Joseph Kane era um dos principais diretores da Republic Pictures, dirigindo dezenas de vezes John Wayne, Gene Autry e Roy Rogers naqueles pequenos westerns rodados em uma semana. Quando o estúdio de Herbert J. Yates decidiu fazer faroestes de melhor qualidade, apostando especialmente em Rod Cameron como astro desses filmes, Joseph Kane foi quem emprestou sua larga experiência a esses westerns. Um deles foi “Bandeira da Desordem” (San Antone), de 1953, com roteiro de Steve Fisher. Um dos primeiros roteiros de Steve Fisher para o cinema foi “Quem Matou Vicki”, clássico do cinema noir estrelado por Victor Mature e pelo exuberante Laird Cregar. Também são de autoria de Fisher, sucessos como “Confissão” e “Toquio Joe” (ambos com Humphrey Bogart) e o inovador “A Dama do Lago”, baseado em história de Raymond Chandler. Após 15 anos escrevendo roteiros para filmes de guerra e policiais noir, Steve Fisher roteirizou seu primeiro western que foi “San Antone”, que aqui no Brasil recebeu o título de “A Bandeira da Desordem” ou simplesmente “Bandeira da Desordem”, dependendo da fonte.
DISPUTA PELO AMOR DE ROD CAMERON - Acostumado a engendrar tramas misteriosas, Steve Fisher não se deu muito bem nesta sua incursão pelo western que conta a história de Carl Miller (Rod Cameron) ex-soldado da União. O amor de Carl Miller é disputado por Julia Allerby (Arleen Whelan), individualista e volúvel moça do Sul e pela mexicana Mistania Figueroa (Katy Jurado). As duas passam quase todo filme demonstrando ciúmes e tentando conquistar Carl. Em uma magnífica sequência temos uma briga verdadeira entre as duas mulheres como poucas vezes se viu num faroeste. Enquanto não se decide com qual ficar, Carl Miller junta-se a Dobe (Harry Carey Jr.), Bob (Bob Steele) e Jim (James O’Hara), três ex-confederados que o ajudam a levar milhares de cabeças de gado para o México. A intenção é trocar o gado por 50 soldados confederados que foram presos por revolucionários mexicanos liderados por Chino Figueroa (Rodolfo Acosta), irmão de Mistania. A ação se passa quando o México está sob domínio francês e sob o poder do imperador Maximiliano. Um dos 50 prisioneiros é Brian Culver (Forrest Tucker), oficial do exército confederado, homem covarde e oportunista psocopata que anteriormente traira Carl Miller e que busca sempre destruir seus inimigos. A sulista Julia Allerby, que havia feito Chino se apaixonar por ela, que ficara noiva de Brian Culver e que pretendia conquistar Carl Miller, fica ao final do filme com o covarde oficial confederado. Miller, por sua vez, termina o filme nos braços da ardente e corajosa Mistania.
UM PUNGENTE MOMENTO MUSICAL - Essa complicada trama foi alinhavada por Joseph Kane, dando oportunidade a muitos e excelentes momentos de ação com Rod Cameron exibindo a força de seus punhos contra o também bastante forte Forrest Tucker. Muitas sequências de arquivo são usadas durante a condução do gado e mesmo em cenas de batalha, fazendo com que a marca da Republic, que era a economia, seja lembrada numa produção mais elaborada como esta. O elenco é liderado por Rod Cameron, o mais próximo cowboy do modelo criado por Randolph Scott no cinema. A atriz mexicana Katy Jurado era um nome conhecido depois de interpretar Helen Ramírez em “Matar ou Morrer”, no ano anterior, já demonstrando a atriz de grande personalidade em inúmeros outros westerns. A excelente Katy Jurado concorreria ao Oscar de Atriz Coadjuvante em 1954 por sua atuação em “A Lança Partida”. O também mexicano Rodolfo Acosta teve carreira parecida com a de Katy Jurado iniciando-se no cinema de sua pátria e imigrando para Hollywood, sempre com ótimos e característicos desempenhos nos filmes norte-americanos que fez, especialmente nos westerns. O desenvolvimento da história de “A Bandeira da Desordem” reduziu bastante o papel de Forrest Tucker, um dos melhores vilões de Hollywood. Este western torna-se bastante agradável de ser visto pela trilha sonora em que se ouve as tradicionais e pungentes canções “Shenandoah” e “Streets of Laredo”, pontilhando o filme todo. O grande e mais emocionante momento, porém, é quando Bob Steele, Harry Carey Jr. e James O’Hara interpretam de forma dolente “Ten Thousand Cattle”, remetendo diretamente aos sentimentais momentos de westerns de John Ford. O ator irlandês James O’Hara, creditado em “A Bandeira da Desordem” como James Lilburn, é irmão da querida Maureen O’Hara, atriz de tantos e inesquecíveis westerns. “A Bandeira da Desordem” pode não ser um inesquecível western, mas merece ser visto pela primeira vez ou revisto pelos fãs mais antigos.
