Luiz Antônio do Amaral gostava de contar
histórias, a maior parte delas
vividas por ele próprio. Uma dessas histórias
envolve um dos faroestes
preferidos de Luiz Antônio e, como acontece quase
sempre,
por razões sem dúvida muito nostálgicas.
|
Gregory Peck e Charlton Heston nas fotos maiores; nas menores tente descobrir qual dos dois é Charlton Heston... |
Luiz Antônio gostava de Gregory Peck,
de quem havia assistido “Moby Dick”, “As Neves do Kilimajaro” e “O Mundo em
seus Braços”. Porém Luiz gostava mais de Charlton Heston, que havia visto em
filmaços como “Os Dez Mandamentos”, “O Maior Espetáculo da Terra”, “O Segredo
dos Incas”, “Selva Nua” e no faroeste “Trindade Violenta”. Como todo
adolescente se imagina parecido com algum ator famoso, Luiz Antônio gostava
quando sua irmã lhe dizia que ele era parecido com Charlton Heston, com quem
tinha mesmo certa semelhança. Quando soube que iria ser lançado um faroeste com
os dois atores nos papéis principais, Luiz Antônio ficou ansioso. Era o ano de
1959 e o filme se chamava “Da Terra Nascem os Homens”, que foi lançado em São
Paulo no Cine República, cinema que se vangloriava de possuir a maior tela do mundo,
com seus 250 metros quadrados. O adolescente Luiz Antônio sabia que os filmes
que eram lançados no Cine República depois de poucas semanas passavam no Cine Phenix,
cinema situado na Rua Domingos de Morais, 892, pertinho de sua casa. Luiz Antônio
gostava bem mais do Cine Cruzeiro, que ficava na mesma Rua Domingos de Morais,
no outro quarteirão, mas para ver juntos Charlton Heston e Gregory Peck ele nem
faria questão do cinema. Havia uma razão para Luiz Antônio preferir o Cine
Cruzeiro e não era o fato de ele ser maior e mais confortável que o Cine Phenix,
mas sim porque o pai de Luiz Antônio recebia todos os anos uma permanente que
permitia ingresso gratuito para duas pessoas nos cinemas do Circuito Serrador,
do qual fazia parte o Cine Cruzeiro. Luiz Antônio fazia razoável sucesso com
as meninas do bairro e aos 15 anos já havia tido quatro ou cinco namoradinhas.
Seus amigos que não tinham igual facilidade para ‘dar cantadas’ nas garotas
morriam de inveja do galã Luiz Antônio que até lembrava um pouco Charlton
Heston. Mas havia na Rua França Pinto, na Vila Mariana, uma menina morena clara
de cabelos curtos e negros, dona de um ar angelical, por quem Luiz Antônio
‘arrastava a maior asa’ como se dizia naquele tempo. O nome dela era Cláudia,
filha de um capitão da Força Pública, homem cuja cara de bravo e as salientes divisas
na farda afastava qualquer jovem mais atrevido com idéia de namorar sua filha,
que era o caso de Luiz Antônio. Para complicar mais as coisas Luiz Antônio era
filho de um segundo tenente da Guarda Civil e na capital de São Paulo havia uma
guerra surda entre as duas milícias cujos membros não se bicavam muito. A
Guarda Civil era considerada uma polícia de elite e seus soldados gozavam de
maior simpatia junto à população paulistana. Luiz Antônio até já havia se
aproximado algumas vezes de Cláudia, inclusive convidando-a para ir ao cinema,
mas a menina respondia sempre com evasivas.
|
Jean Simmons |
E lá foi Luiz Antônio, junta-mente com o
amigo Joel, assistir “Da Terra Nascem os Homens” no Cine Phenix. Atônito viu
surgir na tela aquela atriz que ele ainda não conhecia e que no filme
interpretava a personagem ‘Julie Maragon’. Luiz Antônio perguntou a Joel se ela
era Jean Simmons, mas o amigo que não entendia nada de cinema não soube
responder. A atriz era mais parecida com a menina Cláudia que a própria mãe da
Cláudia. Luiz Antônio assistiu àquele longo filme de quase três horas em
verdadeiro êxtase pois via na tela não a atriz Jean Simmons, mas sim a menina
Cláudia. Quando o filme terminou Luiz Antônio foi olhar os lobby-cards na
entrada do Cine Phenix procurando fotos de Jean Simmons. A atriz inglesa
interpretara um personagem delicado e sofrido mas que ao final fica com Gregory
Peck para felicidade do público. Felicidade maior ainda era a de Luiz Antônio
que não sabia se estava apaixonado por Jean Simmons ou pela menina Cláudia (ou
pelas duas). Luiz Antônio voltou a assistir “Da Terra Nascem os Homens” no dia
seguinte, totalizando cinco horas e meia em 24 horas, olhando para Jean Simmons
na tela do Cine Phenix.
