UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

30 de outubro de 2015

BARBAROSA – WILLIE NELSON COMO UM LENDÁRIO FORA-DA-LEI


Acima o autor texano William D.
Wittliff; abaixo Pauline Kael.
Pauline Kael foi a mais famosa, temida e influente crítica de cinema do século passado, nos Estados Unidos. Seus ácidos e mordazes comentários mais desagradavam que agradavam, porém eram sempre respeitados. Pauline Kael não devotava admiração pelos westerns que raramente recebiam dela críticas elogiosas e mesmo para os grandes clássicos Pauline guardava um pouco de seu veneno. Clint Eastwood era o alvo preferido de Pauline Kael que fazia críticas devastadoras sobre os filmes do ator-diretor. Em 1982 Pauline Kael assistiu ao western “Barbarosa” que recebeu dela, sempre econômica em elogios aos filmes do gênero, uma resenha altamente favorável e apenas isso já torna esse faroeste obrigatório. Produzido numa década em que pouquíssimos westerns eram filmados, “Barbarosa” foi uma reunião de esforços dos texanos Willie Nelson, Gary Busey e do escritor, também texano, William D. Wittliff, que juntaram o dinheiro necessário para fazer o filme. Wittliff viria a ganhar fama ao escrever a mini-série de TV “Os Pistoleiros do Oeste” (Lonesome Dove). O consagrado cantor Willie Nelson era amigo do ator-músico Gary Busey que protagonizou “A História de Buddy Holly”, em 1978. Busey, que tocava bateria, chegou a acompanhar Willie Nelson em início de carreira. Para dirigir “Barbarosa” foi chamado o australiano Fred Schepisi que em seu país havia realizado o estranho filme “O Canto de Jimmie Blacksmith”, um western na terra dos cangurus.


Acima Gilbert Roland; Willie Nelson.
Vingança a qualquer preço - William D. Wittliff escreveu a história de “Barbarosa” baseando-se em relatos contados pelos mais antigos, no Texas. Neste filme Karl Westover (Gary Busey), jovem fazendeiro do Condado de Blanco, está perdido, faminto e sedento no México, próximo à fronteira. Karl é socorrido por um homem chamado apenas de Barbarosa (Willie Nelson) e conta a ele que fugiu de uma guerra entre famílias depois de matar um cunhado e ser jurado de morte pelos familiares do morto. Barbarosa simpatiza com Karl porque ele próprio, há 30 anos, vem fugindo do patriarca mexicano Don Braulio Zavalas (Gilbert Roland). Todos os homens que através dos anos Don Braulio colocou no encalço de Barbarosa foram mortos pelo perseguido. O patriarca jamais perdoou Barbarosa por ele, na noite de seu casamento com sua filha Josephina (Isela Vega), ter atirado em sua perna à queima-roupa, fazendo dele um aleijado. Barbarosa ensina Karl como sobreviver nas áridas terras mexicanas e como enfrentar os sanguinários bandidos que infestam aquela região. No Outono e na Primavera, Barbarosa sempre visita às escondidas o rancho de Don Braulio para rever Josephina e numa dessas visitas leva Karl junto. Karl se apaixona por Juanita (Alma Martinez), a filha de Barbarosa com Josephina. Barbarosa vem sendo implacavelmente caçado por Eduardo (Danny De La Paz), sobrinho de Don Braulio, até que finalmente o mexicano consegue atingi-lo mortalmente. Karl, que com o passar do tempo cultivou uma barba também avermelhada, assume a identidade de Barbarosa, invade a hacienda e faz com que a lenda do invencível bandido continue.

Willie Nelson
Criação de uma lenda - A criação de um mito no Oeste antigo se dava através das histórias e canções que falavam de tal personagem, enaltecendo seu heroísmo ou mesmo citando sua crueldade. Assim foi com Barbarosa, cujas aventuras eram conhecidas de todos nas regiões próximas ao Rio Grande na sua delimitação do Texas com o México. Barbarosa teve suas orelhas cortadas pelos homens de Don Braulio na noite de seu casamento, quando estavam todos embriagados. O noivo então matou seus dois mutiladores e, à queima-roupa, disparou seu fuzil contra a perna esquerda de Don Braulio, decepando-lhe a perna. A partir de então Barbarosa não mais teve paz, perseguido que era sempre pelo desejo de vingança do patriarca mexicano cujos homens que escalava para a ingrata missão de exterminar Barbarosa eram por ele mortos. A lenda de Barbarosa, como mostra o filme, ganhou contornos quase sobrenaturais, tantas foram as vezes que ele conseguiu escapar da morte certa, fosse pelas mãos dos homens de Don Braulio, fosse pelos desafetos que encontrava pelo caminho. Barbarosa era um ladrão-aventureiro sempre prometendo a sua amada Josephina que um dia iria parar de fugir para com ela viver. Já maduro, Barbarosa instintivamente prepara seu substituto na improvável figura do fazendeiro descendente de europeus que como ele se tornara um fugitivo.

