Após 100 dias no ar encerrou-se o prazo para que cada seguidor do blog Westerncinemania escolhesse os cinco melhores westerns de todos os tempos. Foram 133 votos, cada um indicando cinco faroestes. Com a democratização do espaço digital entre internautas de todas as idades, havia a quase certeza que os faroestes clássicos dominariam a enquete e não se pode dizer que houve surpresas na lista dos dez primeiros classificados. "Rastros de Ódio" ratificou o que é quase uma unanimidade que é ser apontado como o Melhor Western de Todos os Tempos. “Rastros de Ódio” é o único western a fazer parte da mais seleta lista de melhores filmes de todos os tempos, a lista decenal da publicação inglesa “Sight & Sound”. Isso por si só bastaria para fazer da obra-prima de John Ford o mais prezado entre todos os westerns, único filme do gênero a figurar ao lado de “Cidadão Kane” (Welles), “A Paixão de Joana d’Arc” (Dreyer), “O Encouraçado Potemkin” (Eisenstein), “2001 – Uma Odisséia no Espaço” (Kubrick), “Um Corpo que Cai” (Hitchcock), “Contos de Tóquio" (Ozu), “O Atalante” (Vigo), e outros tesouros artísticos da humanidade criados pelo cinema. Na segunda colocação surge "Os Brutos Também Amam", western realizado por George Stevens com o mais rigoroso apuro técnico e artístico, muito justamente chamado de “o western mais querido do cinema”. Woody Allen é um dos muitos fãs de “Shane”. O terceiro lugar é de "Matar ou Morrer", de Fred Zinnemann, um dos mais influentes westerns já feitos e também um dos mais simples, lembrando em tudo a modéstia dos faroestes dos pequenos estúdios. Em tudo menos na concepção fílmica, edição e trilha sonora memoráveis. A quarta colocação pertence ao mais importante western do cinema, aquele que deu status e respeito ao gênero, que é "No Tempo das Diligências". Dirigido por John Ford num tempo em que o western não era levado a sério, essa inusitada (e depois muito imitada) aventura representou o ponto decisivo, o marco do western no cinema. Em quinto lugar surge a obra-prima do mais discutido dos diretores de westerns que foi Sam Peckinpah, com "Meu Ódio Será Sua Herança". Com este filme Peckinpah revolucionou não só o gênero mas também o próprio cinema que nunca mais foi o mesmo após aquilo que já foi chamado de o balé mais sangrento do poeta da violência. Ocupa a sexta posição "Sete Homens e Um Destino", de John Sturges, verdadeiramente seminal no gênero, tanto na estrutura da ação quanto na brilhante música que se tornou clássica, a própria marca do western. Em sétimo, empatados, duas obras-primas de John Ford, impossível de dizer qual a melhor. A poética e mítica visão do Velho Oeste em "Paixão dos Fortes" ou as transformações operadas na vida daquela região mostradas em "O Homem que Matou o Facínora". A célebre frase “Quando a lenda é mais forte que um fato, imprima-se a lenda” serve tanto para o western de 1946 quanto para o de 1962. Em ambos a maestria e a genialidade de John Ford. A nona colocação pertence a "Onde Começa o Inferno", de Howard Hawks, a mais alegre e simpática aventura vivida num western, aquele que pode ser chamado de o “Cantando na Chuva” dos faroestes. O décimo lugar também é de Howard Hawks que dirigiu o extraordinário "Rio vermelho", filme que retrata melhor que qualquer outro a bravura dos cowboys quando a condução do gado só podia ser feita por homens de têmpera de aço.
