UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

30 de junho de 2015

A CARAVANA DA MORTE (THE MAN FROM BITTER RIDGE), WESTERN COM LEX BARKER


Lex Barker
Quem nunca assistiu a um daqueles seriados que faziam sucesso nas matinês nos anos 30, 40 e 50, deve assistir “A Caravana da Morte” (The Man from Bitter Ridge), isto para ter ideia do ritmo quase alucinante da ação idêntico àqueles filmes em capítulos. Alguém pode torcer o nariz e dizer que o ator principal de “A Caravana da Morte” é o limitado Lex Barker (canastrão para muitos, especialmente depois de Fellini mostrá-lo assim em “La Dolce Vita”), ou ainda que esse é apenas um dos tantos rotineiros westerns B que a Universal produzia. Porém há uma diferença pois o filme é dirigido por Jack Arnold e isso conta muito. Mais lembrado pelos inúmeros clássicos de ficção-científica que dirigiu na década de 50, Arnold é daqueles diretores que com orçamento modestíssimo fazia filmes muito bons, inclusive westerns como “Onde Imperam as Balas” (Red Sundown), com Rory Calhoun e “Balas que Não Erram” (No Name on the Bullet), com Audie Murphy. Partindo de um tema muitas vezes levado ao cinema, que é a luta entre criadores de gado e de carneiros, “A Caravana da Morte”, tem muitos outros ingredientes que fazem dele um western agradável de ser assistido especialmente por quem gosta de muita ação.


Lex Barker e o rebanho.
Criadores, eleição e amor - Em “A Caravana da Morte” Jeff Carr (Lex Barker) é um investigador de uma companhia de diligências que vai de Bitter Ridge a Tomahawk, onde é acusado de pertencer a uma quadrilha de assaltantes. Desfeito o equívoco, Jeff Carr descobre que o interessado em sua prisão (e morte) é Ranse Jackman (John Dehner), que disputa em Tomahawk o cargo de xerife. Jackman objetiva vencer o concorrente e atual xerife, o correto Walter Durnhan (Trevor Bardette), para posteriormente enveredar pela política. Jackman defende os criadores de gado e ordena que seus homens ataquem e destruam uma cooperativa de criadores de carneiros, grupo liderado por Alec Black (Stephen McNally). Um dos membros da cooperativa é a criadora Holly Kenton (Mara Corday), por quem Jeff Carr é atraído, mesmo sabendo que Black pretende se casar com ela. Jeff Carr se une aos criadores de carneiros cuja comunidade é atacada pelos homens de Jackman que provocam a morte de um terço do rebanho. Conseguindo rechaçar o ataque, Carr, Black, Holly e os demais criadores de carneiro dirigem-se a Tomahawk e, justamente no dia da eleição para xerife, confrontam Jackman, e seu bando, desmascarando o candidato e trazendo a paz para a cidade.

Nem caravana, nem Bitter Ridge - Jeff Carr é o homem que chega da cidade de Bitter Ridge, daí o título original “The Man from Bitter Ridge”, que no Brasil foi chamado de “A Caravana da Morte”. Há de tudo no filme de Jack Arnold, menos alguma caravana, o que torna o título nacional inteiramente sem nexo, ainda mais que só no Brasil foi usada a palavra ‘caravana’. Mas não são apenas os tituladores brasileiros que cometem absurdos, pois na Itália o filme recebeu o título de  “Duello a Bitter Ridge”, sendo que essa cidade é apenas citada e nunca mostrada e o tiroteio principal ocorre em Tomahawk. E que tiroteio! Com a cidade toda enfeitada por faixas e a população preparada para a eleição, os criadores de carneiros ajudados por Jeff Carr enfrentam os bandidos num ‘showdown’ digno de Sam Peckinpah. Essa sequência encerra o western de Jack Arnold que tira o fôlego do espectador, tantos são os momentos de ação, interrompidos somente pelo idílio entre Jeff Carr e Holly Kenton.

Perseguições de todos os tipos.