Willie Nelson com Isela Vega.
Vida contada em canções - Em suas linhas gerais, a história de “Barbarosa” lembra um daqueles dramalhões que a Pelmex sabia produzir como ninguém. Porém a direção de Fred Schepisi imprime ao filme um ritmo saboroso em que cada situação mais e mais ajuda na lenda criada sobre o fugitivo. Barbarosa é destemido e experiente nas questões de sobrevivência, além de contar com uma dose grande de sorte, como quando um tiro disparado contra sua barriga acerta a fivela de seu cinto, ferindo-o sem maior gravidade, isto quando todos acreditavam-no morto. E a vingança de Barbarosa não poderia ser mais barbara ao enterrar o bandido mexicano vivo. Este agoniza gritando por socorro mas sua gente se recusa a ajudá-lo temendo ser amaldiçoada pela força demoníaca de Barbarosa. É a lenda se impondo inexoravelmente entre aquele povo crédulo em forças misteriosas. E quando Barbarosa morre de verdade, não é vítima de tiro mas sim acertado na barriga por um crucifixo que se transforma em mortal objeto perfurante. Eduardo Savalas anuncia então a morte de Barbarosa e eis que, numa cerimônia para homenagear o valente jovem mexicano, Barbarosa reaparece para manter viva a lenda que será cantada em versos, histórias e canções.

Corpos semienterrados; Willie Nelson e Gary Busey observam.

Willie Nelson
Willie Nelson perfeito - Este western de Schepisi tem o estilo seco e mórbido de Sam Peckinpah, mormente “Tragam-Me a Cabeça de Alfredo Garcia”, por sinal com a mesma bonita Isela Vega no elenco. Por vezes as imagens semissurrealistas de “Barbarosa” e o clima de desordenada loucura remetem a Sergio Leone. O que se vê na tela é uma linguagem inusitada em faroestes, distante do convencional e, o que é melhor, inteiramente convincente. Para isso contribui a incrível criação de Willie Nelson como Barbarosa, papel para o qual o cantor parece ter nascido e que o faz demonstrar o ótimo ator que é. Infelizmente as belas imagens do Texas não receberam a trilha sonora musical apropriada e esta, apesar de variar de tema para tema incessantemente, nunca casa satisfatoriamente com o filme e nem lhe acrescenta as nuances que poderia ter. Se Willie é o Barbarosa perfeito, Gary Busey, que nunca convenceu como bom ator, quase põe a perder o trabalho todo, não conseguindo se decidir entre ser engraçado ou sério, ou a difícil mescla desses tipos, o que está muito além de sua capacidade de ator. Para compensar há Gilbert Roland impondo sua personalidade como o venerável patriarca que se compraz ao contar para as crianças histórias envolvendo seu genro e desafeto.

Gary Busey na sequência de fotos com a barba cada vez mais parecida
à de Willie Nelson.


A morte de Barbarosa.
Western misterioso - Fred Schepisi não mais voltou ao faroeste pois o público não queria mais assistir a esse gênero de filme. “Barbarosa” fracassou nas bilheterias, assim como fracassos foram inúmeros outros westerns naquele início de década, notadamente “O Portal do Paraíso” (Heaven’s Gate). Pouco adiantou, portanto, a resenha favorável de Pauline Kael após ver o filme. Demoraria ainda três anos para que um western fosse melhor aceito pelo público, o que aconteceu com “Silverado” e mais tarde com a pequena série de belos westerns produzidos nos anos 90. Com o passar dos anos “Barbarosa” ganhou mais e mais fãs pois é daqueles filmes estranhos que nos deixam a sensação de estarmos diante do bizarro, do misterioso e do inesperado. Ao término da projeção fica uma única certeza: que é um belo western.


27 de outubro de 2015

SÉRIES WESTERNS DE TV – ‘WHISPERING SMITH’ – A SÉRIE MALDITA DE AUDIE MURPHY


Acima o escritor Frank H. Spearman e
capa de seu livro mais famoso; abaixo
Alan Ladd como Whispering Smith.
Depois que a televisão tomou conta da quase totalidade dos lares norte-americanos, alguns astros da TV passaram a ganhar muito dinheiro quando as séries que estrelavam eram bem sucedidas. São muitos os exemplos de atores que deixaram suas séries tornando-se grandes nomes de bilheteria no cinema, entre eles James Garner (“Maverick”), Steve McQueen (“Procurado, Vivo ou Morto”) e Lee Marvin (“Mod Squad). Porém o caminho inverso, ou seja, sair do cinema para atuar na televisão era visto como sinal de declínio artístico. Audie Murphy não pensava assim e, embora seus westerns tivessem retorno financeiro garantido para a Universal Pictures, aceitou protagonizar uma série a ser exibida pela National Broadcasting Corporation (NBC). Com episódios de 25 minutos de duração e filmada em preto e branco na cidade-western da própria Universal o herói da série era o já conhecido detetive de estrada de ferro de Denver, Whispering Smith. O escritor Frank H. Spearman havia lançado o livro “Whispering Smith” em 1906, tendo essa história sido adaptada para o cinema em 1948, com Alan Ladd no papel-título. No Brasil esse western recebeu o título de “Abutres Humanos”, dirigido por Leslie Fenton e com Robert Preston e Brenda Marshall também no elenco. Audie Murphy jamais poderia esperar que a série que concordou estrelar fosse verdadeiramente maldita.

