Nos estertores das séries de Westerns-B da Republic, quando todas as aventuras de Roy Rogers e Rocky Lane pareciam terem esgotado as ideias, o estúdio lançou um novo ‘mocinho’, Rex Allen, muitas vezes dirigido em seus faroestes por William Witney e com roteiros de Gerald Geraghty. Witney dispensa comentários, reconhecido como um dos melhores diretores não só dos Westerns-B como também de seriados. O roteirista Geraghty, falecido ainda jovem, aos 47 anos, foi prolixo na produção de roteiros em gêneros os mais diversos com predominância para os faroestes e este “O Salto da Morte” é uma boa amostra de sua criatividade. Entre os muitos trabalhos de Gerald Geraghty está “Mexicali Rose”, de 1939, um clássico dos pequenos westerns da Republic, estrelado por Gene Autry e Noah Beery. Como se sabe, Rex Allen começou sua série em 1950 e somente dois anos depois passou a ter a companhia de Slim Pickens como seu sidekick, ele Slim, exímio cavaleiro oriundo dos rodeios e o melhor de todos os sidekicks ao lado de George ‘Gabby’ Hayes. Rex Allen era cantor e dono de uma das mais belas vozes do cinema, tanto que foi o narrador de muitas produções dos estúdios de Walt Disney. Como cowboy Rex era bastante convincente, esbanjando simpatia e elegância. Juntar Rex Allen e Slim Pickens com William Witney e Gerald Geraghty, só poderia resultar em bom excelente filme como é “O Salto da Morte”.
Uma menina, um juiz e diamantes - Rex Allen e seu parceiro Slim fazem uma exibição num festival em Border City, onde também se apresenta um circo. O destaque circense é a dupla de acrobatas-trapezistas Chip Wells (Clayton Moore) e Valerie (Marjorie Lord). Chip é viúvo, tem a filha Taffy (Judy Nugent) e tenciona se casar com Valerie, de quem Taffy não gosta. Antes de conhecer Chip,Valerie se envolveu com contrabando de diamantes trazidos do México. O juiz Sully (Percy Helton) é quem quer ficar com parte dos diamantes e para isso contrata os capangas Cooper (Roy Barcroft) e Joe (Zon Murray). Sully é um escroque que se faz passar por Juiz de Paz adquirindo os poderes de verdadeiro juiz. Chip descobre que Valerie é malfeitora, se apossa dos diamantes escondendo-os dentro de uma boneca da filha. Em seguida Chip sofre um acidente caindo do alto de uma vara na qual se equilibrava (daí a razão do título brasileiro) quando se exibia com Valerie e vem a falecer. Tem início a procura pelos diamantes escondidos e Taffy descontente por ter que ficar sob a guarda do juiz Sully foge com a boneca, sendo acolhida por Narita (Dona Drake), uma cigana. Sully, Cooper, Joe e Valerie tentam encontrar Taffy, a quem sequestram. Rex Allen descobre a trama do quarteto e ajudado por Slim e por Narita resgatam Taffy e a boneca contendo os valiosos diamantes.
Cigana boa de briga - Nos Westerns-B os bandidos são capturados sempre pelo ‘mocinho’, normalmente atrapalhado por seu sidekick. Em “O Salto da Morte”, além do desengonçado Slim, Rex Allen conta com a ajuda da intempestiva Narita, a bela e briguenta cigana. Em uma das sequências de ação, Narita luta contra Slim e arranca metade dos cabelos do cowboy. E o vilão desta vez é um farsante que finge ser juiz e quer se apossar de uma valiosa boneca que passa de mãos em mãos. Como não podem faltar as lutas e Roy Barcroft está presente juntamente com o também violento Zon Murray, são eles as vítimas dos punhos de Rex Allen e de Slim Pickens. Brigas é o que não falta e a direção de William Witney coreografa não só aquelas entre mocinhos e bandidos, mas também entre a cigana mocinha e a bandida interpretada por Marjorie Lord. Mesmo o grandalhão Slim se engalfinha com o pequenino Percy Helton, a quem coloca fora de combate. Ao final, Rex abate Barcroft enquanto Narita surra Valerie num epílogo empolgante. Um dos melhores momentos deste western é a busca pela boneca de Taffy que está entre dezenas de bonecas numa casa... de consertos de bonecas, algo jamais imaginado em um faroeste. Enquanto bonecas são destruídas pela sanha dos bandidos liderados pelo falso juiz, o desespero e o medo tomam conta da menina Taffy e de Narita. As lutas são impecáveis, deixando a desejar apenas a escolha do dublê de Roy Barcroft que aos 50 anos de idade estava gordo e sem a agilidade que demonstrava quando trocava socos com Rocky Lane. O dublê de Barcroft pesa uns 30 quilos menos que o lendário bandidão.
Clayton Moore sem máscara - Bandidos sempre se destacam nos elencos, mas desta vez o destaque ficou com Dona Drake, atriz e dançarina que participou de filmes conhecidos como “Rodolfo Valentino” (Valentino), 1951, com Anthony Dexter e Eleanor Parker; “A Princesa do Nilo” (Princess of the Nile), 1954, com Debra Paget; e o ótimo “Os Quatro Desconhecidos” (Kansas City Confidential), de 1952, com John Payne, Lee Van Cleef, Jack Elam e Neville Brand. Em cena, Donna Drake ofusca todos os demais que com ela contracenam. A menina Judy Nugent é discreta e não irritante, ao contrário de Percy Helton que exagera em cada sequência com seu histrionismo. Marjorie Lord é a bonita vilã e Clayton Moore, de tantos seriados e que já era famoso como The Lone Ranger, aparece sem máscara em pequena participação. Clayton Moore estava afastado do seriado de TV em razão de uma das maiores injustiças já cometidas na televisão, retornando um ano depois para voltar a ser o verdadeiro Cavaleiro Mascarado, para alegria das centenas de milhares de fãs. Foi nesse ano longe de Silver e de Tonto que Moore participou de três seriados para o cinema e mais este faroeste “Down Laredo Way”. Rex Allen e Slim Pickens repetem o que fizeram em muitos outros westerns, parceria afinada com Slim arranca risos só com seu andar e Rex, ainda bem, sem as roupas e botas enfeitadas com que aparecia nas capas dos gibis. O melhor mesmo de “O Salto da Morte” é seu inusitado roteiro bem filmado por William Witney.