UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

3 de junho de 2011

JAMES COBURN, O PERFEITO PAT GARRETT


James Coburn foi um ator fadado ao sucesso desde o início de sua carreira. Sua primeira e discreta aparição nas telas foi no western “O Homem que Luta só” (Ride Lonesome), de Budd Boetticher, com Randolph Scott, em 1959. Em seguida James Coburn atraiu bastante a atenção do público quando se tornou um dos sete magníficos em “Sete Homens e um Destino”, aclamado western de John Sturges que fez enorme sucesso e projetou definitivamente a figura de Coburn. Nesse filme ele interpretou ‘Britt’, estranho personagem que quase não falava mas era exímio arremessador de facas. Provocado por ‘Wallace’ (Robert J. Wilke) para um duelo revólver X faca, James Coburn mais rápido que um raio cravou sua faca no peito de Wilke antes que este conseguisse tirar o revólver do coldre. ‘Chris’ (Yul Brynner) presenciava a cena e teve certeza que aquele frio cowboy seria um dos sete homens. Há muito tempo James Coburn havia se preparado para ser ator, mesma profissão de seu tio Charles Coburn, veterano intérprete característico, vencedor de um Oscar como Ator Coadjuvante em 1943 por sua atuação em “Original Pecado”. Nascido em 1928, no Nebraska, James Harrison Coburn Jr. cursou a respeitada UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles), onde estudou Arte Dramática. Após se formar ele procurou o famoso Actor’s Studio em Nova York, onde foi aluno de Stella Adler, professora, entre outros atores famosos, de Marlon Brando, Paul Newman e Robert De Niro. No caminho para o estrelato James Coburn passou antes pela TV, onde participou de mais de 40 séries, especialmente westerns. Mesmo sem ter uma série própria Coburn já era um rosto conhecido devido a suas participações em “Bonanza”, “Bat Masterson”, “Bronco”, “O Paladino do Oeste”, “Laramie”, “Cheyenne”, “O Homem do Rifle” “O Texano”, “Procurado Vivo ou Morto” e em séries não-westerns como “Os Intocáveis’ e “Peter Gunn”.


DESTACANDO-SE EM GRANDES ELENCOS - Depois de “Sete Homens e Um destino” as portas do cinema estavam abertas para aquele ator magro, alto, de olhos azuis, voz grave e autoritária, um tipo marcante como poucos. O próximo filme de James Coburn foi contracenando outra vez com Steve McQueen em “O Inferno é para os Heróis”, filme de guerra dirigido por Don Siegel. John Sturges havia gostado tanto de trabalhar com James Coburn que o chamou para seu próximo e ambicioso filme intitulado “Fugindo do Inferno”, também no gênero guerra. Poucos atores teriam chance de se destacar num elenco que tinha Charles Bronson, James Garner e outra vez Steve McQueen. Porém mais uma vez James Coburn mostrou o ótimo ator que era em filmes de ação. Curiosamente seu próximo filme seria um misto de comédia e mistério e James Coburn contracenaria com a mais elegante de todas as estrelas do cinema, Audrey Hepburn, em “Charada”. E ainda havia também a elegância de Cary Grant. Mas James Coburn mostrou algo que ainda não tinha exibido na tela, ou seja, que era um homem elegante, refinado e tão sarcástico como Walter Matthau que também atua em “Charada”. Como já foi dito, James Coburn se destacava ainda por sua impressionante voz grave, o que o levou a ser o narrador de “Os Reis do Sol”.

ENCONTRO COM PECKINPAH - Sam Peckinpah conhecia James Coburn dos tempos da TV e nunca o havia perdido de vista. Sam sempre quis ter o amigo Lee Marvin em seus filmes pois via nos personagens que Lee interpretava, uma espécie de alter-ego. E Peckinpah foi o primeiro a perceber que algumas semelhanças entre Lee Marvin e James Coburn. Ambos transformavam seus personagens em tipos fortes e duros, além das vozes bastante parecidas e un indisfarçável cinismo. Quem não tem Lee Marvin caça com James Coburn... E Peckinpah dirigiu Coburn pela primeira vez em “Juramento de Vingança”, acidentada produção que quase acabou com a carreira do incontrolável diretor. James Coburn interpretou o batedor ‘Samuel Potts’, num papel que Peckinpah claramente aumentou para comportar o talento de James Coburn. O próximo filme de Coburn seria uma aventura chamada “Vendaval na Jamaica” ao lado do grande Anthony Quinn, com quem James Coburn dividiu não só os nomes nos letreiros iniciais como a atenção do público que a esta altura já tinha em Coburn mais um ídolo do cinema. Em 1966 Blake Edwards era reconhecido como um grande diretor de comédias e decidiu dar descanso ao 'Inspetor Closeau' e brincar com o lado engraçado das guerras. Edwards seguia os passos de Billy Wilder que havia feito uma obra-prima dando um leve tom de comédia a “Inferno 17” e filmou “Papai, Você já Foi Herói?” com James Coburn no papel principal mostrando novamente suas qualidades como comediante.

