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27 de outubro de 2015

SÉRIES WESTERNS DE TV – ‘WHISPERING SMITH’ – A SÉRIE MALDITA DE AUDIE MURPHY


Acima o escritor Frank H. Spearman e
capa de seu livro mais famoso; abaixo
Alan Ladd como Whispering Smith.
Depois que a televisão tomou conta da quase totalidade dos lares norte-americanos, alguns astros da TV passaram a ganhar muito dinheiro quando as séries que estrelavam eram bem sucedidas. São muitos os exemplos de atores que deixaram suas séries tornando-se grandes nomes de bilheteria no cinema, entre eles James Garner (“Maverick”), Steve McQueen (“Procurado, Vivo ou Morto”) e Lee Marvin (“Mod Squad). Porém o caminho inverso, ou seja, sair do cinema para atuar na televisão era visto como sinal de declínio artístico. Audie Murphy não pensava assim e, embora seus westerns tivessem retorno financeiro garantido para a Universal Pictures, aceitou protagonizar uma série a ser exibida pela National Broadcasting Corporation (NBC). Com episódios de 25 minutos de duração e filmada em preto e branco na cidade-western da própria Universal o herói da série era o já conhecido detetive de estrada de ferro de Denver, Whispering Smith. O escritor Frank H. Spearman havia lançado o livro “Whispering Smith” em 1906, tendo essa história sido adaptada para o cinema em 1948, com Alan Ladd no papel-título. No Brasil esse western recebeu o título de “Abutres Humanos”, dirigido por Leslie Fenton e com Robert Preston e Brenda Marshall também no elenco. Audie Murphy jamais poderia esperar que a série que concordou estrelar fosse verdadeiramente maldita.

Formação do elenco central – Com o título de “Whispering Smith”, foi formado o elenco para a nova série que teria, além de Audie Murphy como Tom ‘Whispering’ Smith, o cantor Guy Mitchell como sidekick interpretando o também detetive George Rommack e Sam Buffington John Richards, como o chefe deles. Sam Buffington pode ser visto em pequenos papéis em “Balada Sangrenta” (King Creole) e em “Heróis e Barro” (They Came to Cordura). Guy Mitchell, por sua vez, iniciou sua vida artística como menino-prodígio, num tempo em que as crianças tinham muito espaço no cinema, entre elas Shirley Temple, Mickey Rooney e Deanna Durbin. Mitchell porém não deu certo como artista-mirim e acabou fazendo carreira como cantor. Assinando contrato com a Columbia, Guy Mitchell passou a acompanhar a Orquestra de Mitch Miller, que era também diretor artístico da Columbia. Foi pelas mãos de Miller que Guy Mitchell gravou “Singing the Blues”, em 1956, canção que fez estrondoso sucesso, permanecendo no primeiro posto da Billboard por dez semanas consecutivas e sendo, até hoje, um dos discos mais vendidos de todos os tempos.

Audie Murphy, Guy Mitchell e Sam Buffington

Robert Redford
Primeiros problemas – A série “Whispering Smith” parecia fadada ao sucesso, isto num ano em que das dez séries mais vistas pelo público telespectador, segundo o Nielsen Ratings, seis eram westerns: 1.º) “Gunsmoke” / 2.º) “Caravana” / 3.º) “O Paladino do Oeste” / 4.º) “O Homem do Rifle” / 6.º) “Maverick” / 10.º) “Wyatt Earp”. O nome de Audie Murphy tinha forte apelo e em meados de 1959 foi rodado o primeiro episódio da série, intitulado “The Blind Gun”, dirigido por Francis D. Lyon. Em seguida foi filmado “The Grudge”, que tinha como atores convidados Gloria Talbot, June Walker e um jovem chamado Robert Redford em seu primeiro trabalho como ato. Foram produzidos seis episódios, aguardando espaço na grade de programação da NBC para lançamento e durante as filmagens do episódio número sete, Guy Mitchell sofreu uma fratura no braço ao cair do cavalo que montava. Audie Murphy não escondeu sua insatisfação com o tratamento que a série vinha recebendo, com histórias que o desagradavam, diretores sem expressão e técnicos que deixavam a desejar. Como ele tinha compromissos com a Universal e mais a fratura de Mitchell, as filmagens de novos episódios foram suspensas e o lançamento da série adiado.

