UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

17 de junho de 2015

QUANDO O ÓDIO VOLTA (FURY AT SHOWDOWN) – JOHN DEREK, UM JOVEM DESAJUSTADO


O diretor alemão Gerd Oswald.
A partir dos ano 50 os jovens ganharam espaço no cinema que abordou em filmes os dramas, o inconformismo e a rebeldia de toda uma geração até então calada. O ator mais representativo dessa nova onda foi James Dean e, ainda que alguns autores considerem “Giant” (Assim Caminha a Humanidade) um western, o inquieto Dean não chegou a participar de um western autêntico. Em 1955, com o precoce falecimento de Dean, não faltavam candidatos ao lugar vago de ídolo maior dos teenagers entre eles Tab Hunter, Robert Wagner e Jeffrey Hunter. E Hollywood não perdeu tempo em filmar dramas ambientados no Velho Oeste contendo problemas dos jovens. O mesmo Nicholas Ray de “Juventude Transviada” filmou “Quem Foi Jesse James” (The True Story of Jesse James) propondo que, menos por serem vítimas de injustiças sociais, os irmãos do Missouri (Bob Wagner e Jeffrey Hunter) se tornaram bandidos por serem jovens desajustados. “Montanhas de Fogo” (The Burning Hills) tinha no elenco Tab Hunter e Natalie Wood e foi outro western dirigido aos jovens. Mesmo Paul Newman, aos 33 anos interpretou Billy the Kid como um jovem problemático em “Um de Nós Morrerá” (The Left-Handed Gun). Um dos menos conhecidos westerns esbarrando nessa temática é “Quando o Ódio Volta” (Fury at Showdown), de 1957, dirigido por Gerd Oswald.


John Derek, Buddy Roosevelt e Tom McKee
A honra de um jovem pistoleiro - Em “Quando o Ódio Volta”, o jovem Brock Mitchell sai da cadeia após cumprir pena de um ano por ter matado um homem em legítima defesa. Outro assassinato, também justificado, pesa sobre Brock Mitchell que ao retornar a Showdown Creek encontra hostilidade quase geral por parte dos moradores do lugarejo. Carrega ele a imperdoável fama de ser um pistoleiro rápido e implacável. O advogado Chad Deasy (Gage Clarke) é irmão de uma das vítimas de Brock Mitchell e como vingança objetiva prejudicar a volta deste à vida de rancheiro. Deasy contrata um guarda-costas chamado Miley Sutton (John Smith) para, se possível e legalmente, matar Brock. Tracy Mitchell (Nick Adams) é o irmão mais jovem de Brock, sempre a seu lado e Ginny Clay (Carolyn Craig), antiga namorada de Brock, passa a rejeitá-lo. O vingativo Deasy arquiteta uma trama para liquidar Brock e Tracy Mitchell é quem acaba morto. Brock então consegue provar a culpa de Deasy e num confronto nas ruas de Showdown Creek acaba por matar Miley Sutton.

John Derek
A atração maior de um faroeste B - Produção de baixíssimo orçamento, “Quando o Ódio Volta” foi filmado em cinco dias, em preto e branco e com duração de 75 minutos. Western claramente destinado a complemento de programas duplos, especialmente nos drive-ins que se tornaram moda nos Estados Unidos. John Derek era a única atração desse filme uma vez que esse ator de 31 anos era tido como um dos mais belos rostos entre os jovens galãs de Hollywood. Derek acabava de ser visto por milhões de pessoas interpretando Josué no épico “Os Dez Mandamentos” e antes havia atuado em diversos outros westerns. Mas o que torna este faroeste B atrativo é o nome de seu diretor, o alemão Gerd Oswald, que depois de longa carreira como assistente de direção (de Billy Wilder, George Stevens, Henry King e Henry Hathaway, entre outros), ganhou a oportunidade de realizar seus próprios filmes. Menos famoso que Edgar G. Ulmer, Jacques Tourneur, Samuel Fuller ou Joseph H. Lewis, notórios diretores que realizaram clássicos dos filmes B, Gerd Oswald pode ser colocado no mesmo grupo desses diretores que, literalmente, ‘tiravam leite de pedra’.

