UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

29 de setembro de 2012

CINE SAUDADE – DO CINE REX DE MONTE-MÓR, PARA O CINEMA DE ROY ROGERS





O primeiro filme que Narciso
assistiu em sua vida.
O menino Lázaro Narciso Rodrigues era o típico menino do interior. Morava em sítio na cidadezinha de Monte-Mór que ainda era por muitos chamada de Água Choca, nome original do lugar nos tempos em que era comarca. Narciso tinha aquele mundão para brincar, com rio, árvores, campos e montes. Filho de humildes lavradores, Narciso ia para a escola descalço e só ganhou seu primeiro calçado aos onze anos, um par de Alpargatas Rodas para ser usado numa ocasião muito especial. Foi presente de seu tio João Rodrigues, que todos chamavam de ‘Pé-de-Pato’. Tio Pé-de-Pato há tempos prometia levar o menino Narciso para conhecer o que era o tão falado cinema. Esse tio tinha aquele apelido porque já havia mergulhado dezenas de vezes no Rio Capivari para salvar quem lá se afogasse. Muitos habitantes da região deviam a vida a Pé-de-Pato. Tio e sobrinho foram para a estrada, tomaram uma jardineira Capriolli que ia para a cidade e chegaram ao cinema. O Cine Rex, no centro de Monte-Mór exibia um filme chamado “Bomba e os Caçadores de Leões”, com um menino louro, que Tio Pé-de-Pato dizia ser o filho do Tarzan, o Rei das Selvas. Pé-de-Pato dizia também ele próprio nada igual ao Tarzan.

O menino Narciso e uma rara foto do Cine Rex, da cidade de Monte-Mór
que é vista abaixo em foto do início dos anos 50. O único veículo trafegando
pela praça principal da ex-cidade conhecida por Água Choca é uma charrete.



Figurinhas Ídolos da Tela – O menino Narciso ficou encantado com o tal cinema e voltou outras vezes ao Cine Rex, de propriedade do Senhor Carlos Miller. Narciso não tinha dinheiro para o ingresso das matinês e roubava ovos dos galinheiros e os levava para seo Carlos que quebrava dois ou três e os tomava ali mesmo na porta do Cine Rex. E deixava o menino entrar sem pagar. Desconfiado que Narciso roubava aqueles ovos, seo Carlos fez um trato com o garoto: ele viria ajudá-lo a trocar os lobby-cards (pequenos cartazes), escrever as tabuletas e varrer o cinema e em troca poderia assistir às matinês de graça. Trato aceito na hora por Narciso e todos os domingos passaram a ser dia de filme de mocinho na vida do garoto. Aconteceu então de ser lançado um álbum chamado 'Ídolos da Tela' e Narciso começou a reconhecer os nomes de muitos artistas. O filho do Tarzan se chamava mesmo era Johnny Sheffield e era a figurinha número 144 do álbum. Quando jogava bafo com os amiguinhos, Narciso jamais colocava essa figurinha para disputar. Nem a de número 77, que era de uma menina chamada Margareth O’Brien que Narciso sonhava um dia ter uma namorada igual. Mas a figurinha que Narciso tinha adoração era a de número 446, com a estampa do mocinho Roy Rogers. 


Roy Rogers, o maior ídolo - Narciso já tinha visto dois filmes de Roy Rogers no Cine Rex e tinha também um gibi 'Aí, Mocinho!', com Roy Rogers na capa. De todos os mocinhos Roy Rogers era o preferido do menino Narciso. Um dia Seo Carlos disse a Narciso para trazer a família para assistir “Sansão e Dalila”. Dona Escolástica, mãe de Narciso, nunca se esqueceu desse filme tão bonito que a fez chorar no final quando Sansão morre. O sabido Narciso disse à mãe que o nome do Sansão era Victor Mature. E foi no Cine Rex que o menino assistiu, acompanhado da mãe, um faroeste chamado “Matar ou Morrer” que todos diziam que era muito bom. Mas Narciso preferia mesmo aqueles filmes de mocinho com Tim Holt, George Montgomery, Johnny Mack Brown, Scott Brady, Durango Kid, Rex Allen e mais que todos, com Roy Rogers.

