UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

28 de fevereiro de 2011

UMA INJUSTIÇA COM TONY CURTIS

O espetáculo anual de entrega do Oscar torna-se cada vez mais monótono, sem graça e triste. A Academy of Motion Picture Arts and Sciences, por aqui chamada de "Academia" consegue a cada ano ser mais e mais injusta. Ela existe para premiar os melhores do ano e para lembrar aqueles que foram os melhores num tempo em que não era necessário uma lupa para se encontrar grandes talentos como é agora. Tantos foram os injustiçados nas premiações através dos anos que seria preciso um blog só para enumerar essas injustiças. E a Academia prossegue injustiçando grandes nomes do cinema do passado não os homenageando condignamente. Não vamos falar aqui de Doris Day, que como poucos outros artistas mereceria receber um Oscar especial e certamente não o receberá em vida. Essa é simplesmente a maior de todas as injustiças dessa organização. Nas noites da premiação muita gente fica acordada madrugada adentro apenas para assistir ao "In Memoriam" e nessa 'homenagem' aos nomes que o cinema perdeu no ano passado foram dedicados três (03) segundos a Tony Curtis. Tony foi um ator de inegável talento, comprovado em magníficas atuações dramáticas como em "Acorrentados" (The Defiant Ones), que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor ator, "A Embriaguez do Sucesso" (Sweet Smell of Sucess) e "O Sexto Homem" (The Outsider). Na comédia Tony Curtis foi um dos melhores da sua geração e em "Quanto Mais Quente Melhor" (Some Like it Hot) nenhum outro ator seria tão perfeito quanto Tony. Por tudo isso e pelas dezenas de ótimos e bons filmes que fez, Tony Curtis mereceu três segundos da Academia. A justificativa poderia ser o tempo do programa que encurtou um pouco, mas então como explicar aqueles tantos e tantos desconhecidos premiados fazendo agradecimentos de quase cinco minutos onde são lembrados seus tios, avós, vizinhos, cachorros e papagaios?!?! Injustiça e ingratidão andam por toda parte e por que não também na meca do cinema? Lembramos aqui de Tony Curtis que participou de poucos westerns, mas que independentemente disso foi e sempre será um dos mais queridos e admirados atores de sua geração, geração que a Academia quase ignora.

26 de fevereiro de 2011

"BRAVURA INDÔMITA" DOS IRMÃOS COEN, UM WESTERN QUE JÁ NASCEU CLÁSSICO

Henry Hathaway foi um dos melhores diretores de westerns, numa carreira que cobriu quatro décadas. Entre seus melhores trabalhos estão “Os Filhos de Katie Elder” e “Fúria no Alasca”, mas Hathaway é sempre lembrado por “Bravura Indômita”, especialmente pela interpretação de John Wayne como Rooster Cogburn, que lhe valeu o Oscar. Aquele Oscar de John Wayne foi uma espécie de prêmio pelo ‘conjunto da obra’, entregue com 13 anos de atraso. Se houve um filme em que Duke mereceria ter sido premiado foi sem dúvida pela criação de Ethan Edwards em “Rastros de Ódio” (The Searchers). E “Bravura Indômita”, de 1969, jamais foi esquecido, não só por John Wayne de tapa-olho, mas e principalmente pela magnífica sequência em que o Marshal Cogburn, a galope segurando as rédeas com os dentes e Colt e carabina nas mãos, investe contra Ned Pepper (Robert Duvall) e outros três bandidos. Cena antológica que entrou para a galeria das grandes sequências dos faroestes. Mas essa primeira versão de “Bravura Indômita”, apesar das inegáveis qualidades, não pode ser listado entre os grandes faroestes do cinema.
ROOSTER COGBURN MAIS DESPREZÍVEL QUE NUNCA - E novamente foi revisitada a história de Charles Portis (autor do livro “True Grit") e chegou  “Bravura Indômita” dos irmãos Joel e Ethan Coen, com o desafio maior que era reviver Rooster Cogburn à eterna sombra de John Wayne. Jeff Bridges recria brilhantemente a personagem que nos envolve e faz até esquecer do RoosterCogburn/John Wayne. Sua primeira e repulsivamente engraçada aparição é... dentro de um daqueles fétidos banheiros de um metro quadrado no fundo de um quintal, anunciando o Marshal relaxado, mal humorado, malcriado, mentiroso e mercenário, ou seja, tudo que um homem da Lei não deveria ser. Esse tipo quase asqueroso se dobra à determinação e destemor de uma menina de 14 anos (Mattie Ross) e saem ambos à caça do assassino do pai da garota (Josh Brolin). Junta-se a eles o Texas Ranger La Boeuf (Matt Damon) e o que se vê daí para diante é um western com bem dosado humor, muita emoção e ação de primeiríssima qualidade. A sequência do tribunal, que inicia o filme parece ter saído de um clássico de John Ford. Certo que muitas das cenas são praticamente repetições da versão de 1969, mas acabam diferenciando-se daquelas pelo ritmo perfeito, diálogos repletos de fina ironia e uma belíssima fotografia que emoldura mas jamais rouba a atenção dos diálogos e da ação.
MERECIDO SUCESSO - John Wayne era sempre John Wayne e Jeff Bridges em nova e estupenda caracterização divide a cena durante o filme todo com a agradável surpresa que é a jovem atriz Hailee Steinfeld (Mattie Ross). Ano passado foi lançado “Jonah Hex”, com Josh Brolin protagonizando o herói dos quadrinhos que tanto lembra Josey Wales. Esse decepcionante western, repleto de efeitos especiais, explosões e todos os excessos que o moderno cinema utiliza à exaustão, sequer mereceria ser lembrado. Mas é aqui citado como paralelo ao uso que os irmãos Coen refinada e minimamente fazem dos recursos técnicos que poderiam ter à disposição. A dupla de diretores desenvolve “Bravura Indômita” fundamentando o filme sobre o que há de mais humano em suas personagens. Este é um western que já nasceu clássico, independente de quantos prêmios venha a receber. “Bravura Indômita” dos irmãos Coen custou 38 milhões de dólares e já rendeu perto de 200 milhões de dólares. O produtor Steven Spielberg deve ter ficado um pouco mais rico e quem sabe aposte mais vezes em outros westerns. O merecido sucesso de “Bravura Indômita” enche de esperança os fãs desse desprezado gênero e que, a exemplo de “Pacto de Justiça” (Open Range), confirma que os westerns sempre serão fonte inesgotável de belas histórias que podem resultar em grandes filmes.

OS MELHORES WESTERNS DE TODOS OS TEMPOS

A revista PARDNER elegeu em 1999 os melhores westerns de todos os tempos, no trabalho mais completo que já foi feito no Brasil em forma de enquete de faroeste. Votaram os então sócios do Clube Amigos do Western e mais alguns notórios conhecedores do gênero. Além da enquete há ainda análises dos 'Top Ten' feitas pelos cowboys Aulo 'Doc' Barretti, Laudney Mioli, Achilles Hua, Clóvis Ribeiro, Cesare Pandolfi, Roberto de Almeida e outros. Este número bastante especial estará integralmente digitalizado, em março, para alegria dos leitores no Blog da revista PARDNER, cujo endereço eletrônico é:
pardnerwestern.blogspot.com/

"SHANE, COME BACK..." E SHANE VOLTOU...

David Carradine como Shane na TV
Extraordinário sucesso de público e crítica, “Os Brutos Também Amam” (Shane) teve refilmagens disfarçadas como “No Rastro da Violência” (The Quick and the Dead), de 1987, ou declaradas como “O Cavaleiro Solitário” (Pale Rider), de Clint Eastwood, rodado em 1985. Porém até agora não houve ainda uma nova versão cinematográfica do clássico de George Stevens. Quem se aproveitou da fama desse famoso western foi a televisão, pois em 1966 a ABC colocou no ar a série “Shane”. Para os fãs do filme estrelado por Alan Ladd, a série de TV chegou a ser quase um sacrilégio com as liberdades que tomou, entre elas que na série de TV o ‘Cavaleiro dos Vales Perdidos’ voltara para trabalhar no rancho de Marian que ficara viúva. Foram portanto atendidos os gritos que nunca deixaram de ecoar no Vale do Wyoming (“Shane, come back, mama loves you...”), pois Shane retornou e tornou-se quase um padrasto de Joey Starrett. Outra figura que não estava no filme era a de Tom Starrett (Tom Tully), sogro de Marian. David Carradine estrelou a série como ‘Shane’. Jill Ireland era ‘Marian’ e Chris O’Shea o pequeno ‘Joey Starrett’. Jill Ireland era então casada com David McCallun, vindo mais tarde a ser esposa de Charles Bronson na vida real. O tema musical da série, toda filmada em cores, era “The Call of the Far-Away Hills”, de Victor Young, composto para o filme de 1953. Mesmo com todos esses ingredientes a série “Shane” durou meros 17 episódios, sendo cancelada pela baixa audiência que teve. Certamente a enorme legião de admiradores de “Os Brutos Também Amam” não aprovou a nova composição das personagens criadas para a TV. David Carradine viria, anos depois, a fazer muito mais sucesso como o monge Shao-Lin Kung-Fu. Jill Ireland participaria de inúmeros westerns, quase sempre ao lado do marido Charles Bronson, até falecer em 1990 aos 54 anos. Quem jamais morrerá será a importância do verdadeiro “Shane”, sempre lembrado não só como um dos principais exemplares do gênero, mas como um dos mais poéticos filmes que Hollywood já produziu.