Formação do elenco central – Com o título de “Whispering Smith”, foi formado o elenco para a nova série que teria, além de Audie Murphy como Tom ‘Whispering’ Smith, o cantor Guy Mitchell como sidekick interpretando o também detetive George Rommack e Sam Buffington John Richards, como o chefe deles. Sam Buffington pode ser visto em pequenos papéis em “Balada Sangrenta” (King Creole) e em “Heróis e Barro” (They Came to Cordura). Guy Mitchell, por sua vez, iniciou sua vida artística como menino-prodígio, num tempo em que as crianças tinham muito espaço no cinema, entre elas Shirley Temple, Mickey Rooney e Deanna Durbin. Mitchell porém não deu certo como artista-mirim e acabou fazendo carreira como cantor. Assinando contrato com a Columbia, Guy Mitchell passou a acompanhar a Orquestra de Mitch Miller, que era também diretor artístico da Columbia. Foi pelas mãos de Miller que Guy Mitchell gravou “Singing the Blues”, em 1956, canção que fez estrondoso sucesso, permanecendo no primeiro posto da Billboard por dez semanas consecutivas e sendo, até hoje, um dos discos mais vendidos de todos os tempos.

Audie Murphy, Guy Mitchell e Sam Buffington

Robert Redford
Primeiros problemas – A série “Whispering Smith” parecia fadada ao sucesso, isto num ano em que das dez séries mais vistas pelo público telespectador, segundo o Nielsen Ratings, seis eram westerns: 1.º) “Gunsmoke” / 2.º) “Caravana” / 3.º) “O Paladino do Oeste” / 4.º) “O Homem do Rifle” / 6.º) “Maverick” / 10.º) “Wyatt Earp”. O nome de Audie Murphy tinha forte apelo e em meados de 1959 foi rodado o primeiro episódio da série, intitulado “The Blind Gun”, dirigido por Francis D. Lyon. Em seguida foi filmado “The Grudge”, que tinha como atores convidados Gloria Talbot, June Walker e um jovem chamado Robert Redford em seu primeiro trabalho como ato. Foram produzidos seis episódios, aguardando espaço na grade de programação da NBC para lançamento e durante as filmagens do episódio número sete, Guy Mitchell sofreu uma fratura no braço ao cair do cavalo que montava. Audie Murphy não escondeu sua insatisfação com o tratamento que a série vinha recebendo, com histórias que o desagradavam, diretores sem expressão e técnicos que deixavam a desejar. Como ele tinha compromissos com a Universal e mais a fratura de Mitchell, as filmagens de novos episódios foram suspensas e o lançamento da série adiado.

Luta entre Audie Murphy e Robert
Redford; a simulação de um
avanço sexual.
Episódio ultraviolento - Somente em 1960 foram retomados os trabalhos de produção de novos episódios e eis que nova fatalidade ocorre com o suicídio de Sam Buffington em 15 de maio de 1960, aos 28 anos de idade. Buffington havia participado dos 16 primeiros episódios da série que ainda não havia encontrado espaço na programação da NBC, o que só ocorreria em 8 de maio de 1961. A esta altura já haviam sido rodados 26 episódios, o suficiente para preencher toda a primeira temporada da série. Após a exibição do primeiro episódio, que teve recepção fraca por parte do público telespectador, houve uma série de protestos quanto à violência contida no programa. O subcomitê do Senado para assuntos relativos à delinquência juvenil se reuniu e solicitou a exibição de um episódio da série, sendo disponibilizado aos membros do subcomitê o episódio “The Grudge” (“O Rancor”). Escrito por Dick Nelson, “The Grudge” narra uma história de vingança que contém uma luta de socos entre o detetive Smith e Johnny Gates (Robert Redford); uma mãe (June Walker) chicoteando seu filho Johnny Gates com um chicote; uma simulada tentativa de estupro; narrativa de um homem atirador seis vezes no estômago de outro e rindo; um duelo entre Smith e Gates que termina com este ferido; e velha senhora Gates matando a filha (Gloria Talbot) quando tenta acertar Whispering Smith. Imagina-se a reação dos membros do subcomitê.

June Walker chicoteia Robert Redford; Audie; o duelo entre Audie e Robert Redford.

