30 de junho de 2011

OS MELHORES WESTERNS DE TODOS OS TEMPOS - ENQUETE DO BLOG WESTERNCINEMANIA


Após 100 dias no ar encerrou-se o prazo para que cada seguidor do blog Westerncinemania escolhesse os cinco melhores westerns de todos os tempos. Foram 133 votos, cada um indicando cinco faroestes. Com a democratização do espaço digital entre internautas de todas as idades, havia a quase certeza que os faroestes clássicos dominariam a enquete e não se pode dizer que houve surpresas na lista dos dez primeiros classificados. "Rastros de Ódio" ratificou o que é quase uma unanimidade que é ser apontado como o Melhor Western de Todos os Tempos. “Rastros de Ódio” é o único western a fazer parte da mais seleta lista de melhores filmes de todos os tempos, a lista decenal da publicação inglesa “Sight & Sound”. Isso por si só bastaria para fazer da obra-prima de John Ford o mais prezado entre todos os westerns, único filme do gênero a figurar ao lado de “Cidadão Kane” (Welles), “A Paixão de Joana d’Arc” (Dreyer), “O Encouraçado Potemkin” (Eisenstein), “2001 – Uma Odisséia no Espaço” (Kubrick), “Um Corpo que Cai” (Hitchcock), “Contos de Tóquio" (Ozu), “O Atalante” (Vigo), e outros tesouros artísticos da humanidade criados pelo cinema. Na segunda colocação surge "Os Brutos Também Amam", western realizado por George Stevens com o mais rigoroso apuro técnico e artístico, muito justamente chamado de “o western mais querido do cinema”. Woody Allen é um dos muitos fãs de “Shane”. O terceiro lugar é de "Matar ou Morrer", de Fred Zinnemann, um dos mais influentes westerns já feitos e também um dos mais simples, lembrando em tudo a modéstia dos faroestes dos pequenos estúdios. Em tudo menos na concepção fílmica, edição e trilha sonora memoráveis. A quarta colocação pertence ao mais importante western do cinema, aquele que deu status e respeito ao gênero, que é "No Tempo das Diligências". Dirigido por John Ford num tempo em que o western não era levado a sério, essa inusitada (e depois muito imitada) aventura representou o ponto decisivo, o marco do western no cinema. Em quinto lugar surge a obra-prima do mais discutido dos diretores de westerns que foi Sam Peckinpah, com "Meu Ódio Será Sua Herança". Com este filme Peckinpah revolucionou não só o gênero mas também o próprio cinema que nunca mais foi o mesmo após aquilo que já foi chamado de o balé mais sangrento do poeta da violência. Ocupa a sexta posição "Sete Homens e Um Destino", de John Sturges, verdadeiramente seminal no gênero, tanto na estrutura da ação quanto na brilhante música que se tornou clássica, a própria marca do western. Em sétimo, empatados, duas obras-primas de John Ford, impossível de dizer qual a melhor. A poética e mítica visão do Velho Oeste em "Paixão dos Fortes" ou as transformações operadas na vida daquela região mostradas em "O Homem que Matou o Facínora". A célebre frase “Quando a lenda é mais forte que um fato, imprima-se a lenda” serve tanto para o western de 1946 quanto para o de 1962. Em ambos a maestria e a genialidade de John Ford. A nona colocação pertence a "Onde Começa o Inferno", de Howard Hawks, a mais alegre e simpática aventura vivida num western, aquele que pode ser chamado de o “Cantando na Chuva” dos faroestes. O décimo lugar também é de Howard Hawks que dirigiu o extraordinário "Rio vermelho", filme que retrata melhor que qualquer outro a bravura dos cowboys quando a condução do gado só podia ser feita por homens de têmpera de aço.

Ford (acima), Hawks e Stevens (centro),
Peckinpah, Zinnemann e Sturges (abaixo)
OS DIRETORES - Quatro dos dez melhores westerns de todos os tempos da enquete de Westerncinemania  foram dirigidos por JOHN FORD, incontestavelmente o grande diretor do gênero, isto devido não só por ser ele um brilhante cineasta, mas e principalmente por amar o gênero como nenhum outro. Amar a ponto de assim se identificar naquela famosa reunião de diretores que decidiu os destinos do cinema: “Meu nome é John Ford e eu faço westerns”. Que outro cineasta (e nessa reunião estavam Wyler, De Mille, Vidor, Capra, Wellman, Hawks, Zinnemann, Welles, Stevens e outros) teria a coragem de se identificar como um simples diretor de westerns? Maior diretor norte-americano de todos os tempos, vencedor de quatro prêmios Oscar, John Ford surge como o maior nome desta enquete. Dizia-se que HOWARD HAWKS tinha a intenção de realizar uma obra-prima em cada gênero cinematográfico. Difícil dizer se conseguiu realizar esse objetivo nos gêneros musical, policial noir, na comédia, no filme de aventuras. No western, porém, Hawks realizou não uma, mas duas obras-primas (“Onde Começa o Inferno” e “Rio Vermelho”), isto apesar de dedicar-se pouco aos faroestes. Tivesse passado mais tempo nas pradarias e certamente o gênero teria sido muito mais rico. GEORGE STEVENS foi um dos mais notáveis diretores do cinema norte-americano e autor de alguns dos mais belos filmes da história da 7.ª Arte. Incursionou pouco pelo gênero western (entendo que “Giant” não seja um faroeste), mas quando o fez realizou um filme digno do diretor de “Ritmo Louco”, “Gunga Din”, “Assim Caminha a Humanidade” e “Um Lugar ao Sol”, que foi “Os Brutos Também Amam”. O que mais se ressalta nos filmes de FRED ZINNEMANN é a integridade e a força moral dos protagonistas de seus filmes. Alguém pode se esquecer do soldado Robert E. Lee Prewitt (Montgomery Clift), da Irmã Luke (Audrey Hepburn), de Thomas More (Paul Scofield) e mais especialmente de Will Kane (Gary Cooper)? Todos capazes de sacrificar a própria vida por um princípio. Cada filme de Zinnemann é uma lição de vida que, infelizmente, a humanidade se recusa a aprender. É dele, claro, o magnífico “Matar ou Morrer”. JOHN STURGES dirigiu muitos westerns, a maioria deles muito bons ou clássicos como é o caso de “Sete Homens e um Destino”. O conjunto de belos westerns de John Sturges é simplesmente assombroso e muitos críticos consideram “Conspiração do Silêncio” uma obra-prima entre os westerns. Pena que esse grande filme não possa ser visto como um western puro. O mais novo entre os diretores dos dez melhores westerns é SAM PECKINPAH. O mais novo e o mais discutido. Praticamente todos os seus trabalhos têm ardorosos admiradores assim como ferozes críticos. Porém se algo foge a qualquer discussão é haver ele realizado um dos grandes filmes de todos os tempos ao dirigir “Meu Ódio Será Sua Herança”.


