UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

9 de setembro de 2011

BURT LANCASTER E SEU DESEJO DE MATAR MICHAEL WINNER


Burt Lancaster era um dos atores que mais apavoravam os diretores. Era necessário ter muita personalidade para dirigir atores como Burt Lancaster, John Wayne, Kirk Douglas e Marlon Brando, entre outros que levavam os diretores ao desespero com suas interferências no trabalho do diretor. Os mais experientes como Ford, Hanks, Hathaway e Huston, ou os mais jovens porém com personalidade forte como Richard Brooks, John Frankenheimer e Sam Peckinpah conseguiam dormir mais tranquilos depois de um dia de trabalho com os astros de Hollywood (ou com algumas estrelas também). Para alguns diretores só faltava chorar no próprio set de filmagem enquanto outros chegavam a ver a morte passar por perto, como aconteceu com Michael Winner em “Mato em Nome da Lei” (Lawman).

O então jovem diretor inglês Michael Winner (estava com 35 anos em 1971), havia ganhado notoriedade com “O Golpe do Século” (The Jokers), estrelado por Oliver Reed. Com o sucesso desse filme Winner conseguiu dinheiro para produzir “Mato em Nome da Lei” e queria Burt Lancaster no papel principal interpretando Jared Maddox. Winner procurou Lancaster que acedeu em ler o roteiro junto com o diretor. Burt Lancaster fez diversas anotações no roteiro original e ao final da leitura disse a Michael Winner que todas as anotações eram para que Jared Maddox ficasse apropriado para... Gregory Peck. Lancaster disse que Jared Maddox deveria ser interpretado por Gregory Peck, talvez lembrando-se de “Estigma da Crueldade” (The Bravados). Porém Winner insistiu e disse que só faria o filme com Lancaster. Vale lembrar que o filme anterior de Burt Lancaster havia sido “O Retorno de Valdez” (Valdez is Coming) e ele já havia assinado contrato para atuar em “A Vingança de Ulzana” (Ulzana’s Raid), sob a direção de seu amigo Robert Aldrich. Seriam três westerns em sequência, o que talvez não fosse muito bom para a carreira de Lancaster, que vinha declinando acentuadamente. Burt Lancaster acabou aceitando a proposta de trabalho e foram todos para Sonora, no México, pois Winner avisara que não filmava em estúdios.

Numa das primeiras cenas a serem filmadas, Jared Maddox (Burt Lancaster) tem que atirar com o revólver no cavalo de Vernon Adams (Robert Duvall), conforme indicava o roteiro. Fizeram duas tomadas e na terceira Lancaster empunhou uma Winchester .73 e se preparava para disparar quando Michael Winner gritou que estava errado pois o roteiro dizia que ele deveria disparar com o revólver, como fizera nos takes anteriores. Para surpresa de todos presentes à filmagem, Burt Lancaster largou o rifle e foi em direção a Winner dizendo a ele: “O que você entende de westerns? Você não entende nada de westerns!” Nervoso e descontrolado Lancaster segurou Michael Winner pelas duas lapelas e gritou: “Eu vou matar você! Eu vou matar você!” Winner empalideceu e houve uma necessária pausa para que a calma voltasse. Dali a meia hora a cena ia ser refeita e Burt Lancaster perguntou a Winner com qual arma ele deveria atirar no cavalo de Robert Duvall. Ainda lívido, Winner respondeu que era com a Winchester pois não queria morrer pois tinha que terminar aquele filme...


Burt Lancaster era um ídolo para Michael Winner e continuou sendo ainda mais depois de terminadas as filmagens de “Mato em Nome da Lei”. Fizeram outro filme juntos, o suspense “Scorpio”, com Alain Delon também no elenco. Burt Lancaster sempre falou bem de Michael Winner dizendo que ele filmava rapidamente, de modo econômico e conseguia dominar todo o set de filmagem. (???) Winner também sempre se referiu a Lancaster dizendo que ele era um extraordinário ator e exigente profissional. Michael Winner se encontrou com Charles Bronson em “Renegado Impiedoso” (Chato’s Land) e depois fizeram “Desejo de Matar” (Death Wish), que teve várias continuações que deixaram ricos tanto Winner quanto Charles Bronson. Será que para fazer “Desejo de Matar” Winner não se inspirou um pouco em Burt Lancaster?

Acima Michael Winner e Charles Bronson num intervalo de filmagens de
"Renegado Impiedoso"; abaixo Lancaster e Alain Delon numa cena
de "Scorpio", thriller dirigido por Michael Winner.