25 de fevereiro de 2011

STELLA STEVENS, A GATA DE SAM PECKINPAH

Depois de deixar o público perplexo com “Meu Ódio Será sua Herança” (The Wild Bunch), o mundo ansiava para ver o que Sam Peckinpah, o John Ford da era Vietnã, apresentaria a seguir. E a ansiedade só aumentou com o curioso título do filme “The Ballad of Cable Hogue”, cuja tradução literal seria ‘A Balada do Cabo Hogue’, e que no Brasil chamou-se “A Morte não Manda Recado”. Decepcionados ficaram aqueles que esperavam novo banho de sangue estilizado pois “Cable Hogue” nada teve de violento. Ao contrário com muito humor Peckinpah contou uma história de amor entre um empreendedor dos novos tempos do Velho Oeste (Hogue) e uma prostituta (Hildy). Não são poucos os que consideram “A Morte não Manda Recado” o melhor filme de Peckinpah, com Jason Robards protagonizando o rude Cable Hogue com invulgar intensidade, lembrando bastante Humphrey Bogart em “O Tesouro de Sierra Madre”. Mas o que torna esse néo-western verdadeiramente agradável de assistir é a presença excitante de Stella Stevens naquela que certamente foi sua melhor atuação no cinema. Stella surgiu no início dos anos 60 como promessa de ser mais uma Marilyn Monroe e passou a ser notada após “O Professor Aloprado” (The Nutty Professor), com Jerry Lewis. Depois da sua enternecedora participação em “A Morte não Manda Recado” parecia certo que ela entraria para o time das grandes estrelas de Hollywood. Mas os bons papéis não vieram e Stella voltou a ser coadjuvante em “O Destino do Poseidon” (The Poseidon Adventure). A partir de então Stella Stevens nunca mais teve uma real oportunidade de desenvolver seu inegável talento de atriz. Certo dia, durante a filmagem de “A Morte não Manda Recado” Sam Peckinpah fez Stella chorar e desgostosa ela disse a Sam para arrumar outra atriz com manequim n.º “8”. Quando ela estava em seu trailler arrumando as malas para abandonar a produção, um mensageiro lhe trouxe uma pequena gatinha branca com um bilhete escrito: “Desculpe-me, minha gatinha. – Sam”. Ainda bem que tudo terminou em paz e esse belo e elegíaco filme de Peckinpah nos proporcionou uma das mais deliciosas interpretações de uma atriz num western. A provocante e inesquecível Hildy de Stella Stevens.

24 de fevereiro de 2011

JOHN RUSSELL, O VILÃO QUE INTERPRETOU "BLOODY BILL" ANDERSON

A Guerra de Secessão nunca deixa de ser assunto para o gênero Western e alguns de seus personagens principais são sempre lembrados. Porém há um que estranhamente o cinema poucas vezes abordou: William T. Anderson, mais conhecido por “Bloody Bill” Anderson. Figura lendária da guerra fratricida entre o Norte e o Sul, “Bloody Bill” Anderson pertenceu ao bando de William C. Quantrill, autorizado então a pilhar, torturar e matar indiscriminadamente. E como seu próprio nome indica, o sanguinário “Bloody Bill” Anderson aterrorizava a todos apenas com o som do seu nome. Durante o massacre ocorrido na cidade de Lawrence o exército de Quantrill assassinou perto de 200 pessoas, grande parte dessas mortes creditada a “Bloody Bill” Anderson. Mesmo com essa ficha o cruel confederado poucas vezes apareceu nas telas. Uma delas há pouco lembrada neste Blog foi “Cavaleiros da Bandeira Negra”. A outra foi em “Josey Wales – O Fora-da-Lei” (Outlaw Josey Wales), em que dirigido por Clint Eastwood, John Russell viveu a terrível personagem de “Bloody Bill” Anderson. John Russell iniciou sua carreira no cinema em “A Mulher Faz o Homem”, de Frank Capra, em 1939, esperando até 1948 para participar de seu primeiro western, que foi “Céu Amarelo” (Yellow Sky), com Gregory Peck e Richard Widmark. A partir de então nunca mais deixou de cavalgar pelo Velho Oeste no cinema ou na TV. Na telinha ganhou sua série própria, intitulada “O Homem da Lei” (Lawman), que permaneceu por quatro temporadas no ar (1958/1962). Em 1959 Russell foi ‘Nathan Burdette’, o chefe da quadrilha em “Onde Começa o Inferno” (Rio Bravo). Em 1976 interpretou a referida personagem de “Bloody Bill” Anderson em “Josey Wales – O Fora-da-Lei”. Em 1985, também dirigido por Clint Eastwood, John Russell criou o impressionante ‘Stockburn’ em “O Cavaleiro Solitário” (Pale Rider), um digníssimo final para sua bela carreira em Westerns. Nascido em 1921, John Russell faleceu em 1991, mas jamais será esquecido por suas interpretações, seja como vilão, como homem da lei ou ainda como “Bloody Bill” Anderson.

OS CAVALEIROS DA BANDEIRA NEGRA (Kansas Raiders) - OS JOVENS CAVALEIROS DO CORONEL QUANTRILL

Se houve algo que os roteiristas norte-americanos nunca ligaram muito foi para a verdade dos fatos históricos. Lá pelos anos 70 começou uma grande cobrança pelo “historicamente correto” e os westerns ficaram até meio sem graça. “Cavaleiros da Bandeira Negra” (Kansas Raiders), de 1950, não prima muito pela acurácia dos fatos referentes ao Coronel William Clarke Quantrill. A começar pela idade, pois Quantrill morreu aos 27 anos e Brian Donlevy, que o interpreta no filme estava com 49 anos. Ao redor do ex-soldado da União que se tornou ‘oficial’ da sua facção do Exército Confederado, o roteiro de “Cavaleiros da Bandeira Negra” juntou nada menos que os Irmãos Jesse e Frank James (Audie Murphy e Richard Long), os irmãos Cole e James Younger (James Best e Dewey Martin) e ainda Kit Dalton (Tony Curtis). Quantrill aperfeiçoou os jovens bandidos agregados ao seu exército nas técnicas de pilhagem devidamente acompanhados de requintes da maior crueldade. Para esse quesito Quantrill tinha um mestre na figura de Bill Anderson (Scott Brady), o ‘Bloody’ Bill Anderson, o mais sanguinário confederado da Guerra da Secessão. Dirigido por Ray Enright, o western é bastante movimentado, com excelentes cenas de ação, compensando o discutível roteiro. O maior atrativo de “Cavaleiros da Bandeira Negra” é ver em ação um grupo de atores praticamente iniciantes, com idades por volta de 25 anos e que teriam carreiras bastante diferentes no cinema. De longe Tony Curtis foi o que se saiu melhor na vida artística, tornando-se um dos grandes ídolos de Hollywood. Audie Murphy será sempre lembrado como um ator de poucos recursos interpretativos, mas que foi o mocinho mais constante da última boa fase dos faroestes. James Best atuou muito no cinema, em westerns, dramas e comédias, mas acabou consagrado mesmo foi na série “The Duke of Hazzard” (Os Gatões), na TV, interpretando o atrapalhado xerife Roscoe P. Coltrane. Scott Brady viveu seu momento de glória como ‘Dancing Kid’ em “Johnny Guitar”. Richard Long e Dewey Martin, sem maiores chances no cinema, passaram logo para a TV. No elenco ainda a veterana Marguerite Chapman que foi heroína do seriado clássico “O terror dos Espiões” (Spy Smasher) de 1942. E numa ponta aparece Richard Egan. “Cavaleiros da Bandeira Negra” deve ter sido tão agradável de se ver quando de seu lançamento, quanto agora na época do DVD, é claro que sem nenhuma preocupação com o apuro histórico.