Mara Corday com Stephen McNally;
abaixo a bela atriz.
Atraente e cobiçada criadora - No inconvincente triângulo amoroso entre Carr, Holly e Alec Black reside o ponto mais fraco de “A Caravana da Morte”, menos por culpa dos dois atores principais – Lex Barker e Stephen McNally – mas sim pela escolha de Mara Corday. A provocante atriz desfila o tempo todo em bem desenhados trajes de cowgirl que a tornam ainda mais atraente, sendo difícil acreditar que uma mulher tão desejada pudesse se manter solteira. Ainda assim a disputa pela moça gera diálogos divertidos entre os dois interessados, resultando também em uma exibicionista e vigorosa luta entre Carr e Black, machos exibindo forças para impressionar Holly Kenton. Sem perda de tempo, porém, o roteiro propicia novas sequências de ação como perseguições em pradarias, emboscadas, ataques inesperados com dinamites explodindo até mesmo em meio ao rebanho de carneiros. Se a luta entre Carr e Black é bem encenada, melhor ainda porque mais violenta é aquela travada entre os personagens de Lex Barker e Myron Healey num beco escuro de Tomahawk.

Lex Barker fica com Mara Corday ao final, para desconsolo de Stephen McNally,
enquanto um surpreso Trevor Bardette observa o beijo final.

Quase enforcado Lex Barker conversa com Trevor
Bardette enquanto Richard Garland e John Cliff
observam; abaixo McNally, Ray Teal e Barker.
Ação trepidante e fluidez narrativa - Jack Arnold tem a preciosa ajuda da câmara de Russel Metty com estupenda iluminação nas muitas sequências noturnas e com os ângulos inusitados que o cinegrafista utiliza. Indicado como tendo 80 minutos de duração pelo site IMDb, a ótima cópia que serviu para esta resenha possui 77 minutos desenvolvidos, como foi dito, em ritmo de seriado da Republic Pictures. Em meio a tanta ação, Arnold não deixa escapar a história que flui graças à admirável competência do diretor. Para melhorar ainda mais este western, a Universal reuniu um ótimo elenco de atores coadjuvantes, destacando-se Trevor Bardette, Myron Healey e, como não poderia deixar de ser, o bandidão John Dehner com seu indisfarçável bem aparado bigode. Mas é o excelente Ray Teal quem rouba com seu talento as cenas nas quais aparece. O bom ator Stephen McNally não chega a intimidar Lex Barker que se impõe pela estampa do alto de seus 1,93m de altura. E a bela Mara Corday, misto de Ava Gardner com Jean Peters (pela sisudez) é a inevitável presença feminina. Mara chegou a ser playmate da revista ‘Playboy’ e foi amiga de Clint Eastwood nos tempos em que o ator fazia pontas na Universal. Clint deu pequenos papéis à já veterana Mara Corday em quatro de seus filmes da Malpaso.

John Dehner; Lex Barker e Ray Teal.

Campanha eleitoral nas ruas de Tomahawk.
Poucos faroestes e muitas sci-fis - “A Caravana da Morte” antecipa em quase dez anos o processo de eleição no Velho Oeste que seria mostrado por John Ford em “O Homem que Matou o Facínora” (The Man Who Shot Liberty Valance). No filme de Jack Arnold o poderoso que compra a consciência dos eleitores com massiva propaganda  ao som de banda de música é o vilão vivido por John Dehner. “A Caravana da Morte” faz a alegria de quem quer ver um faroeste movimentado, longe dos psicologismos por vezes cansativos que tomaram conta do gênero nos anos 50. E essa é justamente a função dos pequenos e despretensiosos westerns que completavam programas duplos dos cinemas naqueles tempos. Comprova ainda este faroeste, que Jack Arnold foi um dos mestres do filme B, tendo em sua filmografia sucessos artísticos e de público como “O Incrível Homem que Encolheu” e “O Monstro da Lagoa Negra”. Fãs de faroestes lamentam que na melhor fase de sua carreira Arnold tenha se dedicado mais à sci-fi que ao western, gênero no qual certamente poderia ter feito mais filmes brilhantes como “A Caravana da Morte” e ser tão lembrado como lembrado é Budd Boetticher.

Por que mesmo "A Caravana da Morte"?


Cenas da luta violenta entre Lex Barker e Myron Healey (visto no centro).