Nota do CINEWESTERNMANIA: O livro “Burt Lancaster – The Man and His Movies”, de Allan Hunter, afirma que “Mato em Nome da Lei” (1971) foi o primeiro western a ser dirigido por um diretor inglês. Talvez o autor desconheça que em 1961 o diretor inglês Roy Ward Baker dirigiu o faroeste “A História de um Homem Mau” (The Singer not the Song), com John Mills, Dirk Bogarde e Mylène Demongeot.


8 comentários:

  1. Burt Lancaster (1913-1994) foi sem dúvida um dos mais talentosos atores da Sétima Arte, mas tinha uma personalidade um tanto excêntrica talvez perdendo apenas para Marlon Brando, e isto sem contar que a cada informação sobre este brilhante ator há sempre um ponto de referência que nada o beneficia, como li recentemente no caso do atrito entre ele e Jack Elam em seu blog. Que absurdo!!! Mas faça-se justiça e separemos as coisas: como artista um talento inigualável, já como ser humano...

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  2. De fato nosso caro Burt Lancaster não tem se saído bem nas páginas das biografias que o Darci tem usado como referência para seus textos.

    Mas ainda reluto em julgá-lo. Faço isso porque se o próprio Michael Winner, que teria enfrentado o mau humor do astro americano, voltou a trabalhar com ele e o cobria de elogios após os eventos relatados (tendo a reciprocidade de Lancaster), por que eu o criticaria por esses acontecimentos?

    Como grande fã de Burt Lancaster penso que, por enquanto, sua imagem não sofreu nenhum arranhão segundo meu modo de avaliar. Bom, isso até um possível próximo artigo do Darci revelando mais algum mau momento dele, claro (risos).

    Edson Paiva

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  3. Burt Lancaster é um dos meu atores preferidos, talvez mesmo aquele que eu mais admire pelo conjunto admirável de seus filmes. Sei que cinéfilos gostam de saber o que se passa por trás dos bastidores e essas histórias por vezes até desabonam nossos ídolos. Apesar do incidente, Michael Winner sempre se referiu elogiosamente a Burt Lancaster.

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  4. Acho estranho porque certa vez li um depoimento de Luchino Visconti dizendo que Lancaster era um gentleman... Mas o cara parece que era barra pesada, a arrogância em pessoa...

    O Falcão Maltês

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  5. Dificil para alguns diretores, mas era ou isso ou fazer filmes mediocres com atores mediocres.
    Sabia que Lancaster era um homem difícil. Mas não tanto! Conhecia o temperamento de Brando, o estrelismo de Duke e a postura anticonsensual de Douglas. Mas não os cria tanto assim embrutecidos.
    Mas...é isso. O homem podia e mandava e fazia o que desejava.
    Se não me engano, este bom faroeste foi um dos primeiros a utilizar cenas mais contundentes e fortes de mortes por balas. Inclusive, eu o vi por comentario de um colega de escola que me contou os estragos que os disparos faziam nas pessoas nesta pelicula. Fui ve-lo e era isso mesmo.
    Há pouco o revi na TV e hoje já não é tão forte assim. Porém, lá por 72/73 era de uma violencia extrema.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  6. Nery;

    Porém, com Elan ele não se deu tão bem assim como com o Winner.
    Sabe? Acho exagero ou abuso uma atitude extrema assim! Afinal, quem dirigia o filme? Ele ou Winner?
    Estrelismo. Estrelismo puro. Porque, ele deve ter dito a muitos diretores o mesmo que ao Wiiner. E nunca soube de nenhum que ele matou!
    jurandir_lima@bol.com.br

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  7. Paiva? Veja bem;

    Boi sabe onde arromba a cerca. Além do mais, pelo que notei no post, tudo ocorreu no inicio das filmagens. E Lancaster, que também para mim segue sendo o adorado Lancaster, tinha que mostrar para o Winner quem ele era, com quem ele estava lidando, que o grande e o forte ali, que era, naturalmente, ele.
    Mas, com o andamento das filmagens, ele deve ter notado que o homem não era tão mal diretor assim e, no minimo sendo sensato, não escondeu suas qualidades (do diretor).
    Por outro lado, Paiva, isto é de nosso conhecimento através de biografias. E quando se faz uma biografia de "FULANO OU SICRANO", ele é sempre o heroi, também no livro.
    Entendeu? Abraço e foi um bom coment. o vosso.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  8. Nahud?

    É o que digo! Boi sabe onde arromba a cerca. E não se pode, nem ele, Lancaster, podia, dar o mesmo tratamento a um Visconti que daria, ou deu, a um quase desconhecido Winner. Clarissimo isso, não?
    Sei que você sabe como é! Abraço a fulano e apenas aperto a mão de sicrano. Compreende? Um exemplo apenas.
    Abraço,amigo. Ah! Já fiz meu Quiz. Boa sorte para mim.
    jurandir_lima@bol.com.br

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