Acima o escritor Brian Garfield; abaixo Andrew V. McLaglen |
Ainda rapazola, Andrew V. McLaglen
acompanhava o pai Victor McLaglen quando este era dirigido por John Ford, como
em “A Patrulha Perdida”, “O Delator” e “A Queridinha do Vovô”. Chegou a ser
assistente de direção (não creditado) em “Depois do Vendaval” e certamente
muito aprendeu com o Mestre das Pradarias, tentando demonstrar isso em seus
filmes. Com o tocante “Shenandoah” McLaglen chegou bem próximo de Ford e assim
como o grande diretor dirigiu John Wayne diversas vezes. Certamente McLaglen
gostaria de ter o Duke no elenco de “Os Últimos Machões”, o que não foi
possível porque Wayne nesse mesmo ano de 1976 se despedia do cinema com o
clássico “O Último Pistoleiro” (The Shootist). Charlton Heston foi então
contratado para interpretar um velho ex-xerife aposentado, personagem perfeito
para Wayne e bastante parecido com o ‘John B. Books’ do western de Don Siegel. Este
faroeste com o horroroso título nacional “Os Últimos Machões” baseou-se em
história do prolífico Brian Garfield, autor que ficaria mais rico e conhecido
escrevendo a série “Desejo de Matar”, sendo o roteiro de autoria de Guerdon
Trueblood. Como a tendência nos anos 70 era a de realizar filmes cada vez mais
violentos, Andrew V. McLaglen entendeu que chegara a hora de se aproximar do
estilo de Sam Peckinpah, o diretor que mudou o jeito de se fazer western com
“Meu Ódio Será Sua Herança” (The Wild Bunch).
James Coburn e Charlton Heston |
Vingador
obsessivo - Prisioneiros da prisão de Yuma trabalham na construção de
uma ferrovia quando conseguem escapar liderados pelo mestiço Zach Provo (James
Coburn). Provo tem em mente um único objetivo que é se vingar do ex-homem da
lei e agora aposentado Sam Burgade (Charlton Heston) que não só o prendera como
teria matado sua esposa. Ao tomar conhecimento que o mestiço se evadiu e lidera
o bando que o segue, Burgade forja a entrega de um carregamento valioso para
atrai-los, mas Provo conhece bem o ex-xerife e não cai na armadilha. Ao invés
disso sequestra Susan Burgade (Barbara Hershey), a jovem filha de Sam levando-a
para um local que conhece bem e onde pretende capturar o ex-xerife para
executar sua vingança torturando-o até a morte. Alguns dos fugitivos liderados
por Provo tentam violentar Susan, o que Provo não permite pois como parte de
sua retaliação quer que Sam assista ao estupro quando este ocorrer. Na busca
por Susan o ex-xerife é acompanhado por Hal Brickman (Christopher Mitchum),
namorado da jovem e mantidos à distância por Provo ambos presenciam Susan ser
currada. Sam e Hal conseguem eliminar os demais bandidos, com o ex-xerife e o
mestiço se enfrentando ao final numa luta brutal. Quando o fim de Sam parecia
inevitável Susan alveja Provo matando-o.
James Coburn e John Quade; abaixo Coburn e Larry Wilcox |
Vingança
bem temperada - O maior defeito de “Os Últimos Machões” não é a excessiva
violência como apontaram alguns críticos que detestaram este western de Andrew
V. McLaglen. À medida que o filme se desenvolve tudo se torna previsível e fica-se
com a impressão que o autor da história mesclou “Os Profissionais” (The
Professionals) com “A Noite da Emboscada” (The Stalking Moon) situando a ação
durante a transição do Velho Oeste para a civilização que chegava, como ocorre
no já referido “Meu Ódio Será Sua Herança”. O aposentado ex-xerife Sam Burgade
é um personagem anacrônico que duvida da eficiência da tecnologia que chega com
o novo século (o filme se passa na primeira década do século XX) e que vê sua
filha ser raptada pelo mestiço que só pensa em vingança. O resultado é um
faroeste que impressiona mais pela brutalidade que por seu enredo propriamente
com o heterogêneo bando de fugitivos comportando racismo, selvageria e, como
contraponto, inocência. Liderados pelo frio e engenhoso mestiço Provo há um
mexicano (Jorge Rivero), um negro (Thalmus Rasulala), o racista (Robert
Donner), o jovem ingênuo (Larry Wilcox) e os dois homens ávidos por satisfazer
o reprimido desejo sexual após as temporadas passadas em Yuma (John Quade e
Morgan Pauli). Com esses ingredientes é temperada a narrativa que tem como tema
principal a bem esquematizada vingança.