Acima o Cine Vera Cruz, em Capivari; abaixo um
Ford Farlaine ano 1956 igual ao de seo Kamal,
proprietário do belíssimo Cine Alvorada.
O Ford Farlaine de Seo Kamal - Sempre que Narciso ia a passeio à casa dos parentes que moravam na vizinha Capivari, aproveitava para ir ao cinema. O preferido era o Cine Vera Cruz, muito parecido com o Cine Rex de Monte-Mór. Havia em Capivari um outro cinema mais luxuoso chamado Cine Politheama e foi lá que Narciso assistiu “Ardida como Pimenta”. Desse filme Narciso também nunca se esqueceu devido à artista loura e bonita (Doris Day) que dava trabalho para os mocinhos. Seu João Narciso e dona Escolástica, pais de Narciso acreditavam que o menino precisava aprender uma profissão e aceitaram o convite de um tio de Narciso para que ele fosse para a cidade de Leme. Lá Narciso passou a trabalhar numa oficina mecânica e aos domingos lavava carros no posto de gasolina local chamado 'Posto Barra Funda'. A alegria de Narciso era grande quando entrava no posto o automóvel mais bonito da cidade, um Ford Farlaine de propriedade do senhor Kamal, que todos chamavam 'Camel'. O dono do espetacular automóvel era também o proprietário do mais moderno e elegante cinema da região, o enorme Cine Alvorada com sua impressionante fachada com luzes de neon. 


Saguão de entrada e a enorme
sala do Cine Alvorada.
Grande cinema, grandes filmes - Num domingo, após lavar seu Ford Farlaine, Kamal perguntou a Narciso se ele gostava de cinema e o convidou para a matinê. Estava passando “O Sangue Semeou a Terra”, faroeste colorido que encantou Narciso. Essa foi uma das melhores fases para o jovem cinéfilo que, por cortesia de seo Kamal, viu no Cine Alvorada filmes como “Caçada Humana” (Don Murray), "A Última Carroça” (Richard Widmark), “Primavera de Amor” (Pat Boone) e “Sangue de Bárbaros” (John Wayne). Seo Kamal sabia da preferência de Narciso por faroestes e sempre dizia que o melhor de todos os faroestes era “Os Brutos Também Amam” e que o mocinho do filme se chamava Shane. Narciso não conhecia esse filme, mas como gostava muito de música, cantava inteirinha a canção “Cavaleiro Errante” que tocava no rádio e era interpretada por Osny Silva. Narciso sabia que aquela era a música do filme que seo Kamal tanto falava, o que só aumentava seu desejo de conhecer esse famoso faroeste.

Descobrindo John Wayne - No início dos anos 60 Narciso passou a morar em Campinas, onde dividia seu tempo livre entre os jogos de futebol do Guarani local e seu passatempo preferido que era o cinema. Nas conversas com outros fãs de filmes, Narciso sempre ouvia falar de John Wayne, ator de quem não conseguia gostar desde que o vira em “Sangue de Bárbaros” com um bigode engraçado. Porém, como estava passando um faroeste chamado “Os Comancheiros”, no Cine Casablanca em Campinas, Narciso foi assistir. Ficou impressionado com John Wayne e disse para si mesmo que nunca mais iria perder um filme daquele fabuloso ator, além de querer conhecer todos os filmes anteriores, principalmente os faroestes. Uma frustração acompanhava Narciso, que já havia assistido a tantos faroestes e ainda não conhecia “Os Brutos Também Amam”. E foi exatamente em 1965, no Cine Carlos Gomes, em Campinas, que Narciso teve a oportunidade de assistir ao faroeste de George Stevens. Não teve dúvidas. Aquele era não só o melhor de todos os faroestes, mas o melhor filme que já havia visto na vida. E como gostaria de contar isso ao amigo Kamal.