O MAIOR DE TODOS OS COWBOYS - Como rotular John Wayne? Qualquer cinéfilo pode listar dezenas de atores melhores que ele. Há quem sequer considere John Wayne um ator, por ele sempre haver interpretado a si próprio. O autor Michael Munn, quando conheceu Duke pessoalmente, lhe disse: “Meu Deus! Parece que eu já o conheço há muito tempo.” E Duke respondeu: “Então você deve ter visto muitos dos filmes em que trabalhei...” Essa pequena passagem é um reconhecimento do próprio John Wayne a suas limitações como ator e sua intenção de não fazer mais do que aquilo que podia fazer. Duke sabia que não era um Brando ou um Montgomery Clift. Duke não tinha formação teatral e também nunca pisou numa escola de arte dramática. Como então explicar ser John Wayne o ator preferido de John Ford e de Howard Hawks? Questão fácil de responder: Esses homens que conheciam profundamente o cinema sabiam do potencial artístico de John Wayne e souberam como extrair dele grandes atuações. Se em “No Tempo das Diligências” Duke tem apenas 14 falas como Ringo Kid, nove anos depois ele causou admiração aos críticos interpretando Tom Dunson em “Rio Vermelho”. Entre as mais inesquecíveis criações de um ator num western está o paradoxal Ethan Edwards de “Rastros de Ódio”, homem torturado, obececado, triste e rude e ao mesmo tempo capaz dos mais ternos gesto e palavras de um western: “Let’s go home, Debbie”. E o alegre, generoso e tímido John T, Chance de “Onde Começa o Inferno” e o discreto, soturno e humilde Tom Doniphon de “O Homem que Matou o Facínora”, ambos grandes criações de John Wayne. Como pode ele ser chamado de limitado e ser ao mesmo tempo uma verdadeira lenda do cinema, a própria tradução do cowboy norte-americano. Presente em cinco dos dez melhores westerns, John Wayne olha do alto para Alan Ladd, Gary Cooper, William Holden, Yul Brynner, Henry Fonda e James Stewart, os outros atores principais dos dez melhores westerns desta enquete. Talvez todos (à exceção de Alan Ladd) sejam atores mais completos que John Wayne, mas nenhum tão perfeito em cima de um cavalo ou fazendo o Bem superar o Mal como John Wayne.


Eis a classificação dos 50 westerns votados pelos seguidores do Westerncinemania com os respectivos votos conseguidos:


1.º) Rastros de Ódio (The Searchers), John Ford = 72

2.º) Os Brutos Também Amam (Shane), George Stevens = 55

3.º) Matar ou Morrer (High Noon), Fred Zinnemann = 43

4.º) No Tempo das Diligências (Stagecoach), John Ford = 34

5.º) Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch), Sam Peckinpah = 31

6.º) Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven), John Sturges = 29

7.º) Paixão dos Fortes (My Darling Clementine), John Ford = 25

7.º) O Homem que Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance), John Ford = 25

9.º) Onde Começa o Inferno (Rio Bravo), Howard Hawks = 24

10.º) Rio Vermelho (Red River), Howard Hawks = 23

11.º) Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo), Sergio Leone = 22

12.º) Era Uma Vez no Oeste (C’Era Una Volta Il West), Sergio Leone = 20

13.º) Winchester 73 (Winchester ’73), Anthony Mann = 15

13.º) Os Imperdoáveis (Unforgiven), Clint Eastwood = 15

13.º) Josey Wales, o Fora-da-Lei (Outlaw Josey Wales), Clint Eastwood = 15

16.º) Sete Homens Sem Destino (Seven Men from Now), Budd Boetticher = 14

16.º) Dança com Lobos (Dances with Wolves), Kevin Costner = 14

18.º) Da Terra Nascem os Homens (The Big Country), William Wyler = 13

18.º) Tombstone, a Justiça Está Chegando (Tombstone), George Pan Cosmatos = 13

20.º) Vera Cruz, Robert Aldrich = 12

21.º) Sem Lei e Sem Alma (Gunfight at the OK Corral), John Sturges = 11

22.º) Consciências Mortas (The Ox-Bow Incident), William A. Wellman = 10

22.º) A Última Carroça (The Last Wagon), Delmer Daves = 10

22.º) Minha Vontade é Lei (Warlock), Edward Dmytryk = 10

22.º) Pistoleiros do Entardecer (Ride the High Country), Sam Peckinpah = 10

26.º) O Álamo (The Alamo), John Wayne = 9

27.º) Duelo de Titãs (Last Train from Gun Hill), John Sturges = 8

27.º) Butch Cassidy (Butch Cassidy e Sundance Kid), George Roy Hill = 8

29.º) Duelo ao Sol (Duel in the Sun), King Vidor = 7

29.º) O Matador (The Gunfighter), Henry King = 7

29.º) O Preço de um Homem (The Naked Spur), Anthony Mann = 7

29.º) Por um Punhado de Dólares (Per um Pugno di Dollari), Sergio Leone = 7

33.º) Homem sem Rumo (Man Without a Star), King Vidor = 6

33.º) A Face Oculta (One Eyed-Jacks), Marlon Brando = 6

33.º) Pacto de Justiça (Open Range), Kevin Costner = 6

36.º) Django, Sergio Corbucci = 5

36.º) O Passado não Perdoa (The Unforgiven), John Huston = 5

36.º) Cavaleiro Solitário (Pale Rider), Clint Eastwood = 5

39.º) Johnny Guitar, Nicholas Ray = 4

40.º) Estigma da Crueldade (The Bravados), Henry King = 3

40.º) O Homem do Oeste (Man of the West), Anthony Mann = 3

40.º) A Conquista do Oeste (How the West was Won), Marshal-Hathaway-Ford = 3

40.º) O Último Pistoleiro (The Shootist), Don Siegel = 3

44.º) Legião Invencível (She Wore a Yellow Ribbon), John Ford = 2

44.º) Galante e Sanguinário (3:10 to Yuma), Delmer Daves = 2

44.º) Dragões da Violência (Forty Guns), Samuel Fuller = 2

44.º) O Homem que Luta Só (Ride Lonesome), Budd Boetticher = 2

48.º) A Última Fronteira/Galante e Aventureiro (The Westerner), William Wyler = 2

49.º) Sua Última Façanha (Lonely are the Brave), David Miller = 0

49.º) A Vingança de Ulzana (Ulzana’s Raid), Robert Aldrich = 0

29 de junho de 2011

UMA ENQUETE REPRESENTATIVA

Dois westerns da enquete de Cinewesternmania: "No Tempo
das Diligências" (John Carradine), acima e "Três Homens em
Conflito" (Eli Wallach e Clint Eastwood).