June Walker atira contra Audie Murphy e acerta Gloria Talbot.

Audie Murphy
Na linha de “Gunsmoke” - Com todos esses fatos ocorrendo, Audie Murphy se desinteressou de continuar atuando na série que prosseguiu sendo exibida até 31 de outubro de 1961, após o que foi cancelada. Murphy chegou a se manifestar publicamente contra a atitude do subcomitê que sugeriu como única saída minizar a violência da série. De modo geral as séries westerns nos anos 50 evitavam focalizar temas como corrupção, cobiça, estupro, incesto, violência desmedida, mas “Gunsmoke” já abordava todos esses temas, considerada que era uma série adulta. Provavelmente por “Gunsmoke” ser a campeã de audiência, tenha motivado “Whispering Smith” a seguir sua linha temática mais forte. O fato é que a série de Audie Murphy fracassou, enquanto a série com James Arness como o Marshal Matt Dillon de Dodge City ficou no ar por longos 20 anos.

Audie Murphy
Caixa completa - Entre os atores que atuaram como convidados especiais em “Whispering Smith”, os mais conhecidos são Richard Chamberlain, James Best, Leo Gordon, Henry Brandon, Jim Davis, Alan Mowbray, Marie Windsor, Harry Carey Jr., Bob Steele, Patricia Medina e, claro, Robert Redford, que pouco mais de uma década depois seria tricampeão de bilheterias nos Estados Unidos (1974, 1975 e 1976). Audie Murphy nunca mais voltaria a atuar na televisão após o fracasso de “Whispering Smith”. Com o passar dos anos e com o carinho que os fãs de westerns sempre tiveram com Audie Murphy, a série “Whispering Smith” acabou virando ‘Cult’. Tantos foram os pedidos para que fosse lançada em DVD, que a Timeless Media providenciou a caixa com três discos contendo 15 episódios, faltando o episódio número 22, “The Interpreter”, dado como perdido. Em 2011 a mesma Timeless Media relançou a caixa, agora contendo todos os 26 programas e alguns deles circulam no Brasil legendados e com excelente imagem, como os que foram cedidos pelo amigo cinéfilo Marcelo Cardoso.


23 de outubro de 2015

MARCHA DE HERÓIS (THE HORSE SOLDIERS) – REUNIÃO DE FORD E WAYNE EM FILME DE CAVALARIA


Acima à esquerda o escritor Harold Sinclair;
no alto nas fotos menores os irmãos Mirisch (Harold,
Marvin e Walter); no centro os roteiristas John Lee
Mahin e Martin Rackin; abaixo John Ford,
William Holden e John Wayne.
Os irmãos Mirisch, da United Artists, sabiam muito bem da paixão de John Ford pelos assuntos da vida militar norte-americana, especialmente a Cavalaria no tempo do Velho Oeste. Ford com sua maravilhosa ‘Trilogia da Cavalaria’ deu ao cinema alguns dos momentos mais poéticos sobre a vida nos fortes isolados nos rincões distantes. Pensando no lucro certo que obteriam, Walter, Marvin e Harold Mirisch contrataram John Ford para dirigir uma adaptação para o cinema do livro “The Horse Soldiers”, de autoria de Harold Sinclair, baseado em fatos reais. Garantiram a Ford que ele teria John Wayne e outro grande astro encabeçando o elenco. William Holden vinha de um sucesso seguido do outro e, assim como Wayne, frequentava os primeiros lugares do ‘Top-Ten Money Making Stars’ do cinema. Mas não foi nada fácil reuni-los pois estariam em jogo os interesses de nada menos que seis empresas: a de John Wayne, a de William Holden, a de John Ford, a dos roteiristas Mahin-Rackin, a dos irmãos Mirisch e a United Artists. Três meses de negociações entre os advogados resultou num ultracomplexo contrato de nada menos que 250 páginas que, trocado em miúdos, dava a Ford um salário de 350 mil dólares e aos dois atores 750 mil dólares para cada um deles. Todos os três receberiam ainda porcentagem sobre os lucros do filme depois que fosse superado duas vezes o custo final de produção. O western se chamaria “The Horse Soldiers” (“Marcha de Heróis”, no Brasil) devendo ser filmado em locações na Louisiana e no Mississipi. John Ford não gostou do roteiro elaborado por John Lee Mahin e Martin Rackin, solicitou algumas alterações mas mesmo assim não ficou satisfeito e estava certo que seria difícil realizar um filme como ele gostava de fazer. Foi quando Ford disse a frase bastante conhecida: “Este filme para dar certo terá que ser filmado em Lourdes” (referia-se à cidade onde fica o santuário de Nossa Senhora de Lourdes). John Ford reuniu o maior número possível de atores da conhecida ‘Ford Stock Company’, grupo composto por atores e técnicos de confiança do diretor, católico que era se benzeu e partiu para mais uma aventura da sua amada U.S. Cavalry.




