UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

26 de setembro de 2024

O DIA DA DESFORRA (LA RESA DEI CONTI)


        Uma das frases mais comuns quando se trata de comentar um spaghetti-western é a que diz ‘...este é um faroeste italiano muito bom entre os não dirigidos por Sergio Leone...’. É certo que Leone realizou grandes filmes mas esse tipo de comparação é muitas vezes injusta, como no caso de “O Dia da Desforra”, um extraordinário western dirigido por Sergio Solima e que não merece aquele tipo de comparação e sim ser classificado como um dos grandes faroestes,spaghetti ou não, contando os realizados na terra de John Ford. Solima procurou incutir nos faroestes que dirigiu aspectos político-sociais e neste o resultado foi perfeito com aquela que provavelmente tenha sido a melhor atuação de Lee Van Cleef no cinema. O ator norte-americano interpreta Jonathan Corbett, personagem que sofre uma mudança de comportamento diante das injustiças sociais que observa e que o faz se defrontar contra quem detém o poder e sempre manipula a lei e interesses comerciais. Sergio Solima havia estreado na direção de filmes aos 41 anos, em 1962, dirigindo sucessivamente um drama romântico e três filmes de espionagem, tão em voga após o impacto dos primeiros ‘James Bond’ estrelados por Sean Connery. Lançado em 1967, “O Dia da Desforra” foi o primeiro western de Solima que em seguida realizou o excelente “Quando os Brutos se Defrontam” (Faccia a Faccia), 1967 e ainda “Corre Homem, Corre” (Corri Uomo, Corri), 1968, abandonando então o gênero que começava a dar sinais de esgotamento. Nenhum dos dois faroestes que se seguiram a “O Dia da Desforra” se ombream com este que pode ser considerado um dos pontos altos entre todos os spaghett-westerns.



         Baseado em história de Franco Solinas e Fernndo Morandi, “O Dia da Desforra” teve roteiro escrito por Solima em parceria com Sergio Donati, este mais conhecido por sua colaboração com Sergio Leone no excelente “Por uns Dólares a Mais” (Per Qualche Dollari in Più), 1965. em “Era uma Vez no Oeste” (C’Era una Volta Il West), 1968 e em “Quando Explode a Vingança” (Giù a la Testa), 1971. Em “O Dia da Desforra” o respeitado caçador de foras-da-lei Jonathan Corbett (Lee Van Cleef) aceita uma indicação para concorrer ao Senado com o apoio do abastado Brokston (Walter Barnes), desde que, após eleito, trabalhe politicamente pelo projeto de construção de uma ferrovia ligando o Sul dos Estados Unidos ao México através do Texas, projeto de Brokston cujo interesse é ganhar dinheiro em grande escala. Enquanto não transcorre a eleição, Brokston pede a Corbett que capture um mexicano chamado ‘Cuchillo’ (Tomas Milian), argumentando que o mexicano teria estuprado e matado uma garota de 12 anos e que a captura impulsionaria ainda mais sua campanha para o Senado. Corbett é nomeado delegado e sai no encalço de Cuchillo chegando a detê-lo por diversas vezes, porém o mexicano sempre consegue escapar. Por fim Corbett descobre que Cuchillo era acusado injustamente e que Brokston o queria morto porque o mexicano fora testemunha do verdadeiro assassino da garota, seu próprio genro. Corbett volta-se contra Brokston que acaba morto por Corbett, com Cuchillo partindo livre.

 

Lee Van Cleef e Tomas Milian

  Realizar um filme que contenha ação e desenvolva uma história de cunho político-social mantendo o interesse do espectador não é tarefa das mais simples. Porém “O Dia da Desforra”, do início ao fim prende a atenção com a sucessão de episódios da caçada implacável que Jonathan Corbett executa perseguindo o mexicano Manuel ‘Cuchillo’ Sanchez. Corbett carrega a fama de homem que jamais falha em seu trabalho, isto até ter Cuchillo como alvo de sua busca. O mexicano com sua esperteza engana Corbett por nada menos que cinco vezes sempre que é capturado e cada vez que escapa o faz de forma mais jocosa que empolgante, debochando seguidamente do seu perseguidor. Cuchillo consegue fugir de um acampamento de mexicanos com o próprio cavalo de Corbett quando este ‘captura’ o mexicano que não é Cuchillo, mas sim o barbeiro que está sendo barbeado por Cuchillo. Pouco tempo depois, acreditando ter finalmente capturado Cuchillo, a quem jamais havia visto o rosto, um xerife o desilude ao dizer que o mexicano que ele teve que matar por ter reagido à captura era sim procurado pela Justiça, mas não era Cuchillo Sanchez. A seguir Corbett descobre Cuchillo numa caravana de mórmons, encontra o mexicano ao lado de uma jovem mórmon e mais uma vez o perseguidor é enganado e ainda acaba ferido a bala pela jovem mórmon que acreditava estar salvando Cuchillo de um bandido que queria matá-lo. Mais tarde Cuchillo se safa de um grupo que trabalha num rancho para uma viúva não sem antes ver Corbett dizimar os sete homens do grupo abrindo assim caminho para nova fuga do audaz mexicano que não esquece de agradecer seu perseguidor. A mais engraçada e inteligente escapada de Cuchillo é quando depois de ser mais uma vez capturado e ter as mãos amarradas, ele faz Corbett acreditar que fora picado por uma cobra quando de fato o mexicano força com os pés a ponta de um cacto que atinge as costas de seu perseguidor. Corbett acreditando que a ‘picada’ poderia ser venenosa e mortal liberta as mãos de Cuchillo para que este extraía o veneno. Nesse momento Corbett se distrai, tem suas armas tomadas e vê o mexicano partir rindo e atirando-lhe o espinho com o qual o enganara. Já no México e após uma briga numa taberna, Cuchillo e Corbett são presos pela guarda mexicana e colocados na mesma cela. Cuchillo passa a gritar desesperadamente dizendo que Corbett quer matá-lo e, ao ser passado para e cela vizinha, pega uma faca que sabia estar ali escondida e com ela desmancha a parede de barro da cadeia, retira a grade e desaparece mais uma vez para desgosto de Corbett.

 

Cuchillo capturado por Corbett, mas por pouco tempo...

  Assim narradas essas sequências, “O Dia da Desforra” pode parecer um western-comédia, mas todas essas situações aumentam a dramaticidade da busca de Corbett e dão ao filme uma crescente tensão. Cada episódio é revestido de uma atmosfera insólita e pouco a pouco Cuchillo torna-se personagem tão central quanto seu perseguidor. Sergio Solima pediu a Tomas Milian que assistisse a “Os Sete Samurais” (Shichinin no Samurai), 1954, porque desejava que sua interpretação fosse próxima da atuação de Toshiro Mifune nesse clássico japonês. Com seus trejeitos e caretas Milian consegue quase roubar o filme de Lee Van Cleef, só não o conseguindo porque diferentemente de quase todas suas participações em filmes, seja na América ou na Europa, Van Cleef não fazia mais que usar seu tipo característico: olhar amedrontador de cascavel, armas espalhadas pelo corpo, a calma traiçoeira manifestada pelo constante cachimbo na boca. Após a primeira sequência, quando Lee Van Cleef é mostrado como se fosse o bounty-hunter de sempre numa apresentação inventivamente coreografada, o Corbett que Lee interpreta demonstra já uma integridade incomum para ele que perpetuou sua criação sergioleonesca como Coronel Douglas Mortimer. O principal vilão do filme, Brokston, mede as palavras ao conversar com Corbett porque a honradez deste o incomoda. À medida que melhor conhece Cuchillo e reflete sobre o verdadeiro interesse de Brokston, para quem o progresso é apenas um detalhe, Corbett sofre uma lenta metamorfose emergindo nele um senso de humanidade típica dos heróis verdadeiros. Antes de “O Dia da Desforra”, somente ajoelhado aos pés de Gregory Peck e implorando para não ser morto em “Estigma da Crueldade” (The Bravados), 1958, Van Cleef teve oportunidade de mostrar que sabia sim atuar. O Cuchillo de Tomas Milian entrou para a galeria das melhores criações dos westerns, fugindo do estereótipo do mexicano covarde e pouco inteligente. Coincidentemente, quase ao mesmo tempo o cinema pode ver a redenção de um idealista mexicano na pele de Jesus Raza (Jack Palance) em “Os Profissionais” (The Professionals), 1966 e de Tomas Milian como Cuchillo. Melhor não lembrar do excessivamente maquiado Emiliano Zapata vivido por Marlon Brando.