A enquete de Cinewesternmania para apurar os Melhores Westerns de Todos os Tempos na opinião dos seguidores deste blog encerra-se hoje. A elaboração da lista de 50 faroestes certamente não agradou integralmente a todos os fãs de westerns que devem ter sentido a ausência deste ou daquele filme que apreciam em particular. Listas parece que foram inventadas para gerar polêmica e esta não poderia ser diferente, porém o critério que norteou a relação de 50 westerns importantes foram as relações de diversos críticos do mundo inteiro, especialmente norte-americanos.

FORD E WAYNE, OS MAIS INDICADOS - Alguns dados merecem ser ressaltados como o fato de a década de 50 ter concentrado o maior número de filmes, somando 21, seguida pela década de 60 com 14 filmes e vindo depois a década de 40 com seis westerns. John Ford foi o diretor com o maior número de filmes indicados (5), excetuado “A Conquista do Oeste” que foi dirigido por Ford, Henry Hathaway e George Marshal. A seguir, com três filmes vieram Clint Eastwood, Anthony Mann, John Sturges e Sergio Leone. Entre os atores desponta sem surpresa o nome de John Wayne com participação em nove westerns da lista de 50. Depois do Duke vem empatados Gregory Peck e Clint Eastwood com cinco westerns. Com participação em quatro faroestes aparecem Burt Lancaster, Kirk Douglas, James Stewart, Henry Fonda e Anthony Quinn. Não foram contadas participações de atores que atuaram em muitos filmes como coadjuvantes, como Jack Elam, Lee Van Cleef e outros.

MESCLA DE IDADES - Cada vez mais pessoas da terceira idade tornam-se internautas o que sem dúvida proporcionará uma mescla interessante entre os votos daqueles que assistem westerns há mais tempo e aqueles que se tornaram aficionados pelo gênero mais recentemente. Vale lembrar que a geração cinéfila-internauta é grande apreciadora do cinema de antigamente, o que pode ser constatado pelo elevado número de blogs sobre o cinema clássico. A enquete de Cinewesternmania, apesar do número não muito elevado de votantes, não deixa de ser representativa na indicação dos melhores westerns de todos os tempos que serão conhecidos às 15 horas do dia 30/6/2011.

28 de junho de 2011

O INÍCIO DA DECADÊNCIA DE BURT LANCASTER

Burt Lancaster ficaria assim como Kid Shelleen...
Burt Lancaster foi um dos mais poderosos homens de Hollywood na década de 50. Como ator, desde o início de sua carreira, Lancaster vinha acumulando um sucesso após o outro. Tendo estreado no cinema em 1946, no filme “Os Assassinos”, Burt logo criou sua própria produtora, denominada Norma Productions (Norma era o nome da então esposa de Lancaster). Em 1953 Burt Lancaster associou-se a Harold Adolf Hecht e juntos formaram a produtora Hecht-Lancaster. Em 1958 James Hill se associaria à produtora que passou a ser Hecht-Hill-Lancaster. A companhia de Lancaster e de seus dois amigos foi a mais importante e bem sucedida produtora cinematográfica independente daqueles anos, produzindo grandes sucessos de crítica e de bilheteria como “Marty”, “Trapézio” e “A Embriaguez do Sucesso”. A Hecht-Hill-Lancaster adquiriu os direitos de dezenas de histórias e mesmo produzindo filmes num ritmo incessante, muitos textos interessantes foram deixados nas prateleiras à espera de melhor momento para serem filmados. Duas dessas histórias aguardavam que Burt Lancaster estivesse disponível para estrelá-las. A primeira chamava-se “The Way West”, de autoria de A.B. Guthrie e tinha, em 1958, um orçamento previsto de cinco milhões de dólares numa associação da Hecht-Hill-Lancaster com a United Artists. Ao lado de Burt Lancaster estariam Gary Cooper e James Stewart. Esse western só veio a ser filmado em 1967 produzido pela Harold Hecht Productions, do ex-sócio de Lancaster, e estrelado por Kirk Douglas, Richard Widmark e Robert Mitchum. Teve o título de “Desbravando o Oeste”. Quando a HHL foi dissolvida, em 1960, Hecht ficou com muitos dos roteiros que acumulavam poeira na estante. Um deles tornou-se um clássico do western-comédia.
E Lancaster parou de sorrir...
BURT LANCASTER FAZENDO A ESCOLHA ERRADA – Uma outra história que pertencia à Hecht-Hill-Lancaster era “The Ballad of Cat Balou”, de autoria de Roy Chandler. Burt Lancaster após ler o roteiro recusou-se a interpretar os irmãos gêmeos Kid Shelleen/Tim Straw pois como ator havia entrado na fase séria de sua carreira. Depois de “Vera Cruz” não mais quis mostrar seus famosos dentes nas cínicas risadas. De posse da história, em 1964, Harold Hecht decidiu que era hora de filmar “The Ballad of Cat Ballou” e tinha em mente Kirk Douglas para o papel duplo. A exemplo de Lancaster, Douglas também achou aquele papel uma aberração à qual ele não se submeteria. Lee Marvin foi quem acabou estrelando o filme que no Brasil chamou-se “Dívida de Sangue” (Cat Ballou). Lee fez o mundo inteiro rir como o pistoleiro bêbado, ganhou até um Oscar e em seguida atingiu o apogeu de sua carreira. E Lancaster que não queria fazer comédias aceitou atuar em “Nas Trilhas da Aventura”, (The Hallelujah Trail), western em tom de comédia dos mais fracos de John Sturges. Como resultado da queda de prestígio e de salário de Burt Lancaster, que não emplacava nenhum sucesso de bilheteria desde “Sem Lei e Sem alma”, o grande ator aceitou, em 1966, atuar em “Os Profissionais” com salário inferior ao de Lee Marvin. E pior que isso, com seu nome vindo em quarto lugar nos créditos iniciais, após os nomes de Lee Marvin, Robert Ryan e Woody Strode, respectivamente. Burt Lancaster só voltaria a sentir o sabor de um grande sucesso de bilheteria com “Aeroporto”, em 1970. Arrependimento maior que o de não ter atuado em “Cat Ballou”, certamente só pode ter sido a recusa de Lancaster em interpretar “Ben-Hur”, em 1959. Lancaster alfinetou Charlton Heston dizendo que ele ficava melhor nesses papéis bíblicos lembrando que Heston já havia sido ‘Moisés’ em “Os Dez Mandamentos”. E não é que Burt Lancaster também acabou tendo que pegar no cajado e vestir manto para interpretar o mesmo ‘Moisés’ para o filme “Moses”, produzido pela RAI – Radiotelevisone Italiana. E para que a coincidência fosse maior ainda, assim como Fraser Heston, filho de Charlton, interpretou ‘Moisés’ criança em “Os Dez Mandamentos”, William Lancaster, filho de Burt também interpretou ‘Moisés’ quando jovem em “A Terra Prometida – A Verdadeira História de Moisés” (Moses), protagonizado por Burt Lancaster. Há momentos na vida em que até mesmo um Lancaster faz a escolha errada...