William Holden e John Wayne
Missão destrutiva - Em 1863 a Guerra Civil está indefinida e o Alto Comando das forças da União, sob as ordens de Ulysses S. Grant (Stan Jones) determina uma arrojada ação em território confederado. Grant convoca o Coronel John Marlowe (John Wayne) para comandar um destacamento que tem como missão destruir linha férrea, trem, telégrafo e suprimentos sulistas em Vicksburg. Faz parte da tropa comandada pelo Coronel Marlowe o médico Major Henry Kendall (William Holden). De imediato nasce uma hostilidade entre Marlowe e Kendall. Já em território confederado, a tropa chega a uma propriedade chamada Greenbriar, cuja dona é Miss Hannah Hunter (Constance Towers). Hannah atua como espiã mas é descoberta e torna-se prisioneira, passando a acompanhar o destacamento. Cumprida a missão em Vicksburg, com a destruição da Estação de Newton e parte da cidade, Marlowe decide se infiltrar ainda mais em solo inimigo. Trava então combate com um pelotão confederado, causando mais baixas aos sulistas, após o que ordena a retirada, deixando a salvo a prisioneira Hannah Hunter. Inimigos a princípio, Miss Hannah e o Coronel Marlowe descobrem que se gostam e apostam que um dia, finda a guerra, poderão voltar a se encontrar.

Destruição da ferrovia em território confederado.

Reunião do Alto Comando do Regimento sob
uma árvore; John Wayne comandando a tropa.
Ford distante de um forte - Diferentemente dos westerns que compõem a ‘Trilogia da Cavalaria’, “Marcha de Heróis” não é um filme sobre a vida na caserna. Sequer o destacamento comandado pelo Coronel Marlowe permanece em algum momento numa fortificação. O regimento de soldados que avança Sul adentro raramente têm aqueles momentos da descontração que tornaram tão agradáveis os filmes da ‘Trilogia’ rodada nos anos 40. Talvez esse tenha sido o fato que desgostou John Ford quando leu e tentou alterar o roteiro, percebendo a impossibilidade de dar vida a situações e tipos pitorescos que ilustram a rotina de um quartel. Ainda assim Ford contou uma história interessante e que tem momentos de intenso brilho nesta que foi a primeira vez que abordou a Guerra Civil. Retornaria rapidamente ao assunto no segmento do conflito em “A Conquista do Oeste” (How the West Was Won), superprodução em Cinerama realizada de 1962. Conhecida como ‘A Batalha da Estação de Newton’, a história de “Marcha de Heróis” de fato ocorreu, embora a adaptação livre do livro de Harold Sinclair tenha sido bastante alterada. O nome do Coronel que comandou a incursão não era John Marlowe e sim Benjamin Grierson e, para criar um romance no filme, a personagem ‘Miss Hannah Hunter’ é uma jovem, enquanto a espiã sulista do livro de Sinclair tinha 61 anos de idade.

Carleton Young
Simpatia pelos sulistas - Com a Guerra Civil indefinida, a incursão idealizada pelo Alto Comando da União é vital e a marcha sobre o Sul deveria ser mesmo heroica. Ninguém melhor que John Wayne para, voltando a envergar a farda azul da gloriosa Cavalaria, cumprir a missão conduzindo seus homens na série de destruições impostas aos Confederados. E há ainda William Holden, cuja imagem valorosa vista em “A Fuga do Forte Bravo” (Escape from Fort Bravo) permanece na lembrança de todo fã de westerns. Eis, no entanto, que Ford inverte tudo, praticamente se esquece dos bravos protagonistas e o que se vê em “Marcha de Heróis” é uma clara demonstração de simpatia pelo Sul. Desde a ação corajosa da mulher que se empenha pela causa liderada pelo General Lee, passando pelo massacre na Estação de Newton, chegando ao batalhão formado por meninos da Academia Militar de Jefferson que ‘afugenta’ as tropas ianques. Mesmo no episódio em que dois renegados aprisionam o xerife Goodbody (Russell Simpson), o velho homem da lei é mostrado com respeito e porte aristocrático ainda possível de ser conservado. E são necessárias diversas situações para que o áspero Coronel John Marlowe demonstre que é um ser humano que sofre com aquilo que é obrigado a fazer e capaz de até de amar e sofrer por amor.

Os alunos da Escola Militar de Jefferson; o massacre na Estação de Newton.

