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10 de abril de 2011

O ÚLTIMO BRAVO (Apache) - A LUTA SOLITÁRIA DE UM BRAVO


Burt Lancaster iniciou sua carreira no cinema um pouco tarde, aos 33 anos. E já passara dos 40 anos quando filmou “O Último Apache” (Apache), em 1954, mas encontrava-se em excepcional forma física, transformando-se num quase perfeito índio para interpretar o bravo Massai. O quase fica por conta dos intensos olhos azuis de Lancaster que, positivamente, destoam do conjunto composto pelo ator. Correndo, saltando de forma vibrante e dando às cenas de ação uma dinâmica que só um acrobata como ele seria capaz de dar. E esse índio é o personagem central do filme em que Massai, bravo guerreiro apache, enfrenta solitário a Cavalaria dos Estados Unidos. A história se inicia quando Massai é aprisionado com todos os demais guerreiros de sua tribo, inclusive Gerônimo, sendo levados algemados para uma reserva distante, deixando para trás as mulheres, crianças e os velhos incapazes de ameaçar a expansão branca. Capturados em seu território no Sudoeste são embarcados num trem-prisão com destino à Flórida, porém Massai consegue escapar e em Saint Louis descobre a vida estranha de uma cidade grande e moderna, com hotéis e restaurantes luxuosos e onde os bondes quase atropelavam os pedestres. E é em Saint Louis que conhece Dawson, índio Cherokee que lhe mostra que o aculturamento pode ter aspectos positivos. Massai então volta para o que sobrou de sua tribo, mas é traído por Santos (Paul Guilfoyle), um velho apache que o denuncia à Cavalaria. Santos é pai da jovem e bonita Nalinle (Jean Peters). Massai consegue escapar novamente e reencontra Nalinle, iniciando com ela uma longa caminhada sempre perseguidos pelos homens brancos. Em liberdade Massai vinga-se de Weddle (John Dehner), um homem cruel e racista. O apache continua então em busca de seu sonho de poder se estabelecer num pedaço de terra como qualquer sitiante branco e poder plantar e cultivar o próprio alimento. Massai e Nalinle são incansavelmente perseguidos por um pelotão que tem como guia um apache chamado Hondo (Charles Bronson, ainda com o sobrenome Bushinski), convertido em ‘sargento’ do Exército. Quando finalmente concretiza seu sonho de viver em paz com Nalinle, que está grávida, Massai é cercado e seu fim parece inevitável, mas Al Sieber (John McIntire) ordena que o índio não seja morto. O filme termina com Massai entrando na cabana que construiu onde estão sua mulher e seu filho que acabara de nascer.