 

Lee Van Cleef em "Estigma da Crueldade" e
Jack Palance em "Os Profissionais"

  Sergio Solima com “O Dia da Desforra” pinta um quadro que define muitos tipos de sociedades contemporâneas à produção e que seis décadas depois mantém a atualidade. Brokston representa o poder do dinheiro que compra a lei, que faz acordos que lhe tragam lucros (casa sua filha por interesse) e elege políticos com ele comprometidos. No México o Capitão Segura ao saber que uma milícia formada ilegalmente sairá atrás de Cuchillo toma uma importante decisão, a de ir dormir. Somente religiosos (mórmons e os frades de um monastério) tratam Cuchillo com respeito, o que Cobertt demora um pouco para fazer. Solima perdoa ainda o rico mexicano Don Segura, que fornece homens a Brokston para “virar o mundo de cabeça para baixo, dia e noite, até achar o assassino”, referindo-se à captura de Cuchillo. Ao final Don Segura permite que Corbett e Cuchillo partam em paz. Os comentários denunciando as desigualdades sociais são entremeadas pelos momentos de caçada ao mexicano narrados acima e pelos magníficos confrontos, muitos deles entre faca e revólver. A destreza de Cuchillo com a faca faz lembrar o duelo entre James Coburn e Robert Wilke em “Sete Homens e um Destino” (The Magnificent Seven), 1960. E o responsável por esses momentos em “O Dia da Desforra” não poderia ser outro senão Benito Stefanelli. O final é inesquecível com não um, mas dois duelos: aquele entre Cuchillo e o genro de Brokston Chet Miller (Angel del Pozo), faca contra revólver. E o mais esperado entre Corbett e o arrogante barão Von Schulemberg (Gérard Herter), guarda-costas alemão de Brokston.

 

Walter Barnes, Gérard Berger
e Fernando Sancho

  As grandes atuações de Van Cleef e Milian são secundadas pelo ótimo Walter Barnes e pela presença de Nieves Navarro, a bela dama dos westerns-spaghetti, como a viúva dominadora que escolhe os homens que a interessem. Fernando Sancho é o capitão da policia mexicana a serviço dos poderosos. O restante do elenco é quase um ‘who’s who’ dos homens maus dos westerns-spaghetti com destaque para Benito Stefanelli, Nello Pazzafini, Romano Puppo (dublê de Lee van Cleef), e Antonio Molino Rojo, entre outros. Uma das mais exóticas figuras dos faroestes é o Barão Von Schulemberg vivido pelo alemão Gérard Berger, vencedor de dúzias de duelos graças à sua teoria de olhar os olhos do oponente e entendendo que rapidez no saque vale mais que a pontaria certeira. Ao som de ‘Pour Élise’, de Beethoven, adaptada por Ennio Morricone, Von Schulemberg saca seu revólver mais rápido que Corbett ferindo-o no ombro e este dispara dois tiros certeiros e mortais pondo fim ao petulante e afetado Barão. Ennio Morricone compôs a trilha musical de “O Dia da Desforra”, considerada um de seus melhores trabalhos e a curiosidade é que o título original deste western, “La Resa dei Conti” é também o nome do principal tema musical de “Por uns Dólares a Mais”. O tema de abertura de “O Dia da Desforra” é “Corri Uomo, Corri”, interpretada´pela cantora Christy. “Corri Uomo, Corri” (Run Man, Run) é o título de uma continuação de “O Dia da Desforra”, dirigida por Solima com Tomas Milian repetindo Cuchillo, desta vez sem a presença de Lee Van Cleef. Morricone mais uma vez faz uso do coral I Cantori Moderni, com destaque para Edda del Orso. Este grande western deve ser assistido na sua versão integral de 110 minutos, evitando-se versões menores e 85 e 90 minutos que excluíram sequências inteiras prejudicando a compreensão deste excepcional western de Sergio Solima.

 

A bela Nieves Navarro; Benito Stefanelli
(no alto) e Romano Puppo (abaixo)


Diferentes pôsteres de "O Dia da Desforra"

21 de setembro de 2024

O DIA DA IRA (I GIORNI DELL’IRA)

 


  Tonino Valerii iniciou sua carreira como roteirista em dois filmes de terror produzidos na Itália e em 1964 teve a sorte de se tornar assistente de direção de Sergio Leone em “Por um Punhado de Dólares” (Per un Pugno di Dollari) e em “Por uns Dólares a Mais” (Per Qualche Dollaro in Più). Neste último Valerii colaborou com Leone no roteiro embora não tenha sido creditado. Depoís desse precioso aprendizado, Valerii, em 1966, dirigiu seu primeiro western que foi “Pelo Prazer de Matar” (Per il Gusto de Uccidere), estrelado por Craig Hill, ator norte-americano que se radicou na Europa atuando em diversos faroestes. Em “Pelo Prazer de Matar” Valerii foi também roteirista e no ano seguinte, 1967, pode-se dizer que tirou a sorte grande ao ser escolhido para dirigir dois dos atores em maior evidência nos westerns-spaghetti: o primeiro, Giuliano Gemma, já chamado de ‘The King of the Italian Western’ depois do sucesso alcançado com a série ‘Ringo’ e com “O Dólar Furado”. O outro ator era Lee Van Cleef que passou a ser muito requisitado após sua criação como ‘Coronel Douglas Mortimer’ em “Por uns Dólares a Mais”, seguido do sucesso que foi “Três Homens em Conflito” (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo), pelas mãos de Leone. Dirigir Gemma e Van Cleef poderia parecer tarefa difícil para um diretor com pouca experiência como Valerii, mas “O Dia da Ira” comprovou que aos 33 anos Valerii tinha sim talento como diretor.

 

        O roteiro escrito a três mãos por Valerii, Ernesto Gastaldi e Renzo Genta se baseia no por demais batido tema da vingança e paralelamente conta como Frank Talby (Lee Van Cleef), recém-chegado à cidade de Clifton, adota o jovem Scott (Giuliano Gemma) como seu protegido, a quem passa a dar lições de como sobreviver ante a violência do Velho Oeste. Scott é um excluído da sociedade de Clifton, onde trabalha como varredor de rua e lixeiro recolhendo latrinas repletas de escarros e dejetos. Seus únicos amigos são Murph Allan Short (Walter Rilla), ex-xerife e agora um idoso relegado a cuidar dos cavalos em um estábulo, e Blind Bill (José Calvo) um cego maltrapilho que vive nas ruas. Considerado filho bastardo que nem sobrenome possui, Talby passa a chamá-lo pejorativamente de Scott Mary uma vez que a mãe do rapaz se chamava Mary. O que trouxe Talby a Clifton, após cumprir dez anos de prisão, foi travar contato com alguns membros da quadrilha que assaltou um trem. Talby procura por Wild Jack (Al Mulock), ex-membro da quadrilha e que o traíra e a quem Talby mata, não sem antes extrair de Wild Jack os nomes dos demais participantes do roubo ao trem. São eles o banqueiro Turner (Ennio Balbo), o juiz Cutcher (Lukas Ammann) e Abel Murray (Andrea Bosic), dono do saloon de Clifton, todos os três figuras proeminentes da cidade. Frank Talby chantageia o banqueiro e o dono do saloon, além de pressionar o juiz e se tornar tão respeitado em Clifton quanto os três que o traíram. Ao ganhar a confiança de Talby, Scott Mary também passa a ser respeitado, até porque é exímio atirador. Murph Allan Short aconselha Scott a se afastar de Talby e o juiz Cutcher tenta aliciar Scott através da amizade que ele tem com o velho Murph e também com os encantos de sua filha Eilleen (Anna Orso), de quem Scott sempre gostou. Nomeado novo xerife de Clifton, Murph tenta deter o cada vez mais ambicioso Talby e este mata Murph, o que provoca a ira de Scott que, usando das lições aprendidas com Talby, duela com seu ex-mestre e protetor, matando-o.

