem que enfrentar também Mario Brega e Bruno Corazzari, capangas de Pistilli. Lee Van Cleef dispensa apresentação, mas o resto da quadrilha é bem menos conhecido e vale à pena falar um pouco sobre eles.

Luigi Pistilli (1929-1966) – Após separar-se da quadrilha, Walcott se torna o homem mais importante de Lyndon City. Sua ganância é ilimitada e sabe que a política é um meio fácil para enriquecer ilicitamente. Ator italiano com formação teatral, Luigi Pistilli estreou no cinema em 1961, mas foi em seu segundo trabalho no cinema, como um dos bandidos em “Por Uns Dólares a Mais” (Per Qualche Dollaro in Più) que passou a ser notado. Pistilli foi dirigido novamente por Sergio Leone em “Três Homens em Conflito” (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo), interpretando um padre. No mesmo ano (1968) em que atuou em “A Morte Anda a Cavalo” Luigi Pistilli criou o bandido Pollicut no clássico “O Vingador Silencioso” (Il Grande Silenzio). Luigi Pistilli participou indistintamente de dramas e filmes policiais mesmo no auge da produção dos westerns spaghetti e entre os filmes mais importantes em que atuou com destaque está “Cadáveres Ilustres”, de Francesco Rosi. Luigi Pistilli cometeu suicídio devido à depressão resultante de uma separação amorosa.

Anthony Dawson (1916-1992) – Os quatro ases tatuados em seu peito não impediram o bandido Burt Cavanaugh de se tornar ‘respeitável’ dono de saloon em Holly Spring. Ameaçado por Ryan (Lee Van Cleef), Cavanaugh tenta subornar o ex-companheiro, que exige ‘indenização’ de 15 mil dólares pelos 15 anos que passou na cadeia. Este escocês de 1,88m de altura é lembrado pelos cinéfilos por algumas participações marcantes em filmes famosos: foi chantageado por Ray Milland em “Disque ‘M’ para Matar”, de Alfred Hitchcock; perseguiu Doris Day em “A Teia de Renda Negra”; foi morto por James Bond em “O Satânico Dr. No” depois de ter esvaziado sua arma no Agente Secreto 007 que friamente lhe diz: “Essa pistola é uma Smith Wesson e você já deu seis tiros com ela...”. Nos anos 60 Dawson com seu rosto alongado e olhar ameaçador passou a ser visto em euro-westerns como “A Morte Anda a Cavalo”; “A Pistola é Minha Bíblia” (...E per Tetto um Cielo di Stelle), com Giuliano Gemma; e “Sol Vermelho” (Soleil Rouge), com Charles Bronson.

José Torres – Com a cicatriz cortando-lhe o rosto verticalmente, Pedro jamais seria esquecido pelo menino Bill (John Phillip Law), disposto a executar vingança. Quem interpreta Pedro é o ator venezuelano José Torres que se iniciou como ator infantil em 1941 em seu país. Nos anos 50 passou a atuar no cinema francês onde fez vários filmes sempre como coadjuvante. Na década seguinte radicou-se na Itália, onde nunca lhe faltou trabalho com a explosão da produção de westerns spaghetti. Dos quase 30 faroestes em que Torres atuou, normalmente como bandolero, os principais foram “O Dia da Desforra” (La Resa dei Conti), “Vou, Mato e Volto” (Vado... L’Amazzo e Torno), “Viva Django!” (Preparati la Bara), “Quando os Brutos se Defrontam” (Faccia a Faccia). O versátil José Torres era capaz de interpretar não só bandidos, mas também personagens simpáticos, como Ramirez em “Corre Homem, Corre” (Corri Uomo, Corri) e El Piojo em “Tepepa”. Retornando à Venezuela, José Torres continuou a atuar e é considerado uma lenda em seu país.