Narciso e Kamal em 1996
Reencontro com Kamal Tufic Nassif - Quando os faroestes passaram a se tornar raros nos cinemas, Narciso agregou-se à confraria dos amigos dos westerns, clube fundado por um lendário médico de São Paulo chamado Aulo Barretti. Isso aconteceu em 1987 e nesse grupo Narciso foi batizado pelo sócio Jorge Cavalcanti como “Kid Blue” devido às belas vestimentas de mocinho que usava, quase todas azuis. Em meio àqueles senhores com espírito juvenil Narciso reencontrou-se com Roy Rogers, Rex Allen, Randolph Scott, George Montgomery e outros mocinhos que eram projetados semanalmente em filmes em 16 mm. Por força de seu trabalho como funcionário da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), Narciso rodava todo interior paulista e certo dia voltou a Leme, indo procurar seo Kamal no Cine Alvorada. Passaram-se 40 anos desde os tempos em que Narciso lavava com capricho o Ford Fairlane de seo Kamal. O exibidor ao vê-lo não o reconheceu de imediato, mas ao lembrar-se do jovem Narciso abriu um enorme sorriso e o abraçou. Seo Kamal então disse a Narciso que naquela noite ele era seu convidado de honra e que, como nos velhos tempos, não precisava pagar a entrada e nem lavar o carro de seo Kamal... Ao lado do generoso e simpático amigo, Narciso assistiu ao desenho “O Corcunda de Notre Dame” e depois de muitos dedos de prosa, seo Kamal admirado falou para o visitante: “Narciso, você já assistiu muito mais faroestes do que eu...”


O Cine Alvorada quando da visita de Narciso, em 1996, vendo-se o automóvel
da CPFL em destaque. O Cine Alvorada resistiu até 2011 quando finalmente o
Sr. Kamal foi vencido pela época atual, inimiga dos grandes e bonitos cinemas.



Narciso à frente do antigo Museu de
Roy Rogers; abaixo junto às marcas
de Roy (e Trigger), em Los Angeles.
O quase encontro com Roy Rogers - Dois anos depois do reencontro com seo Kamal, Narciso foi para os Estados Unidos para realizar o sonho de conhecer seu maior ídolo que é Roy Rogers. Era o ano de 1998 e ao chegar ao Museu de Roy Rogers e Dale Evans em Victorville, próximo de Los Angeles, Narciso já sabia que não encontraria o Rei dos Cowboys. Roy Rogers, aos 86 anos de idade, estava bastante doente e hospitalizado. No museu Narciso conversou então com uma das filhas de Roy e mostrou sua carteirinha de sócio da confraria dos cowboys de São Paulo. Ao ver a carteirinha que tinha a foto de Roy ao lado da de Narciso, a filha do ator-cantor não conteve algumas lágrimas de emoção. Disse a Narciso que esperasse um pouco mais pois Dale Evans logo chegaria. De uma ala do grande museu vinha o som de "The Last of the Silver Screen Cowboys", cantada por Roy e Dusty Rogers. A música vinha da sala de projeção do museu e a filha de Roy convidou Narciso para ir até lá. Teve início então a projeção de um antigo filme de Roy Rogers que ele logo reconheceu. Era “Os Sinos de Rosarita”, assistido agora com uma emoção jamais sentida pois Narciso não estava no Cine Rex, nem no Vera Cruz, nem no Alvorada, mas sim no cinema do próprio Roy Rogers, cercado por Trigger, Bullet, roupas, chapéus, botas, revólveres e cinturões do amado Rei dos Cowboys. Terminado o filme, Dale Evans já se encontrava na recepção do museu e depois de ser apresentada e conversar com o fã brasileiro pediu a ele e aos demais presentes que a acompanhassem na música "Happy Trails (to You)".  Narciso, ao lado de Dale Evans, parecia estar substituindo Roy Rogers, cantando emocionado os versos simples da famosa canção. E ao final Narciso ganhou um caloroso abraço da Rainha das Cowgirls. Roy Rogers acabou falecendo dias depois, em 6 de junho de 1998. Quis o destino que quando do falecimento de Roy, Narciso estivesse bem pertinho dele, ali em Los Angeles, na Califórnia.