Ângulos de câmara especiais escolhidos pelo cinegrafista Russell Metty.

Myron Healey prestes a encontrar a morte no confronto com Lex Barker.

Parece Sam Peckinpah, mas é Jack Arnold em ação.



Algumas cenas do movimentado "A Caravana da Morte" (The Man from Bitter Ridge).

A cópia de "A Caravana da Morte" foi gentilmente cedida pelo cinéfilo Marcelo Cardoso.

26 de junho de 2015

O TIRANO DA FRONTEIRA (THE LAST FRONTIER) – O MONTANHÊS VICTOR MATURE


Capa do livro de Richard Emery Roberts;
Burt Lancaster e Kirk Douglas.
Em 1955 Anthony Mann já havia inscrito seu nome entre os grandes diretores de westerns, com a série de filmes por ele dirigidos e estrelados por James Stewart. E nesse ano o diretor de “O Preço de um Homem” (The Naked Spur) realizou aquele que pode ser considerado o menos lembrado e também o mais diferente de seus faroestes, “O Tirano da Fronteira” (The Last Frontier). Para quem se acostumara a dirigir um ator com o talento dramático de Stewart, seria um desafio para Mann ter Victor Mature como astro principal de seu novo western, mas era o que havia à mão. O personagem Jed Cooper desse novo filme não se adequava a James Stewart, além do que o ator não vencia seus compromissos fazendo um filme atrás do outro, alguns deles com Alfred Hitchcock. Foram lembrados inicialmente Burt Lancaster e Kirk Douglas, atores igualmente ocupadíssimos. Lancaster, por sinal, nesse mesmo momento estava produzindo, dirigindo e atuando em “Homem Até o Fim” (The Kentuckian), com ambientação próxima a “O Tirano da Fronteira”. Kirk Douglas, outro ator talhado para o personagem Jed Cooper, já havia se compromissado para no ano seguinte viver as aventuras de um montanhês durante a ‘Red Cloud War’ no filme “A Um Passo da Morte” (The Indian Fighter). Mesmo Victor Mature não chegando próximo de Douglas ou Lancaster, curiosamente o filme de Anthony Mann é o melhor dos três filmes citados e rodados quase que simultaneamente.


James Whitmore, Victor Mature e Pat Hogan
nas montanhas e no Forte Shallan.
Das montanhas para o Forte - O romance “The Gilded Rooster”, de autoria de Richard Emery Roberts, foi adaptado para o cinema por Philip Yordan em parceria com Russell S. Hughes. Na capa do livro de Roberts há uma chamada que diz ‘Ele queria a dama do capitão’, vendo-se um homem rude e uma senhora elegante. Esse bruto é o montanhês Jedd Cooper (Victor Mature), que junto de seus companheiros Gus (James Whitmore) e Mungo (Pat Hogan) se vê forçado pelos índios comandados pelo cacique Red Cloud a se refugiar no Forte Shallan, comandado pelo Capitão Glenn Riordan (Guy Madison). Os três são contratados como batedores e Cooper se sente atraído por Corinna Marston (Anne Bancroft), esposa do Coronel Frank Marston (Robert Preston) que se encontra no Forte Laramie. O Coronel Marston chega ao Forte Shallan e pouca atenção dá à esposa que cede ao assédio de Cooper. O Coronel Marston arbitrariamente toma o comando do Capitão Riordan e decide atacar um dos acampamentos dos índios, mesmo avisado pelos batedores que Sioux e Cheyennes juntaram forças e são numericamente superiores. O precariamente treinado regimento sob as ordens de Marston é presa fácil para os índios, o Coronel é morto em combate e Cooper lidera a retirada salvando parte do regimento. O Capitão Riordan admite Jeb Cooper como soldado e este passa a viver no Forte Shallam, abandonando a vida de montanhês.

