UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

28 de setembro de 2012

CINE SAUDADE - NAMORANDO JEAN SIMMONS


Luiz Antônio do Amaral gostava de contar histórias, a maior parte delas
vividas por ele próprio. Uma dessas histórias envolve um dos faroestes
preferidos de Luiz Antônio e, como acontece quase sempre,
por razões sem dúvida muito nostálgicas.

Gregory Peck e Charlton Heston nas
fotos maiores; nas menores tente descobrir
qual dos dois é Charlton Heston... 
Luiz Antônio gostava de Gregory Peck, de quem havia assistido “Moby Dick”, “As Neves do Kilimajaro” e “O Mundo em seus Braços”. Porém Luiz gostava mais de Charlton Heston, que havia visto em filmaços como “Os Dez Mandamentos”, “O Maior Espetáculo da Terra”, “O Segredo dos Incas”, “Selva Nua” e no faroeste “Trindade Violenta”. Como todo adolescente se imagina parecido com algum ator famoso, Luiz Antônio gostava quando sua irmã lhe dizia que ele era parecido com Charlton Heston, com quem tinha mesmo certa semelhança. Quando soube que iria ser lançado um faroeste com os dois atores nos papéis principais, Luiz Antônio ficou ansioso. Era o ano de 1959 e o filme se chamava “Da Terra Nascem os Homens”, que foi lançado em São Paulo no Cine República, cinema que se vangloriava de possuir a maior tela do mundo, com seus 250 metros quadrados. O adolescente Luiz Antônio sabia que os filmes que eram lançados no Cine República depois de poucas semanas passavam no Cine Phenix, cinema situado na Rua Domingos de Morais, 892, pertinho de sua casa. Luiz Antônio gostava bem mais do Cine Cruzeiro, que ficava na mesma Rua Domingos de Morais, no outro quarteirão, mas para ver juntos Charlton Heston e Gregory Peck ele nem faria questão do cinema. Havia uma razão para Luiz Antônio preferir o Cine Cruzeiro e não era o fato de ele ser maior e mais confortável que o Cine Phenix, mas sim porque o pai de Luiz Antônio recebia todos os anos uma permanente que permitia ingresso gratuito para duas pessoas nos cinemas do Circuito Serrador, do qual fazia parte o Cine Cruzeiro. Luiz Antônio fazia razoável sucesso com as meninas do bairro e aos 15 anos já havia tido quatro ou cinco namoradinhas. Seus amigos que não tinham igual facilidade para ‘dar cantadas’ nas garotas morriam de inveja do galã Luiz Antônio que até lembrava um pouco Charlton Heston. Mas havia na Rua França Pinto, na Vila Mariana, uma menina morena clara de cabelos curtos e negros, dona de um ar angelical, por quem Luiz Antônio ‘arrastava a maior asa’ como se dizia naquele tempo. O nome dela era Cláudia, filha de um capitão da Força Pública, homem cuja cara de bravo e as salientes divisas na farda afastava qualquer jovem mais atrevido com idéia de namorar sua filha, que era o caso de Luiz Antônio. Para complicar mais as coisas Luiz Antônio era filho de um segundo tenente da Guarda Civil e na capital de São Paulo havia uma guerra surda entre as duas milícias cujos membros não se bicavam muito. A Guarda Civil era considerada uma polícia de elite e seus soldados gozavam de maior simpatia junto à população paulistana. Luiz Antônio até já havia se aproximado algumas vezes de Cláudia, inclusive convidando-a para ir ao cinema, mas a menina respondia sempre com evasivas.

Jean Simmons
E lá foi Luiz Antônio, junta-mente com o amigo Joel, assistir “Da Terra Nascem os Homens” no Cine Phenix. Atônito viu surgir na tela aquela atriz que ele ainda não conhecia e que no filme interpretava a personagem ‘Julie Maragon’. Luiz Antônio perguntou a Joel se ela era Jean Simmons, mas o amigo que não entendia nada de cinema não soube responder. A atriz era mais parecida com a menina Cláudia que a própria mãe da Cláudia. Luiz Antônio assistiu àquele longo filme de quase três horas em verdadeiro êxtase pois via na tela não a atriz Jean Simmons, mas sim a menina Cláudia. Quando o filme terminou Luiz Antônio foi olhar os lobby-cards na entrada do Cine Phenix procurando fotos de Jean Simmons. A atriz inglesa interpretara um personagem delicado e sofrido mas que ao final fica com Gregory Peck para felicidade do público. Felicidade maior ainda era a de Luiz Antônio que não sabia se estava apaixonado por Jean Simmons ou pela menina Cláudia (ou pelas duas). Luiz Antônio voltou a assistir “Da Terra Nascem os Homens” no dia seguinte, totalizando cinco horas e meia em 24 horas, olhando para Jean Simmons na tela do Cine Phenix.