27 de junho de 2011

"BANDEIRA DA DESORDEM" (SAN ANTONE) - BELO MOMENTO MUSICAL COM BOB STEELE


Joseph Kane era um dos principais diretores da Republic Pictures, dirigindo dezenas de vezes John Wayne, Gene Autry e Roy Rogers naqueles pequenos westerns rodados em uma semana. Quando o estúdio de Herbert J. Yates decidiu fazer faroestes de melhor qualidade, apostando especialmente em Rod Cameron como astro desses filmes, Joseph Kane foi quem emprestou sua larga experiência a esses westerns. Um deles foi “Bandeira da Desordem” (San Antone), de 1953, com roteiro de Steve Fisher. Um dos primeiros roteiros de Steve Fisher para o cinema foi “Quem Matou Vicki”, clássico do cinema noir estrelado por Victor Mature e pelo exuberante Laird Cregar. Também são de autoria de Fisher, sucessos como “Confissão” e “Toquio Joe” (ambos com Humphrey Bogart) e o inovador “A Dama do Lago”, baseado em história de Raymond Chandler. Após 15 anos escrevendo roteiros para filmes de guerra e policiais noir, Steve Fisher roteirizou seu primeiro western que foi “San Antone”, que aqui no Brasil recebeu o título de “A Bandeira da Desordem” ou simplesmente “Bandeira da Desordem”, dependendo da fonte.

DISPUTA PELO AMOR DE ROD CAMERON - Acostumado a engendrar tramas misteriosas, Steve Fisher não se deu muito bem nesta sua incursão pelo western que conta a história de Carl Miller (Rod Cameron) ex-soldado da União. O amor de Carl Miller é disputado por Julia Allerby (Arleen Whelan), individualista e volúvel moça do Sul e pela mexicana Mistania Figueroa (Katy Jurado). As duas passam quase todo filme demonstrando ciúmes e tentando conquistar Carl. Em uma magnífica sequência temos uma briga verdadeira entre as duas mulheres como poucas vezes se viu num faroeste. Enquanto não se decide com qual ficar, Carl Miller junta-se a Dobe (Harry Carey Jr.), Bob (Bob Steele) e Jim (James O’Hara), três ex-confederados que o ajudam a levar milhares de cabeças de gado para o México. A intenção é trocar o gado por 50 soldados confederados que foram presos por revolucionários mexicanos liderados por Chino Figueroa (Rodolfo Acosta), irmão de Mistania. A ação se passa quando o México está sob domínio francês e sob o poder do imperador Maximiliano. Um dos 50 prisioneiros é Brian Culver (Forrest Tucker), oficial do exército confederado, homem covarde e oportunista psocopata que anteriormente traira Carl Miller e que busca sempre destruir seus inimigos. A sulista Julia Allerby, que havia feito Chino se apaixonar por ela, que ficara noiva de Brian Culver e que pretendia conquistar Carl Miller, fica ao final do filme com o covarde oficial confederado. Miller, por sua vez, termina o filme nos braços da ardente e corajosa Mistania.


UM PUNGENTE MOMENTO MUSICAL - Essa complicada trama foi alinhavada por Joseph Kane, dando oportunidade a muitos e excelentes momentos de ação com Rod Cameron exibindo a força de seus punhos contra o também bastante forte Forrest Tucker. Muitas sequências de arquivo são usadas durante a condução do gado e mesmo em cenas de batalha, fazendo com que a marca da Republic, que era a economia, seja lembrada numa produção mais elaborada como esta. O elenco é liderado por Rod Cameron, o mais próximo cowboy do modelo criado por Randolph Scott no cinema. A atriz mexicana Katy Jurado era um nome conhecido depois de interpretar Helen Ramírez em “Matar ou Morrer”, no ano anterior, já demonstrando a atriz de grande personalidade em inúmeros outros westerns. A excelente Katy Jurado concorreria ao Oscar de Atriz Coadjuvante em 1954 por sua atuação em “A Lança Partida”. O também mexicano Rodolfo Acosta teve carreira parecida com a de Katy Jurado iniciando-se no cinema de sua pátria e imigrando para Hollywood, sempre com ótimos e característicos desempenhos nos filmes norte-americanos que fez, especialmente nos westerns. O desenvolvimento da história de “A Bandeira da Desordem” reduziu bastante o papel de Forrest Tucker, um dos melhores vilões de Hollywood. Este western torna-se bastante agradável de ser visto pela trilha sonora em que se ouve as tradicionais e pungentes canções “Shenandoah” e “Streets of Laredo”, pontilhando o filme todo. O grande e mais emocionante momento, porém, é quando Bob Steele, Harry Carey Jr. e James O’Hara interpretam de forma dolente “Ten Thousand Cattle”, remetendo diretamente aos sentimentais momentos de westerns de John Ford. O ator irlandês James O’Hara, creditado em “A Bandeira da Desordem” como James Lilburn, é irmão da querida Maureen O’Hara, atriz de tantos e inesquecíveis westerns. “A Bandeira da Desordem” pode não ser um inesquecível western, mas merece ser visto pela primeira vez ou revisto pelos fãs mais antigos.


25 de junho de 2011

"MY NAME IS RICHARD"