A tristeza da vida na caserna - Mesmo sem a força dramática e a densidade psicológica de seus principais westerns – “O Preço de um Homem” e “Um Certo Capitão Lockhart” (The Man from Laramie) - “O Tirano da Fronteira” é um filme fascinante não só pela sua trama principal como pelas subjacentes. Jeb Cooper nasceu e cresceu nas montanhas, tendo sido criado por Gus que o ensinou como sobreviver e amar a natureza. Em companhia do índio Mungo os três levam uma vida feliz vendendo as peles dos animais que caçam. A chegada dos túnicas azuis e a construção dos fortes altera o cenário e gera uma série de conflitos entre índios sob o comando de Red Cloud  e o Exército. Em meio a essa contenda estão homens que não aceitam a civilização representada pelos fortes construídos e sua complexa organização. Uma túnica azul pode ser uma atração na vida de alguém sem rumo, mas significa a privação da liberdade sem a qual homens como Cooper, Gus e Mungo se tornam infelizes. O Capitão Riordan diz a Cooper que ele “não se encaixa na vida militar” pois o batedor abomina a disciplina da vida de soldado.

Guy Madison e Victor Mature

O amor sem barreiras do bruto- Porém Jeb Cooper se apaixona por Corinna, que é simplesmente a esposa mal-amada de um Coronel, e o apaixonado batedor não aceita as ponderações de Gus. Para Cooper o fato de Corinna ser casada não representa impedimento para que ele a possua, ainda mais quando ele percebe que aquele é um casamento sem amor. Iliterato mas nobre em seus sentimentos, Cooper possui seu próprio código de vida, segundo o qual tem direito de lutar pela mulher (mesmo casada) que ama. E conclui que seria um covarde se tentasse trocá-la por uma mulher livre que ele não ame. O selvagem montanhês conheceu o amor e com ele o sofrimento imposto por convenções que desconhecia.

Robert Preston e Anne Bancroft; Victor Mature e Anne Bancroft.

O Custer da fronteira - A segunda subtrama é a tantas vezes mostrada pelo cinema insanidade de um oficial capaz de levar seus comandados à morte. O Coronel Marston é conhecido como ‘O Carniceiro de Shiloh’ por ter sido o responsável pela morte de 1.500 soldados naquela batalha travada na Guerra Civil. Afastado dos campos de luta por seus superiores, Marston recebe como punição comandar um forte distante de tudo, especialmente da glória que vitórias contra confederados ou índios pode acrescentar à sua biografia. O Coronel Marston vislumbra essa possibilidade no Forte Shallam e inebriado pelo desejo de limpar seu nome ordena o ataque que fará dele um novo Custer. Sua esposa é apenas um adorno a quem trata com o mesmo desprezo que trata subalternos.

Robert Preston como o coronel que encontra a morte em batalha.

Victor Mature
Imposição de final feliz - Anthony Mann desenvolve com habilidade a história de Jeb Cooper mesclada ao caso com a Senhora Marston e à batalha forçada pelo autoritário Coronel. Aspecto pouco comum em seus westerns, Mann dá leveza e graça a “O Tirano da Fronteira” com a inadequação de Jeb Cooper à vida na caserna. Singular também o romance proibido, inicialmente com a hesitação da esposa desprezada pelo marido, isto até que o ardor da paixão e do desejo a empurrem para os braços do montanhês. Ponto alto de “O Tirano da Fronteira” as sequências da adúltera atração incontida. E se nos westerns da série Mann-Stewart o clímax ocorria em confrontos intimistas entre dois contendores armados de fuzis e escondendo-se em rochas e tendo a vingança como motivo, neste filme Anthony Mann encena satisfatoriamente uma batalha campal seguida do cerco ao forte. A lamentar apenas o forçado final feliz com Jeb Cooper se tornando soldado, ele que desconsolado com atitudes dos militares afirmara que a farda do Exército “Não passa de um trapo azul imundo e imoral”. Mann afirmou que esse final lhe foi imposto pelos produtores, piorando ainda mais com a última imagem do filme com Jeb Cooper em meio à pseudo-poética neve que cai no forte, indo ao encontro da viúva Marston. Decididamente um final infeliz que o filme não merecia.