 

Scott Mary (Gemma) quando ainda não era respeitado
em Clifton; treinando com um coldre amarrado com uma
corda e 'disparando' um revólver de madeira.

  “O Dia da Ira” é um faroeste que em pouco se diferencia do estilo clássico dos faroestes norte-americanos e isso faz dele um filme agradável de se assistir, mais ainda para aqueles que são resistentes à vertente italiana dos faroestes. Se o enredo é simples, as muitas sequências de ação valorizam sobremaneira o filme de Tonino Valerii. Este diretor, quase sempre acusado de imitar Sergio Leone demonstra ter assimilado e muito da maneira de filmar de Hollywood. Valerii mescla os momentos de ação com um ritmo mais lento sem jamais ser cansativo. A previsibilidade tão comum nas histórias do Velho Oeste levadas à tela é evitada pelo roteiro, especialmente no confronto final, o dia em que explode a ira, quando até então ficamos sem saber para qual lado penderá Scott Mary, o herói de “O Dia da Ira”. Se algo remete aos clássicos de Sergio Leone são os confrontos cuidadosamente coreografados sem que por isso caiam na caricatura. Tonino Valerii é mais lembrado por “Meu Nome é Ninguém” (Il Mio Nome è Nessuno), produzido por Sergio Leone que teria se intrometido nas filmagens dirigindo diversas sequências. Porém “O Dia da Ira” é um excelente trabalho que nada fica a dever a “Meu Nome é Ninguém”, a não ser a total ausência de comicidade, provavelmente evitada com rigor pelo diretor. Como de hábito, a recuperação de ferimentos a bala são rápidas demais e Scott Mary toma surras violentas cujas marcas desaparecem como que por encanto.

 

Frank Talby (Lee Van Cleef) e Scott Mary (Giuliano
Gemma) em plena ação

  A amizade entre Frank Talby e Scott Mary lembra como o cowboy Dempsey Rae (Kirk Douglas) transformou o inocente, atrapalhado e ridicularizado Jeff Jimson (William Campbell) em um pistoleiro em “Homem Sem Rumo” (Man Without a Star), apenas que em “O Dia da Ira” o processo é mais elaborado e doloroso para Scott Mary que a cada lição é humilhado até fisicamente por seu mestre. Além de Talby, Scott recebe também lições do amigo Murph, que foi contemporâneo de Doc Holliday. Se da parte de Talby o pupilo Scott aprende lições em forma de truques de como sobreviver enfrentando homens maus, sendo enfatizada a lição “jamais confie em ninguém”, o velho Murph ensina a Scott técnicas de como ser mais rápido e nisso este western de Tonino Valerii é bastante interessante. Murph lembra que o cano do Colt de Talby é duas polegadas menor pois foi serrado perdendo inclusive a mira, o que facilita o saque rápido. E quando Talby compra um Colt para Scott, escolhe aquele com mira e cano normal antevendo que um dia terá que enfrentar o aluno. Antes de morrer e do tiroteio final em que Scott enfrenta Talby, Murph o avisa que lhe legara o revólver que pertenceu a Doc Holliday, arma que mantivera escondida por anos no estábulo. Não bastasse o roteiro citar essas questões técnicas, há ainda o confronto inusitado entre Frank Talby e Owen White (Benito Stefanelli), contratado pelo trio Turner, Cutcher e Murray para matar Talby. White desce de uma diligência lembrando bastante o Coronel Douglas Mortimer de “Por uns Dólares a Mais”, especialista em armas como Owen White. O duelo travado entre ambos é insólito pois ambos devem carregar suas espingardas e dispará-las montados em seus cavalos que correm um em direção ao outro. E este western possibilita a Lee Van Cleef e a Giuliano Gemma (este ainda mais) a demonstração de destreza com as armas no enfrentamento os adversários. Esse exibicionismo sempre fez a alegria dos espectadores de faroestes e Valerii sabia bem disso.

 

Frank Talby (Lee Van Cleef) no estranho duelo
contra Owen (Benito Stefanelli)

  No final dos anos 60 os cinco maiores astros do cinema europeu eram Marcello Mastroianni, Alain Delon, Jean-Paul Belmondo, Giuliano Gemma e Lee Van Cleef, sendo que as bilheterias dos filmes destes dois últimos superavam as dos demais juntos. Isso se devia aos westerns-spaghetti terem se tornado popularíssimos na Europa (aqui no Brasil também) e Gemma e Van Cleef serem os expoentes do gênero. Lee Van Cleef não fazia esforço para atuar pois era sempre ele mesmo e sua impressionante persona impunha respeito em todas os momentos em que surgia em cena. Sua marca registrada, além do olhar com que fulminava tanto quanto com suas armas, era o indefectível cachimbo que dava a ele um ar enigmático que desconcertava o oponente. Giuliano Gemma, além da boa aparência era capaz de belas acrobacias que muito valorizavam suas sequências. E os dois se completaram, o mestre e o discípulo neste “O dia da Ira”. O elenco de apoio tem destaque para Lukas Ammann e Andrea Bosic. Yvone Samson, que desponta nos créditos iniciais pouco aparece no filme, assim como as duas demais mulheres às quais Scott Mary lança olhares interesseiros: Anna Orso (Eilleen), a quem Scott chega a beijar e Christa Linder (Gwen). O enorme time de vilões tem destaque para Al Mulock em seu último filme antes do suicídio ocorrido no ano seguinte e Benito Stefanelli, marcante como o atirador contratado para matar. Walter Rilla foi um veterano ator alemão que atuou sempre no cinema europeu. Romano Puppo, o constante dublê de Lee Van Cleef tem pequena participação como o pai dos gêmeos recém-nascidos e que provoca e é baleado por Frank Baldy. Duas das sequências principais de Puppo neste western ocorrem quando ele, dublando Van Cleef, é arrastado amarrado aos cavalos de um trio de bandidos e também quando do referido insólito duelo a cavalo entre Talby e Owen White (Stefanelli). Para não dizer que não há nada cômico em “O Dia da Ira”, é impossível não rir do xerife Nigel (Giorgio Gargiullio), tão seguro de si que diz que a estrela em seu peito vale mais que uma arma.

 

O confronto final entre Scott Mary e Frank Talby

  A trilha musical ficou a cargo de Riz Ortolani, conhecido dos brasileiros por “More”, canção de enorme sucesso que ele compôs para o filme “Mundo Cão”. Nada de especial na trilha musical com o uso insistente de guitarras para pontuar os momentos importantes deste faroeste. A alemã Christa Linder, que foi Miss Áustria em 1962, interpreta no filme a canção “It’s Time to Go”, de autoria de Ortolani. Filmado quase todo na Espanha, a fotografia é de Enzo Serafin. Uma curiosidade é que houve uma espécie de acordo entre os dois astros quanto à disputa por qual nome seria apresentado primeiro nos créditos: na versão lançada na Europa o nome de Giuliano Gemma aparece primeiro; já nos Estados Unidos e na Inglaterra, o nome Lee Van Cleef é quem surge à frente do nome de Gemma. O lançamento na Itália de “O Dia da Ira”, que recebeu o título inglês de “Day of Anger”, se deu em dezembro de 1967. Normalmente os personagens dos westerns italianos possuem nome e sobrenome, porém o velho xerife tem seu nome completo como ‘Murph Allan Short’, o que bem poderia ter sido uma homenagem a dois cowboys dos faroestes norte-americanos: Audie Murphy e Alan Ladd, ambos ‘short’. E “O Dia da Ira”, sem qualquer pretensão, não deixa de ser uma homenagem da escola italiana de faroestes à tradicional vinda dos States.