A defesa de suas posições políticas sempre custou caro a John Wayne. Republicano radical e intransigente, Wayne foi um dos líderes da Legião Americana contra os comunistas de Hollywood. Adorado pela persona criada no cinema, John Wayne era detestado por grande parte da comunidade cinematográfica, claro, especialmente pelos liberais. Quando Duke decidiu filmar “O Álamo”, sentiu na pele a antipatia antes silenciosa e naquele momento declarada. John Wayne já havia relacionado todo o numeroso elenco coadjuvante de “O Álamo”, composto quase que inteiramente por amigos seus como Hank Worden, Chuck Roberson, Denver Pyle, Chill Wills, Ken Curtis, Guinn ‘Big Boy’ Williams, Olive Carey, Jack Pennick e muitos outros. Quando começou a pensar nos papéis principais é que surgiram as maiores dificuldades de John Wayne. Ele queria Laurence Olivier para interpretar o ‘Coronel Travis’ pois considerava que só mesmo um ator britânico poderia ter a arrogância do comandante do Álamo. Contatado, Olivier respondeu que já havia assinado contrato com Kirk Douglas para atuar em “Spartacus” Não bastasse isso, John Wayne ficou sabendo que Kirk Douglas conseguira outros dois grandes atores ingleses para o elenco de “Spartacus”, ou seja, Charles Laughton e Peter Ustinov (sem falar em Jean Simmons, também inglesa). Bastante enciumado, John Wayne afinal conseguiu o ator inglês Laurence Harvey para interpretar o ‘Coronel Travis’. Duke, por imposição da United Artists interpretaria ‘Davy Crockett’. Faltava completar o terceiro personagem importante de “O Álamo”, o lendário ‘Jim Bowie’.
TRATAMENTO FORMAL - John Wayne tinha em mente o nome de Charlton Heston para ser seu ‘Jim Bowie’. Charlton estava no auge da sua carreira após ter sido ‘Moisés’ e ‘Ben-Hur’, que lhe valeu um Oscar de Melhor Ator. Feito o contato inicial da Batjac (produtora de Wayne) com Charlton Heston, este respondeu que não estava interessado na proposta. A Batjac voltou à carga oferecendo mais dinheiro e Charlton Heston teve que ser mais explícito, respondendo que não filmaria com John Wayne. A recusa de Heston foi uma das conseqüências do radicalismo político de Duke. O cenário político estava mudando e o senador John F. Kennedy surgia como novo líder político e provável candidato do Partido Democrata à Casa Branca. John Wayne, claro, era simpatizante fervoroso de Richard Nixon. Outros nomes foram sondados para interpretar ‘Jim Bowie’, personagem que acabou ficando com Richard Widmark que também não morria de amores por John Wayne. O primeiro contato entre John Wayne e Richard Widmark deixou claro como seriam as relações entre ambos. Wayne recebeu Widmark com o clássico “Welcome, Dick”. Secamente Richard Widmark respondeu: “My name is Richard”. Durante as filmagens as relações entre ambos melhoraram apenas o suficiente para que o filme fosse rodado sem escaramuças pois Widmark era um dos mais corretos atores de Hollywood no aspecto profissional. Mas a vida é uma caixinha de surpresas... Se a convivência entre Duke e Richard Widmark não foi das melhores, Laurence Harvey surpreendentemente conquistou a simpatia de John Wayne. Excelente ator, profissional exemplar como Widmark e homem bastante culto, Harvey conseguiu levar aos bastidores de “O Álamo” a camaradagem necessária para que tudo caminhasse bem. Difícil dizer quem se saiu melhor na tela, Richard Widmark ou Laurence Harvey, ambos brilhantes. E suas grandes atuações devem-se a eles próprios pois como se sabe, John Wayne nunca conseguiu ser bom diretor de atores. Portanto, Widmark e Harvey acabaram sendo verdadeiramente ‘heróicos’, tanto ou mais que o Jim Bowie ou o Coronel Travis.

24 de junho de 2011

A GRANDE DÍVIDA DE JOHN WAYNE


Filmar “O Álamo” era a própria razão da vida de John Wayne. O Duke queria mostrar para todos os americanos como deveria ser um verdadeiro patriota: estóico, corajoso e se necessário colocando a própria vida em defesa de seu país. John Wayne guardou dinheiro por muitos anos para concretizar seu sonho no cinema e, quando chegou a hora de filmar “O Álamo”, o orçamento chegou aos seis milhões de dólares, o dobro dos três milhões de dólares previstos e que o Duke tinha no banco. O ator teve então que bater às portas dos estúdios com seu sonho debaixo do braço. Conversou com quase todos os chefões dos grandes estúdios, mas a resposta era sempre um sonoro não e isto por uma única razão: John Wayne queria apenas dirigir “O Álamo” e não desejava atuar no filme. Propuseram a ele que John Ford dirigisse o épico e aí então ele teria os recursos necessários para o filme. Mas John Wayne não abria mão de realizar ele próprio aquele que seria o maior western do cinema. A United Artists então acenou com uma contraproposta: Wayne dirigiria “O Álamo” mas teria também que atuar nele. Para conseguir o dinheiro da United Artists, Duke concordou em fazer um pequeno papel, chamado de ‘cameo’. Ele interpretaria o General Sam Houston. A United Artists não aprovou a idéia e disse a Wayne que ele teria mesmo que estrelar o filme para que o público tivesse interesse e fosse assisti-lo. O estúdio deu o ultimato: sem John Wayne como nome principal do elenco nada feito. Wayne se resignou e teve que escolher entre interpretar Davy Crockett, Jim Bowie ou o Coronel William Travis. Depois de pensar bastante John Wayne decidiu que deveria interpretar Davy Crockett, até porque Crockett era a figura mais lendária entre os três personagens. Resolvida essa questão John Wayne convidou então Richard Boone para ser o General Houston.
Richard Boone como Sam Houston
UM CASACO E UMA AMIZADE - Richard Boone estava em grande evidência na televisão com a série “Paladino do Oeste” e cobrou 100 mil dólares pela sua pequena participação no épico. “O Álamo” ainda não havia terminado de ser filmado quando acabou o dinheiro, tanto os três milhões de Duke quanto os três milhões da United Artists. E o estúdio se recusou a colocar mais um centavo naquela produção. John Wayne começou então a vender quotas de sua participação nos lucros do filme para poder concluí-lo. Quando Richard Boone soube disso abriu mão de receber seu salário de 100 mil dólares em “O Álamo”, mas pediu a John Wayne o casaco que o General Houston usa no filme. O belíssimo casaco de couro talvez valesse à época, quando muito, 500 dólares (três mil dólares em valores de hoje). Nasceu ali uma grande amizade entre Duke e Dick Boone. Engana-se quem pensa que John Wayne ficou milionário com os lucros de “O Álamo”. Quem ganhou dinheiro mesmo foram os sortudos que compraram por preço de ocasião as quotas que John Wayne lhes vendeu para acabar o filme dos seus sonhos. O custo final do filme ficou em 12 milhões de dólares, sendo que a dívida de John Wayne era de seis milhões de dólares, além dos outros três milhões que ele investira inicialmente. Segundo o acordo com a United Artists que distribuiria “O Álamo” no mundo todo, somente quando o filme se pagasse os lucros seriam divididos 50% para cada parte. Quando afinal John Wayne começou a receber sua parte nos lucros, repassava o dinheiro para aqueles que compraram quotas dos 50% de John Wayne. Ao contrário do que sempre se afirmou, “O Álamo” deu lucro, sim, para todo mundo, menos para John Wayne. Isso explica porque John Wayne teve que fazer tantos filmes ruins nos anos seguintes aceitando papéis inadequados como o do bizarro Centurião em “A Maior História de Todos os Tempos”, de George Stevens. “O Álamo” foi a maior aventura de John Wayne no cinema. Foi o sonho e a grande realização artística daquele que foi um dos maiores astros que o cinema já teve.