23 de fevereiro de 2011

"PRESENTÃO" PARA JEREMIAH JOHNSON

John Ford sabia como ninguém inserir momentos engraçados nos westerns que dirigia. Um dos momentos engraçados de “Rastros de Ódio” é quando Martin Pawley (Jeffrey Hunter) descobre desesperado que está ‘casado’ com a índia gordinha Wild Goose Flying in the Sky, apelidada de ‘Look’, interpretada por Beulah Archuletta. O casamento havia acontecido por um equívoco e o melhor era Martin Pawley não contrariar o cacique que orgulhosamente lhe havia dado Look como esposa. Quase 20 anos depois, no western “Mais Forte que a Vingança” (Jeremiah Johnson), a mesma situação se repetiu, desta vez com Robert Redford que como o caçador das montanhas Jeremiah Johnson também recebe como irrecusável presente a filha do cacique, chamada Swan (Delle Bolton, na foto com Redford). E o próprio cacique é quem promove a cerimônia de casamento entre Swan e Jeremiah. Swan, ao menos, era muito mais bonita que Look e passa a viver maritalmente com Jeremiah. Assim como aconteceu com Look, a bela índia Swan não teve sorte e também morre durante o filme. “Mais Forte que a Vingança” é um western diferente e bastante realista contando as aventuras de um homem que prefere a vida selvagem das montanhas à civilização que começa a ganhar forma nas regiões inóspitas dos Estados Unidos. Dirigido por Sidney Pollack “Mais Forte que a Vingança” bem mereceu o enorme sucesso de bilheteria alcançado.

NÃO A JOHN WAYNE E SIM A CLINT EASTWOOD

Sondra Locke estrelou “Josey Wales - O Fora-da-Lei” (Outlaw Josey Wales), ao lado de Clint Eastwood, com quem depois iria viver por mais de dez anos. Porém, bem antes disso Sondra poderia ter participado de outro grande faroeste que foi “Bravura Indômita” (True Grit). O produtor do filme, Hall B. Wallis, havia assistido à estréia de Sondra no cinema no drama “Por que tem de ser assim?” (The Heart is a Lonely Hunter) onde Sondra interpretava uma menina e achou que havia encontrado a atriz perfeita para o papel da garota Mattie Ross em “Bravura Indômita”. Apesar de a proposta financeira ser excelente, além de ainda atuar ao lado de John Wayne, Sondra Locke leu o roteiro e recusou a oferta de Hall B. Wallis. Sondra não queria ser “typecasted”, ou seja, ficar marcada por papéis de menina-moça. Sondra tinha então 21 anos, curiosamente a mesma idade de Kim Darby que acabou virando a Mattie Ross no western dirigido por Henry Hathaway. Mesmo com o sucesso de “Bravura Indômita” a carreira de Kim Darby no cinema não deslanchou, enquanto Sondra Locke teve que esperar até 1975 para se encontrar com Eastwood e fazer sucesso. Mais tarde ela contaria essa e outras histórias na sua autobiografia chamada “The Good, the Bad and the Very Ugly”, mostrando sua bravura indômita.

POR QUE ROY ROGERS É O "REI DOS COWBOYS"?

Na década de 30 era tamanho o sucesso dos B-Westerns entre a garotada que tinha nas matinês a sua maior diversão, que, em 1936, a Motion Picture Herald inventou uma pesquisa para que fossem apontados os Top Ten Money Makers Cowboys (já havia uma enquete parecida para indicar os Top Ten entre os verdadeiros astros do cinema). Funcionava assim: o garoto ia ao cineminha da sua cidade e recebia um cupom no qual votava no seu mocinho preferido e depositava em uma urna. Era também uma forma de se descobrir quais mocinhos mais atraiam os meninos para o cinema. Ao final do ano era publicada a lista dos Dez Mais, o que fazia vibrar os pequenos fãs. A enquete durou até 1954, justamente o ano em que acabaram as queridas séries westerns. Atribuimos dez pontos para o 1.º colocado, nove para o 2.º e assim por diante, e apuramos quem foram os cowboys favoritos da garotada norte-americana naqueles 19 anos em que durou a enquete. Esta é a classificação:

Observações: a) Gene autry não foi votado em 1943/44/45 porque esteve na II Guerra Mundial, não tendo feito nenhum filme nesse período; b) John Wayne só apareceu nas listas até 1939, depois disso passou a aparecer nas listas dos astros de filmes de maior orçamento; c) Dale Evans foi a única mocinha a ser votada nas enquetes; d) Os 'Three Mesquiteers' tiveram diversas formações; e) nas 19 enquetes, Buck Jones foi o 1.º em 1936; Gene autry foi 1.º de 1937 a 1942; Roy Rogers foi o 1.º de 1943 a 1954.

Nada mais justo que Roy Rogers seja considerado "O Rei dos Cowboys" dos semanalmente esperados filmes de "mocinho e bandido" que nos faziam delirar quando crianças.


"SHANE" PODERIA SER ASSIM...

O roteiro de“Shane” para o cinema foi escrito baseando-se numa história de autoria de Jack Schaefer publicada em 1949 e também chamado “Shane”. Porém algumas substanciais alterações foram feitas pelos roteiristas A.B. Guthrie Jr. e Jack Sher e é interessante imaginar como seria esse western clássico se o roteiro fosse como Jack Schaefer imaginou a história: O pequeno Joey chama-se Robert, apelidado de “Bob”, e é quem narra o livro na primeira pessoa; Shane era um pistoleiro que se vestia de preto e não com o famoso buckskin do filme; Marian tem uma participação mínima no livro, dedicando-se apenas a cozinhar e no livro não há nenhuma sugestão de atração por Shane; o falastrão Torrey (‘Paredão’) não morre no livro e sim conta como um outro sitiante foi morto pelo pistoleiro Stark Wilson em frente ao Bar Grafton’s; como pouco se sabe de Shane, especula-se no livro que ele seria um pistoleiro e jogador vindo de Arkansas e seu nome seria Shannon. No livro de Schaefer não havia um romance entre Chris Calloway (Ben Johnson) e Susan Lewis (Janice Carroll), a filha de Fred Lewis (Edgard Buchanan). Esse romance foi desenvolvido durante a filmagem e explicaria a súbita mudança que leva Chris a abandonar os Ryker. Porém essa história de amor foi inteiramente cortada na sala de edição. Se as pretensões do diretor George Stevens dessem certo, o elenco teria Montgomery Clift como Shane, William Holden como Joe Starrett e Katharine Hepburn como Marian. Porem essa composição de elenco encareceria demais a produção e a Paramount optou pela “prata da casa” com Alan Ladd, Van Heflin e Jean Arthur, que o estúdio mantinha sob contrato. Pode-se afirmar que todas essas alterações processadas certamente contribuiram para que “Shane” fosse um estrondoso sucesso de bilheteria no mundo todo, independente do título recebido em cada país. “Os Brutos Também Amam”, no Brasil; “Il Cavaliere della Valle Solitaria” (O Cavaleiro do Vale Solitário), na Itália; “Raíces Profundas” (Raízes Profundas), na Espanha; “L’Homme des Vallées Perdues” (O Homem dos Vales Perdidos), na França; “Mein Grober Freund Shane” (Meu Alto Amigo Shane), na Alemanha, foram alguns dos títulos recebidos pelo sublime western de George Stevens, e que nenhum admirador admite que se mude um fotograma sequer.

22 de fevereiro de 2011

JEFF BRIDGES: TRADIÇÃO NO WESTERN

Jeff Bridges ganhou o Oscar de Melhor Ator no ano passado e concorre novamente este ano por “Bravura Indômita” (True Grit), interpretando Rooster Cogburn, personagem inesquecível para qualquer fã de western. E “Bravura Indômita” concorre ainda em outras nove categorias: Filme – Atriz Coadjuvante (Hailee Steinfeld) – Diretor (os irmãos Coen) – Roteiro Adaptado – Fotografia – Direção de Arte – Figurino – Mixagem de Som -  Edição de Som. E muita gente está torcendo para o bis de Jeff Bridges, não só por ser ele um magnífico intérprete, mas e principalmente por ser um ator com tradição no Velho Oeste. Seu pai Lloyd Bridges praticamente começou a carreira nos filmes de Durango Kid (Charles Starrett), participando de incontáveis faroestes dos quais o mais importante foi o clássico “Matar ou Morrer”. Dos filhos atores de Lloyd Bridges, o que manteve a tradição westerner foi o mais novo, Jeff. O primeiro sucesso cinematográfico de Jeff Bridges não foi um western, mas quem assistiu “A Última Sessão de Cinema” lembra perfeitamente que o filme que se assiste no pequeno cinema daquela cidadezinha do Texas era nada menos que “Rio Vermelho”. E Jeff atuaria em 1972 em “Más Companhias” (Bad Company), em 1974 em “Amigos e Aventureiros” (Rancho DeLuxe), em 1975 em “Do Oeste para a Fama” (Hearts of the West), todos eles muitíssimo bem recebidos pela crítica. Em 1980 Jeff Bridges participaria daquele que é considerado o maior fracasso cinematográfico de todos os tempos, o western “Portal do Paraíso” (Heaven’s Gate), de Michael Cimino. A próxima aventura de Jeff Bridges seria em 1995, como ‘Wild Bill’ Hickok no filme “Wild Bill, uma Lenda do Oeste” (Wild Bill). Como já não se faz mais tantos westerns como antigamente, Bridges só voltaria à sela novamente em 2010, justamente como Rooster Cogburn. Um dos maiores atores de sua geração Jeff Bridges tem muitas razões para ser bastante estimado pelos fãs de western,o que só aumenta a torcida para que ele (de tapa-olho no lado direito) e “Bravura Indômita” voltem para casa com os alforjes cheios de Oscars.