A carteirinha que emocionou a filha de Roy Rogers.

O museu em Montana - Narciso retornou outra vez ao Museu de Roy Rogers em Victorville antes que este fosse desativado. Claro que Narciso ficou um pouco triste quando soube que Dusty Rogers, o filho de Roy, havia transferido o The Roy Rogers and Dale Evans Museum para Montana. Como Narciso ainda não conhece aquele Estado norte-americano, esse será seu próximo destino internacional para conhecer o novo museu e voltar a ficar perto de tudo aquilo que pertenceu ao seu grande ídolo. Uma admiração que começou no início dos anos 50 na pequena Monte-Mór, mais exatamente no acanhado mas inesquecível Cine Rex.


Lázaro Narciso Rodrigues conhece mais de uma centena de cinemas do interior
paulista, tanto os grandes como os pequenos. Na foto acima Lazinho está com
Benedito Gamitto, no pequeno Cine Studio Paiol de Gamitto, em Botucatu;
À direita Lazinho Kid Blue com  Nelson Ricci e seu cineminha em Marília.


Acima Lázaro Narciso Rodrigues 24 vezes, ele que hoje, 30 de setembro,
comemora 71 anos de idade. Parabéns, Ol' Kid Blue.



28 de setembro de 2012

ADEUS A LUIZ ANTÔNIO DO AMARAL





CINE SAUDADE - NAMORANDO JEAN SIMMONS


Luiz Antônio do Amaral gostava de contar histórias, a maior parte delas
vividas por ele próprio. Uma dessas histórias envolve um dos faroestes
preferidos de Luiz Antônio e, como acontece quase sempre,
por razões sem dúvida muito nostálgicas.

Gregory Peck e Charlton Heston nas
fotos maiores; nas menores tente descobrir
qual dos dois é Charlton Heston... 
Luiz Antônio gostava de Gregory Peck, de quem havia assistido “Moby Dick”, “As Neves do Kilimajaro” e “O Mundo em seus Braços”. Porém Luiz gostava mais de Charlton Heston, que havia visto em filmaços como “Os Dez Mandamentos”, “O Maior Espetáculo da Terra”, “O Segredo dos Incas”, “Selva Nua” e no faroeste “Trindade Violenta”. Como todo adolescente se imagina parecido com algum ator famoso, Luiz Antônio gostava quando sua irmã lhe dizia que ele era parecido com Charlton Heston, com quem tinha mesmo certa semelhança. Quando soube que iria ser lançado um faroeste com os dois atores nos papéis principais, Luiz Antônio ficou ansioso. Era o ano de 1959 e o filme se chamava “Da Terra Nascem os Homens”, que foi lançado em São Paulo no Cine República, cinema que se vangloriava de possuir a maior tela do mundo, com seus 250 metros quadrados. O adolescente Luiz Antônio sabia que os filmes que eram lançados no Cine República depois de poucas semanas passavam no Cine Phenix, cinema situado na Rua Domingos de Morais, 892, pertinho de sua casa. Luiz Antônio gostava bem mais do Cine Cruzeiro, que ficava na mesma Rua Domingos de Morais, no outro quarteirão, mas para ver juntos Charlton Heston e Gregory Peck ele nem faria questão do cinema. Havia uma razão para Luiz Antônio preferir o Cine Cruzeiro e não era o fato de ele ser maior e mais confortável que o Cine Phenix, mas sim porque o pai de Luiz Antônio recebia todos os anos uma permanente que permitia ingresso gratuito para duas pessoas nos cinemas do Circuito Serrador, do qual fazia parte o Cine Cruzeiro. Luiz Antônio fazia razoável sucesso com as meninas do bairro e aos 15 anos já havia tido quatro ou cinco namoradinhas. Seus amigos que não tinham igual facilidade para ‘dar cantadas’ nas garotas morriam de inveja do galã Luiz Antônio que até lembrava um pouco Charlton Heston. Mas havia na Rua França Pinto, na Vila Mariana, uma menina morena clara de cabelos curtos e negros, dona de um ar angelical, por quem Luiz Antônio ‘arrastava a maior asa’ como se dizia naquele tempo. O nome dela era Cláudia, filha de um capitão da Força Pública, homem cuja cara de bravo e as salientes divisas na farda afastava qualquer jovem mais atrevido com idéia de namorar sua filha, que era o caso de Luiz Antônio. Para complicar mais as coisas Luiz Antônio era filho de um segundo tenente da Guarda Civil e na capital de São Paulo havia uma guerra surda entre as duas milícias cujos membros não se bicavam muito. A Guarda Civil era considerada uma polícia de elite e seus soldados gozavam de maior simpatia junto à população paulistana. Luiz Antônio até já havia se aproximado algumas vezes de Cláudia, inclusive convidando-a para ir ao cinema, mas a menina respondia sempre com evasivas.