Victor Mature e Anne Bancroft
O ótimo Victor Mature - Não falta a “O Tirano da Fronteira” os imensos e deslumbrantes cenários presentes nos principais westerns de Anthony Mann, valorizados pela esplendorosa fotografia de William C. Mellor. A vastidão das montanhas e florestas aparecem em muitas sequências atrás da figura de Victor Mature que se agiganta com as tomadas baixas da câmara. Anthony Mann afirmou que foi difícil trabalhar com Mature por não ser ele exatamente um homem do Oeste. Parece que o ator não conseguia se desvincular das imagens marcantes de seus filmes interpretando Sansão, Demétrius, egípcios e outros heróis épicos. Contrariamente, porém, ao que insinuou o diretor, Victor Mature está excelente como o montanhês que vira batedor e se apaixona, seguramente em uma das melhores interpretações de sua carreira, ele que jamais se vangloriou de ser ator.

James Whitmore e Victor Mature
Abaixo dos clássicos de Anthony Mann - Anne Bancroft, loura e antes de se consagrar nos palcos de Nova York e retornar vitoriosamente ao cinema, mostra seu potencial como intérprete. Westerns não são o terreno mais apropriado para as melhores atrizes, preocupando-se os produtores mais com um rosto bonito, tese que Bancroft contradiz, ainda que sua composição como a senhora Marston seja um tanto fria, contrastando com o ardor de Mature. Guy Madison, que em 1955 era ídolo na TV com a série “As Aventuras de Wild Bill Hickok” interpreta um personagem que poderia ser melhor dimensionado. James Whitmore tem mais uma primorosa atuação, ele que era um dos melhores tipos característicos do seu tempo. No filme Gus (Whitmore) criou Jed Cooper (Mature) desde pequeno. Ocorre que Victor Mature era oito anos mais velho que Whitmore... Coisas e Hollywood. Robert Preston nada acrescenta a seu personagem que poderia ser mais execrável ainda e Peter Whitney dá uma saudade enorme de sargentões sádicos como os de Ernest Borgnine. Situando-se um pouco abaixo dos clássicos de Anthony Mann, “O Tirano da Fronteira” brilharia em filmografia de qualquer outro diretor.


Bonitos pôsteres italiano e alemão de "O Tirano da Fronteira".

A cópia de "O Tirano da Fronteira" foi gentilmente cedida pelo cinéfilo Marcelo Cardoso.

22 de junho de 2015

TOP-TEN WESTERNS DO CINÉFILO E COLECIONADOR MARCELO CARDOSO


Johnny Mack Brown, Robert Mitchum e Rocky Lane.
Marcelo Cardoso é natural de São Gotardo, cidade de Minas Gerais situada a 130 quilômetros da aprazível Araxá. Marcelo nasceu num tempo em que o cineminha do seu Clarimundo, em São Gotardo, exibia westerns com Roquislane, João Maquibroa e Roberto Metichumbo, que era como a garotada chamava Rocky Lane, John Mack Brown e Robert Mitchum. Marcelo viveu depois em Uberaba e mal saído da adolescência tornou-se caminhoneiro, rodando o interior de São Paulo (Barretos, Ribeirão Preto, São Carlos, Campinas, Jaú, Franca, Igarapava) transportando gado para o Triângulo Mineiro. Marcelo continuou frequentando os cinemas das cidades por onde passava, preferindo aqueles que exibiam faroestes, especialmente do seu ídolo maior que era Audie Murphy. Mas o rapaz gostava também de Randolph Scott e de John Wayne. Como os filmes de Scott e Wayne eram geralmente impróprios para menores de 18 anos, Marcelo somente os pode assistir quando se mudou para Belo Horizonte, onde estudou Direito na UCMG, na capital mineira, formando-se advogado. Marcelo passou a exercer a nova profissão no Rio de Janeiro, trabalhando numa empresa de navegação, área na qual permanece até hoje. Atualmente Marcelo trabalha e reside em Niterói, considerando-se um homem privilegiado por poder descortinar diariamente, lá de Niterói, a Cidade Maravilhosa.