JOHN WAYNE E OS ROQUEIROS

John Wayne nunca precisou de nenhum artifício para ser campeão de bilheterias, mas Hollywood é Hollywood e usa de todos os meios para ganhar mais e mais dinheiro. Uma das ‘invenções’ da meca do cinema, no início dos anos 60 era colocar astros do Rock ‘n’ Roll em westerns estrelados por John Wayne. Primeiro foi Ricky Nelson em “Onde Começa o Inferno”; a seguir Frankie Avalon em “O Álamo”; o terceiro roqueiro a atuar com Duke foi Fabian em “Fúria no Alasca”. Lançados como ‘atores’, nenhum deles alcançou sucesso de verdade no cinema. Nem mesmo Ricky Nelson que desde a infância atuava no show-business com seus pais e irmãos e tinha, por isso mesmo mais experiência. Fabian chegou a participar da superprodução “O Mais Longo dos Dias” (John Wayne também no elenco estelar), mas terminou esquecido em produções baratas. Frankie Avalon, que antes de “O Álamo” havia estreado como ator no western “Gigantes em Luta” (com Alan Ladd e Gilbert Roland) foi quem teve a melhor carreira no cinema. Depois de ser dirigido por John Wayne apareceu em “Viagem ao Fundo do Mar” e parece que gostou tanto da água salgada que daí mergulhou de cabeça numa série de filmes apelidados de “bikini party” com surfistas musculosos e moças de biquini recheando as histórias mais banais que o cinema já teve. Em 1978 Frankie Avalon esteve no elenco de um dos maiores sucessos musicais de todos os tempos que foi “Nos Tempos da Brilhantina”. Nos anos 70, Bobby Vinton, outro astro do Rock cavalgaria por duas vezes ao lado de John Wayne em dois westerns: “Jake, o Grandão” e “Chacais do Oeste”. Mesmo com a 'força' de John Wayne nenhum dos quatro cantores conseguiu repetir a carreira cinematográfica de sucesso daquele roqueiro chamado Elvis Presley. Ainda bem...

19 de fevereiro de 2011

RED RYDER, DE FRED HARMAN, UM HERÓI INESQUECÍVEL DAS MATINÊS

O desenhista Fred Harman com seu estilo personalíssimo criou Bronc Peeler, herói das histórias em quadrinhos que mais tarde viraria Red Ryder e, acompanhado sempre pelo indiozinho Little Beaver (Filhote de Castor) e pela The Dutchess (A Duquesa), faria sucesso também no cinema. A Republic Picture, estúdio especializado em B-Westerns produziu em 1940 o seriado em 12 episódios “As Aventuras de Red Ryder” escalando o ator Don Barry para interpretar o valente cowboy. Tommy Cook era Little Beaver e Maude Pierce Allen era The Dutchess. Don Barry aceitou a contragosto a ordem do estúdio para atuar nessa produção que acabou resultando num dos seriados westerns mais espetaculares da Republic. Com o sucesso de "As Aventuras de Red Ryder" Don Barry incorporou o Red a seu nome artístico. Demorou quatro anos para Red Ryder voltar às telas, em 1944, como uma série estrelada pelo mocinho Bill Elliott e tendo a companhia de Robert Blake (Little Beaver) e Alice Fleming (The Dutchess). O primeiro filme da série foi “Bandoleiros Encobertos” (Tucson Riders), seguido por outros 15 com Bill Elliott na pele de Red Ryder. Bill moldou Red Ryder ao seu gosto, mantendo os revóveres com os cabos virados para a frente, sua marca registrada. Em 1946 o ator deixava a série para voltar a ser “Wild” Bill Elliott em sua série própria de westerns. Nesse mesmo ano Herbert J. Yates, o chefão da Republic escalou Allan Lane para ser o novo Red Ryder, mantendo Bob Blake como Little Beaver e trazendo Martha Wenthworth para ser a The Dutchess. O primeiro filme da série foi “Rota de Criminosos” (Santa Fé Uprising) e Allan Lane seria Red Ryder num total de sete eletrizantes aventuras, das quais uma das melhores é “Cartas Marcadas” (Marshal of Cripple Creek). Em 1947 Lane partiu para sua série própria, agora como Rocky Lane, fazendo enorme e duradouro sucesso. A partir daí a Republic se desinteressou pelo personagem de Fred Harman que só reapareceria em 1949 na pequena companhia Eagle-Lion com o ator Jim Bannon como Red Ryder. Don Reynolds (Little Beaver) e Marin Sais (The Dutchess) completavam a companhia do novo Red Ryder, cuja primeira aventura em cores se chamou “Ride, Ryder, Ride!”. Bannon faria apenas mais três westerns, também em cores, todos considerados fracos se comparados com os 23 da Republic. Houve ainda uma tentativa de levar Red Ryder para a TV com Alan Rocky Lane novamente como o herói, sendo rodado um piloto de 25 minutos. Infelizmente o projeto não deu certo e a geração-TV deixou de conhecer Allan Rocky Lane, um dos mais intrépidos mocinhos do cinema. Se a série desse certo teria sido um belo final para um dos heróis favoritos da garotada nos anos 40 e 50, que discutiam acaloradamente quem teria sido o melhor dos Red Ryders, cada um defendendo seu mocinho mais querido. Mas muitas das aventuras de Red Ryder no cinema estão aí para matar a saudade das inesquecíveis matinês com o herói de Fred Harman e, se possível acompanhado por um gibi do Bronco Piller.

ANIVERSÁRIO DE LEE MARVIN

Hoje, 19 de fevereiro se comemora o nascimento do maior de todos os homens maus do cinema, Lee Marvin. Insuperável como o outlaw Liberty Valance, Lee passou de mero coadjuvante a astro principal, primeiro nome de elencos que tinham Burt Lancaster, Clint Eastwood, Charles Bronson e outros consagrados astros do cinema. Lee aperfeiçoou o estilo criado por Dan Duryea e hoje é modelo para qualquer tough guy das telas. Nascido em 1924, Lee completaria hoje 87 anos. Lee Marvin faleceu em 29 de agosto de 1987 deixando uma lacuna que jamais será preenchida pois ator algum é capaz de ser tão detestavelmente adorado como ele.

PANCHO VILLA EM HOLLYWOOD

Wallace Beery como Pancho Villa
Hollywood nunca esquece a Revolução Mexicana, especialmente a figura de Pancho Villa. Yul Brynner com uma negra peruca sob o sombrero interpretou o general mexicano em “Villa, o Caudilho” (Villa Rides), 1968, num elenco que tinha ainda Robert Mitchum, Charles Bronson, Herbert Lom e Fernando Rey. Em 1972 foi a vez de outro careca, Telly Savalas, cruzar os baleiros no peito como Pancho Villa e tentar invadir os Estados Unidos em busca de armas no filme  “Pancho Villa”, com elenco completado por Clint Walker e Chuck Connors. Em 1958 Brian Keith e Cesar Romero atuaram no filme “Villa, o Temerário” (Villa!), em que Pancho foi vivido pelo ator mexicano Rodolfo Hoyos Jr. Marlon Brando foi Emiliano Zapata em “Viva Zapata”, no qual Pancho Villa foi interpretado por Alan Reed. Em “Gringo Velho” (Old Gringo), de 1980, com Gregory Peck e Jane Fonda, quem atuou como Pancho Villa foi Pedro Armendáriz Jr. E vale lembrar que seu pai, Pedro Armendáriz também interpretou Pancho Villa, em uma das dezenas de vezes que em Churubusco foi revivida a lendária figura de José Doroteo Arango (verdadeiro nome de Pancho). Mais recentemente Antonio Banderas também foi Pancho Villa em “Estrelando Pancho Villa”, de 2003. E em diversas vezes Pancho Villa foi citado sem sequer dar as caras no filme, como em “O Tesouro de Pancho Villa” (The Treasure of Pancho Villa), de 1955, com Rory Calhoun e Gilbert Roland. Porém o mais famoso filme sobre o guerrilheiro mexicano foi “Viva Villa!”, de 1934, com Wallace Beery (como Pancho) e Leo Carrillo, com direção atribuída a Jack Conway. Quem dirigiu a maior parte de “Viva Villa!” foi Howard Hawks, até que certo dia de descanso nas filmagens pois era feriado, houve uma parada militar na cidade e o ator Lee Tracy se embriagou, saiu no terraço do quarto do hotel e urinou nos cadetes que desfilavam na avenida. O fato gerou um incidente internacional com o Governo mexicano se sentindo insultado, o que quase promoveu nova Revolução. A MGM foi pressionada pela Casa Branca e Louis B. Mayer rompeu o contrato com o ator Lee Tracy, tendo que refilmar todas as suas sequências com outro ator (Stuart Erwin). Howard Hawks não concordou pois Lee Tracy era um dos destaques do filme. Hawks brigou com Mayer e também deixou a direção do filme, sendo substituído por Jack Conway que ficou com o crédito de diretor. Como se vê, mesmo morto Pancho Villa faz um barulho enorme...

