Louis L’Amour (pseudônimo de Louis Dearborn
LaMoore), foi um dos mais conhecidos e prolíficos autores de histórias de
faroestes, apelidado de ‘America’s Favorite Storyteller’ (o contador de
histórias favorito da América). É dele, entre as dezenas de histórias que
escreveu e que foram levadas ao cinema e à TV, “Hondo” (Caminhos Ásperos), um
dos melhores westerns de John Wayne. Em 1979, foi produzido para a televisão
“The Sacketts” (Em Nome da Lei), filme de 240 minutos de duração, exibido em
duas partes pela rede NBC. “The Sacketts” alcançou enorme sucesso e tinha no
elenco Tom Selleck, Sam Elliott, Jeff Osterhage e Ben Johnson, narrando uma
aventura dos três irmãos Sacketts. Louis L’Amour havia escrito nada menos que
17 livros contando histórias sobre os irmãos, juntos ou individualmente. Em
1982 Tom Selleck era já um fenômeno de audiência na pele do detetive ‘Magnum’
que caçava bandidos a bordo de sua Ferrari 308 GTS. Foi então que a CBS decidiu
reunir o mesmo elenco principal de “The Sacketts” – Selleck, Elliott, Osterhage
e Johnson – em “The Shadow Riders”, outra aventura familiar (agora com os
‘Traven’) escrita por L’amour. Dirigido pelo veterano Andrew V. McLaglen, esse
TV-movie alcançou grande audiência quando de sua apresentação na televisão e
rendeu muito mais dinheiro aos produtores depois de lançado em VHS/DVD. No
Brasil esse filme se chamou “Os Cavaleiros da Sombra”.
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Tom Selleck e Sam Elliott |
Os
incansáveis irmãos Traven - Ao final da Guerra Civil a família
Traven estava separada com os irmãos Dal (Sam Elliott) e Mac (Tom Selleck)
lutando cada um por um lado no conflito fratricida. O velho casal Traven (Harry
Carey Jr. e Jane Greer) não conseguiu impedir que um bando de renegados
sulistas comandados pelo Major Cooper Ashbury (Geoffrey Lewis) sequestrassem
Jesse (Jeff Osterhage) o filho mais jovem e as irmãs menores Sissy (Domnique
Dunne) e Heather (Natalie May). O Major Ashbury saqueia propriedades,
apossando-se de cereais que são contrabandeados para o México que se vê às
voltas com tentativas de derrubar o Imperador Maximiliano. Junto com produtos
roubados são levados também jovens homens e mulheres que serão vendidos como
escravos para comancheiros que os levam também para o México. Os homens
trabalharão nas minas e as mulheres irão para os bordéis. Dal Traven que era
dado como morto na Guerra Civil encontra-se com o então Capitão ianque Mac
Traven, seu irmão, retornando ambos para casa em Big Springs. Partem então em
busca dos irmãos e também de Kate Connery (Katharine Ross), namorada de Dal e
que foi igualmente levada pelo Major Ashbury. Jeff consegue escapar do cativeiro,
enquanto Kate, Sissy e Heather são levadas de navio de Baffin Bay, no Texas,
para Laguna Madre, no México, onde são negociadas com o comancheiro Holiday
Hammond (Gene Evans). Jeff é encontrado por Mac e Dal e o trio junta-se ao tio (Black)Jack
Traven, a quem resgatam de uma penitenciária onde cumpre pena. Jack conhece
bastante bem o México e o quarteto chega a tempo de libertar as três mulheres,
prendendo Holiday Hammond. Chega então ao México o xerife Miles Gillette (R.G.
Armstrong) que liderava um grupo em implacável caçada a ‘Blackjack’ Traven, a
quem acaba prendendo. O Major Ashbury, que havia sido traído por Hammond, é
também libertado. O xerife Gillette aceita libertar Traven em troca de Hammond
e os cinco irmãos Traven e mais Kate Connery retornam para o lar em Big
Springs.