Inspirado pelo filme Luiz Antônio acertou nas frases românticas e Cláudia passou a namorar com ele. O primeiro e inesquecível passeio foi, como não poderia deixar de ser, no Parque do Ibirapuera numa tarde ensolarada. O namoro durou dois meses, com direito a beijos cada vez menos inocentes e que tinham como testemunha outros casais que remavam no lago do Parque do Ibirapuera, pois Luiz e Cláudia se encontravam sempre durante o dia. O severo pai de Cláudia jamais permitiu que ela saísse à noite e se soubesse que a filha se encontrava com um rapaz filho de um tenente da Guarda Civil iria ficar muito mais bravo ainda. Cláudia gostava de Luiz Antônio mas não queria se apaixonar pois sabia que, no início do segundo semestre sua família se mudaria para Ribeirão Preto, onde seu pai iria comandar um batalhão naquela cidade. O último encontro foi doloroso para Luiz Antônio que pediu a ela que lhe escrevesse todos os dias. Em uma das cartas que ele recebeu Cláudia contou que estava namorando com um rapaz, colega de escola, também de Ribeirão Preto.

Jean Simmons em três filmes: "Spartacus", com
Kirk Douglas; "Entre Deus e o Pecado", com
Burt Lancaster; "O Vale das Paixões",
com Rock Hudson.
Nem Cláudia e nem Jean Simmons jamais saíram da cabeça de Luiz Antônio. Cláudia ele nunca mais viu, mas Jean Simmons ele reencontrou nas telas seguidamente em “O Vale das Paixões”, “Entre Deus e o Pecado” e “Spartacus”. Claro que Jean Simmons passou a ser sua atriz preferida. Em 1962, no luxuoso Cine Regina, em São Paulo, ocorreu o relançamento de “Da Terra Nascem os Homens” e Luiz Antônio assistiu ao western por mais duas vezes. A próxima vez que conseguiu assistir a esse clássico do faroeste foi quando a televisão o exibiu e Luiz já estava casado há anos, sendo que sua esposa em nada lembrava Jean Simmons e menos ainda a nunca esquecida Claúdia. Uma grande alegria Luiz Antônio teve quando “Da Terra Nascem os Homens” foi lançado em VHS pela Tocantins Vídeo. Ele comprou a cópia ‘selada’ que tinha uma imagem terrivelmente embaçada. Ainda bem que alguns anos depois chegou o DVD com imagem perfeita onde Luiz Antônio pode ver com nitidez a beleza e talento de Jean Simmons e recordar da namoradinha Cláudia, sempre com uma teimosa lágrima que insiste em se fazer presente.






2 comentários:

  1. Desde que tomei conhecimento deste blog atraves do meu contador Campos, um cinefilo respeitado e conhecedor profundo de trilhas sonoras, nunca mais deixei de ler o cinewesternmania. As vezes me dá vontade de tecer um comentário mas deixo para lá. Quando deparei com este artigo abri entusiasmado e qual foi a minha surpresa de ver 0 comentários. Estranho. Muitos dos frequentadores do blog devem ter a minha idade e é impossivel ninguem ter se lembrado da beleza angelical e da majestosa presença encena que foi Jean Simmons. Como se esquecer dela em BLACK NARCISSUS - ANDROCLES AND THE LION (cheirando a tinta) - DEMETRIUS AND THE GLADIATORS - THE EGYPTIAN - HILDA CRANE - THE BIG COUNTRY (uma pureza pura) - ELMER GANTRY (um show dela e Lancaster) - Spartacus, chega. Sei que o blog é de western (não fez quase nada) mas a lembrança dela deveria ser notada e comentada pelos seguidores do blog. Fiquei muito triste e só posso demonstrar pelo meu comentário. Vou falar com Campos para ele ler este tópico e escrever alguma coisa. Parabéns Darci por ter lembrado desta linda e magnifica atriz. Quando eu estiver mais enturmado no blog vou mandar a lista dos meus melhores westerns.

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  2. Como gosto de falar, Jean Simmons foi um anjo que caiu do ceu. Agora, Androcles e o Leao só pela beleza dela, pois o filme é horroroso.

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