|
William Talman; Spencer Tracy, Ernest Borgnine e Lee Marvin
|
Nos Estados Unidos leva-se muito a
sério a questão do plágio e, por vezes, fortunas são pagas em direitos autorais
quando se descobre algo que não é original. Por essa razão não se brinca com
copiar alguma música ou história, o que não impede que, mesmo roteiros de
cinema que tenham sido ‘inspirados’ por textos escritos por outros autores, se ‘esqueçam’
de dar crédito ao pai da ideia. Isto foi o que aconteceu com “Joe Dakota”,
pequeno western produzido pela Universal em 1957 e estrelado por Jock Mahoney. Os
roteiristas William Talman e Norman Jolley escreveram uma história que em tudo
se parece com “Conspiração do Silêncio” (Bad Day at Black Rock), o clássico que
John Sturges realizou em 1955 e que muitos consideram um western moderno.
William Talman, um dos autores, não é um nome estranho para muitos cinéfilos
pois foi ator coadjuvante em diversos filmes e na TV cansou de, como advogado,
enfrentar e ser derrotado por Perry Mason (Raymond Burr) na famosa série de TV.
Talman faleceu aos 53 anos de idade e este seu trabalho como escritor não deve
tê-lo deixado orgulhoso por ser uma descarada imitação do filme de Sturges. No
entanto, mesmo sendo uma produção barata e sem nomes famosos no elenco (Lee Van
Cleef demoraria para virar astro), este western filmado para complementar
programas duplos tem suas virtudes e entretém os fãs de faroestes.
|
Jock Mahoney |
O
estranho hostilizado - Joe Dakota (Jock Mahoney) é um
estranho que chega à pequena Arborville e intriga os moradores do lugar porque
quer, de todas as maneiras, saber de um índio chamado ‘Joe Dakota’ (Francis
McDonald). Descobre então que o índio havia sido enforcado sob a acusação de
tentar estuprar a jovem Jody Weaver (Luana Patten). A propriedade do índio
passara então para as mãos de Cal Moore (Charles McGraw), homem desonesto e que
mais tarde descobriu petróleo no terreno do índio ‘Joe Dakota’. Este não tinha
esse nome, mas ao assinar um documento no registro de imóveis escreveu no papel
oficial as únicas palavras que aprendera a rascunhar e que formavam o nome de
seu amigo e protetor, o Capitão Joe Dakota do Exército Americano. O verdadeiro
Joe Dakota tem que enfrentar a hostilidade do povo de Arborville sob a
liderança de Carl Moore, até que desmascara o espertalhão. Joe Dakota traz à
tona a verdade sobre a tentativa de estupro cujo autor não foi seu amigo índio
que acabou pagando com a vida pela acusação e Moore perde a posse do terreno.
|
Claude Akins, Lee Van Cleef e Charles McGraw |
Habitantes
assustados - Quem não conhece ou não se recorda de “Conspiração do
Silêncio” vai se deixar envolver pela trama de “A Desforra do Estranho” e
consequente mistério que envolve a presença de Joe Dakota em Arborville. Por
outro lado, quem logo perceber a semelhança da história com o filme de John Sturges,
nem por isso perderá o interesse em ver como os fatos irão se encaixar para
determinar o final. Pesa ainda a favor deste “Joe Dakota” o fato de se estar
diante de um western de baixíssimo orçamento e ainda assim o diretor Joe
Bartlett realizar um filme conciso e com boa carga de emoção. Jock Mahoney
visivelmente manca quando caminha, levando a crer que pudesse ter alguma
dificuldade com uma das pernas, assim como Spencer Tracy havia perdido um braço
na guerra em “Conspiração do Silêncio”. Mas ao contrário do já envelhecido
Tracy, Jock Mahoney é o tipo de personagem imbatível, perfeito para intimidar o
assustado povo da pequena cidade, inclusive o vilão que tramara a morte do
velho índio.
|
Lee Van Cleef e Claude Akins |
Preconceito
forte - O forte preconceito do pós-guerra contra os japoneses é a
tônica de “Conspiração do Silêncio”, transformado, em “Joe Dakota”, na execução
sumária, través de enforcamento, do índio, figura igualmente perseguida pelo
preconceito pelos homens brancos do Velho Oeste. O Capitão, no entanto,
representando o Exército, é humilde e justo na amizade e respeito pelo índio. Essa
ilação, porém, não resiste à lembrança de como os túnicas azuis trataram os
nativos atendendo aos interesses de Washington e dos homens brancos. Porém
ainda não era, em 1957, tempo para se rever em maior profundidade essas
questões e menos ainda em um pequeno western.
|
Lee Van Cleef, Anthony Caruso e Claude Akins |
|
Jock Mahoney |
Um
ator com bela biografia - Jock Mahoney é dos menos conhecidos
atores que fizeram westerns B, ainda que sua carreira seja digna de uma bela
biografia sem o final feliz de ter ele se transformado em astro verdadeiro.
Desde os tempos de dublê de atores famosos (Gregory Peck, John Wayne, Errol
Flynn), até ser o Durango Kid das ações mais arriscadas em lugar de Charles Starrett,
Mahoney era conhecido apenas por aqueles cinéfilos que gostam de saber de tudo
sobre todos que atuam nos filmes. Certo que chegou até a entrar na lista dos
atores que personificaram ‘Tarzan, o Rei das Selvas’, mas Mahoney nunca atingiu
a categoria que fazia por merecer, especialmente nos faroestes. E como ‘Joe
Dakota’ Mahoney está ótimo e seu melhor momento de ação neste filme é quando
luta, numa divertida sequência, contra Claude Akins e Lee Van Cleef. Em outra
sequência Mahoney é jogado numa enorme poça de petróleo e só é reconhecido
porque ele jamais aceitaria ser ‘dublado’.
|
Luana Patten e Barbara Lawrence |
|
Jock Mahoney |
Pequeno
e simpático western - O eficiente Charles McGraw é o homem
mau da história enquanto Luana Patten, aos 19 anos, é um par amoroso jovem
demais para Jock Mahoney. Além de Lee Van Cleef e de Claude Akins, dois dos
mais consagrados vilões de Hollywood, o elenco traz ainda Anthony Caruso, desta
vez como um imigrante italiano de boa índole e o único na história com essa
característica, até por não ser norte-americano, a discordar da hostilidade a
Joe Dakota. Quando se está diante de um western de pequeno orçamento que
resulta em bom filme sempre se fica a imaginar como seria ainda melhor se
realizado com outro padrão. Mas aí a exigência do espectador seria maior e
roubaria o gosto que só simpáticos pequenos faroestes têm, como este “A Desforra
do Estranho”.
|
Charles McGraw; Jock Mahoney |