Western com predomínio de diálogos – O roteiro de “Quando o Ódio Volta” poderia resultar em um policial, noir de preferência, por sua trama intrincada desenvolvida com rapidez, dando pouco espaço a ações típicas de um western. Além disso há a evidente preocupação do diretor com a iluminação criando magníficos efeitos de luz e sombra raros em um filme do gênero, sem excessivos malabarismos de câmara. Apenas uma sequência, no desenrolar do filme, foge dos intensos diálogos, e é quando os personagens de John Derek e John Smith travam uma violenta luta dentro de um saloon. Curiosamente, Smith que é mais alto que Derek, foi dublado por um substituto visivelmente menor o que pouco prejudica a espetacular encenação, mesmo porque na maior parte da troca de golpes Derek e Smith é quem lutam. O título original (Fury at Showdown) se justifica não apenas pelo comportamento de parte da população de Showdown Creek em relação a Brock Mitchell, mas também pelo tiroteio final, momento em que a tensão se dissipa com a justiça sendo feita. Os muitos diálogos deste western são justos e uma vez o espectador absorvido pela história eles fluem naturalmente, sem cansar.

A violenta luta entre John Derek e John Smith.

Acima Nick Adams e John Derek;
abaixo Carolyn Craig.
A rebeldia com causa no Velho Oeste - “Quando o Ódio Volta” trata do desajuste de um jovem que tenta se adaptar ao meio social do qual foi excluído. Agitado, nervoso e melancólico com o rumo de sua vida, Brock Mitchell é um obstinado em busca da reconciliação com a sociedade que não o aceita. O vilão Chad Deasy representa o reacionarismo adulto que impede a conciliação, ainda que Brock tenha boa índole e seja vítima de erros cometidos, típicos da juventude. Tracy Mitchell é a voz da razão que tenta controlar o irmão, lembrando que ele necessita de carinho e compreensão. Nem tudo, no entanto, funciona bem no filme de Gerd Oswald, especialmente o romance entre Brock Mitchell e Ginny Clay, a filha do xerife e causadora da desavença entre Brock e o irmão de Chad Deasy. E é risível o clichê da jovem tomando banho em um riacho justamente por onde passa Brock, propiciando longa conversação com a moça dentro d’água. Possivelmente pensou-se na sensualidade da sequência que de sensual não tem nada uma vez que a intérprete é totalmente insípida.

O jeito de atuar de John Derek, com olhos arregalados.

Diálogos expressando inconformismo.
Elenco sofrível - Quando exigido em sequências dramáticas John Derek limita-se a arregalar os olhos ou fazer cara de infeliz. O forte de Derek era, e isto ficou provado, escolher esposas bonitas como Ursula Andress, Bo Derek e Linda Evans. Derek fez uma série de TV – “Frontier Circus” – que durou apenas uma temporada e trocou sua carreira de ator pela de empresário das esposas. O fraco John Smith, desta vez num papel de vilão, é mais lembrado por sua participação na série de TV “Laramie”, ao lado de Robert Fuller, ele que antes havia atuado em “Cimarron City”, outra série western de TV. E Nick Adams, que no cinema foi invariavelmente um coadjuvante, mais eficiente em comédias como em “Confidências à Meia-Noite” quando é carregado por Rock Hudson, passa em “Quando o Ódio Volta” o tempo todo olhando para John Derek tentando demovê-lo de qualquer ato mais violento. Adams foi o eterno Johnny Yuma da série de TV “O Rebelde”. Carolyn Craig é inteiramente sem graça e apenas bonitinha, mal ‘enfeitando’ o filme. Verdadeiro milagre Gerd Oswald dirigir esses atores conseguindo extrair deles atuações razoáveis. A produção bastante econômica é demonstrada com a ausência de figurantes em diversas sequências que não contam nem mesmo com trilha musical ausente em muitas delas. Partindo de um argumento apenas regular e contando com um elenco fraco, Gerd Oswald conseguiu realizar um western cujo aspecto mais interessante é mesmo sua competência como diretor.

John Smith fazendo Carolyn Craig de escudo, cena idêntica à de
"Dragões da Violência" (Forty Guns), com Barbara Stanwyck e John Ericson.

Acima 'Devil's Gate', cenário conhecidíssimo de Iverson Ranch, com a rocha
denominada 'Wrench Rock', por onde passaram, entre outros, The Lone Ranger
e Joel McCrea, como se vê nas fotos em cores.


A cópia de "Quando o Ódio Volta" foi gentilmente cedida pelo cinéfilo Marcelo Cardoso.

Um comentário:

  1. Darci, grande amigo. pelo que vi é um bom filme para se passar horas assistindo um Western, principalmente, para quem ama um filme que deixa algo discutível. Pois é, nem todos filmes são perfeitos e, você sabe extrair detalhes importantes que deixa a desejar. Mas, nós sabemos relevar algumas cenas, e valorizar o lado bom, que faz do filme algo que mereça bons comentários. Quero comprar, assim que encontrar. Parabéns, bela resenha. Paulo, mineiro.

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