Rod Cameron foi um ator de quem vi muitos poucos filmes e dos quais pouco me recordo. Mas, A Bandeira da Desordem eu não vi, com certeza. Até gostasria de ver, mas é muito rara esta chance. De qualquer forma...
ResponderExcluirJá o diretor Kane eu tenho mais informações, mesmo que pouca. Não acomapanhei sua trilha na direção, mas vi com suas ordens, A Trilha Solitária, com Duke, de 36. Aliás, uma western fraquissimo, P&B e curto demais.
Quanto à Arleen Wheler, esta é uma estranha para mim. Conquanto, já não posso dizer o mesmo da ótima Katy Jurado, de quem vi a maioria de seus filmes, e todos, sem excessão, de qualidade.
Em A Lança Partida ela exibe seu talento de forma modesta, natural e ao mesmo tempo aponta uma atuação digna do Oscar que não concorreu nem levou. Outra enorme injustiça do cinema.
E quanto à Republic, mesmo sendo uma Companhia fraca de recursos, não pratica o ineditismo ao trazer cenas de outros filmes para este seu (A Bandeira da Desordem). Sempre foi este um recurso muito utilizado. Recurso que normalmente passa desapercebido por quem não tem o cinema como vício, ou seja, quem náo é um cinemaniaco, um detalhista, um grande observador de detalhes.
Eu, por exemplo, descobri em vários filmes este fato acontecer. Além de destinguir os filmes originais de tais cenas, observava, no filme usuário das imagens, que elas estavam ali copiadas. É que elas destoam claramente da tonalidade do filme usurpador. Normalmente as imagens aparecem desbotadas, com uma cor diferente, sem o brilho do filme que a está usando. Isto, normalmente, ocorre por diversas razões; a principal e mais comum delas é o padrão de cor diferente; (technicolor,trucolor,
eastmancolor, metrocolor, warnecolor, columbiacolor, cor de luxe, etc), que são todas
cores de tons diferentes uma das outras. Pode ocorrer também por ser uma copia em cima de um filme novo. E ainda, dentre outras formas de distorções, por falta de uma mais apurada tecnologia para minimizar as distorções.
Uma cena hoje, copiada de uma outra fita, como ainda ocorre, dificilmente se percebe a montagem. Isto porque a qualidade técnica para quantificar a imagem montada é muito mais apurada e profissional. Condições que em décadas passadas não existiam.
jurandir_lima@bol.com.br
A Katy Jurado sempre vale a pena...Que força dramática!
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Tony, tem gente que a acha feia. Compare em Matar ou Morrer que ela não perde de muito para a Grace Kelly.
ResponderExcluir"Compare em Matar ou Morrer que ela não perde de muito para a Grace Kelly".
ResponderExcluirDarci, tudo bem que ela era bonita. Mas não convém exagerar, nê?
Edson Paiva
Édson, Grace Kelly foi aquilo que Hollywood elegeu como padrão universal de beleza. Parecido com o Brasil, que para ser bonita tem que ser modelo Xuxa. O México jamais produzirá Grace Kellys.
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