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Seriados e filmes de sucesso como "Suplício de uma Saudade" eram os programas obrigatórios de José Correia Dantas. |
Nascido em Neópolis (Sergipe), José
Correia Dantas chegou em São Paulo com sua família quando tinha 12 anos de
idade. E foi na capital paulista, mais exatamente no Alto do Ipiranga que o
menino José entrou pela primeira vez em um cinema, o Cine Maracanã. Além de um
faroeste que José não lembra o título, era exibido também um capítulo do
seriado “A Legião do Zorro” (Zorro’s Fighting Legion), estrelado por Reed
Hadley. A experiência de conhecer o que era um cinema foi inesquecível e José
passou a frequentar semanalmente não só o Cine Maracanã, mas também os demais
cinemas do tradicional bairro da ‘Colina Histórica’, como é conhecido o
Ipiranga. Nos Cines Samarone, Soberano, Paroquial e Anchieta o pequeno
sergipano passou momentos inesquecíveis de sua infância vibrando com as aventuras
de Rocky Lane, Roy Rogers, Durango Kid, Bill Elliott, Tim Holt e outros
mocinhos. Acompanhados com ansiedade faziam parte das programações os seriados
“O Terror dos Espiões”, com Kane Richmond; “O Homem de Aço/As Aventuras do
Capitão Marvel”, com Tom Tyler; “O Chicote do Zorro” (Zorro’s Black Whip), com
Linda Stirling; “A Legião do Zorro” e mais que todos com “O Dragão Negro”,
estrelado por Rod Cameron, o melhor de todos os seriados na opinião do jovem. Os cinemas do Ipiranga transformaram José Correia
Dantas em verdadeiro cinéfilo, daqueles que não perdiam nenhum dos grandes
filmes exibidos. Ele que teve a felicidade de assistir nas telas dos cinemas
entre outras sucessos a “Os Brutos Também Amam” (Shane), “Os Dez Mandamentos”,
“Suplício de uma Saudade” e “O Maior Espetáculo da Terra”.
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Acima um Simca; no centro Juscelino Kubitschek acenando para o povo; abaixo um DKW-Vemag. |
Encontro
com fãs de faroestes - A indústria automobilística
brasileira, com o decidido apoio do presidente Juscelino Kubitschek foi implantada na região do ABC, na Grande São Paulo, região vizinha ao bairro
do Ipiranga. E como muitos outros jovens, José Correia Dantas fez um curso de
torneiro mecânico especializando-se como torneiro-ferramenteiro e passando a
trabalhar em empresas da nascente indústria de auto-peças, fornecedoras das
grandes montadoras como Volkswagen, Simca, Vemag e Willys Overland. Vieram então
o casamento, os filhos e a vida de José, agora chamado pelo sobrenome Dantas, prosseguia como a de tantos outros
metalúrgicos, exceto pela saudade dos tempos de adolescência quando o cinema
era sua principal diversão. Como tudo muda na vida, o cinema também havia
mudado e os filmes dos anos 70 e 80 já não atraíam Dantas como antigamente. Mas
foi no dia 8 de maio de 1986 que a vida do torneiro-ferramenteiro mudaria ao ler em um
jornal matéria sobre um grupo de senhores de meia idade que se reuniam para
assistir... faroestes! Dantas nem acreditou e no sábado imediato foi conferir no
endereço publicado na reportagem: Rua José Getúlio número 442, bairro da Aclimação.
Ali funcionava o FotoCineClube Bandeirante, local onde se reunia todos sábados
à tarde a confraria criada por iniciativa do médico Aulo Barretti. Dantas se sentiu
em casa em meio aos novos amigos Doutor Aulo, Clóvis Ribeiro, Nelson
Pecoraro, Dionísio Nomellini, Sergio Pereira, Umberto Losso, Cláudio Caltabiano
e Jorge Cavalcanti Araújo Filho.