Angelo SusaniPedro é irmão de Paco, este o bandido que usa um brinco em forma de argola. Paco é morto por Bill em El Viento, o que leva o irmão Pedro ao desespero e à sumária vingança, apenas não consumada pela estratégia de Walcott. Angelo Susani estreou como ator em 1966 em “O Dia da Desforra” (La Resa dei Conti), num pequeno papel como um bartender mexicano. Seguiram-se participações de Susani em uma dúzia de westerns spaghetti, entre eles “Django, o Bastardo” (Django, il Bastardo), “Uma Longa Fila de Cruzes” (Una Lunga Fila di Croci), “Peça Perdão a Deus, Nunca a Mim” (Chiedi Perdono a Dio... Non a Me), “Apocalipse Joe” (Un Uomo Chiamato Apocalisse Joe), “Exercito de Cinco Homens” (Um Esercito di 5 Uomini), “Trinity Ainda é Meu Nome” (Continuavano a Chiamarlo Trinità) e “O Último Grande Duelo” (Il Grande Duello). A impressão que fica ao se conhecer a filmografia de Angelo Susani é que seu tipo marcante não foi devidamente aproveitado no cinema, mesmo após seu bom trabalho em “A Morte Anda a Cavalo”.

Mario Brega (1923-1994) – O enorme e bem vestido homem de confiança de Walcott sucumbe aos tiros de Ryan. Mario Brega foi um dos grandes, na mais completa acepção do termo, atores característicos do cinema italiano, sendo bastante utilizado nos westerns spaghetti ainda que tenha se destacado em comédias e dramas. Do início de carreira de Mario Brega, o grande destaque é “Marcha Sobre Roma”, filme de Dino Risi, em que Brega tem um dos principais papéis ao lado de Vittorio Gassman e Ugo Tognazzi. Presente em todos os filmes da Trilogia dos Dólares de Sergio Leone, o diretor não esqueceu de Brega em “Era Uma Vez na América”. Entre os principais westerns spaghetti em que Brega atuou estão “Bounty Killer, o Pistoleiro Mercenário” (El Precio de un Hombre), “O Seu Nome Clamava Vingança” (Il Suo Nome Gridava Vendetta) e especialmente “O Vingador Silencioso” (Il Grande Silenzio). Segundo Giulio Petroni, pessoalmente Mario Brega era o autêntico romano: falastrão, abrutalhado, provocador e antipaticamente autossuficiente.


Bruno Corazzari – O cínico bartender do saloon de Holly Spring ruma para Lyndon City e morre em El Viento. Esse foi o filme de estreia de Bruno Corazzzari, um dos rostos mais conhecidos dos westerns spaghetti. Sua marcante presença, invariavelmente como vilão foi vista, entre outros, em “O Vingador Silencioso” (Il Grande Silenzio), “Os Quatro da Ave Maria” (I Quattro dell’Ave Maria), “Sabata Adeus” (Indio Black, Sai che te Dico: Sei um Grande Figlio di...), “Vivo pela Tua Morte” (Vivo per la Tua Morte). Corazzari participou da produção norte-americana rodada na Itália “Sledge, o Homem Marcado” (A Man Called Sledge), western estrelado por James Garner. E no grande elenco de “Era Uma Vez no Oeste” (C’Era Uma Volta Il West), Corazzari era um dos homens de Cheyenne (Jason Robards). Passada a fase dos westerns spaghetti, Bruno Corazzari continuou em atividade em comédias e filmes policiais, como em “O Gato Negro”, baseado em história de Edgar Allan Poe. Corazzari atuou bastante também em produções para a televisão.

Anthony Dawson dando-se mal com James Bond em "O Satânico Dr. No".

21 de fevereiro de 2015

TOP-TEN WESTERNS DO ILUSTRADOR GOIANO ALEXANDRE ‘HOSS’ MASTRELLA


Nos tempos da TV em preto e branco
Alexandre assistia "Bonanza".
O avô do menino Alexandre Ramos Mastrella vivia em Catalão, Goiás e era, nos anos 60, correspondente de revistas editadas em São Paulo e Rio de Janeiro. O jornalista enviava para essas capitais as matérias que escrevia e recebia das editoras material para ser divulgado na região. Fanático por cinema, o senhor Mastrella guardava tudo que se referisse à então chamada 7.ª Arte, mostrando para o neto Alexandre fotos de artistas famosos e filmes de sucesso. Foi assim que o menino de Catalão fez os primeiros contatos com o mundo cinematográfico, reconhecendo muitos dos artistas nos filmes que a televisão exibia. Filho de professora, o menino Alexandre seguia regras rígidas quanto aos horários de estudo e poucas horas eram dedicadas à ainda incipiente programação televisa. Boa parte dessa programação era preenchida por séries produzidas nos Estados Unidos, diversas delas do gênero western, as preferidas de Alexandre. Mais que qualquer outra, a série “Bonanza” era a favorita do menino que torcia para que o episódio girasse em torno do gigante ‘Hoss’ Cartwright. Alexandre adorava o personagem de Dan Blocker e nas brincadeiras de mocinho nas ruas do bairro ele era sempre o ‘Hoss’, escolha que os demais meninos não conseguiam entender direito. Havia para escolher o Little Joe, o Adam Catwright, o Bret Maverick, o Cheyenne, o Paladino, o Gunsmoke e não é que o Alexandre cismou justamente com o simpático ‘Hoss’...