Ford (acima), Hawks e Stevens (centro), Peckinpah, Zinnemann e Sturges (abaixo) |
OS DIRETORES - Quatro dos dez melhores westerns de todos os tempos da enquete de Westerncinemania foram dirigidos por JOHN FORD, incontestavelmente o grande diretor do gênero, isto devido não só por ser ele um brilhante cineasta, mas e principalmente por amar o gênero como nenhum outro. Amar a ponto de assim se identificar naquela famosa reunião de diretores que decidiu os destinos do cinema: “Meu nome é John Ford e eu faço westerns”. Que outro cineasta (e nessa reunião estavam Wyler, De Mille, Vidor, Capra, Wellman, Hawks, Zinnemann, Welles, Stevens e outros) teria a coragem de se identificar como um simples diretor de westerns? Maior diretor norte-americano de todos os tempos, vencedor de quatro prêmios Oscar, John Ford surge como o maior nome desta enquete. Dizia-se que HOWARD HAWKS tinha a intenção de realizar uma obra-prima em cada gênero cinematográfico. Difícil dizer se conseguiu realizar esse objetivo nos gêneros musical, policial noir, na comédia, no filme de aventuras. No western, porém, Hawks realizou não uma, mas duas obras-primas (“Onde Começa o Inferno” e “Rio Vermelho”), isto apesar de dedicar-se pouco aos faroestes. Tivesse passado mais tempo nas pradarias e certamente o gênero teria sido muito mais rico. GEORGE STEVENS foi um dos mais notáveis diretores do cinema norte-americano e autor de alguns dos mais belos filmes da história da 7.ª Arte. Incursionou pouco pelo gênero western (entendo que “Giant” não seja um faroeste), mas quando o fez realizou um filme digno do diretor de “Ritmo Louco”, “Gunga Din”, “Assim Caminha a Humanidade” e “Um Lugar ao Sol”, que foi “Os Brutos Também Amam”. O que mais se ressalta nos filmes de FRED ZINNEMANN é a integridade e a força moral dos protagonistas de seus filmes. Alguém pode se esquecer do soldado Robert E. Lee Prewitt (Montgomery Clift), da Irmã Luke (Audrey Hepburn), de Thomas More (Paul Scofield) e mais especialmente de Will Kane (Gary Cooper)? Todos capazes de sacrificar a própria vida por um princípio. Cada filme de Zinnemann é uma lição de vida que, infelizmente, a humanidade se recusa a aprender. É dele, claro, o magnífico “Matar ou Morrer”. JOHN STURGES dirigiu muitos westerns, a maioria deles muito bons ou clássicos como é o caso de “Sete Homens e um Destino”. O conjunto de belos westerns de John Sturges é simplesmente assombroso e muitos críticos consideram “Conspiração do Silêncio” uma obra-prima entre os westerns. Pena que esse grande filme não possa ser visto como um western puro. O mais novo entre os diretores dos dez melhores westerns é SAM PECKINPAH. O mais novo e o mais discutido. Praticamente todos os seus trabalhos têm ardorosos admiradores assim como ferozes críticos. Porém se algo foge a qualquer discussão é haver ele realizado um dos grandes filmes de todos os tempos ao dirigir “Meu Ódio Será Sua Herança”.
O MAIOR DE TODOS OS COWBOYS - Como rotular John Wayne? Qualquer cinéfilo pode listar dezenas de atores melhores que ele. Há quem sequer considere John Wayne um ator, por ele sempre haver interpretado a si próprio. O autor Michael Munn, quando conheceu Duke pessoalmente, lhe disse: “Meu Deus! Parece que eu já o conheço há muito tempo.” E Duke respondeu: “Então você deve ter visto muitos dos filmes em que trabalhei...” Essa pequena passagem é um reconhecimento do próprio John Wayne a suas limitações como ator e sua intenção de não fazer mais do que aquilo que podia fazer. Duke sabia que não era um Brando ou um Montgomery Clift. Duke não tinha formação teatral e também nunca pisou numa escola de arte dramática. Como então explicar ser John Wayne o ator preferido de John Ford e de Howard Hawks? Questão fácil de responder: Esses homens que conheciam profundamente o cinema sabiam do potencial artístico de John Wayne e souberam como extrair dele grandes atuações. Se em “No Tempo das Diligências” Duke tem apenas 14 falas como Ringo Kid, nove anos depois ele causou admiração aos críticos interpretando Tom Dunson em “Rio Vermelho”. Entre as mais inesquecíveis criações de um ator num western está o paradoxal Ethan Edwards de “Rastros de Ódio”, homem torturado, obececado, triste e rude e ao mesmo tempo capaz dos mais ternos gesto e palavras de um western: “Let’s go home, Debbie”. E o alegre, generoso e tímido John T, Chance de “Onde Começa o Inferno” e o discreto, soturno e humilde Tom Doniphon de “O Homem que Matou o Facínora”, ambos grandes criações de John Wayne. Como pode ele ser chamado de limitado e ser ao mesmo tempo uma verdadeira lenda do cinema, a própria tradução do cowboy norte-americano. Presente em cinco dos dez melhores westerns, John Wayne olha do alto para Alan Ladd, Gary Cooper, William Holden, Yul Brynner, Henry Fonda e James Stewart, os outros atores principais dos dez melhores westerns desta enquete. Talvez todos (à exceção de Alan Ladd) sejam atores mais completos que John Wayne, mas nenhum tão perfeito em cima de um cavalo ou fazendo o Bem superar o Mal como John Wayne.