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A capa da revista com desenho de Tex Ritter que a filha de Dantas confundiu com o próprio pai. |
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Tex Ritter e Dantas 'Bob Sritter'. |
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Long-playings da coleção de Dantas. |
Guitarrista
diletante - Falar em Tex Ritter, que era também cantor, lembra música,
outra das paixões de José Correia Dantas. No início dos anos 60 Dantas adquiria
todos os compactos e long-playings dos conjuntos The Shadows e The Ventures
pois adorava aquela vertente do Rock ’n’ Roll que era a música instrumental.
Para alegria de Dantas, com o advento da Jovem Guarda, proliferaram no Brasil
conjuntos como The Jet Blacks, The Jordans, The Bells, The Clevers (Os
Incríveis) e outros. E Dantas, que também tocava sua guitarra, executava “Apache”,
“FBI”, “Kon-Tiki”, “Geronimo”, sucessos do The Shadows, “Walk, Don’t Run”, do
The Ventures e “Rebel Rouser” e “Shazam!” do guitarrista Duanne Eddy, outro instrumentista
de quem Dantas era grande fã. Uma alegria para Dantas foi quando, há
poucos anos, assistindo a um DVD da banda Dire Straits viu o guitarrista Mark Knopfler dizer
que sua maior influência musical foi o conjunto The Shadows. Em seguida
Knopfler chamou ao palco Hank Marvin, guitarrista do The Shadows, que estava na plateia e ambos executaram alguns
sucessos do lendário conjunto inglês. Claro que diante da TV o nostálgico Dantas também dedilhava sua
guitarra, acompanhando musicalmente seus ídolos. Conhecedora do gosto
musical do avô, uma neta de Dantas que atualmente estuda Medicina na Rússia, na cidade de Kursk, enviou a ele uma pequena filmagem, feita por celular, mostrado um
grupo instrumental russo exibindo-se em uma praça pública de Kursk e tocando “Apache” no
estilo inconfundível do conjunto The Shadows.
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Dantas e Dean Martin |
As
balas perfeitas de Dantas - Na confraria que se reunia aos
sábados e que se trajava como mocinhos do cinema para as festas do grupo ou eventuais reportagens, muitos tinham belas vestimentas, cinturões e até mesmo réplicas importadas
de Colt Peacemaker, Colt Army e Colt Navy. Mas nos cinturões faltavam as imprescindíveis balas.
Foi então que Dantas torneou peças de alumínio fazendo réplicas perfeitas de
balas calibre 38 que, prateadas, ornamentaram seu cinturão para espanto e
admiração dos demais mocinhos da confraria. Dantas não conseguiu atender de
imediato tantos pedidos de balas dos amigos do clube, alguns pedidos muito
especiais. Para o Celso ‘Rocky Lane’ Gutierre Dantas fabricou balas calibre 45;
já o Lazinho ‘Kid Blue’ queria balas um pouco menores para combinar com seus
belos cinturões e Dantas as executou no calibre 22. Assim, graças ao torneiro-ferramenteiro Dantas, conhecido por 'Bob Steele', 'Tex Ritter' ou ainda 'Bob
Sritter', os cowboys puderam fazer bonito diante das câmaras das emissoras de
televisão e das Nikkons dos fotógrafos de jornais e revistas. Umberto ‘Hoppy’
Losso, um dos mais queridos mocinhos da confraria tinha um carinho especial por Dantas e gostava de ser fotografado com
ele. Assim como ‘Hoppy’ Losso, Dantas gostava de variar seus trajes de mocinho
e uma de suas últimas ‘criações’ foi se apresentar com roupa semelhante àquela que
Dean Martin usou em “A Noite dos Pistoleiros” (Rough Night in Jericho).
Desnecessário dizer que Dantas é fã de Dean Martin não só como ator mas também
como cantor.