William Holden e John Wayne; mulheres sulistas
revoltadas jogando areia na Cavalaria.
Antagonismo incontido - Quando lançado, em 1959, “Marcha de Heróis” foi recebido com frieza pela crítica e isso se deve às resenhas desfavoráveis das bíblias dos críticos daquela época, as revistas “Cahiers Du Cinéma” e “Positif”. Mas de modo algum esse western de John Ford é um filme sem qualidades, muito pelo contrário. O conflito pessoal entre o médico pacifista Major Kendall, e o Coronel Marlowe, determinado cumpridor do dever, é significativo e bem desenvolvido, acrescido ainda pela razão que leva Marlowe a detestar médicos (um incidente no qual perdeu a esposa por incompetência de doutores). Após um parto de uma mulher negra, diante da pressa de um inconformado Coronel Marlowe, o Major Kendall exclama: “A vida é interessante pois morre uma pessoa e outra vem ao mundo”. Kendall referia-se à morte de um soldado vítima de gangrena. Magnificamente Ford mostra o horror da guerra, inicialmente com a emboscada em Newton que dizima toda uma tropa confederada e posteriormente com os fundos de um saloon transformado em hospital no qual o Major Kendall trata dos confederados com a mesma atenção com que tenta salvar os ianques e onde o sangue jorra de corpos mutilados.

A guerra forjando políticos - O Coronel Marlowe lembra um pouco o Ethan Edwards de “Rastros de Ódio” (The Searchers) pelas muitas contradições do personagem. Engenheiro ferroviário de profissão, Marlowe se vê obrigado a destruir linha férrea e toda uma composição que chega à Estação de Newton. Cumprida sua missão em Vicksburg, Marlowe retorna com seu destacamento, mas é um homem totalmente isolado. E Ford não perde a oportunidade para mostrar o que sente pelos políticos, isto através do Coronel Secord (Willis Bouchey), que a cada obstáculo vencido acredita que possa se candidatar a um cargo mais importante, podendo mesmo chegar à Casa Branca. A foto com oficiais é um primor de crítica ferina expressa nas poses orgulhosas de Secord e outros oficiais, enquanto Kendall demonstra desinteresse e Marlowe tem ar de profunda irritação. É Ford com sua genial sutileza.

Posando à esquerda estão William Leslie, Chuck Hayward e William Holden em pé;
sentados nas extremidades estão John Wayne e Willis Bouchey;
na foto da direita Judson Pratt, John Wayne e Willis Bouchey. 

Constance Towers pergunta a John Wayne se
ele prefere coxa ou peito;
abaixo Denver Pyle e Strother Martin. 
Graça por vezes triste - Como é seu costume, o diretor cria situações de comicidade com o beberrão Sargento Kirby (Judson Pratt), tentando sem sucesso imitar o inesquecível Victor McLaglen. Muito mais bem sucedida é a sequência com a dupla de andrajosos desertores confederados Virgil (Strother Martin) e Jackie Jo (Denver Pyle), este engraçadíssimo com um tapa-olho como o próprio Ford utilizava. Atores negros são normalmente engraçados como os estereótipos que lhe são reservados, mas a escrava Lukey (Althea Gibson) é apenas simpática. E surpreendentemente, um dos momentos mais engraçados do filme é quando, na tentativa de cativar os oficiais nortistas, Hannah Hunter pergunta maliciosamente qual a preferência do Coronel Marlowe, coxa ou peito, enquanto exibe generosamente o provocante decote. O Duke ficou sem saber o que responder... Menos engraçada, trágica mesmo, é o filho da senhora Buford (Anna Lee), sendo retirado da formação dos alunos da Academia Militar por sua mãe pois o menino é o derradeiro homem a família que a guerra ainda não levou.

O aluno sendo retirado do regimento infanto-juvenil e depois fugindo de casa.

John Wayne e Constance Towers
A empolgante canção-tema de Stan Jones - Até com certo excesso, “Marcha de Heróis” exibe a cavalaria na linha do horizonte e em outras situações parecidas captadas pelas câmaras dirigidas pelo cinegrafista William H. Clothier. Essas belíssimas imagens são ressaltadas pela canção “I Left my Love” composta por Stan Jones. Essa esplêndida composição que surge retumbante durante os créditos sofre alterações no arranjo de David Buttolph e vai aos poucos se tornando triste com a constatação da crueldade da guerra. John Ford utilizou ainda outras canções conhecidas de outros filmes seus, como “Lorena”, ouvida quando o Coronel Marlowe declara a Hannah Hunter o que sente por ela. "Lorena" é o 'Tema de Martha' na abertura de "Rastros de Ódio". Num elenco recheado de rostos conhecidos e tantas vezes vistos nos filmes do próprio Ford, John Wayne tem destacada atuação, reduzindo à quase insignificância a presença de William Holden, um ator com muito mais recursos dramáticos que o Duke. Mais grosseiro e violento que nunca, Wayne chuta ou derruba quase tudo que vê à sua frente, culminando com uma pilha de copos que se torna vítima da ira do personagem. Constance Towers é a bela sulista que a guerra faz prisioneira e Carleton Young está ótimo como o estoico Coronel Confederado maneta. Willis Bouchey desperdiça um bom papel com sua exagerada interpretação do ambicioso Coronel Secord. Bing Russell (o pai de Kurt Russell) tem provavelmente o seu maior e melhor desempenho no cinema, num filme que dá a Chuck Hayward uma boa oportunidade como ator. Uma pena que a aparição da excelente Anna Lee tenha sido tão curta.