Jean Simmons
E lá foi Luiz Antônio, junta-mente com o amigo Joel, assistir “Da Terra Nascem os Homens” no Cine Phenix. Atônito viu surgir na tela aquela atriz que ele ainda não conhecia e que no filme interpretava a personagem ‘Julie Maragon’. Luiz Antônio perguntou a Joel se ela era Jean Simmons, mas o amigo que não entendia nada de cinema não soube responder. A atriz era mais parecida com a menina Cláudia que a própria mãe da Cláudia. Luiz Antônio assistiu àquele longo filme de quase três horas em verdadeiro êxtase pois via na tela não a atriz Jean Simmons, mas sim a menina Cláudia. Quando o filme terminou Luiz Antônio foi olhar os lobby-cards na entrada do Cine Phenix procurando fotos de Jean Simmons. A atriz inglesa interpretara um personagem delicado e sofrido mas que ao final fica com Gregory Peck para felicidade do público. Felicidade maior ainda era a de Luiz Antônio que não sabia se estava apaixonado por Jean Simmons ou pela menina Cláudia (ou pelas duas). Luiz Antônio voltou a assistir “Da Terra Nascem os Homens” no dia seguinte, totalizando cinco horas e meia em 24 horas, olhando para Jean Simmons na tela do Cine Phenix.

Inspirado pelo filme Luiz Antônio acertou nas frases românticas e Cláudia passou a namorar com ele. O primeiro e inesquecível passeio foi, como não poderia deixar de ser, no Parque do Ibirapuera numa tarde ensolarada. O namoro durou dois meses, com direito a beijos cada vez menos inocentes e que tinham como testemunha outros casais que remavam no lago do Parque do Ibirapuera, pois Luiz e Cláudia se encontravam sempre durante o dia. O severo pai de Cláudia jamais permitiu que ela saísse à noite e se soubesse que a filha se encontrava com um rapaz filho de um tenente da Guarda Civil iria ficar muito mais bravo ainda. Cláudia gostava de Luiz Antônio mas não queria se apaixonar pois sabia que, no início do segundo semestre sua família se mudaria para Ribeirão Preto, onde seu pai iria comandar um batalhão naquela cidade. O último encontro foi doloroso para Luiz Antônio que pediu a ela que lhe escrevesse todos os dias. Em uma das cartas que ele recebeu Cláudia contou que estava namorando com um rapaz, colega de escola, também de Ribeirão Preto.