Robert Aldrich
Poucos diretores tiveram início de carreira tão auspicioso como Robert Aldrich. De 1954 a 1956, numa incrível sequência ele dirigiu “O Último Apache”, “Vera Cruz”, “A Morte num Beijo” (Kiss me Deadly), “A Grande Chantagem” (The Big Knife) e “Morte sem Glória” (Attack), indicando que naturalmente ascenderia ao panteão dos maiores diretores norte-americanos. “O Último Apache” é um empolgante filme de ação que dá ao índio um tratamento respeitoso e demonstra com clareza a maneira como os brancos conduziram a questão indígena, exterminando com a população nativa ao afastar os guerreiros e confinar velhos, mulheres e crianças. Algumas situações em “O Último Apache” são preciosas, como quando Hondo se vangloria do liberalismo dos brancos que lhe possibilitou chegar a sargento e desfrutar uma vida melhor. Em outro momento, Massai decide não matar Santos que o havia traído, preferindo que o velho índio induzido ao alcoolismo pelos brancos sofra as consequência do vício adquirido. “O Último Apache”, segue a trilha de “O Caminho do Diabo” (Devil’s Doorway), de 1950, dirigido por Anthony Mann, e “Flechas de Fogo”, de Delmer Daves, também de 1950. Ambos os filmes chocaram o mundo ao tratarem o índio com dignidade, numa visão realista e honesta como o cinema jamais havia mostrado. O filme de Aldrich, no entanto, frusta o espectador que após haver adquirido a certeza de ter assistido a um marco cinematográfico, se depara com um final forçadamente paternalista, que pemite que Massai sobreviva, num epílogo tão feliz quanto piegas e irreal. Aldrich foi obrigado pela United Artists (Lancaster era co-produtor) a alterar o final do filme, em cujo roteiro escrito por James R. Webb (“Da terra Nascem os Homens”, “Crepúsculo de uma Raça”) Massai é baleado pelas costas ao se encaminhar para sua cabana após ouvir o choro de seu filho recém-nascido. E “O Último Apache”, perde, na última cena, todo o brilho da rebeldia de Massai contra o branco que o acorrenta, escraviza, rouba-lhe a terra e a família. “O Último Apache” torna-se um veículo para demonstrar a magnanimidade do homem branco, quase todos eles bons, já que o branco ruim (Weddle) foi merecidamente morto por Massai. Ainda demoraria alguns anos até que Hollywood fizesse a completa 'mea culpa' por ter criado a ideologia do “índio bom é índio morto”, justificando o genocídio de quase dez milhões de nativos.

“O Último Apache” é um excelente western, com magnífica cinematografia de Ernest Laszlo e repleto de ação da melhor qualidade. E mais que tudo, é um filme de Burt Lancaster dispensando dublês num western que os garotos das matinês assistiriam com enorme prazer torcendo pelo apache Massai. John McIntire como sempre irrepreensível, assim como John Dehner e Morris Ankrum. Jean Peters (Nalinle), apesar de tratada brutalmente por Massai, como é o costume apache, esboça até alguns sorrisos, coisa rara em sua carreira de atriz. Charles Bronson não tem maiores oportunidades, mas praticamente recriaria Massai em “Renegado Impiedoso” (Chato’s Land), ao interpretar o mestiço Pardon Chato, em 1972.

3 comentários:

  1. Sou um tanto criterioso quanto a qualificar filmes. Tenho o critério de por notas (na minha coleção de titulos vistos - mais 10.000 filmes, ponho notas em todos).
    Porém, hoje, de muitos vistos tenho apenas os nomes, conquanto de uns outros guardo memórias mais profundas. Isto deve-se em função de que, quando visto, o filme me disse algo a mais, não caminhando ao lado de películas comuns.
    Minhas notas vão de 0 a 5 e, quando gosto de um filme e vejo valores no mesmo, seja ele que classe venha a ser (A,B ou C), eu lhe imputo a nota que minha consciencia ditar.
    Não tiro do nosso editor, ou de cinéfilo qualquer, o gostinho saudável que tem um Vera Cruz, O Ultimo Apache ou mesmo um Homem Até o Fim, que acho filmes muitos comuns, porém assistíveis e até interessantes. Mas eu sou mais exigente. Entretanto isto em nada invalida o sabor pelos mesmos que outros sustentam. Um cinéfilo, ao assistir a um filme, pode descobrir no mesmo pormenores positivos que um outro cinéfilo não conseguiu apanhar. E isto é muito normal. Tanto que uma fita vista muitas vezes, a cada nova vez que se assiste uma nova descoberta é feita no seu conteúdo. Além do mais, cada um tem sua apreciação individual e seus gostos particulares. Conquanto outros são mais criteriosos, mais exigentes, mais críticos, como eu.
    Ocorre que o próprio diretor, o Aldrich, por si só nunca foi um especialista em nos oferecer produtos de cunho mais polido. Ele era um fazedor de filmes, como um Thorpe, um Gordon Douglas. Estes e outros diretores, que pareciam apenas máquinas de criar peliculas, muito pouco nos deram de qualidade.
    Dentro de meus ousados e até intoleráveis pontos de exigencias, o Aldrich me deu de bom A morte num beijo, o Thorpe foi ótimo em Prisioneiros do Rock, e o Douglas se saiu satisfatoriamente em O Revolver de Um Desconhecido. Até que este ultimo, Douglas, se saiu em sua carreira bem acima dos demais, pois criou mais alguma coisa bem mais polida como; Nenhuma mulher vale tanto, A lei do mais valente e Rio Conchos.
    Quanto a Lancaster posso citar que fez coisas de muito mais qualidade como; O Passado Não Perdoa, Sem Lei e Sem Alma e Os Profissionais. Claro que isso apenas falando de faroestes.
    Aliás, o Lancaster teve uma carreira pontuada por boas pçeliculas. Foi um homem de sorte, com sua produtora podendo selecionar seus filmes, independente de ser um atleta e um interprete muito bom quando não exagerava em suas peripécias nos filmes de aventura.
    Podemos citar do mesmo peliculas maravilhosas como; O Trem, O homem de Alcatraz, O Leopardo, Lágrimas do Ceu, Entre Deus e o Pecado e muitos mais.
    Com as devidas solicitações de desculpas aos cinéfilos e leitores de meus comentários, aprecio o cinema "divertimento", porém primo muito pela qualidade elaborativa de uma pelicula.
    E, como observei, não importa se A, B ou C o filme, como por exemplo (Jubal, A ultima carroça e A árvore dos enforcados). Foram estes filmes criados como classe A? Claro que não. Foram Westerns B que estiveram em boas direções ( Daves), mas que jamais se irão encontrar um cinéfilo que não os ponha entre os grandes faroestes já feitos.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  2. Jurandir, que história é essa de 'sorte' para o Burt Lancaster? Sorte não faz mal a ninguém, mas uma carreira como a dele só se constróe com muito talento, não acha? - DF