William Holden e John Wayne; Constance Towers

Chuck Hayward comemora a vitoriosa ação em Vicksburg prestes a ser arrancado
de seu cavalo por John Wayne; como se fosse Victor McLaglen, Judson Pratt
vê John Wayne quebrar a garrafa que escondia sob a camisa.

Irritado, John Wayne reage destruindo uma pilha de copos o saloon em Newton.


John Ford
Um grande e belo filme - “Marcha de Heróis” talvez seja o mais menosprezado dos westerns de John Ford, embora se trate de um grande e belo filme. Mais ainda se considerado que o diretor perdeu o interesse no trabalho após a morte em cena de Fred Kennedy. Fartamente dialogado sem que isso canse o espectador pois o objetivo da missão passa por situações engendradas com inteligência. Há, sem dúvida, pontos negativos, como o inconvincente romance que resulta da hostilidade entre o Coronel Marlowe e Hannah Hunter, hostilidade que se transforma em admiração. Ou ainda a cansativa e desnecessária explicação da razão que leva Marlowe a detestar médicos. Contudo, se na filmografia de John Ford “Marcha de Heróis” está um pouco abaixo de seus melhores trabalhos, este filme reluziria na lista de filmes de qualquer outro diretor.


JOHN FORD DIRIGINDO "MARCHA DE HERÓIS"

John Ford conversa com William Holden enquanto John Wayne observa.

John Wayne, William Holden e John Ford em dois momentos durante as filmagens.

John Wayne a cavalo aproxima-se de John Ford.

John Ford orienta Constance Towers a esbofetear John Wayne;
à direita Constance interpretando observada por Ford, Holden e o Duke.

John Ford de chapéu sobre a grua dirige a sequência do massacre de soldados
confederados; à direita preparativos dessa sequência.

John Ford encostado à cerca, Cliff Lyons à esquerda e John Wayne com o
inseparável companheiro, seu cigarro. 


20 de outubro de 2015

O TRÁGICO ACIDENTE QUE TIROU A VIDA DE FRED KENNEDY E ATORMENTOU JOHN FORD


Fred Kennedy
Fred Kennedy era stuntman, dublando atores em cenas de perigo. Iniciou sua carreira nessa profissão aos 29 anos no clássico de Michael Curtiz “As Aventuras de Robin Hood”, em 1938. Fred encontrou-se com John Wayne pela primeira vez em “Rio Vermelho” (Red River) e foi o Duke quem o apresentou a John Ford. Fred Kennedy era atarracado nos seus 1,75m de altura e o irascível diretor com sua habitual e ferina franqueza disse que ele era baixo demais para dublar seus atores pois quase todos esbarravam nos 1,90m. Alguns, como o próprio Wayne, passavam dessa altura. Mas como Fred arriscava-se corajosamente, especialmente nas perfeitas quedas de cavalo, acabou aceito por John Ford, juntando-se a Cliff Lyons, Frank McGrath, Fred Graham, Chuck Hayward como parte da Ford Stock Company na seção dos stuntmen. Chuck Roberson só viria a fazer parte dessa equipe a partir de 1956, tornando-se o dublê quase oficial de John Wayne pelas duas décadas seguintes. Antes de Roberson, coube a Fred Graham dublar John Wayne dezenas de vezes.

Claude Jarman Jr. e Fred Kennedy em cena
de "Rio Grande", com John Wayne
e Victor McLaglen.
Presença constante nos westerns de Ford - O primeiro filme de Fred Kennedy sob a direção de John Ford foi “Legião Invencível” (She Wore a Yellow Ribbon), vindo a seguir “Caravana de Bravos” (Wagon Master), “Rio Grande” (Rio Bravo), “Depois do Vendaval” (The Quiet Man) e “Rastros de Ódio” (The Searchers). Os dublês recebiam por dia de trabalho quando eram contratados para os filmes, mas além da diária recebiam também por cena arriscada, como as quedas de cavalos. John Ford gostava de aproveitar os dublês em pequenos papéis, o que fazia com que eles fossem enquadrados também como atores, passando a receber adicionalmente o pagamento mínimo estipulado pelo Screen Actors Guild, o sindicato da categoria. Em “Rio Grande” Fred Kennedy teve uma participação maior como ator interpretando o Soldado Heinze, aquele mal-encarado que provoca e trava luta a socos contra Claude Jarman Jr.