A FÓRMULA DE HOWARD HAWKS

Howard Hawks  dirigiu apenas cinco westerns em sua longa carreira como diretor. E essa quina de faroestes bastou para que Hawks seja reconhecido como um dos melhores diretores do gênero pois dois deles são reconhecidamente obras-primas do gênero: “Rio Vermelho” (Red River) e “Onde Começa o Inferno” (Rio Bravo). Hawks dirigiu ainda “Rio da Aventura” (The Big Sky), “Eldorado” e “Rio Lobo”, este seu último filme. Coincidência ou não, em todos esses cinco westerns temos o trio central de atores cuidadosamente distribuídos em faixas etárias, ou seja, há sempre um velho (ops, desculpem, um idoso), um meia-idade e um jovem. Em “Rio Vermelho” o trio era formado por Walter Brennan – John Wayne – Montgomery Clift. Em “Rio da Aventura” por Arthur Hunnicutt – Kirk Douglas – Dewey Martin. Em “Onde Começa o Inferno” lá estavam de novo Brennan e Wayne acompanhados por Ricky Nelson. Em “Eldorado” Arthur Hunnicutt – John Wayne – James Caan. Finalmente em “Rio Lobo” Jack Elam – John Wayne e pode se considerar Christopher Mitchum (filho de Robert) como o componente jovem das três gerações. Quem era mesmo o mais velho em "Eldorado" e "Rio Lobo"? John Wayne era três anos mais velho que Hunnicutt e 13 anos mais velho que Jack Elam... É fácil perceber que Hawks gostou da fórmula de “Onde Começa o Inferno” e praticamente a repetiu em “Eldorado” colocando ainda um xerife bêbado na história (Dean Martin/Bob Mitchum). Outra mania de Hawks era colocar no principal papel feminino de seus westerns atrizes pouco conhecidas, praticamente estreantes no cinema, ou senão vejamos: Joanne Dru, Elizabeth Threatt, Angie Dickinson, Charlene Holt e a carioca Jennifer O’Neil. Usando fórmulas ou não, o certo é que Howard Hawks foi um daqueles diretores que ajudaram a criar a expressão “a época de ouro do cinema”, pois já não há mais diretores como ele e nem westerns como os que ele fazia.

KATE HEPBURN E ROOSTER COGBURN

Ela estava no cinema há mais de 40 anos e era de longe a mais consagrada e respeitada atriz norte-americana, vencedora de três prêmios Oscar de Melhor Atriz (viria a receber um quarto Oscar em 1981). Nunca havia feito antes um Western de verdade, desconsiderado “Lágrimas do Céu” (The Rainmaker), com Burt Lancaster, que não é um autêntico Faroeste. E surpreendentemente, em 1975 contracenaria com John Wayne, de tapa-olho e tudo, revivendo Rooster Cogburn de “Bravura Indômita” (True Grit). E ainda por cima, aos 68 anos de idade, deveria repetir as perigosas cenas vividas com Humphrey Bogart em “Uma Aventura na África” (The African Queen). E como fez em todos os filmes que participou Katharine Hepburn esbanjou talento e profissionalismo. Aparentemente ela e Duke não teriam nada em comum, muito pelo contrário, mas o que se viu em “Justiceiro Implacável” (Rooster Cogburn) foi um clima de perfeita camaradagem entre os veteranos atores, ambos nascidos em 1907, ela no dia 12 de maio e ele 14 dias depois. Está certo que não foi um filme à altura da soma dos talentos de Kate e Duke, dirigido por um diretor inexperiente e que sequer viria a fazer carreira (Stuart Millar), resultando num western memorável apenas pela presença dos dois intérpretes principais, mas que, ainda assim, emociona a quem o assiste. Em diversas cenas a forma respeitosa com que John Wayne reverencia Katharine observando-a atuar vale mais que todos os Oscar que ela recebeu. Se as cenas de ação não são muito convincentes e a trama dá a impressão que já assistimos ao filme, os diálogos bem humorados entre Kate e Duke fazem valer o preço do DVD. (Quem escreveu o roteiro foi a atriz Martha Hyer sob o pseudônimo de Martin Julien; a bonita Martha Hyer era esposa de Hall B. Wallis, produtor do filme.) Rever “Justiceiro Implacável” leva a imaginar como teria sido bom ver John Wayne e Katharine Hepburn mais vezes juntos, de preferência em outros Westerns...

18 de fevereiro de 2011

COMO SUNDANCE KID MUDOU A VIDA DE ROBERT REDFORD

“Butch Cassidy & Sundance Kid” foi concebido como projeto cinematográfico para estourar nas bilheterias. Só pelo script de William Goldman a 20th Century-Fox pagou 400 mil dólares, num orçamento final de dois milhões de dólares dos quais 750 mil dólares foram para a conta bancária de Paul Newman, o campeão de bilheteria da década de 60. Paul interpretaria ‘Butch Cassidy’ e para viver ‘Sundance Kid’ o estúdio pensou logo em Steve McQueen, que vinha do grande sucesso que foi “Bullitt”. McQueen queria ganhar mais que Newman e ter seu nome à frente nos créditos, o que não foi aceito e ficou de fora do filme. Depois dele a Fox contatou Warren Beatty (“Bonnie & Clyde”), que não aceitou a proposta. O papel de ‘Sundance Kid’ acabou ficando para Robert Redford, jovem ator que ainda perseguia um grande sucesso nas telas. Katharine Ross, que esteve no elenco do recente blockbuster que foi “A Primeira Noite de um Homem” (The Graduate) foi contratada para ser ‘Etta Place’. A excelente fotografia de Conrad L. Hall, a química perfeita entre Newman e Redford, a glamurização dos bandidos, o provocante triângulo amoroso, a romantização da história emoldurada pela bela canção de Bacharach-David, tudo concorreu para o enorme êxito do filme dirigido por George Roy Hill. Além de ganhar vários prêmios Oscar e outros no mundo todo, “Butch Cassidy & Sundance Kid” foi o campeão de bilheterias de 1969 e ainda hoje é o Western que mais rentável na história do cinema, tendo rendido até agora perto de 570 milhões de dólares (valores ajustados pela inflação). Antes Newman já havia participado de três westerns (“Um de nós Morrerá”/The Left-Handed Gun), (“Quatro Confissões”/The Outrage) e “Hombre”, enquanto Redford só havia participado de faroestes em séries de TV. Depois de “Butch Cassidy & Sundance Kid” ambos fizeram outros westerns, mas com resultados diferentes. “Roy Bean, o Homem da Lei”/ Judge Roy Bean e “Buffalo Bill e os Índios”, ambos estrelados por Paul Newman foram mal recebidos pelo público e pela crítica, ao passo que Robert Redford conquistava o público com “Willie Boy” (Tell them Willie Boy is Here) e “Mais Forte que a Vingança” (Jeremiah Johnson). Assim como Newman fizera muito sucesso nos anos 60, nos anos 70 foi a vez de Robert Redford ser o número um nos anos de 1974, 1975 e 1976, tudo isso certamente catapultado pela repercussão de “Butch Cassidy & Sundance Kid”, que foi um dos mais deliciosos Westerns de todos os tempos.

ROD CAMERON, A INSPIRAÇÃO DE INDIANA JONES

Nascido no Canadá, seu sonho era entrar para a Polícia Montada, mas uma fratura quando ainda adolescente o reprovou no exame médico para a Northwest Mounted Police. Com 1,96m de altura e muito boa estampa seu destino só poderia mesmo ser o cinema, e logo no início de carreira aparece com o uniforme da Polícia Montada, ao lado de Gary Cooper e Paulette Goddard, em “Legião de Heróis” (NorthWest Mounted Police). Daí para a frente Rod Cameron não parou mais de fazer filmes e seriados. Steven Spielberg confessou que foi nele que se inspirou para criar seu Indiana Jones pois a imagem do valente ‘Rex Bennett’ (Rod Cameron) no seriado “A Adaga de Salomão” (Secret Service in Darkest Africa) era uma de suas melhores lembranças da infância. Filmes de ação eram o forte do fortíssimo Rod Cameron que se saia tão bem como detetive ou espadachim, mas gostava mesmo era de cavalgar atrás dos bandidos que tremiam só de vê-lo imponente e ameaçador, sempre em defesa da lei. Entre seus maiores sucessos estão “Era seu Destino” (Frontier Gal), “A Filha da Foragida” (Belle Starr’s Daughter), “Os Saqueadores” (The Plunderers), “Cavaleiro Negro” (Brimstone), “O Roubo das Diligências” ( Stage to Tucson). Rod teve sua própria série de B-Westerns, ou seja, atuava nos filmes usando seu próprio nome artístico, assim como teve também um gibi próprio, o que atesta sua popularidade como mocinho. Quando terminaram as séries nos pequenos estúdios Rod Cameron esteve ao lado de Randolph Scott, Audie Murphy, Rory Calhoun, Bill Elliott e George Montgomery, suprindo com westerns de menor orçamento a lacuna deixada por Rocky Lane, Rex Allen, Roy Rogers e outros ídolos das matinês. Atuou bastante na TV, onde teve três séries como ator principal. Rod Cameron é sempre lembrado por um fato curioso: casou-se em 1950 com Angela Alves-Lico, de quem se divorciou em 1954, indo então morar na casa da mãe da ex-esposa, Dorothy Alves-Lico. Após alguns anos de ótima convivência com a ex-sogra, Rod Cameron casou-se com ela vivendo feliz até sua morte (câncer), em 1983, aos 73 anos.