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Duelo entre Dantas Bob Sritter e Lazinho Kid Blue, com destaque para as balas fabricadas pelo torneiro-ferramenteiro Dantas, no cinturão do Kid Blue. |
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Doris Day |
Musicais
e spaghetti-westerns - Dantas aprecia também os musicais
dos bons tempos de Hollywood, sendo o principal deles “Cantando na Chuva”. E o
segundo musical que Dantas mais gosta é “Ardida como Pimenta” (Calamity Jane),
filme com Doris Day e Howard Keel. Dantas considera esse filme maravilhoso e que só
não faz parte de sua lista de melhores faroestes por ser uma comédia-musical
ambientada no Velho Oeste. Tendo assistido diversos westerns-spaghetti, Dantas
cita como muito bons “O Dólar Furado” (Un Dollaro Bucato), “Por um Punhado de
Dólares” (Per un Pugno di Dollari) e “Três Homens em Conflito” (Il Buono, Il
Brutto, Il Cattivo). E decididamente Dantas não gosta de “Era Uma Vez no Oeste”
(C’Era Una Volta Il West), que considera excessivamente lento. A pedido do
WESTERNCINEMANIA Dantas relacionou seu Top-Ten Westerns que são os seguintes:
1.º) Johnny Guitar (Johnny Guitar), 1954 –
Nicholas Ray
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Sterling Hayden |
*****
2.º) Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 – George Stevens
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Alan Ladd |
*****
3.º) Homem Sem Rumo (Man Without a Star),
1955 – King Vidor
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Kirk Douglas |
*****
4.º) Onde Começa o Inferno (Rio Bravo), 1959 – Howard Hawks
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Walter Brennan e John Wayne |
*****
5.º) Duelo de Titãs (Last Train from Gun
Hill), 1959 – John Sturges
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Kirk Douglas |
*****
6.º) Balas que não Erram (No Name on the
Bullet), 1959 – Jack Arnold
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Audie Murphy |
*****
7.º) Sem Lei e Sem Alma (Gunfight at the OK
Corral), 1957 – John Sturges
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Kirk Douglas, Burt Lancaster, John Hudson e DeForest Kelly. |
*****
8.º) O Matador (The Gunfighter), 1950 –
Henry King
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Gregory Peck |
*****
9.º) Golpe de Misericórdia (Colorado Territory), 1949 – Raoul Walsh
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Joel McCrea |
*****
10.º) A Noite dos Pistoleiros (Rough Night in Jericho), 1967 – Arnold
Laven
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George Peppard e Dean Martin |
Como se vê José Correia Dantas relacionou
três faroestes com Kirk Douglas e dois com Dean Martin,. Entre os diretores
apenas John Sturges teve dois westerns na preferência de Dantas e apenas dois
dos filmes listados não são da década de 50, decênio favorito do cowboy Bob Sritter. Como é
bastante difícil limitar a apenas dez os faroestes preferidos, Dantas faz
questão de lembrar que gosta também bastante destes outros dez westerns:
A
Vingança dos Daltons (When the Daltons Rode), 1940 – George
Marshall
Matar ou Morrer (High Noon), 1952 – Fred Zinnemann
O
Pistoleiro (The Stranger Wore a Gun), 1953 – André De Toth
Vera
Cruz (Vera Cruz), 1954 – Robert Aldrich
Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 – John Ford
O Último Pôr-do-Sol (The Last Sunset), 1961- Robert Aldrich
Os Filhos de Katie Elder (The Sons of Katie Elder), 1965 – Henry Hathaway
Dólares Malditos (The Bounty Killer), 1965 – Spencer Gordon Bennet
Gigantes em Luta (The War Wagon), 1967 – Burt Kennedy
O
Preço de um Covarde (Bandolero!), 1968 –
Andrew V. McLaglen![]() |
Dantas Bob Sritter em cena típica de cliffhanger da Republic Pictures. |
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Dantas em ação esmurrando um sheriff em Corriganville. |
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Dantas e 'Hoppy' Losso; Dantas e El Bandolero Mexicano. |