UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

28 de junho de 2011

O INÍCIO DA DECADÊNCIA DE BURT LANCASTER

Burt Lancaster ficaria assim como Kid Shelleen...
Burt Lancaster foi um dos mais poderosos homens de Hollywood na década de 50. Como ator, desde o início de sua carreira, Lancaster vinha acumulando um sucesso após o outro. Tendo estreado no cinema em 1946, no filme “Os Assassinos”, Burt logo criou sua própria produtora, denominada Norma Productions (Norma era o nome da então esposa de Lancaster). Em 1953 Burt Lancaster associou-se a Harold Adolf Hecht e juntos formaram a produtora Hecht-Lancaster. Em 1958 James Hill se associaria à produtora que passou a ser Hecht-Hill-Lancaster. A companhia de Lancaster e de seus dois amigos foi a mais importante e bem sucedida produtora cinematográfica independente daqueles anos, produzindo grandes sucessos de crítica e de bilheteria como “Marty”, “Trapézio” e “A Embriaguez do Sucesso”. A Hecht-Hill-Lancaster adquiriu os direitos de dezenas de histórias e mesmo produzindo filmes num ritmo incessante, muitos textos interessantes foram deixados nas prateleiras à espera de melhor momento para serem filmados. Duas dessas histórias aguardavam que Burt Lancaster estivesse disponível para estrelá-las. A primeira chamava-se “The Way West”, de autoria de A.B. Guthrie e tinha, em 1958, um orçamento previsto de cinco milhões de dólares numa associação da Hecht-Hill-Lancaster com a United Artists. Ao lado de Burt Lancaster estariam Gary Cooper e James Stewart. Esse western só veio a ser filmado em 1967 produzido pela Harold Hecht Productions, do ex-sócio de Lancaster, e estrelado por Kirk Douglas, Richard Widmark e Robert Mitchum. Teve o título de “Desbravando o Oeste”. Quando a HHL foi dissolvida, em 1960, Hecht ficou com muitos dos roteiros que acumulavam poeira na estante. Um deles tornou-se um clássico do western-comédia.
E Lancaster parou de sorrir...
BURT LANCASTER FAZENDO A ESCOLHA ERRADA – Uma outra história que pertencia à Hecht-Hill-Lancaster era “The Ballad of Cat Balou”, de autoria de Roy Chandler. Burt Lancaster após ler o roteiro recusou-se a interpretar os irmãos gêmeos Kid Shelleen/Tim Straw pois como ator havia entrado na fase séria de sua carreira. Depois de “Vera Cruz” não mais quis mostrar seus famosos dentes nas cínicas risadas. De posse da história, em 1964, Harold Hecht decidiu que era hora de filmar “The Ballad of Cat Ballou” e tinha em mente Kirk Douglas para o papel duplo. A exemplo de Lancaster, Douglas também achou aquele papel uma aberração à qual ele não se submeteria. Lee Marvin foi quem acabou estrelando o filme que no Brasil chamou-se “Dívida de Sangue” (Cat Ballou). Lee fez o mundo inteiro rir como o pistoleiro bêbado, ganhou até um Oscar e em seguida atingiu o apogeu de sua carreira. E Lancaster que não queria fazer comédias aceitou atuar em “Nas Trilhas da Aventura”, (The Hallelujah Trail), western em tom de comédia dos mais fracos de John Sturges. Como resultado da queda de prestígio e de salário de Burt Lancaster, que não emplacava nenhum sucesso de bilheteria desde “Sem Lei e Sem alma”, o grande ator aceitou, em 1966, atuar em “Os Profissionais” com salário inferior ao de Lee Marvin. E pior que isso, com seu nome vindo em quarto lugar nos créditos iniciais, após os nomes de Lee Marvin, Robert Ryan e Woody Strode, respectivamente. Burt Lancaster só voltaria a sentir o sabor de um grande sucesso de bilheteria com “Aeroporto”, em 1970. Arrependimento maior que o de não ter atuado em “Cat Ballou”, certamente só pode ter sido a recusa de Lancaster em interpretar “Ben-Hur”, em 1959. Lancaster alfinetou Charlton Heston dizendo que ele ficava melhor nesses papéis bíblicos lembrando que Heston já havia sido ‘Moisés’ em “Os Dez Mandamentos”. E não é que Burt Lancaster também acabou tendo que pegar no cajado e vestir manto para interpretar o mesmo ‘Moisés’ para o filme “Moses”, produzido pela RAI – Radiotelevisone Italiana. E para que a coincidência fosse maior ainda, assim como Fraser Heston, filho de Charlton, interpretou ‘Moisés’ criança em “Os Dez Mandamentos”, William Lancaster, filho de Burt também interpretou ‘Moisés’ quando jovem em “A Terra Prometida – A Verdadeira História de Moisés” (Moses), protagonizado por Burt Lancaster. Há momentos na vida em que até mesmo um Lancaster faz a escolha errada...