17 de fevereiro de 2011

DORIS DAY, APAIXONANTE CALAMITY JANE

Ela não fez tantos Westerns como outras atrizes. Não cavalgava como Barbara Stanwyck (a Rainha do Western); não tinha o corpo de Jane Russell; não emocionou a garotada como Linda Stirling; não tinha a sensualidade de Dorothy Malone ou Virginia Mayo; não casou com cowboy como Dale Evans; não foi heroína da telinha como Amanda Blake ou Gail Davis; não tinha a maldade de Marie Windsor, todas grandes mocinhas do cinema. Mas nenhuma delas chegou perto de uma interpretação como a de Doris Day em “Ardida como Pimenta” (Calamity Jane). E mesmo as atrizes que antes ou depois de Doris interpretaram Calamity Jane conseguriram ser tão espetaculares. E olhem que muita gente boa viveu no cinema essa lendária personagem (Jean Arthur, Francis Farmer, Jane Russell, Yvonne De Carlo, Carol Burnett, Stephanie Powers, Ellen Barkin e Anjelica Huston, para não alongar a lista). Literalmente Doris arrasou, atirando, fazendo acrobacias em uma diligência, arrancando gargalhadas, dançando e claro... cantando maravilhosamente como somente ela sabia cantar. Tornou clássicas as canções de Sammy Fain-Paul Francis Webster “Black Hills of Dakota” e “The Deadwood Stage”, além de tornar inesquecível “Secret Love”, canção ganhadora do Oscar e que chegou ao n.º 1 do Billboard. Num território essencialmente masculino como o do Western, Doris venceu os durões sem perder a feminilidade. “Ardida como Pimenta” é aquele filme que leva o espectador à alegria e os fãs de Doris à felicidade suprema, merecendo ser assistido ao menos uma vez por ano.

EDIÇÃO VIRTUAL DA REVISTA PARDNER

Já foi criado o Blog da revista PARDNER e dentro de poucos dias as edições poderão ser lidas ou relidas virtualmente. O primeiro número a ser editado será a PARDNER n.º 21, comemorativa do Centenário do Western no cinema e, segundo muitas opiniões, o mais completo trabalho feito no Brasil para festejar tão importante evento. Vale à pena esperar.

16 de fevereiro de 2011

"ESCONDERIJO DE HERÓIS", HOMENAGEM AOS COWBOYS DO CINEMA - JORGE CAVALCANTI

Os atores-cowboys do cinema aparecem no clip da canção "Esconderijo de Heróis" na interpretação do cowboy-cantor Jorge Cavalcanti.
Esta é a letra da canção, de autoria de J.Cavalcanti/D.Fonseca:

Fecho os olhos e eles sugem no horizonte  /  Sem pressa, cavalgando ao luar
Largo tudo e os encontro num instante  /  É minha sorte, meu destino, meu lugar
Rory, Richard, Rock e Brynner, mil histórias / Ben Johnson, Ol' Brennan, outras glórias
Brando, Heston, Joel McCrea, Tony Quinn  /  Gregory Peck, Dean Martin, Errol Flynn
Audie Murphy, Randy Scott e Glenn também  /  Lee Marvin, Jack e Duryea, os badmen
Jimmy Stewart, Bill Holden, nobre estirpe  /  Henry Fonda, admirável Wyatt Earp
Gary Cooper, a bravura, dever e amor  /  Burt e Kirk, alma e lei e destemor
Clint Eastwood, Alan Ladd, o eterno Shane  /  Heróicos rastros, Big Duke John Wayne
Tantas lutas, tiros e beijos vejo na tela  /  São momentos de sincera emoção
Hoje sei que minha vida foi mas bela  /  Escondo tudo dentro do meu coração
Hoje sei que minha vida é mais bela  /   Escondo tudo dentro do meu coração


ÁLBUM DE FIGURINHAS "THE WILD BUNCH"

Qual garoto dos anos 40 ou 50 que não gostava de colecionar figurinhas? Para matar a saudade aqui está um álbum com o elenco de "Meu Ódio Será sua Herança" (The Wild Bunch), editado no México, o que explica o grande número de figurinhas com atores mexicanos que participaram do filme, assim como explica a ausência de L.Q. Jones, Dub Taylor, Rayford Barnes, entre outros. O que não tem explicação é por que não estão no álbum as lindas mexicanas Aurora Clavel e Lilia Castillo... As figurinhas estão na seguinte ordem: O Diretor - William Holden - Ernest Borgnine - Robert Ryan - Strother Martin - Albert Dekker - Warren Oates - Ben Johnson - Jaime Sánchez - Emílio Fernández - Alfonso Arau - Jorge Russek - Edmond O'Brien - Bo Hopkins - Chano Arueta - Fernando Wagner - Jorge Rado - Sonia Amelio. (Obs.: Clicando na imagem ela se expandirá)

15 de fevereiro de 2011

JOHN WAYNE BARBADO

Todos lembram de John Wayne com bigode ("Legião Invencível"/She Wore a Yellow Ribbon), com bigode e pequeno cavanhaque ("Rio Grande") e até mesmo com a barba por fazer ("Rastros de ódio"/The Searchers), mas com barba mesmo parece que o Duke só apareceu num filme de 1935, dos tempos da Lone Star. Esse western se chamou "Terror no Texas" ( Texas Terror), dirigido por Robert N. Bradbury aparecendo no elenco George 'Gabby' Hayes,  LeRoy Mason e Lucile Browne como a mocinha. É um daqueles "bezinhos" gostosos de assistir e com essa curiosidade de John Wayne barbado, mais parecendo um bandido chefiado pelo vilão LeRoy Mason.

O COCHEIRO DE "NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS"

Aos cinco anos de idade ele se submeteu a uma cirurgia nas cordas vocais e, para o resto da vida, sua voz ficou incapaz de emitir duas palavras no mesmo tom. E mesmo assim essa voz seria a sua marca registrada, sendo imitada por mais de 150 milhões de pessoas nos USA nos anos 50. Seu nome: Andy Devine. Depois de atuar em mais de 70 filmes Andy teve uma grande oportunidade no cinema como o cocheiro ‘Buck’ de “No Tempo das Diligências”. Em seguida seu corpanzil e sua voz estridente foram vistos em todo tipo de filme, desde westerns até aventuras passadas no mundo árabe. Andy iria encontrar o sucesso de verdade na tela pequena, interpretando o Deputy Marshal (delegado) Jingle P. Jones na série “As Aventuras de Wild Bill Hickok”, estrelada por Guy Madison, série exibida por seis anos consecutivos na TV norte-americana. O infeliz cavalo do corpulento Andy penava bastante para carregar os 150 kg do ator, enquanto Wild Bill Hickok (Guy) se distanciava em perseguição aos bandidos. Nesse momento os Estados Unidos inteirinho deliravam ao ouvir o famoso bordão “Hey, Wild Bill, wait for meeee!” O sucesso era tão grande que Andy chegou a ter sua própria série na TV, chamada “Andy’s Gang”, em 1955. Nessa série repetia outro bordão famoso: “Hyia, Buck!”, igualzinho como havia feito numa boléia em “No Tempo das Diligências”. Foram 22 anos longe de John Ford, com quem voltaria a trabalhar em “Terra Bruta” (Two Rode Together), seguido do importante personagem ‘Marshal Link Appleyard’ na obra-prima “O Homem que Matou o Facínora” (The Man who Shot Liberty Valance). Seu último encontro com John Ford foi em Monument Valley no documentário “The American West of John Ford”, rodado em 1971. Uma das cenas imortais da história do 7.ª Arte, independente de gênero, será sempre a figura impressionante de John Wayne sobre uma diligência da Overland Stage Line disparando seu rifle contra os índios perseguidores, enquanto o gorducho cocheiro conduzia espetacularmente três parelhas de cavalos negros, imprimindo mais e mais velocidade à diligência e gritando freneticamente com sua voz desafinada: “HYIA, BUCK!!!” Era o inesquecível Andy Devine.

14 de fevereiro de 2011

WARD BOND MORDIDO EM "CARAVANA DE BRAVOS"

Ward Bond separa os briguentos e Jane Darwell examina o estrago...