Roy Rogers, um dos mocinhos que
Alexandre mais desenhava.
Desenhando no papel de embrulho - A fase da adolescência de Alexandre foi marcada por muito trabalho para ajudar nas despesas da casa. O primeiro emprego foi como pacoteiro de supermercado, passando depois para entregador de carnes de um açougue, sendo ‘promovido’ a açougueiro tempos depois. Só havia um problema: Alexandre vivia levando broncas do dono do açougue devido à sua mania de desenhar nas folhas de papel para embrulhar carnes. Os clientes já estavam até acostumados a levar para casa contra-filé, carne moída, alcatra e, como bônus, no papel de embrulho, desenhos de Roy Rogers, Lone Ranger, Rocky Lane e mais que todos eles desenhos de ‘Hoss’ com seu chapéu seven galons. A arte do desenho se manifestava fortemente no jovem Alexandre que, além de desenhar gostava também de cantar. Como não podia cantar no açougue, era em casa que o adolescente imitava a voz e o estilo de seus cantores favoritos. A cantoria só cessava quando chegava a hora sagrada de assistir “Laredo”, “Chaparral”, “O Homem de Virgínia” e o imperdível “Bonanza”.

O jovem cantor Alexandre Mastrella,
cover de Elvis Presley.
Cover de Elvis e de Lionel Ritchie - Aos 17 anos de idade Alexandre e alguns amigos de Catalão formaram um grupo musical denominado ‘Os Comodoros’. O grande ídolo de Alexandre nessa época era Elvis Presley, que ele procurava imitar até mesmo nas roupas. Com o recente falecimento do Rei do Rock (16/8/1977), quando interpretava as canções de Elvis, especialmente "Are You Lonesome Tonight?", Alexandre emocionava o público. Como vocalista principal da banda, o estilo de cantar de Alexandre era semelhante ao de Lionel Ritchie dos ‘Commodores’, conjunto norte-americano que emplacava um sucesso atrás do outro no hit parade norte-americano. Alexandre perdeu a conta de quantas vezes cantou e bisou “Three Times a Lady”. Outros hits que Alexandre fazia covers eram “How Deep is Your Love” (Bee Gees), “Sailing” (Christopher Cross) e “I’ll Be There” (Jackson Five). Nas apresentações dos “Comodoros” Alexandre não deixava de cantar “Say You, Say Me” e costumava finalizar os espetáculos levantando o público com “All Night Long”, ambos sucessos solo de Lionel Ritchie. A carreira de Alexandre como cantor durou até os 22 anos quando ele foi para Goiânia estudar na Faculdade de Desenho e Arte de Goiânia, iniciando em seguida sua vida como profissional de criação.

Aqui Alexandre como pistoleiro.
Os cowboys paulistanos - Dedicando-se à publicidade, Alexandre sempre encontrava tempo para desenhar histórias em quadrinhos ambientadas no Velho Oeste. E quando não desenhava estava assistindo a algum faroeste, paixão que sempre o acompanhou. Foram-se os tempos das séries de TV e os lançamentos de westerns no cinema eram cada vez mais raros, isto já no início dos anos 90. Foi quando algumas reportagens em jornais, revistas e programas de televisão chamaram à atenção de Alexandre. Elas falavam de um grupo de westernmaníacos que se reunia semanalmente em São Paulo, inclusive trajando-se como Buck Jones, Hopalong Cassidy, Roy Rogers, Rocky Lane e outros. Havia até mesmo um bandido extravagante que se vestia como mexicano, com baleiros, poncho, sombrero e um enorme bigodón. Alexandre passou a colecionar aquelas reportagens sobre a Confraria dos Amigos do Western, grupo fundado pelo médico-ginecologista paulistano Aulo Barretti. Alexandre sabia que cedo ou tarde iria conhecer o excêntrico grupo e conseguiu fazer contato com dois membros da confraria, exatamente aqueles que lhe despertaram mais simpatia: o bandoleiro El Mexicano (Carlos Jorge Mubarah) e Kid Blue (Lázaro Narciso Rodrigues), o Roy Rogers brasileiro.