Luta entre Audie Murphy e Robert
Redford; a simulação de um
avanço sexual.
Episódio ultraviolento - Somente em 1960 foram retomados os trabalhos de produção de novos episódios e eis que nova fatalidade ocorre com o suicídio de Sam Buffington em 15 de maio de 1960, aos 28 anos de idade. Buffington havia participado dos 16 primeiros episódios da série que ainda não havia encontrado espaço na programação da NBC, o que só ocorreria em 8 de maio de 1961. A esta altura já haviam sido rodados 26 episódios, o suficiente para preencher toda a primeira temporada da série. Após a exibição do primeiro episódio, que teve recepção fraca por parte do público telespectador, houve uma série de protestos quanto à violência contida no programa. O subcomitê do Senado para assuntos relativos à delinquência juvenil se reuniu e solicitou a exibição de um episódio da série, sendo disponibilizado aos membros do subcomitê o episódio “The Grudge” (“O Rancor”). Escrito por Dick Nelson, “The Grudge” narra uma história de vingança que contém uma luta de socos entre o detetive Smith e Johnny Gates (Robert Redford); uma mãe (June Walker) chicoteando seu filho Johnny Gates com um chicote; uma simulada tentativa de estupro; narrativa de um homem atirador seis vezes no estômago de outro e rindo; um duelo entre Smith e Gates que termina com este ferido; e velha senhora Gates matando a filha (Gloria Talbot) quando tenta acertar Whispering Smith. Imagina-se a reação dos membros do subcomitê.

June Walker chicoteia Robert Redford; Audie; o duelo entre Audie e Robert Redford.

June Walker atira contra Audie Murphy e acerta Gloria Talbot.

Audie Murphy
Na linha de “Gunsmoke” - Com todos esses fatos ocorrendo, Audie Murphy se desinteressou de continuar atuando na série que prosseguiu sendo exibida até 31 de outubro de 1961, após o que foi cancelada. Murphy chegou a se manifestar publicamente contra a atitude do subcomitê que sugeriu como única saída minizar a violência da série. De modo geral as séries westerns nos anos 50 evitavam focalizar temas como corrupção, cobiça, estupro, incesto, violência desmedida, mas “Gunsmoke” já abordava todos esses temas, considerada que era uma série adulta. Provavelmente por “Gunsmoke” ser a campeã de audiência, tenha motivado “Whispering Smith” a seguir sua linha temática mais forte. O fato é que a série de Audie Murphy fracassou, enquanto a série com James Arness como o Marshal Matt Dillon de Dodge City ficou no ar por longos 20 anos.

Audie Murphy
Caixa completa - Entre os atores que atuaram como convidados especiais em “Whispering Smith”, os mais conhecidos são Richard Chamberlain, James Best, Leo Gordon, Henry Brandon, Jim Davis, Alan Mowbray, Marie Windsor, Harry Carey Jr., Bob Steele, Patricia Medina e, claro, Robert Redford, que pouco mais de uma década depois seria tricampeão de bilheterias nos Estados Unidos (1974, 1975 e 1976). Audie Murphy nunca mais voltaria a atuar na televisão após o fracasso de “Whispering Smith”. Com o passar dos anos e com o carinho que os fãs de westerns sempre tiveram com Audie Murphy, a série “Whispering Smith” acabou virando ‘Cult’. Tantos foram os pedidos para que fosse lançada em DVD, que a Timeless Media providenciou a caixa com três discos contendo 15 episódios, faltando o episódio número 22, “The Interpreter”, dado como perdido. Em 2011 a mesma Timeless Media relançou a caixa, agora contendo todos os 26 programas e alguns deles circulam no Brasil legendados e com excelente imagem, como os que foram cedidos pelo amigo cinéfilo Marcelo Cardoso.


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