Inspirado pelo filme Luiz Antônio acertou
nas frases românticas e Cláudia passou a namorar com ele. O primeiro e
inesquecível passeio foi, como não poderia deixar de ser, no Parque do
Ibirapuera numa tarde ensolarada. O namoro durou dois meses, com direito a
beijos cada vez menos inocentes e que tinham como testemunha outros casais que
remavam no lago do Parque do Ibirapuera, pois Luiz e Cláudia se encontravam
sempre durante o dia. O severo pai de Cláudia jamais permitiu que ela saísse à
noite e se soubesse que a filha se encontrava com um rapaz filho de um tenente
da Guarda Civil iria ficar muito mais bravo ainda. Cláudia gostava de Luiz
Antônio mas não queria se apaixonar pois sabia que, no início do segundo
semestre sua família se mudaria para Ribeirão Preto, onde seu pai iria comandar
um batalhão naquela cidade. O último encontro foi doloroso para Luiz Antônio
que pediu a ela que lhe escrevesse todos os dias. Em uma das cartas que ele
recebeu Cláudia contou que estava namorando com um rapaz, colega de escola,
também de Ribeirão Preto.
|
Jean Simmons em três filmes: "Spartacus", com Kirk Douglas; "Entre Deus e o Pecado", com Burt Lancaster; "O Vale das Paixões", com Rock Hudson. |
Nem Cláudia e nem Jean Simmons jamais
saíram da cabeça de Luiz Antônio. Cláudia ele nunca mais viu, mas Jean Simmons
ele reencontrou nas telas seguidamente em “O Vale das Paixões”, “Entre Deus e o
Pecado” e “Spartacus”. Claro que Jean Simmons passou a ser sua atriz preferida.
Em 1962, no luxuoso Cine Regina, em São Paulo, ocorreu o relançamento de “Da
Terra Nascem os Homens” e Luiz Antônio assistiu ao western por mais duas vezes.
A próxima vez que conseguiu assistir a esse clássico do faroeste foi quando a
televisão o exibiu e Luiz já estava casado há anos, sendo que sua esposa em
nada lembrava Jean Simmons e menos ainda a nunca esquecida Claúdia. Uma grande
alegria Luiz Antônio teve quando “Da Terra Nascem os Homens” foi lançado em VHS
pela Tocantins Vídeo. Ele comprou a cópia ‘selada’ que tinha uma imagem terrivelmente
embaçada. Ainda bem que alguns anos depois chegou o DVD com imagem perfeita
onde Luiz Antônio pode ver com nitidez a beleza e talento de Jean Simmons e
recordar da namoradinha Cláudia, sempre com uma teimosa lágrima que insiste em
se fazer presente.
Desde que tomei conhecimento deste blog atraves do meu contador Campos, um cinefilo respeitado e conhecedor profundo de trilhas sonoras, nunca mais deixei de ler o cinewesternmania. As vezes me dá vontade de tecer um comentário mas deixo para lá. Quando deparei com este artigo abri entusiasmado e qual foi a minha surpresa de ver 0 comentários. Estranho. Muitos dos frequentadores do blog devem ter a minha idade e é impossivel ninguem ter se lembrado da beleza angelical e da majestosa presença encena que foi Jean Simmons. Como se esquecer dela em BLACK NARCISSUS - ANDROCLES AND THE LION (cheirando a tinta) - DEMETRIUS AND THE GLADIATORS - THE EGYPTIAN - HILDA CRANE - THE BIG COUNTRY (uma pureza pura) - ELMER GANTRY (um show dela e Lancaster) - Spartacus, chega. Sei que o blog é de western (não fez quase nada) mas a lembrança dela deveria ser notada e comentada pelos seguidores do blog. Fiquei muito triste e só posso demonstrar pelo meu comentário. Vou falar com Campos para ele ler este tópico e escrever alguma coisa. Parabéns Darci por ter lembrado desta linda e magnifica atriz. Quando eu estiver mais enturmado no blog vou mandar a lista dos meus melhores westerns.
ResponderExcluirComo gosto de falar, Jean Simmons foi um anjo que caiu do ceu. Agora, Androcles e o Leao só pela beleza dela, pois o filme é horroroso.
ResponderExcluir