Uma das páginas da HQ
"Os Últimos Durões".
“Os amigos Durões” - Por mais de dois anos Alexandre manteve contato por telefone e também trocando correspondência com El Mexicano e com Kid Blue, até que seu trabalho como publicitário o levou, por alguns dias, a São Paulo. Além de conhecer seus ‘ídolos’ brasileiros, Alexandre teve oportunidade de fazer novos amigos no grupo e ainda assistir a uma sessão de faroestes. Como todos na confraria tinham um apelido, Alexandre pediu para ser chamado de ‘Hoss’, pois seu patrono não podia ser outro senão o gigante Cartwright. Alexandre ‘Hoss’ gostou tanto da confraria paulistana que elaborou duas histórias em quadrinhos cujos personagens eram os cowboys agora seus amigos. Publicadas pela revista ‘Pardner’, são de autoria de ‘Hoss’ as HQs “Minha Vontade é Lei” e “Os Amigos Durões”, esta última postada recentemente aqui no WESTERNCINEMANIA. El Mexicano e Lazinho Kid Blue, em ocasiões diferentes viajaram 700 quilômetros para visitar o amigo ‘Hoss’ em sua casa em Catalão, prova do enorme carinho e amizade pelo amigo goiano.

Mocinhos da Confraria em ação: Lazinho Kid Blue esmurrando Celso Rocky
Lane, enquanto Marco Durango Kid está prestes a levar uma coronhada
do traiçoeiro bandoleiro El Mexicano.

Acima foto do sábado em que Alexandre visitou a confraria dos cowboys
paulistanos; abaixo destaque da foto vendo-se Mexicano, Alexandre,
Cláudio Caltabiano, Aulo Barretti e Marcão Durango Kid.

Trabalho do ilustrador Alexandre
com o uso de computação gráfica.
Um Black Marshal - O tempo passou, ocorreu um distanciamento momentâneo superado finalmente com as facilidades das redes sociais. Sem necessidade de nenhum ‘Wanted – Reward’, o ‘Hoss’ de Catalão foi localizado nos contando de suas atividades como desenhista-ilustrador e de seu permanente amor pelo faroeste. Tanto que parte do seu trabalho é dedicado ao Velho Oeste, como uma recente HQ baseada numa história verídica, intitulada “O Marshal de Yankee Hill” em que o homem da lei é um negro. Antigas histórias em quadrinhos estão sendo colorizadas por Alexandre ‘Hoss’, para uma editora espanhola. Outra série em que ele trabalha atualmente é “Rastros do Vento” para a qual o ilustrador goiano colorizou desenhos do italiano Ivo Milazzo, criador de Ken Parker.


Kevin Costner, um nome respeitado - Fã incondicional de John Wayne, Alexandre reputa ser Kevin Costner (foto ao lado) o grande nome do western nas últimas décadas, isto depois que Clint Eastwood se aposentou como cowboy. Alexandre admira os excelentes trabalhos que Costner fez e continua a fazer no gênero. O ilustrador goiano comenta que não faz nenhuma restrição ao western spaghetti que, de certa forma, revitalizou o faroeste, ainda que sua preferência recaia pelos norte-americanos. Solicitado a relacionar seus westerns preferidos, aqueles que considera os melhores, Alexandre listou seu Top-Ten Westerns que publicamos abaixo:














O discreto Alexandre Ramos Mastrella vira na foto o 'MC Mastrella', ostentando
boné, óculos, anel e correntes; montagem para cartão de Natal.

18 de fevereiro de 2015

WESTERNTESTEMANIA N.º 33 – “RASTROS DE ÓDIO” (THE SEARCHERS)


Nenhuma notícia poderia ser mais auspiciosa para os westernmaníacos que a exibição no circuito Cinemark de cinemas de “Rastros de Ódio” (The Searchers). Lançado em São Paulo em 06/03/1957 e tendo sido reprisado no início dos anos 60, uma minoria de fãs de faroestes teve a oportunidade de assisti-la como se deve, ou seja em tela grande. Só assim para que o esplendor das imagens de “Rastros de Ódio” seja vista da maneira como foi concebida por seu diretor, John Ford. Comemorando esse ‘presente’ que os exibidores dão aos cinéfilos, este blog faz um Westerntestemania especial com todas as dez perguntas relacionadas a esse grande espetáculo cinematográfico. (Respostas após a última pergunta)