"O Ouro é que Vale"
e como John Mallory
O AGENTE SECRETO FLINT - James Bond, o Agente 007, personagem criado por Ian Fleming fazia enorme sucesso nos anos 60 e llogo começaram a aparecer as imitações. Quem mais se aproximou de James Bond foi 'Derek Flint', interpretado por James Coburn em “Flint Contra o Gênio do Mal” e “Flint: Perigo Supremo”, engraçadíssimas quase paródias do 007 em que Coburn dava verdadeiro show nas lutas contra seus inimigos. Para bem interpretar 'Derek Flint', Coburn aprendeu Artes Marciais com o melhor de todos os professores que era Bruce Lee, que também havia ensinado a modalidade de kung-fu para Steve McQueen. Involuntariamente James Coburn havia se transformado em comediante e assim ele apareceu no western cômico “Ouro é o que Vale”, cuja chamada nos cartazes dizia: “Assim era o verdadeiro Oeste: Absolutamente Ridículo”. Esse quase desconhecido faroeste confirmou que além de ótimo ator sério, Coburn era também excelente nas comédias. Sucederam-se uma série de filmes com James Coburn sempre liderando os elencos, até que Sergio Leone o chamou para seu ambicioso projeto “Quando Explode a Vingança”, western passado durante a Revolução Mexicana. Coburn interpretou 'John Mallory', expert em explosivos neste filme em que Leone mais uma vez dirigiu com reconhecida competência. Para muitos “Quando Explode a Vingança” pouco fica a dever a “Era Uma Vez no Oeste” quanto à qualidade e à ação, além de contar com a inspirada trilha musical de Ennio Morricone. Aproveitando a fase européia, James Coburn contracenou com Telly Savallas e Bud Spencer sob as ordens de Tonino Valerii em “Uma Razão Para Viver, Uma Razão Para Morrer”, decididamente inferior ao filme de Sergio Leone. E veio o segundo encontro com Sam Peckinpah.

"Quando Explode a Vingança", com Rod Steiger

Coburn com Peckinpah
como Pat Garrett
O MELHOR PAT GARRETT - Depois de “Meu Ódio será Sua Herança” Sam Peckinpah obteve grande sucesso junto à crítica com seus filmes e quando anunciou que faria sua versão da história de Billy the Kid, o mundo do cinema ficou alvoroçado. Para interpretar o lendário personagem Sam chamou Kris Kristofferson, astro da música country em grande evidência em 1972. Mas Peckinpah estava mais preocupado era com o personagem Pat Garrett, muito mais complexo que o de William Bonney. Peckinpah tinha apenas um nome em mente para viver Pat Garrett no seu novo western e esse nome era James Coburn. “Pat Garrett & Billy the Kid” é um filme bastante controverso tendo exaltados admiradores e ácidos críticos. Todos no entanto concordam em um ponto, que é a extraordinária interpretação de James Coburn como Pat Garrett, talvez o maior momento da carreira do ator. Aos 45 anos os cabelos de James Coburn já estavam prateados dando um ar de maior integridade e respeito a seus personagens. Seu próximo western foi ao lado de Gene Hackman no belo, triste e emocionante “Risco de uma Decisão”. Esteve depois no sucesso de público que foi “Lutador de Rua”, contracenando com Charles Bronson e em “A Batalha de Midway”. Nesta superprodução o nome de James Coburn apareceu em terceiro lugar, atrás apenas de Charlton Heston e Henry Fonda e à frente dos nomes de Glenn Ford, Toshiro Mifune, Robert Mitchum e outros nomes importantes do cinema. Em 1976 James Coburn contracenou outra vez com Charlton Heston em “Os Últimos Machões”, dirigido por Andrew V. McLaglen, western muito criticado por sua excessiva violência. A terceira e última vez que James Coburn foi dirigido por Sam Peckinpah foi em “A Cruz de Ferro”, excelente filme no qual a guerra é vista pelo ponto de vista dos germânicos e não dos aliados. Coburn mais uma vez encabeçou o elenco com grande atuação num gênero em que ele se sentia tão à vontade quanto num western.