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Sam Elliott com Jane Greer. Harry Carey Jr. com Tom Selleck; Jane Greer com Tom Selleck. |
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Sam Elliott escapando da morte por duas vezes. |
Ritmo
de seriado - A história de Louis L’Amour é um primor de imaginação,
partindo da desintegração familiar em razão da Guerra Civil, passando por
renegados confederados que agem no pós-guerra não aceitando a rendição,
chegando até o tráfico de homens e mulheres que serão escravizados. L’Amour
reúne todos os elementos possíveis de serem inseridos na rocambolesca aventura
dos irmãos Traven. E Andrew V. McLaglen não se constrange de mostrar logo nos
primeiros dez minutos do filme o Capitão sulista Dal Traven ser salvo da morte
iminente em dois momentos: primeiro quando está em vias de ser fuzilado por um
pelotão ianque; em seguida quando seu próprio irmão Mac, Capitão da União,
impede que Dal seja enforcado. E na sequência de “Os Cavaleiros das Sombras”,
no melhor estilo dos antigos seriados, são salvos em cima da hora o outro irmão
Jeff, bem como as duas irmãs e ainda Kate. Tio Jack Traven por sua vez enfrenta
problemas com a Justiça, sendo atrevidamente libertado pelos sobrinhos e, ao
final, preso novamente, numa passagem inesperada por seu conteúdo pitoresco.
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Katharine Ross duas vezes; acima disfarçada de freira. |
Kate,
vítima de permanente assédio - Se os irmãos Traven não têm descanso,
menos ainda tranquila é a vida de Kate, a namorada de Dal que, acreditando-o
morto na guerra, está prestes a contrair um casamento de conveniência, do qual
é 'salva' por ter sido sequestrada pelos renegados. Kate passa todo o filme
fugindo do assédio dos homens que a conhecem e que sucumbem a seu encanto, o
que acontece com o nefasto Major Ashbury e com o perverso traficante e
contrabandista Holiday Hamond. Como se não bastasse, Kate ainda se depara com crises
de ciúmes de Dal que, ainda bem, não
percebe que mesmo seu irmão Mac reconhece a mulher admirável que Kate é. Essa personagem, o mais bem desenvolvido da história, é uma mescla de mulheres fortes
e determinadas como tantas vezes interpretaram Susan Hayward, Barbara Stanwyck e Katharine Hepburn, com
quem Katharine Ross mais guarda semelhança. Após um início fulminante no
cinema, participando de filmes importantes em um par de anos, Katharine Ross
acabou não se transformando na grande estrela que parecia destinada a ser. “Cavaleiros das Sombras” mostra
que Hollywood foi injusta com Kate Ross, linda mulher e ótima atriz.
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Geoffrey Lewis e Gene Evans |
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Sam Elliott e Ben Johnson |
Tom
pilhérico - Feito para ser exibido na televisão e não nos cinemas,
isto quando ainda não havia o fenômeno do VHS, “Os Cavaleiros das Sombras”
cumpre seu objetivo maior que é divertir. Que não se leve a sério as tantas
situações inverossímeis da agitada aventura vivida pelos Traven, para este
western funcionar como puro escapismo. Sabe-se que Tom Selleck era a primeira
opção de Steven Spielberg para ser o arqueólogo ‘Indiana Jones’, na espetacular
aventura “Os Caçadores da Arca Perdida”. E Selleck junta seu cinismo e simpatia
à rabugice de Sam Elliott que nunca havia sorrido tanto nos filmes que fez como
acontece em “Os Cavaleiros das Sombras”. Este filme de Andrew McLaglen não trai
o espectador pois desde o início, como foi dito, tem seu ritmo determinado pelo
tom pilhérico. Certo que o desfile de excelentes atores veteranos – Ben Johnson,
Harry Carey Jr., Jane Greer, R.G. Armstrong e Gene Evans – até pode fazer crer
que fosse um desperdício de talentos envolvê-los em um filme pouco dramático.