22 de junho de 2011

ELVIS PRESLEY, UM MESTIÇO EM "ESTRELA DE FOGO" (FLAMING STAR)


O escritor Clair Huffaker é autor dos roteiros de “Os Comancheiros”, “Rio Conchos” e “Gigantes em Luta”, faroestes que recomendam plenamente o autor. O primeiro roteiro de Huffaker para o cinema foi sobre a história “Flaming Lance”, de sua própria autoria e que chegou ao cinema como “Estrela de Fogo” (Flaming Star), em 1960, dirigido por Don Siegel. O projeto inicial era ambicioso e deveria ter Marlon Brando e Frank Sinatra como os irmãos Clint e Pacer Burton. Nem Frank nem Brando puderam fazer o filme e o Coronel Parker, empresário de Elvis Presley, estava atrás de um filme mais sério que mudasse um pouco a imagem do cantor. Elvis pretendia ter como ator o mesmo respeito que possuía como cantor e “Estrela de Fogo” parecia ter sido feito sob medida para iniciar a nova fase do Rei do Rock’n’Roll no cinema. A história trata de um assunto que Hollywood nunca gostou de tocar, a inevitável miscigenação ocorrida quando da convivência entre peles-vermelhas e brancos antes do genocídio dos índios nos Estados Unidos. Sam Burton (John McIntire) era viúvo e tinha o filho Clint (Steve Forrest) quando se casou com a kiowa Neddy (Dolores Del Rio). Sam e Neddy tiveram um filho chamado Pacer (Elvis Presley) e a vida da família correu tranquila por duas décadas, até que Buffalo Horn (Rodolfo Acosta), o novo chefe dos kiowas, decide reaver terras tomadas pelos brancos. Os confrontos se sucedem e os homens brancos que nunca aceitaram inteiramente a presença de Neddy e Pacer passam a demonstrar cada vez mais fortemente a intolerância em relação à índia e ao filho mestiço. Buffalo Horn pede a Pacer que ele se integre a sua raça na luta contra os brancos usurpadores. Pacer reluta até ver sua mãe morrer atingida pela arma de um homem branco. Desesperado Pacer ainda vê seu pai morrer alvejado por flechas kiowas e seu irmão ser ferido gravemente também pelos índios. A intolerância de ambas as partes leva ao quase extermínio da ex-pacata família Burton, restando vivo apenas Clint.

DON SIEGEL, UM DEGRAU ACIMA - Don Siegel foi um dos mais respeitados entre os diretores do segundo escalão de Hollywood. Com orçamentos modestos fez inúmeros filmes excelentes e pelo menos uma obra-prima que foi a sci-fi “Vampiros de Almas”. A partir de “Estrela de Fogo” a cotação de Siegel subiu sem parar e nos anos 60 e 70 ele passou a dirigir grandes produções com astros como Clint Eastwood (cinco vezes), Lee Marvin, Richard Widmark, Henry Fonda, Charles Bronson, Walter Matthau e John Wayne. A competência de Don Siegel é comprovada com o excelente “Estrela de Fogo”, em que mescla cenas de grande dramaticidade com perfeitas sequências de ação. Siegel não faz nenhuma concessão e a causa dos índios representada pelo mestiço Pacer é tratada com enorme respeito. O filme se encerra com os homens brancos sendo indiretamente responsabilizados pela tragédia que se abateu sobre a família Burton. Famílias massacradas pelos índios são também citadas mas sem que se atribua a exclusividade dos conflitos aos ‘selvagens pele-vermelhas’ como Hollywood se acostumou a fazer. A violência do homem branco é demonstrada quando um cowboy (L.Q. Jones) tenta molestar Neddy, ao descobrir que ela é esposa de um homem branco como ele.


UMA DAS MAIS BELAS MULHERES DO CINEMA - E o maior mérito de Don Siegel é ter conseguido extrair de Elvis uma atuação que pode ser chamada de aceitável. Muitos consideram esta a melhor interpretação de Elvis como ator, o que não quer dizer praticamente nada diante da mediocridade que foi sua carreira no cinema. Elvis está contido e esforça-se para desempenhar bem o mestiço Pacer. Canta apenas uma canção, além da bela “Flaming Star” que se ouve nos créditos iniciais. Havia outras duas canções no filme que foram excluídas para dar mais credibilidade à atuação de Elvis, esquecendo-se o cantor. O nível de intérpretes do filme é mediano (Steve Forrest, Barbara Eden, Richard Jaeckel, Karl Swenson), o que ressaltou o trabalho de Elvis. Porém John McIntire tem outra brilhante atuação, perdendo apenas para a maravilhosa Dolores Del Rio. Belíssima ainda aos 55 anos e atuando com a dramaticidade típica do cinema mexicano. Contemplar Dolores na tela torna “Estrela de Fogo” obrigatório. O último filme norte-americano de Dolores Del Rio havia sido “Domínio de Bárbaros”, de John Ford, rodado em 1947. Ainda pelas mãos de Ford ela se despediria de Hollywood em “Crepúsculo de uma Raça”. O também mexicano Rodolfo Acosta interpreta o chefe kiowa Buffalo Horn. Um bastante jovem L.Q. Jones é quem toma uma surra de Elvis. A paciência do Coronel Parker durou apenas mais um filme (“Coração Rebelde”, de 1961) após o que ele obrigou Elvis a voltar para as comédias insonsas. Em 1969 um Elvis Presley fortemente influenciado pelos anti-heróis dos spaghetti-westerns atuou em “Charro”, em tudo inferior a seu maior momento cinematográfico que foi “Estrela de Fogo”.

21 de junho de 2011

IRRESISTÍVEL SUSAN HAYWARD EM "JARDIM DO PECADO" (GARDEN OF EVIL)


Filmado inteiramente em locações no México, “Jardim do Pecado” foi dirigido por Henry Hathaway, competente diretor com uma lista enorme de excelentes filmes mas sem nenhuma obra-prima em sua carreira. Com “Jardim do Pecado” Hathaway tinha tudo para repetir o êxito de “O Tesouro de Sierra Madre” já que guarda certas semelhanças com, este sim uma obra-prima, o filme de John Huston. O roteiro de Frank Fenton, no entanto, torna as ações previsíveis e carece de maior profundidade dramática numa trama onde as incoerências vão se sucedendo. Três aventureiros – Hooker (Gary Cooper), Fiske (Richard Widmark) e Luke Daly (Cameron Mitchell) - estão em um navio a caminho da Califórnia onde está acontecendo a corrida do ouro, por volta de 1849. Obrigados a permanecer alguns dias em Puerto Miguel, no México, os três americanos e mais o mexicano Vicente (Victor Manuel Mendoza) são contratados por uma linda norte-americana chamada Leah (Susan Hayward), para resgatar John Fuller (Hugh Marlowe) o marido de Leah. Fuller está preso, com uma perna quebrada, dentro de uma mina que desabou. A mina localiza-se num local chamado ‘Jardim do Diabo’, próximo a uma missão destruída pela erupção de um vulcão. O povo de Puerto Miguel considera aquele um local sagrado envolto em lendas e misticismos. O acesso até o ‘Jardim do Diabo’ é dificíl e perigoso, mais ainda devido à presença de índios no local. Chegando finalmente ao “Jardim do Diabo” e após retirarem Fuller com vida, Leah, o marido e os quatro homens que contratou são atacados pelos índios e o retorno a Puerto Miguel é ainda mais acidentado que a própria chegada ao local.