Jean Simmons em três filmes: "Spartacus", com
Kirk Douglas; "Entre Deus e o Pecado", com
Burt Lancaster; "O Vale das Paixões",
com Rock Hudson.
Nem Cláudia e nem Jean Simmons jamais saíram da cabeça de Luiz Antônio. Cláudia ele nunca mais viu, mas Jean Simmons ele reencontrou nas telas seguidamente em “O Vale das Paixões”, “Entre Deus e o Pecado” e “Spartacus”. Claro que Jean Simmons passou a ser sua atriz preferida. Em 1962, no luxuoso Cine Regina, em São Paulo, ocorreu o relançamento de “Da Terra Nascem os Homens” e Luiz Antônio assistiu ao western por mais duas vezes. A próxima vez que conseguiu assistir a esse clássico do faroeste foi quando a televisão o exibiu e Luiz já estava casado há anos, sendo que sua esposa em nada lembrava Jean Simmons e menos ainda a nunca esquecida Claúdia. Uma grande alegria Luiz Antônio teve quando “Da Terra Nascem os Homens” foi lançado em VHS pela Tocantins Vídeo. Ele comprou a cópia ‘selada’ que tinha uma imagem terrivelmente embaçada. Ainda bem que alguns anos depois chegou o DVD com imagem perfeita onde Luiz Antônio pode ver com nitidez a beleza e talento de Jean Simmons e recordar da namoradinha Cláudia, sempre com uma teimosa lágrima que insiste em se fazer presente.






26 de setembro de 2012

SÉRIES WESTERNS DE TV - O REBELDE (The Rebel), COM NICK ADAMS


Ser rebelde nos anos 50 era um tipo de comportamento que virou moda lançada no cinema por James Dean. Na música o rebelde-mór era Elvis Presley. Tanto Dean quanto Presley tiveram um amigo comum que se chamava Nick Adams. Esse jovem ator participou de “Juventude Transviada”, estrelado pelo amigo James Dean. E esteve no elenco, sempre como coadjuvante, em muitos filmes dos anos 50, entre eles “Mr. Roberts”, “Férias de Amor”, “Quando o Ódio Volta” (Fury at Showdown) com John Derek, “A Última Carroça” (The Last Wagon) com Richard Widmark, “Este Sargento é de Morte”, “A História do FBI” e duas vezes com Doris Day em “Um Amor de Professora” e no grande sucesso “Confidências à Meia-Noite”. Mas Nick Adams só viria a conhecer o verdadeiro sucesso como ator quando aceitou estrelar uma série de TV chamada justamente “O Rebelde”.


Quem era Johnny Yuma - Criada pelo produtor Andrew J. Fenady, a série se diferenciava das dúzias de séries westerns que eram produzidas por apresentar como herói um soldado confederado chamado Johnny Yuma. A Guerra Civil havia acabado há dois anos e Johnny Yuma ainda vestido com roupas do Exército Confederado peregrinava por cidades do Velho Oeste, quase todas no Texas. Embrutecido pelo que vira no conflito, Johnny Yuma viajava de cidade em cidade em busca de paz, o que evidentemente não acontecia. O ex-soldado se deparava em cada episódio com situações que o obrigavam a intervir para fazer prevalecer seu senso de justiça e princípios morais, sempre os mais elevados. Filho do sheriff Ned Yuma, após a morte de sua mãe Johnny alista-se no Exército Confederado com apenas 15 anos. Exibida pela rede ABC com episódios de 25 minutos de duração filmados em preto e branco, “O Rebelde” estreou na televisão norte-americana no dia 4 de outubro de 1959. O primeiro episódio da série que apresentava o herói intitulou-se apropriadamente “Johnny Yuma”. Além do protagonista Nick Adams o elenco desse primeiro episódio tinha Dan Blocker, Strother Martin, Ian MacDonald, John Carradine e Jeanette Nolan. A série obteve sucesso imediato pois Nick Adams era o perfeito soldado carregando os traumas da guerra e a natural rebeldia e vulnerabilidade do próprio ator. Após aceitar a participação na série, Adams teve papel fundamental no delineamento do personagem, revisando meticulosamente cada um dos episódios para moldar Johnny Yuma à sua personalidade.