 

A chegada de Talby ao lugarejo de nome Bowie
(Águas Calientes em "Por uns Dólares a Mais");
abaixo Al Mulock comVan Cleef e Gemma.


20 de setembro de 2024

ENQUETE TOP-TEN WESTERNS - CLASSIFICAÇÃO FINAL

 


  A enquete feita pelo WESTERNCINEMANIA contou com 75 listas indicativas dos Top-Tens de leitores do blog e outras cinco listas de escritores e críticos. Essas cinco listas são, respectivamente, de autoria de Ruy Castro, cuja lista de melhores faroestes foi publicada pelo jornal Folha de S. Paulo; Christopher Frayling, Tom Betts, Alex Cox e Howard Hughes, estas quatro últimas extraídas do livro ‘Once Upon a Time in the Italian West’ de autoria de Howard Hughes. Os 80 Top-Tens indicaram um total de 170 westerns e a contagem para apuração da classificação final obedeceu ao seguinte critério 1.º / 10 pontos; 2.º / 9 pontos; 3.º / 8 pontos; 4.º / 7 pontos; 5.º / 6 pontos; 6.º e 7.º colocados / 5 pontos; 8.º, 9.º e 10.º colocados / 4 pontos. As pontuações do 6.º ao 10.º colocados visaram diminuir a enorme diferença que os separaria, em pontuação, dos filmes demais da lista, diferença que em termos de qualidade é pequena, para não dizer quase inexistente. Tanto que alguns votantes declinaram em colocar suas listas em ordem de qualidade decrescente, dando a todos os filmes a mesma menção. Para estes casos foi considerada a média de seis pontos para cada um dos dez filmes. Tais critérios foram adotados por parecer serem os mais próximos de se chegar à classificação final de forma a mais justa, no entender do administrador do blog. Os números entre a classificação e o título do western indica o número de pontos obtidos por cada filme.

  Agradeço a todos que colaboraram com a enquete, especialmente a Laudney Mioli.

   1.º) 427 Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 - Dir.: John Ford

  2.º) 395 Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 - Dir.: George Stevens

  3.º) 292 Matar ou Morrer (High Noon), 1952 - Dir.: Fred Zinneman

  4.º) 263 No Tempo das Diligências (Stagecoach), 1939 - Dir.: John Ford

  5.º) 184 O Homem que Matou o Facínora (The Man who Shot Liberty Valance), 1962 - Dir.: John Ford

  6.º) 179 Onde Começa o Inferno (Rio Bravo), 1959 - Dir.: Howard Hawks

  7.º) 178 Era uma Vez no Oeste (C’Era una Volta il West), 1968 - Dir.: Sergio Leone

  8.º) 142 Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch), 1969 - Dir.: Sam Peckinpah

  9.º) 141 Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven), 1960 - Dir.: John Sturges

10.º) 124 Rio Vermelho (Red River), 1948 - Dir.: Howard Hawks

 

11.º) 117 Da Terra Nascem os Homens (The Big Country), 1958 - Dir.: William Wyler

12.º) 116 Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo) 1966 - Dir.: Sergio Leone

13.º) 115 Paixão dos Fortes (My Darling Clementine), 1946 - Dir.: John Ford

14.º) 88 Vera Cruz (Vera Cruz), 1954 - Dir.: Robert Aldrich

15.º) 80 Os Imperdoáveis (Unforgiven), 1992 - Dir.: Clint Eastwood

16.º) 65 Johnny Guitar (Johnny Guitar), 1954 - Dir.: Nicholas Ray

17.º) 62 Sem Lei e Sem Alma Gunfight at the OK Corral, 1957 - Dir.: John Sturges

18.º) 60 Duelo de Titãs (Last Train from Gun Hill), 1959 - Dir.: John Sturges

18.º) 60 Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro in Più), 1965 - Dir.: Sergio Leone

20.º) 58 O Último Pistoleiro (The Shootist), 1976 - Dir.: Don Siegel

 

21.º) 52 O Matador (The Gunfighter), 1949 - Dir.: Henry King

22.º) 51 Consciências Mortas (The Ox-Bow Incident), 1942 - Dir.: William A. Wellman

23.º) 47 Pistoleiros do Entardecer (Ride the High Country), 1962 - Dir.: Sam Peckinpah

24.º) 46 Butch Cassidy e Sundance Kid (Butch Cassidy), 1969 - Dir.: George Roy Hill

24.º) 46 O Vingador Silencioso (Il Grande Silenzio), 1968 - Dir.: Sergio Corbucci

26.º) 41 Dança com Lobos (Dances with Wolves), 1990 - Dir.: Kevin Costner

27.º) 40 Sangue de Heróis (Forte Apache), 1948 - Dir.: John Ford

28.º) 39 Pacto de Justiça (Open Range), 2003 - Dir.: Kevin Costner

29.º) 38 O Dia da Desforra (La Resa dei Conti), 1967 - Dir.: Sergio Sollima

30.º) 37 O Último Pôr-do-Sol (The Last Sunset), 1961 - Dir.: Robert Aldrich

 

31.º) 33 Winchester 73 (Winchester ’73), 1950 - Dir.: Anthony Mann

32.º) 29 O Intrépido General Custer (They Died with Their Boots On), 1941 - Dir.: Raoul Walsh

33.º) 28 O Cavaleiro Solitário (Pale Rider), 1985 - Dir.: Clint Eastwood

33.º) 28 Sete Homens Sem Destino (Seven Men from Now), 1956 - Dir.: Budd Boetticher

35.º) 27 A Face Oculta (One-Eyed Jacks), 1961 - Dir.: Marlon Brando

35.º) 27 Duelo ao Sol (Duel in the Sun), 1946 - Dir.: King Vidor

35.º) 27 O Preço de um Homem (The Naked Spur), 1953 - Dir.: Anthony Mann

38.º) 26 Legião Invencível (She Wore a Yellow Ribbon), 1949 - Dir.: John Ford

39.º) 25 Estigma da Crueldade (The Bravados), 1958 - Dir.: Henry King

39.º) 25 Uma Bala para o General (Quien Sabe?/Gringo) 1967 - Dir.: Damiano Damiani

 

41.º) 24 Os Profissionais (The Professionals), 1966 - Dir.: Richard Brooks

41.º) 24 Tombstone: a Justiça Está Chegando (Tombstone), 1993 - Dir.: George P. Cosmatos

43.º) 21 Minha Vontade é Lei (Warlock), 1959 - Dir.: Edward Dmytryk

43.º) 21 Cavalgada Trágica (Comache Station), 1960 Dir.: Budd Boetticher

45.º) 20 Josey Wales, o Fora da Lei (Outlaw Josey Wales), 1976 - Dir.: Clint Eastwood

46.º) 19 O Álamo (The Alamo), 1960 - Dir.: John Wayne

47.º) 18 Django (Django), 1966 - Dir.: Sergio Corbucci

48.º) 17 Conquistadores (Western Union), 1941 - Dir.: Fritz Lang

49.º) 16 Gatilho Relâmpago (The Fastest Gun Alive), 1956 - Dir.: Russell Rouse

49.º) 16 Homem sem Rumo (Man Without a Star), 1954 - Dir.: King Vidor

49.º) 16 O Homem dos Olhos Frios (The Tin Star), 1957 - Dir.: Anthony Mann


14 de setembro de 2024

TOP-TEN WESTERNS DE DARCI FONSECA

 


    Muitos seguidores do WESTERNCINEMANIA através destes anos todos nos quais perdurou a pesquisa Top-Ten Westerns cobraram a publicação da minha lista dos melhores faroestes. De certa forma fugi dessa responsabilidade porque não é tarefa fácil deixar de fora alguns faroestes magníficos e fui adiando minha lista. A enquete chegou ao fim e não há mais como ‘esconder’ meus western favoritos. Lamento não ter incluído entre eles “Pistoleiros do Oeste” (Lonesome Dove) porque originalmente foi produzido como série de TV e ao ser editado para ser exibido nos cinemas, com redução de 170 minutos perdeu muito do original. “Lonesome Dove" estaria no meu Top-Ten, não fosse contrariar a regra de considerar somente filmes e não séries. “Rastros de Ódio” é o faroeste que eu mais gosto e talvez gostar nem seja o verbo que exprima o que eu sinto por esse western grandioso. Muitos amigos que elaboraram suas listas adicionaram uma sequência de mais 10 e até 20 westerns (os runners up), o que faço também para poder citar a admiração que tenho, especialmente por Anthony Mann e John Sturges, e por westerns que ficaram fora dos meus dez melhores e que são nada menos que excepcionais.