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  3. Desta vez me sinto obrigado a responder à indagação do meu querido mestre editor.
    Falei, ou falo, "sorte" no sentido da Hetch-Hill-Lancaster. A companhia do Harold Hetch, do Walter Hill e do Burt. É claro que isso influenciou, e demais, a seleção do que ele faria ou não. Como se ter duvida disso? Afinal ele era o produtor e somente selecionaria, não apenas para papeis seus, mas também o que fosse de melhor para ser feito por sua companhia. Jamais, grande amigo, jamais eu poria em duvida o talento deste astro que, em minha chata e exigente opinião, sempre foi uma estrela de grandeza maior. Lancaster, não o Eddie, sempre foi um dos meus herois queridos e preferidos. Nunca pus em cheque o seu talento, sua grandeza de recursos ou coisa deste genero. O homem era um grande astro e disso somente pode duvidar quem nada entende de cinema.
    Recorda que em outro comentário eu citei o Kirk Douglas? Sempre achei que ele era um astro comum, que gostava de ve-lo em ação e somente isso. Mas, disse eu, depois que vi Chaga de Fogo e Sua ultima façanha, tive que rever meus pontos de vista quanto ao ator. Comecei a rever com mais atenção seus filmes e descobri que este era um astro muito maior do que eu calculara que era.
    Mas, quanto ao Lancaster, jamais cheguei perto deste pensamento que tive com o Kirk. Este sempre me deu boas interpretações, atuações inesqueciveis, dignas de astro maior. Jamais poderia esquecer do que fez ele no filme Entre Deus e o Pecado, no Leopardo, no Homem de Alcatraz e por aí a fora. Interpretações de quem tem tudo nas mãos, de quem sabe como dominar uma cena e fazer o seu trabalho sem incomodar diretores.
    Nesta o amigo se enganou com o bahiano. Penso sobre o Lancaster o mesmo que o paulista Darci Fonseca, o critico e editor que "me ensina todo dia" a me melhorar no ramo que tanto amamos.
    Esta é a verdade que nunca poderei negar.
    jurandir_lima@bol.com.br

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