DOENÇA E OSCAR - No início dos anos 80 James Coburn começou a sofrer de artrite reumatóide e durante os próximos 20 anos tentou praticamente todo tipo de tratamento, o que muito debilitou sua saúde, fazendo-o diminuir seu trabalho no cinema. Mesmo doente reapareceu no western “Jovens Demais para Morrer’, em 1990, interpretando 'John Simpson Chisum', personagem anteriormente vivido por John Wayne. Coburn deu um acentuado toque de dignidade a esse western cujos atores principais eram jovens que despontavam no cinema. Bastante envelhecido pela doença e pelos tratamentos a que se submeteu, James Coburn teve marcante e charmosa presença em “Maverick”, rodado em 1994 com Mel Gibson e James Garner. Coburn já havia atuado com Bruce Willis em “Hudson Hawk, o Falcão Está à Solta”, então por que não coadjuvar Arnold Schwarzenegger em “Queima de Arquivo”, filme em que atuou em 1996. Quando parecia que nada de mais importante ocorreria na carreira de James Coburn, ele foi premiado com o Oscar de Melhor Ator Coadjuvvante por seu trabalho em “Temporada de Caça”, suspense em que interpreta o pai alcoólatra de Nick Nolte, ator apenas 13 anos mais novo que ele, Coburn. Depois desse prêmio Coburn faria ainda 14 filmes, entre eles “Intrépido”, filme de ação passado num navio em alto-mar, interpretando o papel principal. O último filme de James Coburn foi “American Gun”, em que, mais uma vez como ator principal ele interpreta um pai que perde a filha num disparo de uma Magnum, não descansando até descobrir quem era o proprietário daquela arma.

Passeio de moto num intervalo de filmagem de "Fugindo do Inferno":
o piloto McQueen, Garner na garupa e Coburn no sidecar; o cidadão
de chapéu é o diretor John Sturges. Abaixo, uma das Ferraris de Coburn.
PAIXÃO POR FERRARIS - James Coburn foi um homem com muitos hábitos e paixões. Gostava de Ioga, religiões orientais e lutas marciais, mas gostava também de fumar charutos, tocar tambor e flauta. Gostava tanto de música que acabou na capa de “Bando on the Run” o melhor álbum de seu amigo Paul McCartney. Apaixonado por automóveis chegou a possuir 15 Ferraris em sua garagem. Uma delas, sua Ferrari 250GT California Spyder, foi vendida em um leilão em 2008 por quase onze milhões de dólares, tornando-se o automóvel antigo mais caro do mundo. Nenhum outro astro de Hollywood chegou a possuir igual número desses que são os mais cobiçados sonhos masculinos. James Coburn faleceu em 18 de novembro de 2002, de ataque cardíaco, em sua casa em Beverly Hills, ouvindo música e com a flauta que tocava numa das mãos. James Coburn pode não ser incluído entre os maiores astros do cinema, mas certamente, ao atirar aquela faca em “Sete Homens e Um Destino”, estava sendo lançada também uma das mais belas carreiras de um ator, carreira sempre pontilhada por westerns clássicos.

2 comentários:

  1. O tipico ator que faz perfeito tudo o que lhe cai nas mãos.
    Quando vi seu destaque em Sete Homens e Um Destino, já havia assistido com ele O homem que luta só, um papel até com algum destaque. Porém a fita espetacular de John Sturges o trouxe à baila, e o mesmo não parou mais, exibindo seu talento em uma série de bons filmes. Não valorizo muito seu Matt Helm, mas me encantei com sua performance em Quando explode a Vinvança, do magnifico Leone/73 e Fugindo do Inferno. Nas nãos de Pechinpah fez o Garret que faltou a outros atores em outras peliculas afins.
    Nos deixou aos 74 anos, nos legando uma série de bons momentos na arte de interpretar.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  2. Adoro James Coburn. Não importa se o filme protagonizado por ele seja mediano ou até mesmo ruim. Sua presença compensa o tempo gasto.

    Uma curiosidade sobre a relação de Coburn com artes marciais e com Bruce Lee.
    É dele, junto com Bruce Lee, o argumento que levou ao roteiro e realização do filme "Círculo de Ferro", interpretado pelo David Carradine, o eterno Kwai Chang Caine da série "Kung-Fu".

    O filme é bem trash mas como curiosidade e pelos envolvidos (o elenco também é bastante inusitado), vale a pena.

    Edson Paiva

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