Marcelo Cardoso,
advogado e cinéfilo.
Um cinéfilo generoso - Nos anos 80, já como advogado, Marcelo foi um dos muitos apaixonados por cinema que, desencantado, assistiu ao desaparecimento das grandes salas exibidoras. Porém teve como compensação o surgimento da maravilha chamada Vídeo Home System, o nosso vídeo-cassete. Marcelo começou a colecionar avidamente fitas de vídeo, com seus filmes preferidos, muitos deles assistidos na infância, outros na adolescência e boa parte na idade adulta. Com o advento do DVD Marcelo transformou sua coleção de fitas de vídeo na nova mídia, continuou adquirindo novos DVDs e quando se deu conta possuía 2.500 filmes, um terço deles do gênero western. Possuir uma grande coleção de filmes não é algo assim tão raro no Brasil, onde há centenas de colecionadores. Difícil mesmo é encontrar um colecionador que tenha igual prazer em assistir aos filmes de seu acervo e compartilhá-los. Assim é Marcelo e seu rol de amigos sabe que é só pedir determinado filme que o cinéfilo mineiro de Niterói fica imensamente feliz em atender ao pedido, remetendo os filmes pedidos ao interessado. Algumas vezes até para amigos que residem no Exterior. E que não se fale em dinheiro para ressarcir despesas pois a filosofia de Marcelo Cardoso é que intercâmbio entre amigos, mesmo quando de mão única, vale mais pelo prazer da satisfação mútua que pelo vil metal gasto. Quantos e quantos filmes Marcelo adquiriu, pagando por fitas VHS e DVDs de baixíssima qualidade, substituindo-os posteriormente por DVDs originais ou por outros de melhor qualidade. Os filmes descartados eram presenteados amigos.

Anthony Steffen e Marisa Urban
Amigo de Anthony Steffen – Marcelo lembra quando o cinema de São Gotardo se adaptou para exibir um processo que já existia nos cinemas de cidades maiores, o Cinemascope. Foi uma sensação e o filme escolhido para inaugurar a novidade foi “O Caudilho da Serra” (Sierra Baron), com Brian Keith e Rick Jason. Outro western que Marcelo não esquece é “Onde Impera a Traição” (The Duel at Silver Creek), pois foi o primeiro dos muitos faroestes que assistiu com Audie Murphy, de quem possui praticamente todos os filmes. Embora a preferência maior de Marcelo Cardoso recaía sobre os westerns norte-americanos, ele assiste também com prazer os chamados westerns-spaghetti e por uma razão bastante especial. Quando residia no bairro de Ipanema (Rio de Janeiro), Marcelo conheceu e ficou amigo do ator Anthony Steffen (Antônio de Teffé), que então morava no vizinho Baixo Leblon. A atriz Marisa Urban, também amiga de Marcelo Cardoso, conheceu Anthony Steffen passando a ser namorada do ator por algum tempo. Do acervo de Marcelo constam todos os westerns-spaghetti estrelados pelo amigo Anthony Steffen, ainda que reconheça que a maior parte deles deixa a desejar quanto à qualidade artística.

Pôsteres de "Onde Impera a Traição" e "O Caudilho da Serra".

Peter o'Toole como Lawrence.
Preto-e-brancos datados – Quando Marcelo comenta sobre os westerns que mais admira, percebe-se a ausência, com uma única exceção, de westerns filmados em preto-e-branco. Ele próprio aceita que prefere os westerns em cores, razão pela qual lembra que filmes considerados obras-primas como “Matar ou Morrer” (High Noon), “Paixão dos Fortes” (My Darling Clementine), “O Homem que Matou o Facínora” (The Man Who Shot Liberty Valance), “Consciências Mortas” (The Ox-Bow Incident) e “Rio Vermelho” (Red River) não estejam entre seus preferidos. Não tendo assistido a esses filmes à época de seus lançamentos, ao vê-los muitos anos depois, eles lhe pareceram todos ‘datados’. Mas certamente Marcelo nada tem, de modo geral, contra filmes em preto e branco pois entre os clássicos de Alfred Hitchcock, considera “Psicose” o melhor deles, depois de “Um Corpo que Cai” que é em cores. O segundo gênero na preferência de Marcelo são os filmes de guerra, tendo centenas deles em seu acervo. E entre tantos filmes de guerra os que Marcelo mais gosta são “Lawrence da Arábia”, “A Ponte do Rio Kwai” e “Doutor Jivago”, todos de David Lean e considerados obras-primas do cinema.

Anthony Quinn, John Wayne, Henry Fonda, Gary Cooper e Lee Marvin.