“Caravana de Bravos” (Wagon Master) era o western preferido de John Ford. E é um dos mais singelos e poéticos dos faroestes dirigidos pelo Mestre. Rodado em 1949, não foi concebido para ser um retumbante sucesso, tanto que não tinha nenhum nome estelar num elenco que contava com quase toda Ford Stock Company, grupo de atores e técnicos que sempre participavam dos filmes do Velho Jack. Entre esses nomes, é claro, estava Wardell Edwin (Ward) Bond, o preferido entre todos para Ford descarregar sua ira quando algo dava errado nas filmagens ou ainda a vítima preferida também para 'Pappy' endereçar sua sarcásticas ‘brincadeiras’. “Caravana de Bravos” teve uma perfeita reconstituição da difícil vida dos desbravadores do Velho Oeste, inclusive com muitos cães acompanhando as caravanas e descansando nos acampamentos. Havia dois desses cães que não se entendiam muito bem e a todo momento se atracavam em violentas brigas. Numa cena do filme ‘Sandy’ (Harry Carey Jr.) se engalfinha com ‘Jackson’ (Chuck Hayward) e os dois cães briguentos vendo a confusão correram para o local. ‘Wiggs’ (Ward Bond) deveria entrar e apartar a briga, mas exatamente nesse momento um dos nervosos cães decidiu morder a perna de Ward Bond. John Ford percebeu mas não se incomodou com a dor que o ator devia estar passando e filmou tudo, inclusive o cachorro rasgando uma das pernas da calça de Ward Bond, cuja panturrilha mostrava as marcas da dentada. Depois de gritar “corta!” e antes que Bond esbravejasse, Ford o cumprimentou pelo realismo da cena e por ele ter se portado como verdadeiro ator... Se fosse para reclamar, Harry Carey Jr. e Chuck Hayward também teriam até mais direito, pois Ward Bond, para separá-los, os agarrou violentamente pelos cabelos, o que deve ter doído mais ainda que a mordida que levou do raivoso cachorro. “Caravana de Bravos” é uma filme que se assiste com enorme prazer pois tudo nele é enternecedor. E as tocantes canções de Stan Jones completam esse belo Western que só mesmo John Ford seria capaz de fazer.

"O ÁLAMO" TERIA SIDO UM FRACASSO?

O grande sonho da vida de John Wayne era filmar “O Álamo”, heróica página da história norte-americana. Após muitos anos economizando para transformar seu sonho em realidade, finalmente Duke conseguiu produzir o filme numa parceria da sua produtora Batjac com a United Artists. Elenco repleto de grandes astros, número monumental de extras, locação em Brackettville, Texas, onde nada era fácil de conseguir, tudo isso somado elevou o custo final da produção para astronômicos doze milhões de dólares. Após o lançamento teve início a difamação do filme dirigido por Wayne, muitos rotulando-o de “o maior fracasso do cinema”. Mas nada disso é verdade. Se artisticamente “O Álamo” não chega a ser uma obra-prima, está longe de ser um mau filme, muito pelo contrário. E quanto à bilheteria, esse épico arrecadou nos Estados Unidos 7,9 milhões de dólares quando de seu lançamento e 15 milhões de dólares no resto do mundo, só em 1960. Corrigidos esses valores o filme de Wayne teria custado 88,4 milhões de dólares e rendido no mundo todo 110 milhões de dólares. Comparando “O Álamo” de 1960 com a refilmagem de 2004 verifica-se que este sim foi um rotundo fracasso pois custou 95 milhões de dólares (110 milhões se corrigido o valor), rendendo globalmente 26 milhões de dólares (ou 30 milhões se corrigido o valor). Esse prejuízo de 80 milhões de dólares dificilmente será recuperado ao longo dos anos. Por outro lado, vale lembrar que, após o lançamento em 1960, “O Álamo” teve diversas reprises, foi vendido para exibição na TV e lançado em VHS e em DVD. Considerando-se o grande número de fãs de John Wayne espalhados por todos os recantos da Terra, muitos deles colecionadores, pode-se afirmar que “O Álamo” deu e continua dando lucro. Assisti “O Álamo” quando de seu lançamento em São Paulo, no Cine Normandie, que ficava na Av. Rio Branco, num sábado em sessão à meia-noite, isto após horas de espera numa enorme fila que dava a volta ao quarteirão. “O Álamo” foi, então, o maior sucesso de todos os tempos de bilheteria no Japão e bateu recordes de exibição praticamente no mundo todo. Pode-se chamar a isso de fracasso? Certamente que não e John Wayne, onde quer que esteja cavalgando, deve estar muito feliz com seu "The Alamo".

13 de fevereiro de 2011

BANDO DE RENEGADOS (The Lawless Breed) - ROCK HUDSON, O SANGUINÁRIO JOHN WESLEY HARDIN



O cinema norte-americano não se cansa de contar (a seu modo) as vidas de foras-da-lei do Velho Oeste. Billy the Kid, Frank e Jesse James, Butch Cassidy & Sundance Kid, os Daltons, os Youngers e Johnny Ringo estão entre os ‘preferidos’ de Hollywood. Mas o maior dos pistoleiros que aterrorizaram o Oeste nos Estados Unidos foi um controvertido bandido a quem o cinema deu menos atenção: John Wesley Hardin. Em 1953 Raoul Walsh produziu e dirigiu “Bando de Renegados” (The Lawless Breed) com roteiro baseado na suspeitíssima autobiografia de Hardin. Para não fugir à regra de Hollywood o filme romantiza a vida desse pistoleiro que matou pelo menos onze pessoas, sendo atribuída a ele um possível total de 25 assassinatos a bala. Billy the Kid matou, comprovadamente, apenas quatro homens. Jesse James matou somente um e Sundance Kid jamais cometeu um único assassinato. Mesmo assim o cinema adora falar deles... Em 1953 Rock Hudson interpretou John Wesley Hardin em “Bando de Renegados”, tendo como par romântico Julia Adams, nesse agradável western dirigido por Raoul Walsh. O veterano diretor era um ótimo contador de histórias e teve nesse filme um excelente elenco onde despontaram John McIntire (em papel duplo de pai e tio de John Wesley), Hugh O’Brian, Lee Van Cleef, Dennis Weaver, Michael Ansara e outros. Hardin sempre alegou que nunca matara alguém que não fosse em legítima defesa, mas é também atribuída a ele a frase “nunca matei ninguém que não merecesse morrer”. Historicamente o filme de Walsh não pode ser levado a sério e bem que John W. Hardin aguarda por uma abordagem cinematográfica mais realista. Ainda mais porque Bob Dylan e Johnny Cash reforçaram a lendária existência de Hardin, cada um compondo uma canção sobre o bandido. Em ambas as músicas Hardin é cantado como um amigo dos pobres e injustiçado pela lei. Dylan não apenas lhe dedicou uma canção como também deu o título de seu álbum lançado em 1967 e que se chamou “John Wesley Harding”, erradamente grafado com “g”. Enquanto o cinema não revisa a vida de John Wesley Hardin, vale à pena ver de novo Rock Hudson na pele desse outlaw, matando Michael Ansara, Lee Van Cleef e Hugh O’Brian e também tratando carinhosamente Julie Adams, tudo no clip acima.

12 de fevereiro de 2011

TIM HOLT, MODELO PARA O PEQUENO SHERIFF

Tim Holt foi um dos mais queridos e destacados mocinhos das saudosas matinês. Discreto, simpático, bom de sela e de punhos também, Tim Holt ajudou a sustentar a RKO com sua série que era grande sucesso entre os meninos dos anos 40 e 50. E a concorrência não era nada fácil pois havia um verdadeiro time de craques nos B-Westerns, time liderado por Roy Rogers. Tim Holt nasceu em 5 de fevereiro de 1918, era filho do veterano ator Jack Holt e irmão de Jennifer Holt. Aos oito anos estreou no cinema e aos 19 anos assinou contrato com o produtor Walter Wanger e fez pequenas aparições em filmes de astros como Barbara Stanwyck, Henry Fonda, Charles Boyer, Olivia de Havilland e outros. Começou como cowboy na RKO ao lado de George O'Brien, a quem substituiu como primeiro mocinho daquele estúdio. Seus filmes tinham orçamento e qualidade acima da média das outras séries, igualando e mesmo superando algumas séries da Republic Pictures. Sua aparência quase juvenil, suas habilidades como ator e cowboy e um certo apuro técnico que a RKO lhe proprocionava eram os diferenciais de seus B-Westerns. Raramente deixava de filmar em locações e teve muitas vezes como dublês o experiente Dave Sharpe e um stuntman novato chamado Ben Johnson. Tim interrompeu sua carreira como ator quando foi convocado pela US Air Force, participando de 59 missões como bombardeiro dos B-29, recebendo muitas medalhas por seu heroísmo em combate. Tim Holt gostava muito dos B-Westerns pois mesmo tendo participado de grandes produções como "No Tempo das Diligências" e "Paixão dos Fortes", ambos dirigidos por John Ford; "Soberba", de Orson Welles; "O Tesouro de Sierra Madre", de John Huston, Tim sempre voltou correndo para Lone Pine e Alabama Hills, cenários comuns de sua série. Tim Holt foi muito assediado por grandes estúdios para sair da RKO mas nunca deu grande importância para o sucesso, lá permanecendo por quase toda sua vida artística. Na RKO filmou "Os Filhos de Hitler" (Hitler's Children), dirigido por Edward Dmytryk, filme que custou 167 mil dólares e rendeu mais de cinco milhões de dólares, salvando o estúdio da falência em 1943. Tim Holt teve vários sidekicks como cowboy, mas foi 'Chito José Gonzalez Bustamante Rafferty' (Richard Martin), quem mais cavalgou ao seu lado, de 1947 até 1952, ano em que a série de western com Tim Holt  foi encerrada. Afastando-se do cinema Tim passou a viver em Oklahoma até sua morte (câncer), aos 55 anos, quando era executivo de uma grande rádio local. Certa ocasião Tim Holt venceu uma competição entre os cowboys do cinema, sendo o mais rápido a sacar seu Colt e acertar um alvo, fazendo-o em incríveis seis décimos de segundo. Embora não haja nenhuma informação a respeito, é possível supor que Tristano Torelli e Dino Zuff basearam-se na figura do mocinho Tim Holt para criar Kit Hodgkin, O Pequeno Sheriff dos gibis.