Chuck Hayward com John Wayne.
Favor especial do diretor - Em outubro de 1958 John Ford deu início às filmagens de “Marcha de Heróis” (The Horse Soldiers) e convocou o grupo de stuntmen que o acompanhava normalmente. Os dois ‘Freds’ (Graham e Kennedy) não faziam parte da lista pois a idade começava a pesar para ambos. Pesado e mais lento, Graham estava com 49 anos e Kennedy com 48 também não mostrava mais a antiga forma. Como eram amigos de John Ford e membros da Ford Stock Company, foram contratados somente como atores para pequenos papéis. Próximo de finalizar as sequências de ação com filmagens em Homochitto River, no Mississipi, Ford foi procurado por Kennedy que lhe pediu para atuar como dublê. Kennedy disse ao diretor que o Natal se aproximava e ele ficaria muito agradecido se pudesse receber uns dólares a mais resultantes de trabalho como dublê em algumas quedas de cavalo. Havia uma sequência em que William Holden é jogado fora de sua montaria e Ford, para atender ao amigo Fred, arriscou deixá-lo dublar Holden. Ford tinha à mão, entre outros, Chuck Hayward, que passa quase o filme todo em cima de um cavalo, estando em excepcional forma física, como se vê quando adentra a cavalo o saloon em Newton, sendo derrubado do animal pelo Coronel Marlowe (John Wayne) irritado e inconformado com a atitude do Capitão interpretado por Chuck Hayward.

Fred Kennedy com John Wayne.
Morte em cena - O dia 5 de dezembro constava na programação de filmagem como o momento da queda de William Holden que seria então dublado por Fred Kennedy. Este se apresentou e galopou até provocar a queda do cavalo, truque relativamente simples e que pode ser visto inúmeras vezes em “Marcha de Heróis” e em centenas de outros filmes. Ford orientou Kennedy para que após a queda ele permanecesse no chão até que a atriz Constance Towers se aproximasse dele, esperando o diretor gritar ‘Corta!’, Kennedy se levantaria e Bill Holden tomaria seu lugar no chão. Com a câmara filmando, Fred Kennedy cai do cavalo, Constance Towers corre até ele e antes que fosse ouvido o grito ‘Corta!’, foi a atriz quem gritou angustiada, levantando-se e afastando-se horrorizada. Constance percebera que Fred Kennedy estava imóvel, com os olhos arregalados e o pescoço aparentemente quebrado, o que foi confirmado pelo médico presente para desespero de todos na locação, especialmente de John Ford. As filmagens foram suspensas naquele dia, sendo retomadas no dia seguinte.

John Wayne
Estranha displicência - John Ford não havia gostado nada do roteiro de “Marcha de Heróis”, duvidando que ele pudesse resultar em um bom filme. Ford chegou a dizer que, para dar certo, aquele western deveria ser realizado em... Lourdes. Ford referia-se ao santuário localizado na pequena cidade francesa de Lourdes, onde, numa gruta, a menina Bernadette Soubirous afirmou ter visto uma aparição de Nossa Senhora. Ford estava necessitado de dinheiro e aceitou dirigir esse western que lhe renderia o salário de 350 mil dólares mais uma porcentagem sobre os lucros que o filme viesse a dar. Nem o fato de estar cercado pelos amigos Wayne, Hoot Gibson, Ken Curtis (genro de Ford), Hank Worden, Jack Pennick, Willis Bouchey, Anna Lee, Danny Borzage, Stan Jones, Cliff Lyons, Chuck Hayward e os ‘Freds’ Graham e Kennedy melhoraram o humor do diretor que se mostrava displicente e desinteressado como nunca se vira antes. Mesmo assim, depois de dois meses de filmagens, “Marcha de Heróis” encaminhava-se para o final.

À esquerda Hank Worden, Ken Curtis e Fred Graham;
à direita Constance Towers, Judson Pratt e Frd Kennedy.

John Wayne e Constance Towers
Final alterado pela amargura - John Ford sentiu-se o responsável pela morte de Fred Kennedy e seu normalmente irritadiço temperamento somente piorou, acrescentando-se ainda uma apatia que só não contaminou os demais atores e técnicos porque souberam compreender a angústia que atormentava o diretor. Wayne, Holden e Constance, o trio central de atores, praticamente passou a se autodirigir diante da falta de interesse de Ford. Para complicar ainda mais a situação, Ford decidiu alterar o final, que previa o retorno triunfal do destacamento sob as ordens do Coronel Marlowe após a arriscada missão no Sul. A desolação de John Ford fez com que o final de “Marcha de Heróis” fosse amargo, com o personagem de William Holden tornando-se prisioneiro dos confederados e os personagens de Constance Towers e John Wayne separando-se apesar de unidos pelo amor que se revelara entre ambos. Por sorte, a maior parte das filmagens já havia sido realizada e Ford realizara algumas sequências com sua inconfundível marca, o que fez com que o filme, mesmo sem se equiparar às tantas obras-primas resultasse excelente. Para John Ford, no entanto, “Marcha de Heróis” seria lembrado, para sempre, como o filme em que morreu Fred Kennedy.