 

Natalie Wood e John Wayne em
"Rastros de Ódio", de John Ford

  1.º) Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 - Dir.: John Ford

  2.º) Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch), 1969 - Dir.: Sam Peckinpah

  3.º) O Homem que Matou o Facínora (The Man who Shot Liberty Valance), 1962 - Dir.: John Ford

  4.º) Onde Começa o Inferno (Rio Bravo), 1959 - Dir.: Howard Hawks

  5.º) Paixão dos Fortes (My Darling Clementine), 1946 - Dir.: John Ford

  6.º) No Tempo das Diligências (Stagecoach), 1939 - Dir.: John Ford

  7.º) Matar ou Morrer (High Noon), 1952 - Dir.: Fred Zinneman

  8.º) O Vingador Silencioso (Il Grande Silenzio), 1968 - Dir.: Sergio Corbucci

  9.º) Pacto de Justiça (Open Range), 2003 - Dir.: Kevin Costner

10.º) O Cavaleiro Solitário (Pale Rider), 1985 - Dir.: Clint Eastwood

 

Robert Ryan e James Stewart em
"O Preço de um Homem", de Anthony Mann

 Outros 20 westerns que poderiam perfeitamente estar no meu Top-Ten Westerns:

 

Consciências Mortas (The Ox-Bow Incident), 1942 - Dir.: William A. Wellman

Rio Vermelho (Red River), 1948 - Dir.: Howard Hawks

Legião Invencível (She Wore a Yellow Ribbon), 1949 - Dir.: John Ford

O Preço de um Homem (The Naked Spur), 1953 - Dir.: Anthony Mann

Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 - Dir.: George Stevens

Vera Cruz (Vera Cruz), 1954 - Dir.: Robert Aldrich

Homem sem Rumo (Man Without a Star), 1954 - Dir.: King Vidor

Um Certo Capitão Lockhart (The Man from Laramie), 1955 - Dir.: Anthony Mann

Sete Homens Sem Destino (Seven Men from Now), 1956 - Dir.: Budd Boetticher

Galante e Sanguinário (3:10 to Yuma), 1957 - Dir.: Delmer Daves

Estigma da Crueldade (The Bravados), 1958 - Dir.: Henry King

Duelo de Titãs (Last Train from Gun Hill), 1959 - Dir.: John Sturges

Minha Vontade é Lei (Warlock), 1959 - Dir.: Edward Dmytryk

O Passado não Perdoa (The Unforgiven), 1960 - Dir.: John Huston

Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven), 1960 - Dir.: John Sturges

Pistoleiros do Entardecer (Ride the High Country), 1962 - Dir.: Sam Peckinpah

Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro in Più), 1965 - Dir.: Segio Leone

Era uma Vez no Oeste (C’Era una Volta il West), 1966 - Dir.: Sergio Leone

Os Imperdoáveis (Unforgiven), 1992 - Dir.: Clint Eastwood

Bravura Indômita (True Grit), 2010 - Dir.: Ethan Cohen/Joel Cohen

 

Jeff Bridges como 'Rooster Cogburn'
no remake de "Bravura Indômita"


12 de setembro de 2024

TOP-TEN WESTERNS - UMA QUADRA DE SPAGHETTI WESTERNS

 


    Esta grande enquete feita pelo Westerncinemania chega ao seu final e se depara com uma clara e grave distorção: a presença de um acentuado número de opinadores que têm pouca ou nenhuma familiaridade ou simpatia pela safra de faroestes produzidos na Europa, mais especificamente na Itália. Pejorativamente apelidados de ‘Spaghetti-Westerns’ eles podem ser melhor chamados de vertente do gênero e são poucos os cinéfilos mais antigos que se propuseram a conhecer ao menos alguns dos aproximadamente 500 filmes produzidos entre os anos de 1964 a 1974. Posso falar a respeito com certo conhecimento de causa por ter pertencido por 18 anos ao grupo de apaixonados por faroestes que se reuniam semanalmente em São Paulo no clube fundado pelo médico Dr. Aulo Barretti, o Clube Amigos do Western, mais tarde rebatizado como Cineclube Amigos do Western (CAW). Especialmente no primeiro deles era terminantemente proibida a exibição de westerns-spaghetti, todos, sem exceção abominados pelos membros da confraria. Só o fato de, entre centenas de títulos programados através dos anos, nenhum faroeste Made-in-Italy ter sido exibido é a prova cabal da ojeriza que eles despertavam ao grupo. Era repulsa mesmo e pobre daquele que em discussões ousasse defender a vertente italiana de westerns.

 

Grupo de sócios do Clube Amigos do Western;
quase todos repudiavam os westerns-spaghetti

    Nesta enquete 22 dos participantes foram membros do CAW e dentre os 220 filmes apontados por eles apenas quatro eram da safra westerns-spaghetti: “C’Era una Volta Il West” (votos de Giulio Cesare de Castro Pandolfi e Joaquim Romão Gomes); “Por um Punhado de Dólares” (voto de Osvaldo Poitier de Paulo) e “O Vingador Silencioso” (voto de Darci Fonseca). Nem mesmo a presença de Clint Eastwood na trilogia dirigida por Sergio Leone comoveu os programadores do clube a exibir tais filmes, até porque nenhum sócio se atrevia a solicitar tal programação. Por outro lado, entre os demais 54 participantes da enquete, num total de 540 filmes indicados, houve 56 menções a westerns-spaghetti, ou seja, eles foram citados em média de um por lista. A maior parte dessas citações foram para “C’Era Una Volta Il West” e para “Três Homens em Conflito”, unanimidades como os melhores Made-in-Italy de todos os tempos nesta enquete. E o resultado apontado por estes números evidenciam um radicalismo exacerbado por parte do grupo de participantes que pertenceu à mais antiga e maior confraria de fãs de faroestes do Brasil. No meu entender, como todo radicalismo, leva mais à perda do que a algum ganho.

 

Osvaldo 'Poitier' de Paulo, um dos raros cinéfilos
do CAW que não rejeitavam westerns-spaghetti

    Eu conheço cinéfilo apreciador de westerns que jamais assistiu a um western-spaghetti, recusando-se a assisti-los. É o caso típico do absurdo ‘não vi e não gostei’. Um dos argumentos daqueles que não apreciam westerns-spaghetti é que exceto meia dúzia de títulos o que sobra é um conjunto de faroestes muito ruins, o que é um risível exagero e que remete à conhecida frase de Sergio Leone: “Dizem que eu sou o pai dos spaghettis. Se isso é verdade, sou o pai de um monte de filhos-da-puta”. A produção de faroestes norte-americanos é incomparavelmente maior que os 500 exemplares italianos produzidos. E nem todos os westerns rodados na América chegam próximos dos grandes clássicos de John Ford, Anthony Mann, Sam Peckinpah, John Sturges e outros mais. Faroestes ruins existem dos dois lados. Ao criar o blog tive contato com um tipo de seguidores com profundo conhecimento de faroestes, inteligentes, cultos e, posso dizer, de gosto apurado. Em comum todos eles tinham o fato de gostar igualmente dos westerns produzidos nos Estados Unidos e dos chamados westerns-spaghetti. Vinicius Le Marc, Joailton de Carvalho, Edelzio Sanches, Aprigio Alves de Oliveira e Thomaz Antônio de Freitas são alguns deles, a quem agradeço a paciência e perseverança nos tantos debates que travamos neste Westerncinemania.