James Coburn e Charlton Heston; Jorge Rivero com James Coburn |
A
suprema humilhação - Ninguém interpretava no cinema um
personagem com maior dignidade que Charlton Heston como já se viu tantas e
tantas vezes. Essa altivez reaparece na pele do velho homem da lei e é testada
pelo bandido mestiço que, como parte da vingança, quer também humilhá-lo o que
acontece na sequência mais chocante do filme.
Burgade deveria ver sua filha ser perseguida e estuprada e quer o
mestiço que o Burgade nesse momento tente uma reação mostrando sua posição para
assim ser alvejado. Este luta para reagir mas é contido com um golpe na cabeça
desferido pelo mais racional jovem namorado de Susan e Burgade acaba não presenciando
então o desfecho da curra como desejava o implacável mestiço. A razão de tanto
ódio por parte de Probo é justificada pela morte de sua esposa, morte essa
atribuída a Sam Burgade e da qual o próprio Burgade não tem total certeza. A
certa altura Probo diz: “Não se morre por uma mulher, mas mata-se por ela”, não
só orientando seus homens mas esclarecendo sua cega determinação.
Barbara Hershey; Larry Wilcox com Barbara Hershey |
Violência
geradora de violência - Não incomum em westerns é a simbiose
entre personagens com o pacato tornando-se violento por força das
circunstâncias e com o contato com tipos bárbaros. A ferocidade do mestiço é
transferida para Burgade que reage com igual crueldade ateando fogo no pé da
elevação onde os bandidos se refugiaram. Um deles morre queimado e o instinto
bestial domina Burgade também cego de ódio pelo que sua filha passou nas mãos
dos degenerados. Em tempos de Vietnã outros filmes igualmente procuraram justificar
a crueldade de ambas as partes como que a defender a intervenção
norte-americana. E esta história não deixa de ser um microcosmo de uma guerra.
O western de McLaglen não poupou a violência que não é gratuita pois segue num
crescendo com o insensível mestiço. Brutalidade filmada com competência pelo
diretor que curiosamente não fez uso de cenas de nudez, isto considerando que a
atriz seviciada no filme é Barbara Hershey.
James Coburn e Barbara Hershey |
Charlton Heston |
Heston
em segundo plano - James Coburn domina inteiramente o
filme como o psicótico mas sempre ardiloso mestiço. Simpático na maioria de
seus filmes, com laivos de peculiar cinismo, este excelente ator compõe um
personagem bastante assustador sem desabar na caricatura. O experiente Charlton
Heston bem sabia que vilões se tornam atração maior que os heróis e pouco se
esforça para se impor, mais ainda quando em cena com Coburn. A personagem de
Susan merecia uma atriz mais nova que Barbara Hershey não devidamente
aproveitada na característica que esbanja com perfeição, a sensualidade. Apenas
em uma única sequência, quando dominada por James Coburn o olhar de Barbara
denuncia o quanto mais poderia render com um script moldado mais cuidadosamente
para ela. John Quade, presença constante nos filmes de Clint Eastwood, é a figura
mais forte entre os muitos coadjuvantes, sobressaindo também Sam Gilman em
rápida aparição. Christopher Mitchum mostra que o DNA do pai não foi suficiente
para fazer dele um tipo igualmente impressionável. Atores que então se
destacavam na televisão como Michael Parks e Larry Wilcox comparecem, ambos
desperdiçando bons papéis. O posudo mexicano Jorge Rivero faz parte do grupo
dos sete bandidos liderados pelo impiedoso personagem de James Coburn.
Andrew V. McLaglen |
Diretor
de 15 westerns - Este filme apresenta um fato curioso que é ter sua trilha
sonora musical atribuída a Jerry Goldsmith sem que este tenha, de fato,
composto material novo e sim se aproveitando de composições feitas para outros
filme. Sem ser creditado, Leonard Rosenman foi o responsável por alguns entrechos
musicais, entre eles aquele que encerra “Os Últimos Machões”, que melhor
caberia em um western spaghetti. A bonita cinematografia é do quase desconhecido
Duke Callaghan e a excelente direção de arte coube a Edward Carfagno, veterano
de épicos como “Ben-Hur”, “Quo-Vadis” e “Júlio César”. Este foi o último
western de Andrew V. McLaglen para o cinema, ele que ainda filmaria “Os Cavaleiros
das Sombras” (The Shadow Riders), com Tom Selleck e Sam Elliott para a TV. Não
pode ser esquecido seu trabalho para a televisão, tendo dirigido, entre outras
séries, 96 episódios de “Gunsmoke” e 116 de “O Paladino do Oeste”. Com 15
westerns em sua filmografia McLaglen merece o respeito dos fãs do gênero pois
fez alguns faroestes muito bons e encerra “Os Últimos Machões” não desaponta.