Eis a classificação dos 50 westerns votados pelos seguidores do Westerncinemania com os respectivos votos conseguidos:
1.º) Rastros de Ódio (The Searchers), John Ford = 72
2.º) Os Brutos Também Amam (Shane), George Stevens = 55
3.º) Matar ou Morrer (High Noon), Fred Zinnemann = 43
4.º) No Tempo das Diligências (Stagecoach), John Ford = 34
5.º) Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch), Sam Peckinpah = 31
6.º) Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven), John Sturges = 29
7.º) Paixão dos Fortes (My Darling Clementine), John Ford = 25
7.º) O Homem que Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance), John Ford = 25
9.º) Onde Começa o Inferno (Rio Bravo), Howard Hawks = 24
10.º) Rio Vermelho (Red River), Howard Hawks = 23
11.º) Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo), Sergio Leone = 22
12.º) Era Uma Vez no Oeste (C’Era Una Volta Il West), Sergio Leone = 20
13.º) Winchester 73 (Winchester ’73), Anthony Mann = 15
13.º) Os Imperdoáveis (Unforgiven), Clint Eastwood = 15
13.º) Josey Wales, o Fora-da-Lei (Outlaw Josey Wales), Clint Eastwood = 15
16.º) Sete Homens Sem Destino (Seven Men from Now), Budd Boetticher = 14
16.º) Dança com Lobos (Dances with Wolves), Kevin Costner = 14
18.º) Da Terra Nascem os Homens (The Big Country), William Wyler = 13
18.º) Tombstone, a Justiça Está Chegando (Tombstone), George Pan Cosmatos = 13
20.º) Vera Cruz, Robert Aldrich = 12
21.º) Sem Lei e Sem Alma (Gunfight at the OK Corral), John Sturges = 11
22.º) Consciências Mortas (The Ox-Bow Incident), William A. Wellman = 10
22.º) A Última Carroça (The Last Wagon), Delmer Daves = 10
22.º) Minha Vontade é Lei (Warlock), Edward Dmytryk = 10
22.º) Pistoleiros do Entardecer (Ride the High Country), Sam Peckinpah = 10
26.º) O Álamo (The Alamo), John Wayne = 9
27.º) Duelo de Titãs (Last Train from Gun Hill), John Sturges = 8
27.º) Butch Cassidy (Butch Cassidy e Sundance Kid), George Roy Hill = 8
29.º) Duelo ao Sol (Duel in the Sun), King Vidor = 7
29.º) O Matador (The Gunfighter), Henry King = 7
29.º) O Preço de um Homem (The Naked Spur), Anthony Mann = 7
29.º) Por um Punhado de Dólares (Per um Pugno di Dollari), Sergio Leone = 7
33.º) Homem sem Rumo (Man Without a Star), King Vidor = 6
33.º) A Face Oculta (One Eyed-Jacks), Marlon Brando = 6
33.º) Pacto de Justiça (Open Range), Kevin Costner = 6
36.º) Django, Sergio Corbucci = 5
36.º) O Passado não Perdoa (The Unforgiven), John Huston = 5
36.º) Cavaleiro Solitário (Pale Rider), Clint Eastwood = 5
39.º) Johnny Guitar, Nicholas Ray = 4
40.º) Estigma da Crueldade (The Bravados), Henry King = 3
40.º) O Homem do Oeste (Man of the West), Anthony Mann = 3
40.º) A Conquista do Oeste (How the West was Won), Marshal-Hathaway-Ford = 3
40.º) O Último Pistoleiro (The Shootist), Don Siegel = 3
44.º) Legião Invencível (She Wore a Yellow Ribbon), John Ford = 2
44.º) Galante e Sanguinário (3:10 to Yuma), Delmer Daves = 2
44.º) Dragões da Violência (Forty Guns), Samuel Fuller = 2
44.º) O Homem que Luta Só (Ride Lonesome), Budd Boetticher = 2
48.º) A Última Fronteira/Galante e Aventureiro (The Westerner), William Wyler = 2
49.º) Sua Última Façanha (Lonely are the Brave), David Miller = 0
49.º) A Vingança de Ulzana (Ulzana’s Raid), Robert Aldrich = 0