Porém é justamente as presenças deles que torna o filme ainda mais saboroso no qual não falta nem mesmo a clássica sequência de resgatar as prisioneiras de um trem em movimento.
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Tom Selleck |
Uma fraqueza hereditária - Aos 64 anos de idade, Ben Johnson se
mostra em boa forma, cavalgando como nos tempos em que galopava sinuosamente
pelo Monument Valley, livrando-se das flechas dos índios, sob as ordens de John Ford. E num filme semicômico, é de Ben
Johnson o momento mais engraçado, quando um encolerizado xerife
Gillette (imaginem se não é R.G. Armstrong) tem revelado o segredo que sua esposa andava atrás do
mulherengo (BlackJack Traven (Ben Johnson). E o também ‘womanizer’ Mac Traven
(Selleck) herdou do tio a necessidade de desfrutar dos mais variados braços
femininos que encontram pelos caminhos do Texas e arredores. Outro grande
prazer de “Os Cavaleiros das Sombras” é ver Gene Evans em papel mais relevante
como o repulsivo Coronel Holiday Hammond, o inescrupuloso ‘gunrunner’ que
trafica não só armas mas também seres humanos. Um ‘comanchero’ como poucas vezes se viu nas
telas, além de tudo ainda engraçado. Não à toa Gene Evans era o ator preferido
de Samuel Fuller. Contrasta com o irrepreensível elenco o inexpressivo Jeff Osterhage
que elegeu Terence Hill como modelo para seu personagem.
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Tom Selleck e Katharine Ross. |
O
casal Kate e Sam - Ressalte-se a presença do casal Sam
Elliott-Katharine Ross, em perfeita cumplicidade como se fossem Kate Hepburn e Spencer
Tracy. Sam e Katharine atuaram em “Butch Cassidy” (1969), sem, no entanto,
contracenarem. Se conheceram de verdade quando das filmagens de “Convite à
Morte”, em 1978, tendo ela se divorciado de seu quarto marido passando a viver
com Elliott. Um dos casais mais felizes do cinema, Kate e Sam estão juntos há
mais de 35 anos. Na ausência de bons westerns produzidos para o cinema nos anos
80, o público fã do gênero se comprazia com filmes como este de McLaglen, que
deve muito à história de Louis L’Amour e aos atores. Mas sem dúvida foi o irregular diretor, filho
do grande Victor McLaglen, o principal responsável pelo resultado positivo de “Os
Cavaleiros das Sombras”. Ainda demoraria sete anos para que, em 1989, surgisse a
obra-prima das mini-séries westerns que foi “Os Pistoleiros do Oeste” (Lonesome
Dove), de Simon Wincer, com Robert Duvall e Tommy Lee Jones.
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O casal Sam Elliott e Katharine Ross em cena. |
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Gene Evans, R.G. Armstrong e Jeff Osterhage |
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Perigosa cavalgada de Ben Johnson em acidentado caminho meio a pedras. |
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Sam Elliott e Tom Selleck |
A cópia de "Os Cavaleiros da Sombra" foi gentilmente cedida pelo cinéfilo Marcelo Cardoso.
Oi, Darci!
ResponderExcluirSe eu não estiver enganado esse delicioso faroeste foi o último exibido nas tardes da Record, há mais ou menos uns 5 ou 6 anos, isso no Cine Aventura, nem foi na inesquecível Sessão Bang-Bang (Snif, snif! Ô, saudade!), que já tava extinta. Ainda bem que eu tava de folga nesse dia (hehehe!) e tive a oportunidade, infelizmente a única, de assistir a mais esta divertida obra do menosprezado Andrew V. McLaglen. Sem personalidade na direção? Sim, mas dono de uma obra geralmente competente e divertida, até antológica, seja no cinema e na televisão (Gunsmoke, Paladino do Oeste, etc).
Abração!
Robson