UM JARDIM DIABÓLICO - “Jardim do Pecado” difere dos westerns convencionais pelo cenário e pelo mistério que permeia a história. À medida que Leah e os aventureiros se embrenham naquela região tão bela quanto inóspita as tensões aumentam. Leah e o ouro estão nas mentes daqueles homens e a cobiça assume proporção cada vez mais sinistra para cada um deles. Leah é de tal modo atraente que por momentos confunde os quatro aventureiros em suas prioridades, disputando a inacessível mulher, a riqueza ou a própria vida. Leah é Susan Hayward em uma de suas mais sensuais atuações, ainda que mostre apenas parte dos braços durante o filme todo. Mas seu olhar, suas expressões desafiadoras e provocadoras tornam sua personagem irresistível. Excepcional atriz impõe-se entre homens de personalidade díspares que têm em comum a ambição e o desejo. O ótimo elenco proporciona um duelo de interpretações entre Richard Widmark e Gary Cooper, duelo parecido com o que Cooper travaria em seu filme seguinte com Burt Lancaster em “Vera Cruz”. Antecipando ‘Ben Trane’ do filme de Robert Aldrich, Gary Cooper é aquele que aparentemente sabe de tudo e será sempre dele a última palavra. Widmark é o jogador cínico que afinal decide jogar a própria vida. Cameron Mitchell o mais fascinado por Leah é audacioso e sequioso pela riqueza próxima. Hugh Marlowe interpreta o enigmático marido. E Victor Manuel Mendoza é outro pesonagem estranho e calado, atípico sem o histrionísmo tão comum aos mexicanos. Se “Jardim do Pecado” sofre por sua previsibilidade, ressente-se ainda mais pela falta de acurácia. Os índios que aterrorizam o grupo pouco são vistos mas sabe-se que são apaches, estranhamente sitiados naquela região do México. E apaches inusitadamente com cabelo cotado como os índio do Leste (moicanos, pequots ou ainda ao estilo cherokee). Os aventureiros abatem os índios com rifles de repetição, isto em plena corrida do ouro, em 1949. Fundamental à história, a relação entre Fuller e sua esposa Leah tem desfecho inexplicável, assim como a súbita atração de Leah por Fiske (Richard Widmark). Fica-se com a impressão que “Jardim do Pecado” é um daqueles filmes cujo roteiro vão sendo reescritos diariamente segundo a inspiração do momento. Assim foi com “Casablanca”, o mais bem sucedido improviso cinematográfico de todos os tempos.

O aterrorizante cenário de "Jardim do Pecado"
Acima à direita Richard Widmark

O ÚNICO WESTERN DE BERNARD HERMANN - Certos filmes tornam-se inesquecíveis pela atmosfera em que se desenrola a trama. O roteirista imagina essa atmosfera e o diretor tenta desenvolvê-la com o precioso auxílio do cinegrafista e posteriormente com o responsável pelo escore musical. “Jardim do Pecado” é um desses filmes que não se apaga de nossa memória pelos incríveis cenários em que foi filmado e, muito especialmente, pela partitura musical de Bernard Hermann. Você nunca se esqueceu de “Psicose”, não é mesmo? Pois as arrepiantes cenas da morte de Janet Leigh no chuveiro tiveram a trilha sonora criada por Hermann que foi o compositor de Hitchcock em todas as trilhas musicais dos filmes do Mestre do Suspense na década de 50. Antes Bernard Hermann havia sido o responsável pelo escore musical de “Cidadão Kane” e por um sem número de outras trilhas sonoras que estão entre as melhores do cinema, entre elas “O Círculo do Medo” (1962). O maestro Bernard Hermann trabalhou em um único western em toda sua vida e esse western foi justamente “Jardim do Pecado”. O diretor de fotografia desse filme foi o veteraníssimo Milton Krasner que entre outros trabalhos foi um dos diretores de fotografia de “A Conquista do Oeste”, filmado no processo Cinerama. As sequências filmadas na pequena trilha nas escarpas montanhosas de Uruapan, no México, onde qualquer descuido levaria cavalos e atores a rolarem pelos despenhadeiros de centenas de metros são memoráveis. E a estranha sensação de medo causada pela região vulcânica de Michoacán, também no México, é acentuada pela música de Bernard Hermann. No entanto, nem a excepcional trilha sonora de Hermann e a fotografia deslumbrante de “Jardim do Pecado” foram suficientes para fazer dele um grande filme.

Henry Hathaway conversando com Susan Hayward,
Gary Cooper e Cameron Mitchell

19 de junho de 2011

DUELO DE GIGANTES (THE MISSOURI BREAKS) - O WESTERN QUE BRANDO TENTOU ESTRAGAR


A violência explicíta no cinema começou nos anos 60 e Arthur Penn é reputado como um dos responsáveis por essa nova estética cinematográfica com “Uma Rajada de Balas” (Bonnie and Clyde), de 1967. Sam Peckinpah aperfeiçou a nova tendência em “Meu Ódio Será Sua Herança” (The Wild Bunch) coreografando brilhantemente cenas que passaram a ser chamadas de ‘bloodbath’ (banho de sangue). Nos anos 70 a violência no cinema cresceu ainda mais e explodiu em 1976, especialmente no gênero western. Nesse ano tivemos alguns dos mais violentos faroestes que Hollywood já produziu, entre eles “A Volta do Homem Chamado Cavalo”, “Os Últimos Machões”, “Mad Dog Morgan”, “O Último Pistoleiro”, “Josey wales, o Fora-da-Lei” e “Duelo de Gigantes”, este dirigido justamente por Arthur Penn. Após as excelentes críticas recebidas por seus filmes anteriores (“Bonnie & Clyde”, “Mickey One”, “Caçada Humana” e “Pequeno Grande Homem”), Arthur Penn gozava de imenso prestígio em Hollywood e teve o privilégio de dirigir os dois atores mais importantes daquele momento, Marlon Brando e Jack Nicholson em seu filme “Duelo de Gigantes” (The Missouri Breaks), rodado em 1976. Brando havia retomado o status de melhor ator do cinema depois de “O Poderoso Chefão” e “O Último Tango em Paris”. Nicholson vinha dos sucessos de “Sem Destino”, “Chinatown” e saboreava o estrondoso êxito com “Um Estranho no Ninho”. Para atuar em “Duelo de Gigantes”, Marlon Brando exigiu um milhão de dólares mais 10% dos lucros quando a receita do filme ultrapassase os dez milhões nas bilheterias. Nicholson cobrou mais que Brando (1.250.000 dólares) e 12,5% dos lucros. E “Duelo de Gigantes”, que era para ser um dos campeões de bilheteria do ano transformou-se quase em fracasso. Rendeu sete milhões de dólares mas seu custo bateu nos cinco milhões de dólares. Rodado no mesmo ano, “Josey Wales, o Fora da Lei”, que custou 2,5 milhões de dólares, rendeu 15 milhões de dólares, o dobro que o filme de Arthur Penn que tinha no elenco os dois caríssimos astros.