 

Sergio Leone, considerado o pai dos westerns-spaghetti

          Como compensar a presença desse numeroso grupo de amigos do blog refratários aos westerns-spaghetti? E não falo apenas dos que pertenceram ao CAW, mas também dos muitos que igualmente não simpatizavam com os filmes de Leone, Corbucci, Solima, Enzo Barboni, Gianfranco Parolini, Ferdinando Baldi e outros. A fórmula que encontrei foi acrescentar à enquete quatro listas de aficionados por faroestes, todos os quatro especilizados em westerns-spaghetti. Essas listas foram publicadas no livro “Once Upon a Time in the Italian West”, de autoria do norte-americano Howard Hughes (não confundir com o milionário aviador diretor de “O Proscrito” (The Outlaw, 1946). Abaixo breve apresentação de cada um dos quatro cinéfilos que tiveram suas listas publicadas no livro de Hughes:

 

  ‘Sir” Christopher Frayling, inglês, historiador, escritor, crítico e Reitor do Royal College of Arts de Londres. Com mais de 20 livros publicados sobre Literatura, História, Educação e Cinema, merecem destaque ‘Sergio Leone, Something to do with Death’, ‘Clint Eastwood’, ‘American Westerners’ e ‘Mad, Bad and Dangerous: The Scientist and the Cinema’.

         Alex Cox, inglês, escritor, diretor, ator, documentarista e apresentador. Dirigiu “Sid and Nancy”, “Straight to Hell” e “Repo Man”, entre outros. Cox escreveu diversos livros, merecendo destaque “10,000 Ways to Die: A Director's Take on the Spaghetti Western”.

         Tom Betts, norte-americano, editor do fanzine ‘Western All’Italiana, publicado na California desde 1983.

         Howard Hughes, norte-americano, tem mais de 30 livros publicados sobre assuntos diversos, com destaque para o cinema: ‘Stagecoach to Tombstone: The Filmgoer’s Guide to Great Westerns’; ‘Cinema Italiano: The Complete Guide from Classics to Cults’; ‘Once Upon a Time in the Italian West: The Filmgoers' Guide to Spaghetti Western’; ‘Spaghetti Westerns’; ‘Outer Limits: The Filmgoers' Guide to the Great Science-Fiction Films’; ‘When Eagles Dared: The Filmgoers' History of World War II’; ‘Aim for the Heart: The Films of Clint Eastwood’.

  

Sir Christopher Frayling, Alex Cox, Tom Betts
e Howard Hughes

TOP-TEN WESTERNS DE CHRISTOPHER FRAYLING

   1.º) Era uma Vez no Oeste (C’Era Una Volta Il West),

  1968 - Dir.: Sergio Leone

  2.º) Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo),

  1966 - Dir.: Sergio Leone

  3.º) O Vingador Silencioso (Il Grande Silenzio), 1967

  - Dir.: Sergio Corbucci

  4.º) Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro in Più),

  1965 - Dir.: Sergio Leone

  5.º) Django Vem para Matar (Se Sei Vivo, Spara),

  1967 - Dir.: Giulio Questi

  6.º) O Dia da Desforra (La Resa dei Conti), 1966

  - Dir.: Sergio Solima

  7.º) Django (Django), 1966 - Dir.: Sergio Corbucci

  8.º) Meu Nome é Ninguém (Il Mio Nome è Nessuno),

  1968 - Dir.: Tonino Valerii

  9.º) Os Violentos Vão para o Inferno (Il Mercenario),

  1968 - Dir.: Sergio Corbucci

10.º) Gringo/Uma Bala para o General (Quien Sabe?),

  1966 - Dir.: Damiano Damiani

  

TOP-TEN WESTERNS DE ALEX COX

   1.º) O Vingador Silencioso (Il Grande Silenzio),

  1967 - Dir.: Sergio Corbucci

  2.º) Gringo/Uma Bala para o General (Quien Sabe?),

  1966 - Dir.: Damiano Damiani

  3.º) Django Vem para Matar (Se Sei Vivo, Spara),

  1967 - Dir.: Giulio Questi

  4.º) Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro in Più),

  1965 - Dir.: Sergio Leone

  5.º) Era uma Vez no Oeste (C’Era Una Volta Il West),

  1968 - Dir.: Sergio Leone

  6.º) Os Cruéis (I Crudeli), 1967 - Dir.: Sergio Corbucci

  7.º) O Dia da Desforra (La Resa dei Conti),

  1966 - Dir.: Sergio Solima

  8.º) Réquiem para Matar (Requiescant),

  1967 - Dir.: Damiano Damiani

  9.º) Django (Django), 1966 - Dir.: Sergio Corbucci

10.º) Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto,

  Il Cattivo), 1966 - Dir.: Sergio Corbucci

 

 TOP-TEN WESTERNS DE TOM BETTS

   1.º) Era uma Vez no Oeste (C’Era Una Volta Il West),

  1968 - Dir.: Sergio Leone

  2.º) Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro in Più),

  1965 - Dir.: Sergio Leone

  3.º) Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto,

  Il Cattivo), 1966 - Dir.: Sergio Leone

  4.º) O Dia da Desforra (La Resa dei Conti), 1966

  - Dir.: Sergio Solima

  5.º) A Morte Anda a Cavalo (Da Uomo a Uomo),

  1967 - Dir.: Giulio Petroni

  6.º) Um Dólar para Matar (Bandidos), 1967

  - Dir.: Massimo Dallamano

  7.º) O Vingador Silencioso (Il Grande Silenzio),

  1967 - Dir.: Sergio Corbucci

  8.º) O Pistoleiro da Ave Maria (Il Pistolero dell’Ave

  Maria), 1969 - Dir.: Ferdinando Baldi

  9.º) Procurado Vivo ou Morto (Lo Voglio Morto),

  1968 - Dir.: Paolo Bianchini

10.º) Sartana, o Matador (Sono Sartana, il Vostro

  Becchino), 1969 - Dir.: Giuliano Carmineo

 

 TOP-TEN WESTERNS DE HOWARD HUGHES

   1.º) Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto,

  Il Cattivo), 1966 - Dir.: Sergio Leone

  2.º) Django (Django), 1966 - Dir.: Sergio Corbucci

  3.º) O Dia da Desforra (La Resa dei Conti),

  1966 - Dir.: Sergio Solima

  4.º) Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro

  in Più), 1965 - Dir.: Sergio Leone

  5.º) O Vingador Silencioso (Il Grande Silenzio),

  1967 - Dir.: Sergio Corbucci

  6.º) Sabata (Eh amico... C’É Sabata, Hai Chiuso!),

  1969 - Dir.: Gianfranco Parolini

  7.º) Joe, o Pistoleiro Implacável (Navajo Joe),

  1966 - Dir.:Sergio Coorbucci

  8.º) Eles me Chamam Trinity (Lo Chiamavano Trinità),

  1970 - Dir.: Enzo Barboni

  9.º) Os Violentos Vão para o Inferno (Il Mercenario),

  1968 - Dir.: Sergio Corbucci

10.º) Sangue nas Montanhas (Un Fiume di Dollari),

  1966 - Dir.: Carlo Lizzani


10 de setembro de 2024

TOP-TEN WESTERNS DE RUY CASTRO


         Nenhum outro autor, seja nacional ou não, ocupa mais espaço na minha estante que Ruy Castro. São livros de gêneros diversos, alguns já lidos e relidos, outros ainda por adquirir até porque Ruy não para de escrever mesmo depois de merecidamente vestir o fardão da Academia Brasileira de Letras. Independentemente dessa honraria Ruy seria para mim um ‘imortal’ das letras. Encontro com ele quatro vezes por semana na sua coluna na Folha de S. Paulo, certamente a coluna mais lida do jornal, coluna que é lida não querendo que acabe de tão saborosa, mesmo quando o assunto é espinhoso. Comecei a admirar os textos de Ruy Castro na jamais igualada revista ‘Senhor’, edições que, cheio de arrependimento, delas me desfiz. Mas tenho ainda algumas páginas por ele escritas que destaquei daquela publicação. Com o passar dos anos tudo que Ruy escrevia, geralmente sobre cinema, eu arquivava e minha pasta dessas magníficas matérias de página inteira na Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo e novamente na Folha é um dos meus tesouros, tão valioso quanto todo o conjunto de livros sobre cinema. Se ele trocava a Folha pelo Estadão, lá ia eu assinar o jornal dos Mesquitas. Sem falar quando assinava artigos na Playboy e em outras revistas. E claro, se Ruy lança um livro sobre cinema sou dos primeiros a adquirir. Ruy, posso dizer, moldou meu gosto, ainda que por vezes (raríssimas vezes) discorde do que ele escreve. Ruy acha que Garrincha foi melhor que Pelé e que a Semana de Arte de 22 não teve muita importância.