Abaixo o disco"Johnny Yuma,
the Rebel" com Nick Adams.
O tema musical de abertura - Nick Adams conseguiu ter muita influência na série “The Rebel”, mas não o suficiente para impor sua opinião fazendo com que o tema musical, fosse interpretado pelo amigo Elvis Presley. Com música de autoria do compositor Richard Markowitz, o produtor Fenaday fez a letra e queria o tema cantado por alguém com voz parecida com a de Frankie Laine, então o maior nome das canções que abriam os faroestes. A canção acabou sendo gravada por um cantor de voz igualmente poderosa que havia começado na mesma gravadora de Elvis. Era o pouco conhecido Johnny Cash. Anos mais tarde Elvis e Johnny Cash, juntamente com Jerry Lee Lewis e Carl Perkins foram chamados de “The Million Dollar Quartet”. Os quatro começaram suas carreiras ao mesmo tempo na pequena gravadora Sun Records, em Memphis, Tennessee. Em 1959 Johnny Cash não era ainda o grande nome da música country em que se transformaria nas décadas seguintes, mas mesmo assim foi quem gravou a canção “The Rebel - Johnny Yuma”. Cash inicialmente registrou apenas o tema para a série mas devido ao sucesso gravou um compacto com a canção e posteriormente a incluiu num álbum. Nick Adams que também lançou alguns long-playings como cantor, gravou uma versão de “The Rebel - Johnny Yuma”. Pensando bem, lembrando de canções como “Flaming Star”, cantada por Elvis Presley, para o western “Estrela de Fogo”, pode-se imaginar como ficaria perfeita “The Rebel-  Johnny Yuma” na voz do Rei do Rock.




Acima Nick Adams entre o produtor
Fenaday e o diretor Irving Kerschner;
abaixo Nick com Strother Martin.
Nick Adams, o rebelde perfeito - O que tornava a série interessante era mais que tudo o personagem especial ‘Johnny Yuma’. Nick Adams, então com quase 30 anos (nascera em 16 de julho de 1931), tinha uma imagem de pós-adolescente, expressão zangada como bom rebelde e vivendo o jovem rebelde sulista com muita intensidade. Além disso “O Rebelde” apresentava roteiros interessantes com destaques para personagens vividos por atores experientes como Bob Steele, Tex Ritter, John Carradine e George MacReady. Este último por duas vezes interpretou o General Lee na série. Johnny Yuma escrevia todas suas aventuras num caderno que ele queria ver publicado em livro que mostraria a árdua caminhada de um homem em busca da paz. Para ele,  o fim da Guerra Civil não representou o fim dos tempos conturbados no velho Oeste. Assim como Josh Randall (Steve McQueen) na série “Procurado Vivo ou Morto”, Johnny Yuma usava com grande habilidade um rifle com cano cortado com o qual combatia os bandidos e ajudava os desprotegidos.

Brinquedo de sucesso em 1960: Johnny Yuma.
Sucesso entre as crianças - As lojas começaram então a vender armas desse tipo, algumas verdadeiras e outras apenas réplicas sem o poder de arma de fogo. Isso aconteceu porque durante sua primeira temporada (1959-1960), “O Rebelde” originou uma febre de consumo. Jovens e adultos passaram a usar quepes iguais aos de Johnny Yuma. E as fábricas de brinquedos lançaram, para as crianças, diversos tipos de cartucheiras e revólveres com a marca ‘Johnny Yuma’. Claro que cada conjunto vinha acompanhado de um quepe confederado. Um dos cinturões era na cor cinza, tinha a bandeira dos Estados Confederados e a inscrição ‘The Gray Ghost’ (O Fantasma Cinzento), em alusão a um soldado sulista. Esses conjuntos ‘The Rebel’ vendiam como água e como Nick Adams tinha participação nos lucros, possibilitou ao ator trocar seu Thunderbird 1957 pelo modelo último tipo.