Hank Worden interpreta Mose Harper, um personagem muito engraçado e aparentemente idiotizado, mas que sabe muito bem o quer. E ao final acaba conseguindo. O que Mose Harper mais deseja na vida?

          a)  um cavalo castanho
          b)  uma cadeira de balanço
          c)  um par de botas novo
          d)  ser aceito pela Cavalaria

* * * * *


A atriz Dorothy Jordan, esposa do produtor Merian C. Cooper, interpreta Martha, um personagem importantíssimo em “Rastros de Ódio”. O que Martha é neste filme?

          a)  irmã de Ethan Edwards (John Wayne)
          b)  mãe de Martin Pawley (Jeffrey Hunter)
          c)  cunhada de Ethan Edwards
          d)  avó de Debbie (Natalie Wood)

* * * * *



John Qualen, ator canadense da Ford Stock Company (grupo de atores e técnicos que acompanhava o diretor em seus filmes), era especializado em interpretar europeus? Em “Rastros de Ódio” John Qualen interpreta Lars Jorgensen, imigrante que usa óculos para fazer o que mesmo?

          a)  para ler
          b)  para dormir
          c)  para andar a cavalo
          d)  para acompanhar a leitura de cartas


* * * * *




A atriz nativa Beulah Archuletta interpreta uma índia apelidada de ‘Look’ por Ethan Edwards. Qual o nome verdadeiro de ‘Look’ neste filme?

          a)  Wild Goose Flying in the Sky
          b)  Little Goose Flying in the Sky
          c)  Fat Duck Swimming in the River
          d)  Slim Duck Swimming in the River

* * * * *



O ator espanhol da foto foi um dos principais galãs de Hollywood no cinema mudo. Ele teve nos braços Greta Garbo, Clara Bow, Pola Negri, Dorothy Gish e Marion Davis, entre outras. Qual o nome desse ator?

          a)  Pablo Cortez
          b)  Ricardo Perez
          c)  Ramon Mendonza
          d)  Antonio Moreno

* * * * *



A atriz que interpreta o personagem Debbie quando criança era irmã de uma atriz norte-americana bastante conhecida? Qual o nome da então menina e quem é sua irmã famosa?

          a)  Patricia Reynolds / Debbie Reynolds
          b)  Shirley Taylor / Elizabeth Taylor
          c)  Lana Lisa Wood / Natalie Wood
          d)  Joanne Baker / Carroll Baker

* * * * *



O ator de bigode da foto é Peter Mamakos, que em “Rastros de Ódio” interpreta Jerem Futterman, um comerciante que presta informações a Ethan Edwards. Futterman é morto por quem no filme?

          a)  por Ethan Edwards
          b)  por Cicatriz (Henry Brandon)
          c)  por Martin Pawley
          d)  pela Cavalaria

* * * * *



Martin Pawley (Jeffrey Hunter) é muitas vezes lembrado por Ethan Edwards que ele não passa de um mestiço. Martin Pawley sofre esse preconceito racial por ter sangue índio de que tipo nas veias. Qual a nação indígena e em que proporção ele tem a mistura sanguínea?
          a)  1/2 Apache
          b)  1/8 Cherokee
          c)  1/4 Comanche
          d)  1/4 Arapahoe

* * * * *




Na foto vemos Ken Curtis e Olive Carey. Durante as filmagens Olive era viúva de Harry Carey e mãe de Harry Carey Jr. Quanto a Ken Curtis, o ator-cantor era genro de um sogro muito famoso. Quem era o sogro de Ken Curtis?

          a)  John Wayne
          b)  Howard Hawks
          c)  John Ford
          d)  Ward Bond

* * * * *



Segundo John Ford, Ward Bond tinha o maior traseiro de Hollywood. Em “Rastros de Ódio” Ford decidiu brincar com seu amigo Ward Bond expondo parcialmente a bunda do ator, cujo personagem passa por um pequeno curativo. Observado por Chuck Roberson, Frank McGrath e Patrick Wayne, quem está curando o Reverendo/Capitão dos Rangers Samuel Johnston Clayton?

          a)  Martin Pawley (Jeffrey Hunter)
          b)  Brad Jorgensen (Harry Carey Jr.)
          c)  Charlie McCorry (Ken Curtis)
          d)  Aaron Edwards (Walter Coy)




* * * * *