4 comentários:

  1. Excelente este blog. Vim conhecê-lo a convite de Janete Palma, nossa amiga em comum. No tocante à este artigo sobre os dissabores dessa fase da carreira do Burt Lancaster, gostei muito da abordagem e das informações. Acrescento apenas que embora seu salário e prestígio estivessem em queda, fez artísticamente bons trabalhos, como "The Train", do John Frankenheimer, "Il Gattopardo" de Luchino Visconti, "The Swimmer" de Frank Perry e "The Scalphunters" do Sydney Pollack, nessa mesma época.

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  2. Olá, Luiz Antonio, seja bem-vindo a este espaço do western. Você tem razão pois à medida que Lancaster foi se aprimorando como ator e proporcionando suas melhores atuações dramáticas, o sucesso foi se distanciando. Vale lembrar também O Homem de Alcatraz e Elmer Gantry. Um abraço.

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  3. Não há espaço na vida para se triunfar sempre em todas as coisas que fazemos. Em se tratando de cinema, pior ainda. E errar, mesmo que na certeza de estar fazendo a coisa certa, faz parte do mundo do cinema.
    Lancaster pode ter tido estes entraves e alguns outros mais em sua vida no cinema, porém é dono de uma filmografia invejável! E se este ator fizesse Cat Ballou, daria uma porrada em Marvin de doer. Mas foi bom deixar um pouco para o outro que, com esta fita, deu um enorme salto em sua carreita.
    Quanto a seu nome em Os Profissionais estar em quarto ou quinto lugar, o que vale é sua presença, seu trabalho, sua interpretação. E neste filme ele esteve muito melhor que Ryan, Marvin e Strode, sem dúvida. Agora; que ele parecia se achar um pouco, isto me parece. Entregar Ben Hur para Heston e ainda dizer o que disse!!! E acho que Nas Trilhas da Aventura poderia ser um filme que ele poderia ter descartado de sua carreira, assim como o bom diretor Sturges nunca deveria entrar numa daquela. E Sturges também nunca deveria ter feito A Hora da Pistola. Cristo! Depois de fazer aquela beleza de filme Sem Lei e Sem Alma, para que se incutir mais uma vez no mesmo tema e fazer um films daquele?!
    Como se pode observar, nem somente Lancaster entrou em frias!
    Quanto a Douglas, também acho o papel dos gêmeos em Cat Ballou muito sua cara. Se sairia melhor que Marvin também. E acho terrível ele dizer que era uma aberração aquele papel, e fazer Cactus Jack o Vilão, que é uma delicia de fita, porém uma comédia também, onde ele não ficou bizarro ou ridículo.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  4. Quero, igualmente ao Darci, deixar aqui meus votos de Bem Vindo ao nosso mais novo colega de comentários Luiz Antonio.
    Mas, se conheceu o blog agora, deve dar uma retrocedida e conhecer e comentar muitos tópicos anteriores. Irá fazer uma viagem deliciosa no mundo do cinema de faroeste.
    Mais uma vez, Bem Vindo. E indique o blog para outros amigos seus amantes também do bom faroeste.
    jurandir_lima@bol.com.br

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