Diversos brinquedos que levavam o nome 'The Rebel', hoje valiosos itens
de colecionadores de raridades.

A morte do Rebelde Nick Adams - Após uma primeira temporada com boa audiência, “O Rebelde” perdeu público na temporada seguinte, o que levou a série a ser cancelada, tendo o último episódio sido exibido em 18 de junho de 1961. Foram produzidos 76 episódios rodados em Corriganville, Iverson Ranch e nos estúdios da Paramount. Tendo os direitos sido adquiridos pela NBC, a série “O Rebelde” teve várias reprises através das décadas seguintes. No Brasil a série tinha muitos fãs e foi exibida praticamente durante toda a década de 60. Após o fim da série “O Rebelde” Nick Adams passou a fazer filmes de qualidade cada vez mais duvidosa. Nick se casou com a atriz Carol Nugent, com quem teve dois filhos e um casamento tumultuado. Nick Adams foi encontrado sem vida em sua residência no dia 7 de fevereiro de 1968. Ele estava então 36 anos de idade e sua morte por overdose de medicamentos para distúrbios mentais nunca foi devidamente esclarecida.



Nick Adams com os dois grandes amigos, James Dean e Elvis Presley.
Recentemente a filha de Nick Adams publicou um livro com memórias do
pai contando como era a amizade entre Nick e o Rei do Rock.






25 de setembro de 2012

DOC BARRETTI COMPLETA 90 ANOS



O Doutor Aulo Barretti, fundador da confraria dos amigos do western,
em São Paulo, completa 90 anos no dia de hoje, 25 de setembro. 
Mesmo com a avançada idade 'Doc' Barretti frequenta todos os sábados
o clube que fundou em 17 de setembro de 1977, portanto há 35 anos.
'Doc' Barretti assiste aos faroestes com o mesmo entusiasmo que
tinha quando ainda adolescente, nos anos 30, via no cinema seus
grandes ídolos Buck Jones e o ainda jovem John Wayne.
E sempre que se apresenta uma oportunidade 'Doc' Barretti veste seu
famoso buckskin, coloca botas, esporas, chapéu, lenço e cinturão e
brinca de mocinho com os westernmaníacos mais jovens.
'Doc' Barretti foi e continua sendo o exemplo maior de apaixonado
pelo faroeste, cercado pelos incontáveis amigos.
A canção "Heroes and Friends", cantada por Randy Travis reflete
exatamente o que é 'Doc" Barretti: um herói e um amigo.
Parabéns, 'Doc'.







23 de setembro de 2012

WESTERNTESTEMANIA N.º 16 - AUDIE MURPHY


Audie Murphy foi um dos principais mocinhos dos anos 50.
Nos anos 70 e 80, nas famosas sessões vespertinas bang-bang
da nossa televisão, Audie Murphy voltou a deliciar os fãs
de faroestes. Quase todos os faroestes de Audie Murphy eram
exibidos e reprisados muitas vezes. Tudo isso faz com que o grande
herói da II Guerra Mundial seja um dos mocinhos mais conhecidos
pelos apaixonados por westerns. Mas será que você conhece
bem os faroestes de Audie? Responda a este WESTERNTESTEMANIA
e mostre que você sabe tudo sobre esse querido mocinho.













22 de setembro de 2012

ENNIO MORRICONE E O BELÍSSIMO TEMA DE "O VINGADOR SILENCIOSO"

Menos conhecida que as trilhas compostas para a Trilogia dos Dollars
e as demais trilhas para westerns de Sergio Leone, a música de
Ennio Morricone para "O Vingador Silencioso", de Sergio Corbucci,
se insere entre as mais belas trilhas sonoras do gênero.
Abaixo, vídeo com o tema principal de "O Vingador Silencioso".