11 de fevereiro de 2011

BARBARA STANWYCK, A CORAGEM EM "DRAGÕES DA VIOLÊNCIA"

Todos os atores e diretores que com ela trabalharam tinham a mesma opinião: ela era a mais profissional de todas as atrizes de Hollywood, além de humilde, discreta e amiga de todos nos sets de filmagens. Uma das maiores provas do profissionalismo de Barbara Stanwyck ocorreu em "Dragões da Violência" (Forty Guns), o cultuado western de Samuel Fuller. A 20th Century-Fox indicou Marilyn Monroe para o papel principal, mas Fuller sabia que Barbara Stanwyck era talhada para aquela personagem. O diretor queria uma cena em meio a uma tempestade de areia provocada por um tornado e conseguiu com que o efeito fosse excepcionalmente realista. Enormes ventiladores faziam voar touceiras, troncos de árvores, pedaços de madeira, rodas de carroça, lançados em direção aos dublês. Chuck Roberson, com grande risco, dublou Barry Sullivan, mas nenhum outro dublê quis se arriscar fazendo a perigosa cena em que a personagem 'Jessica Drummond' é derrubada do cavalo ficando presa ao estribo sendo arrastada em meio a todos aqueles objetos que voavam sem direção. Barbara não teve dúvidas e fez ela mesmo a cena, repetindo-a por três vezes, até que ficasse perfeita. Em todas as três tomadas a atriz foi arrastada pelo magnífico cavalo branco que monta no filme (veja o trecho do filme). Ao final do dia Sam Fuller não se cansava de elogiar Barbara Stanwyck, dizendo para todos: "My God, I can't believe. She didn't complain once..." (Meu Deus, não dá para acreditar. Ela não reclamou nenhuma vez...). Assim era Barbara Stanwyck, a Grande Dama do Western.

10 de fevereiro de 2011

GRANDIOSO WESTERN COM ORSON WELLES

Orson Welles era um gênio precoce que ainda adolescente escrevia peças de teatro e aos 25 anos escreveu, roteirizou, dirigiu e atuou naquele que é considerado o melhor filme de todos os tempos, "Cidadão Kane". E quando o mundo todo se rendia ao talento de Welles, lhe perguntaram quais os diretores que mais o influenciaram. Ele respondeu: "John Ford, John Ford e John Ford". E emendou dizendo que antes de dirigir "Citizen Kane" assistira 40 vezes "No Tempo das Diligências". Com toda essa reverência ao Homero das Pradarias seria lícito esperar que Orson Welles um dia participasse de um western. Cary Grant é um dos raros grandes nomes de Hollywood que nunca atuaram no mais norte-americano dos gêneros cinematográficos, o western. Já Orson Welles não se pode dizer que não possua um western na sua extensa e desigual filmografia como faz-tudo no cinema. Ele participou sim, daquele que David O. Selznick pretendia que fosse a versão de "...E o Vento Levou" dos westerns, ou seja, "Duelo ao Sol" (Duel in the Sun). Para quem não sabe, aquela incomparável voz grave que narra esse grande drama de luxúria, ambição e paixão doentia é a voz do gênio Orson Welles, que teve portanto, uma participação no grandioso western que Selznick produziu para sua amada Jennifer Jones.

SERGIO LEONE X CLINT EASTWOOD

Clint Eastwood deve sua carreira a Sergio Leone, mas a recíproca, de certa forma, também não deixa de ser verdadeira. Leone passou a ser um nome universalmente respeitado no gênero Western após sua trilogia filmada com Clint como o silencioso e estranho pistoleiro ("Por um Punhado de Dólares", "Por uns Dólares a Mais" e "Três Homens em Conflito"), após o que se separaram, cada um alçando vôos mais altos em suas respectivas carreiras. Em 1968 Leone dirigiu "Era Uma Vez no Oeste", hoje considerado um dos maiores filmes do gênero, enquanto Clint Eastwood atuaria num faroeste bem mais modesto chamado "A Marca da Forca" (Hang 'Em High), produção norte-americana dirigida por Ted Post após recusa de Leone que não pode dirigi-lo pois iniciava "Era Uma Vez no Oeste". Esta era uma superprodução, filmada na Itália, Espanha e no Monument Valley, trilha sonora inspiradíssima de Ennio Morricone e com elenco internacional encabeçado por Henry Fonda, Charles Bronson e Cláudia Cardinalle. O custo final de "Era Uma Vez no Oeste" ultrapassou cinco milhões de dólares. Ambos os filmes foram lançados quase ao mesmo tempo sendo que "A Marca da Forca" arrecadou quase sete milhões de dólares, tendo custado $ 1.800,000. Por sua vez o grandioso western de Leone arrecadou somente $ 1.000,000, ou seja, um retumbante fracasso em seu lançamento. Parece que sem Clint Eastwood os western de Sergio Leone não iam bem nas bilheterias pois seu filme seguinte "Quando Explode a Vingança" (Giù la Testa) também atraiu pouco público. Enquanto isso Clint Eastwood, por 25 anos manteve-se entre os top ten do cinema norte-americano, proeza antes só alcançada por John Wayne. Ganhando status de clássico do gênero, "Era Uma Vez no Oeste" conseguiu ao longo dos anos recuperar o investimento feito e Leone receberia de Clint a dedicatória de seu mais premiado western, que foi "Os Imperdoáveis". Justíssimo reconhecimento, ainda que post-morten pois Sergio Leone faleceu em 1989, aos 60 anos.

6 de fevereiro de 2011

PISTOLEIROS DO ENTARDECER TIRAM CARA OU COROA

As filmagens de "Pistoleiros do Entardecer" (Ride the High Country), em 1962, já haviam sido iniciadas e Peckinpah definira os papéis principais: Randolph Scott interpretaria Steve Judd, enquanto Joel McCrea seria Gil Westrum. Os dois veteranos mocinhos do cinema conversando acharam que um papel era melhor que o outro e decidiram disputar no cara-e-coroa quem interpretaria esse papel. Ganhou McCrea que ficou sendo Steve Judd e Randy Scott faria o mau caráter Gil Westrum. Peckinpah até gostou da mudança e concordou, só não poderia imaginar que a troca desse tão certo pois os atores se superaram, ajudando "Pistoleiros do Entardecer" a se transformar imediatamente num reconhecido clássico do gênero. Foi o último filme de Randolph Scott, enquanto Joel Crea iniciaria uma pré-aposentadoria vindo a atuar em apenas mais quatro filmes. Scott e McCrea foram verdadeiramente dois maravilhosos Pistoleiros do Entardecer.

O ÔNIBUS DE "SHANE"

"Os Brutos Também Amam" (Shane) é provavelmente o western mais querido e admirado de todos os tempos, mas nem por isso está imune àqueles que procuram defeitos no filme que foi caprichosamente dirigido por George Stevens. É bastante famosa a falha que mostraria um ônibus Greyhound passando numa estrada de Wyoming com a imponente Teton Mountains ao fundo. Muita gente jura que já percebeu esse erro de filmagem que ocorreria logo no início do filme. Outros dizem que lembram de ter visto o ônibus quando o filme passou no cinema, cena que teria sido cortada quando da edição lançada em VHS. Alguns afirmam que o ônibus seria do tipo escolar, pintado de amarelo (o que estaria fazendo um yellow bus naquela estrada?) Há ainda quem diga que o famoso ônibus só é visto no trailer de "Shane" pois o trailer já estava editado antes do lançamento do filme. Assistam ao trailer e vejam se encontram o lendário ônibus. E por que não aproveitar para rever "Os Brutos Também Amam" na íntegra? Caso o ônibus não apareça, uma coisa é garantida: a emoção de rever Shane enfrentando o pistoleiro Jack Wilson e os irmãos Ryker sob o olhar arregalado e apaixonado de Joey Starrett.