Jeff Bridges como 'Rooster' Cogburn.
Ótimos westerns recentes - Dos westerns mais recentes Marcelo gostou bastante de “Tombstone – A Justiça Está Chegando” (Tombstone), ainda que o considere inferior a “Sem Lei e Sem alma” (Gunfight at The OK Corral). Gostou também de “Bravura Indômita” (True Grit), com Jeff Bridges, considerando essa versão melhor que a de 1969 com John Wayne. Marcelo gostou muito de “Silverado”, “Dança com Lobos” (Dances with Wolves), “Pacto de Justiça” (Open Range), todos estrelados pr Kevin Costner e reputa “O Último dos Moicanos” (The Last of the Mohicans), com Daniel Day Lewis, um filme sensacional. WESTERNCINEMANIA solicitou a Marcelo Cardoso que relacionasse seu Top-Ten Westerns e ele prontamente atendeu, listando como bônus outros dez faroestes que considera dos melhores, abaixo apenas do seu Top-Ten. Vamos à lista de Marcelo Cardoso:


1.º) “Os Brutos Também Amam” (Shane), 1953 – George Stevens

Jack Palance chegando ao 'Grafton's' e o cão intuindo o perigo.


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2.º) “Rastros de Ódio” (The Searchers), 1956 – John Ford

Jeffrey Hunter na interminável caçada.


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3.º) “Da Terra Nascem os Homens” (The Big Country), 1958 – William Wyler

Chuck Connors se descontrolando no duelo com Gregory Peck.


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4.º) “O Portal do Paraíso” (Heaven’s Gate), 1980 – Michael Cimino

Christopher Walken


Marcelo Cardoso considera estes quatro westerns acima obras-primas absoluta do cinema, confessando mesmo uma certa dificuldade em listá-los numa classificação do primeiro ao quarto.

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5.º) “Meu Ódio Será Sua Herança” (The Wild Bunch), 1969 – Sam Peckinpah

Ben Johnson, Warren Oates e Edmond O'Brien no quartel-general de Mapache.


Marcelo Cardoso faz um único reparo a este western, afirmando que gostaria muito que Lee Marvin houvesse interpretado Pike Bishop em lugar de William Holden. Essa tese é corroborada por muitos outros cinéfilos.

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6.º) “Onde Começa o Inferno” (Rio Bravo), 1959 – Howard Hawks

O Duke pedindo para Walter Brennan jogar a dinamite mais longe.


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7.º) “Três Homens em Conflito” (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo), 1966 – Sergio Leone

Depois do espancamento sofrido Eli Wallach confere quantos dentes perdeu;
Lee Van Cleef e Mario Brega observam.


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8.º) “O Tesouro de Sierra Madre” (The Treasure of the Sierra Madre), 1948 – John Huston

Tim Holt, Walter Huston e Humphrey Bogart.


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9.º) “Os Imperdoáveis” (Unforgiven), 1992 – Clint Eastwood

Clint Eastwood


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10.º) “Era Uma Vez no Oeste” (C'Era Una Volta Il West), 1968 – Sergio Leone

Charles Bronson, o 'Harmônica', vingando-se de Henry Fonda, o 'Frank'.



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Outros grandes westerns que estão entre os preferidos de Marcelo Cardoso:

Franco Nero
“Pistoleiro do Entardecer” (Ride the High Country), 1962 – Sam Peckinpah
“Sete Homens e Um Destino” (The Magnificent Seven), 1960 – John Sturges
“Sem Lei e Sem Alma” (Gunfight at the Ok Corral), 1957 – John Sturges
“Duelo de Titãs” (Last Train from Gun Hill), 1959 – John Sturges
“Sete Homens Sem Destino” (Seven Men from Now), 1956 – Budd Boetticher
“Região do Ódio” (The Fair Country), 1955 – Anthony Mann
“A Árvore dos Enforcados” (The Hanging Tree), 1959 – Delmer Daves
“Os Profissionais” (The Professionals), 1966 – Richard Brooks
“O Último Pôr-do-Sol” (The Last Sunset), 1961 – Robert Aldrich
“Django” (Django), 1966 – Sergio Corbucci