 

O extraordinário escritor, biógrafo, cronista e
colunista e parte de sua obra

         A bem da verdade, o Western não é o gênero que mais contribuiu para as dezenas e dezenas de publicações de Ruy Castro nos referidos jornais. E sabemos que os musicais, os policiais, dramas noir, as grandes aventuras e tudo de Billy Wilder formam a preferência de Ruy Castro. Porém, ao escrever sobre faroestes, sobre John Wayne, Henry Fonda, Clint Eastwood ou mesmo sobre os mocinhos dos westerns-B, o texto inimitável que informa, opina e delicia vale mais que muitos livros que se pretendem definitivos. Minha dívida com Ruy é do tamanho do amor que ele tem pelo cinema e pela música, ou seja, enorme. E como não há jeito de pagar essa dívida, presto esta pequena homenagem publicando seu Top-Ten Westerns. Em 1988 a Folha de S. Paulo fez uma enquete com uma dúzia de renomados jornalistas, entre eles Paulo Francis, Sérgio Augusto, Orlando Lopes Fassoni, Inácio Araújo e Ruy Castro. E nessa enquete Ruy elegeu seus faroestes preferidos. É certo que a lista poderia soar defasada passados quase 40 anos de sua publicação, mas fora o efêmero renascimento do gênero com “Dança com Lobos”, “Os Imperdoáveis”, “Tombstone” e poucos outros mais, pode-se dizer que eles são pouco próximo às dezenas e dezenas de clássicos do faroeste dos anos 30 aos anos 70. Daí a lista de Ruy Castro se manter atual e ser escolhida para encerrar esta grande enquete. Eis o Top-Ten Westerns eleito por Ruy Castro em 1988:

 


  1.º) O Homem que Matou o Facínora (The Man who Shot Liberty Valance), 1962

         - Dir.: John Ford

  2.º) No Tempo das Diligências (Stagecoach), 1939 - Dir.: John Ford

  3.º) Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 - Dir.: George Stevens

  4.º) Paixão dos Fortes (My Darling Clementine), 1946 - Dir.: John Ford

  5.º) Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 - Dir.: John Ford

  6.º) O Matador (The Gunfighter), 1950 - Dir.: Henry King

  7.º) Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch), 1969 - Dir.: Sam Peckinpah

  8.º) Conspiração do Silêncio (Bad Day at Black Rock), 1954 - Dir.: John Sturges

  9.º) A Marca do Zorro (The Mark of Zorro), 1940 - Dir.: Rouben Mamoulian

10.º) Johnny Guitar (Johnny Guitar), 1954 - Dir.: Nicholas Ray

9 de setembro de 2024

TOP-TEN WESTERNS DE PAULO ANTÔNIO LUI

 


      O Shopping Jaraguá, em Indaiatuba, cidade do interior de São Paulo, possui em sua entrada, em forma de praça, uma bela fonte, local que recentemente recebeu o nome de ‘Praça Paulo Lui’. Poucas homenagens são tão merecidas como essa prestada a um homem que por décadas e décadas têm levado entretenimento e cultura através do cinema à população indaiatubense. Paulo Lui é o simpático e atencioso senhor responsável pelo Cine Topázio (Multiplex), no Shopping Jaraguá em Indaiatuba. Há uma diferença entre ser proprietário de cinema e ser exibidor e Paulo Lui ilustra com perfeição essa diferença. Cinema é um empreendimento como outro qualquer, porém deixa de ser assim quando se pensa em cinema com amor, amor de toda uma vida, amor herdado do pai, Guerino Lui e que ‘Seu Paulo’ (ou ‘Paulinho’, como muitos o chamam) não só jamais perdeu mas sim desenvolveu de um modo ímpar que emociona a quem conhece mais inteiramente essa sua longa jornada. Daí a razão que leva a chamar Paulo Lui de ‘Exibidor’, rótulo que merece apenas quem, como ele, faz programações que atendam a faixas de público específicas sem jamais se preocupar com a bilheteria. Tendo esse modo de pensar como princípio, Paulo Lui criou para seu querido Cine Topázio diferentes tipos de programação de filmes entre eles a ‘Manhã Nostálgica’, a ‘Quarta Charmosa’ e o ‘Cine Materna’. E ainda abriu espaço para o Cineclube Indaiatuba, para o Festival de Filmes Italianos e para a sessão ‘Faroeste e Afins’.

 

Inauguração da Praça Paulo Antônio Lui,
no Shopping Jaraguá, em Indaiatuba

      Uma das sessões mais concorridas entre as criadas por Paulo Lui é a ‘Manhã Nostálgica’, na qual os grandes clássicos do cinema podem ser revistos com toda a qualidade de som e imagem que os modernos equipamentos do Cine Topázio produzem. As cabeças brancas certamente dominam essas sessões, mas muitos jovens também acorrem para poder ver a beleza desses filmes em tela grande. E aí está a razão principal que levou Paulo Lui a criar esse segmento de programação: quase todo cinéfilo tem em sua estante seus filmes ‘de cabeceira’ no formato de DVD, muitos exibidos em home-theaters com televisores de até 80 polegadas. Nada, porém, se compara a ver ou rever um filme em tela grande com os recursos que a moderna tecnologia oferece, ou melhor, que Paulo Lui nos presenteia. À parte a questão do deslumbramento que é assistir a esses filmes nas sessões programadas por Paulo Lui, há ainda o aspecto do seu incansável trabalho filantrópico. O ingresso em muitas dessas sessões é um quilo de mantimentos não perecíveis que ‘Seu Paulo’ encaminha para as entidades assistenciais que sobrevivem graças a pessoas como o querido Exibidor do Cine Topázio.

 

Paulo Antônio Lui diante de uma das salas
do Multiplex Cine Topázio

      De Guerino Lui o ‘Sr. Paulo’ herdou a paixão pela arte de representar que o levou a quando mais jovem liderar diversas atividades teatrais. A administração do Cine Alvorada, empreendimento anterior da família Lui, exigia quase todo o tempo de Paulo Lui e a arte teatral teve que ser posta de lado, até porque não deixava de ser o cinema uma das mais importantes formas de comunicação artística. Assim, ao lado dos filmes que atraíam o grande público, Paulo Lui admirava os filmes chamados ‘de arte’, quase sempre mais difíceis para o grande público. E esse segmento até hoje é brindado com filmes como o clássico italiano “Arroz Amargo’ (1949) programado para este setembro de 2024. E quem mais, senão Paulo Lui poderia abrir espaço para o gênero western, praticamente esquecido pelos produtores mas que sobrevive na lembrança de muitos que teimosamente o cultuam. A cada dois meses os fãs lotam uma das salas do Cine Topázio para rever clássicos como “Os Brutos Também Amam” e outros de igual quilate e mesmo westerns-spaghetti como “Companheiros” têm espaço nessas sessões. Ele próprio, o Exibidor Paulo Lui, é fã de westerns uma vez que pertence a uma geração que teve a felicidade de ver nas telas dos cinemas os mocinhos como Roy Rogers, Rocky Lane e Hopalong Cassidy e, mais tarde, exibindo em seus cinemas, faroestes estrelados por John Wayne, Clint Eastwood, Gary Cooper e outros grandes atores que cavalgaram pelo Velho Oeste. ‘Seu Paulo’ gentilmente atendeu à solicitação para relacionar os seus dez westerns preferidos, que são os seguintes:

 

Cowboys da confraria dos cowboys paulistas
durante uma sessão Faroestes e Afins

  1.º) Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 - Dir.: John Ford

  2.º) Os Profissionais (The Professionals), 1966 - Dir.: Richard Brooks

  3.º) Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 - Dir.: George Stevens

  4.º) Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven), 1960 - Dir.: John Sturges

  5.º) Era uma Vez no Oeste (C’Era Una Volta Il West), 1968 - Dir.: Sergio Leone

  6.º) Sem Lei e Sem Alma (Gunfight at the OK Corral), 1957 - Dir.: John Sturges

  7.º) Duelo de Titãs (Last Train from Gun Hill), 1959 - Dir.: John Sturges

  8.º) Revanche Selvagem (The Scalphunters), 1968 - Dir.: Sydney Pollack

  9.º) Ninho de Cobras (There Was a Crooked Man), 1970 - Dir.: Joseph L. Mankiewicz

10.º) Sublime Tentação (Friedly Persuasion), 1956 - Dir.: William Wyler

 

Burt Lancaster, Lee Marvin, Robert Ryan e
Woody Strode em "Os Profissionais"


6 de setembro de 2024

TOP-TEN WESTERNS DE ANTÔNIO DA CUNHA PENNA

 


  Antônio da Cunha Penna é mineiro de Santa Bárbara, uma das cidades históricas do ciclo do ouro de Minas Gerais, e aos doze anos de idade se mudou com a família para Indaiatuba. Poucos indaiatubenses amam mais essa cidade que Antônio, ou Penna como ele é mais conhecido devido a suas múltiplas atividades, quase todas elas relacionadas com a cultura. Depois de assistir “Blow-Up”, filme inglês de 1966 em que o ator David Hemmings interpreta um fotógrafo, Penna decidiu que queria ser fotógrafo, passando a clicar suas objetivas Nikon ou Mamiya pelas décadas seguintes. Essa atividade o levou a viver o dia a dia de Indaiatuba, registrando com suas lentes praticamente tudo que acontecia na cidade. A fotografia é uma arte, mas Penna não se contentava com as fotos caprichadas que fazia e não conteve outros dons nos quais demonstrou excelência igual à do fotógrafo. Enveredou então pela música e pela literatura tornando-se compositor e autor, tendo sido lançado recentemente seu quarto livro, intitulado “Retrovisões”. Escreveu crônicas para a ‘Revista da Tribuna’, posteriormente publicadas no livro “Só Dói Quando Dou Risada”. Figura das mais conhecidas de Indaiatuba, Penna ocupou cargos importantes em praticamente todos os órgãos culturais da cidade e não se afastando da fotografia foi cofundador do Fotoclube ‘Olhar Fotográfico’, da Casa da Memória e do Cineclube Indaiatuba. Como escritor Penna gosta e muito de escrever sobre o cotidiano da cidade que o acolheu e o referido “Retrovisões” escrito em forma dos saudosos almanaques, faz um levantamento das atividades culturais desenvolvidas por lá desde o início do século passado, com destaque para o cinema.

 

Alguns dos livros de Antônio da Cunha Penna;
e o premiado fotógrafo de tantas e tantas exposições

         Em “Retrovisões” acompanha-se semana a semana as programações dos desaparecidos Cine Rex e Alvorada, até chegar ao Cine Topázio com seus programas especiais dedicados à faixa de público que viveu os dias esplendorosos do Rex e do Alvorada. E Penna não esconde a saudade dessas décadas e dos grandes filmes que assistiu. Curiosamente, a primeira imagem que viu em um cinema o assustou: era Charles Starrett como Durango Kid, imenso na tela montado em seu cavalo branco chamado ‘Raider’. Depois o menino se acostumou e passou a vibrar com os mocinhos como Roy Rogers com quem logo simpatizou e que, segundo Penna, “...Tinha cara de pediatra, era casado e pouco atlético. Diferente dos demais: antes de reagir apanhava além do necessário. Quando menos se esperava começava a cantar... Os outros heróis eram solteiros e cheios de espertezas. Partiam logo para a briga e não titubeavam em sacar a arma. Se bem que gostasse deles, Roy Rogers me parecia familiar”. Esse livro contendo muita informação é entremeado pelas observações argutas, objetivas, muito sinceras e não raro irônicas do autor. E não é que o Penna lembra que Lorna Gray (Adrian Booth) como a vilã ‘Vultura’ era mais sensual que a insípida e tão querida pelo público Kay Aldridge, do seriado “Perigos de Nyoka”? Mais adiante Penna confessa que foi apaixonado por Deborah Kerr (quem não foi?) e que ficou tomado de ciúmes ao vê-la com Burt Lancaster na sequência do beijo na praia em “A Um Passo da Eternidade”. Com o cinema presente em quase todas as páginas com pelo menos um tópico em cada uma delas, o autor relembra ter criado a primeira locadora de Indaiatuba e antes de ser cofundador do Cineclube Indaiatuba ele quase fez parte da célebre confraria chamada de ‘Legionários’, que se reunia semanalmente para assistir filmes e seriados que os cinemas não mais exibiam. Saboroso de forma geral pelo estilo de escrever do autor, “Retrovisões” desperta certa melancolia quando Penna fala do fim dos Cine Rex e Alvorada, tristeza logo superada ao citar o Cine Topázio com seus imperdíveis programas promovidos pelo exibidor Paulo Lui.

 

Durango Kid montado em Raider; Kay Aldridge,
a Nyoka com o punhal; o pensativo Roy Rogers;
e a maravilhosa Deborah Kerr

         “Shane” é o faroeste preferido de Penna que em seu “Retrovisões” escreve  “...Os Brutos Também Amam esconde tanto quanto explícita. É a arte sublimando a realidade. Só grandes artistas conseguem tal façanha sem soar falso. É, sem dúvida, um clássico absoluto”. Em outro trecho Penna fala da música de “Shane”: “...Não sei o que há na música ‘The Call of the Faraway Hills’ (O chamado das colinas distantes), de Victor Young. Seu caráter reverente e ritmo em sintonia com a cadência do cavaleiro solitário chegando à pradaria me levam para aquele mundo onde, uma hora e 59 minutos depois, dou por mim com os olhos úmidos em razão dos gritos desesperançados do menino Joey”. Da primeira imagem de Durango Kid à do cavaleiro dos vales perdidos do filme de George Stevens, Antônio da Cunha Penna assistiu a um número incontável de faroestes e para o blog Westerncinemania ele relacionou o seu Top-Ten Westerns que é este:

  

Penna diante do cenário de seu faroeste preferido

  1.º) Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 - Dir.: George Stevens

  2.º) Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 - Dir.: John Ford

  3.º) Matar ou Morrer (High Noon), 1952 - Dir.: Fred Zinnemann

  4.º) O Homem que Matou o Facínora (The Man who Shot Liberty Valance), 1962 - Dir.: John Ford

  5.º) No Tempo das Diligências (Stagecoach), 1939 - Dir.: John Ford

  6.º) Era Uma Vez no Oeste (C’Era Una Volta Il West), 1968 - Dir.: Sergio Leone

  7.º) Sete Homens Sem Destino (Seven Men from Now), 1956 - Dir.: Budd Boetticher

  8.º) O Último Pôr-do-Sol (The Last Sunset), 1961 - Dir.: Robert Aldrich

  9.º) Os Imperdoáveis (Unforgiven), 1992 - Dir.: Clint Eastwood

10.º) A Face Oculta (One-Eyed Jacks), 1960 - Dir.: Marlon Brando

 

Penna com o grande amigo Laudney Mioli no 'Pingado, Pão e Manteiga" semanal que ocorre aos sábados em Indaiatuba