DUELO DE EGOS GIGANTES - Um grande ator como Marlon Brando pode, sozinho, carregar um filme nas costas com sua interpretação. Por outro lado, atores geniosos como Brando e Nicholson podem também destruir um filme. E Marlon Brando quase conseguiu essa façanha e Arthur Penn já o havia dirigido em “Caçada Humana” (1966), o mais político de seus filmes. Porém àquela altura a carreira de Brando havia atingido seu ponto mais baixo, seus filmes não davam boas bilheterias e sua arrogância foi reduzida a ponto de submeter-se a um teste para interpretar ‘Don Corleone’. Dez anos depois a história era outra e a megalomania de Marlon Brando aumentava proporcionalmente à sua cintura. De cara Brando disse a Arthur Penn que comporia o personagem de ‘Robert E. Lee Clayton’ inteiramente à sua maneira. E o ator conseguiu criar a mais excêntrica figura jamais surgida em um western. Desde sua primeira aparição, escondido atrás de seu cavalo, até a última cena, é um desfilar de overacting com Brando fazendo todas as poses possíveis e as impossíveis também, vestindo roupas as mais inusitadas, culminando com uma fantasia de velha camponesa com aquele típico chapéu que elas usavam. E as cenas em que Brando vai eliminando os bandidos, cada uma mais estilizada e improvável que a outra, beiram a comédia. Pobre Arthur Penn. Excelente diretor, mas sem a personalidade necessária para conduzir estrelas como Brando. Penn já havia sido despedido por Burt Lancaster em “O Trem” pois Lancaster queria desempenhar seu personagem ‘Labiche’ a seu modo. Para não ser despedido mais uma vez aceitou as exigências de Marlon Brando. Para sua sorte o também problemático Jack Nicholson estava em seus dias de espírito colaborador. Arthur Penn usou dublês à exaustão pois Brando e Nicholson fizeram apenas uma cena juntos, evitando a todo custo o choque de estrelismo dos dois atores. Marlon Brando era extraordinário. Ninguém era igual a ele e Nicholson sabia disso. Todos os grandes atores o respeitavam, mais que isso, o veneravam e endeusavam. Mas cá pra nós, um pouco mais de profissionalismo não faria mal. Ainda que tentando com todos seus truques, Brando não conseguiu destruir “Duelo de Gigantes”.

VIOLÊNCIA ESTILIZADA - Tom Logan (Jack Nicholson) chefia uma quadrilha que não conseguiu se especializar em nenhum tipo de roubos (trem, bancos ou gado). Parte então para o roubo de cavalos e escolhe como vítima David Braxton (John McLiam) um rico proprietário de terras, gado e cavalos. Braxton contrata um conhecido Regulador (exterminador profissional de bandidos) chamado Robert E. Lee Clayton (Marlon Brando). Clayton vai liquidando, um a um, o bando de Tom Logan (Jack Nicholson), bando composto por Calvin (Harry Dean Stanton), Little Todd (Randy Quaid), Cary (Frederic Forrest) e Si (John P. Ryan). Só faltava Tom Logan que se diverte namorando Jane Braxton (Kathleen Lloyd), filha do homem que contratou o Regulador Lee Clayton. Ao final Logan é quem mata Clayton e mata também o pai de Jane. Únicos sobreviventes, Logan e Jane partem cada um seguindo seu destino. Essa trama aparentemente rotineira é desenvolvida com cenas brutais envolvendo não apenas atores, mas também animais. Embora filmado nos Estados Unidos (em Montana), sabe-se que foi desrespeitado o código de proteção aos animais. Cada morte é mais horripilante que a outra, culminando com Calvin tendo o olho varado por uma estranha arma que Clayton carrega. “Duelo de Gigantes” não é um filme agradável de ser visto, mas demonstra com exatidão a forma de vida do Velho Oeste, não só com o barão de gado e os bandidos, mas especialmente com a estranha e vaidosa figura do Regulador vivido por Brando. Além disso Arthur Penn conseguiu mesclar sequências brutais com outras de grande beleza explorando o cenário de Virginia City, em Montana. Some-se às imagens do cinegrafista Michael C. Butler, uma trilha sonora tocante de John Williams, desta vez longe das grandes orquestrações, com clara influência de Ennio Morricone.


MORRENDO COM AS CALÇAS ARRIADAS - Para quem assistiu a “Duelo de Gigantes” torcendo para um dos dois atores, isto no aspecto de interpretações, viu que Jack Nicholson saiu vencedor do duelo com uma até discreta atuação. Marlon Brando é Marlon Brando e ponto! Tudo com ele fica por conta de seu momento e neste filme de Arthur Penn ele ultrapassou todo e qualquer limite do bom senso, ainda que não se possa deixar de reconhecer o excepcional ator que Brando era. Exemplo perfeito desse magistral ator é a cena em que se apresenta na sala da casa de Braxton chocando a todos os presentes ao levantar desrespeitosamente um defunto que está no caixão. Outro azar de Penn foi a principal atriz do filme, Kathleen Lloyd, inconvincente em seu desempenho como moça de personalidade forte. Harry Dean Stanton talvez seja o mais simplório de todos os grandes atores, fato que não passou despercebido a Wim Wenders em “Paris, Texas”. Arthur Penn conseguiu extrair perfeitas interpretações também de Randy Quaid e John McLiam. Frederic Forrest discreto é o primeiro cowboy a morrer (no cinema) com a bunda de fora. Marlon Brando nunca mais faria outro western, enquanto Jack Nicholson, em 1978 dirigiria e estrelaria a comédia “Com a Corda no Pescoço”. Hoje, aos 74 anos é bastante difícil que faça outra incursão no gênero. Arthur Penn faleceu aos 88 anos em setembro de 2010 e depois de “Duelo de Gigantes” dirigiu apenas quatro filmes que não obtiveram nenhuma repercussão. Este western representou praticamente o canto do cisne de um dos diretores que se empenharam em retratar no cinema a violência que começava a tomar conta do mundo com guerras ou sem elas.

18 de junho de 2011

GARY COOPER, O MAIOR GALÃ DOS WESTERNS


Gary Cooper foi um dos maiores amantes do cinema.
Por seus braços passaram algumas das mais belas mulheres
do mundo, entre elas Audrey Hepburn, Marlene Dietrich,
Ingrid Bergman, Deborah Kerr, Teresa Wright e Claudette Colbert.
Mais que qualquer outro ator, Gary Cooper sentiu o calor,
o perfume e o sabor dos lábios das mais lindas heroínas dos faroestes.
Confira nas próximas coleções de fotos as mulheres que o grande galã
conquistou nos westerns em que ele atuou nos seus 40 anos de carreira:

(Observação: Alguns dos filmes relacionados não são westerns puros,
mas o que vale são as mulheres que Coop beijou...)

GARY COOPER, O MAIOR GALÃ DOS WESTERNS - Anos 50

RITA HAYWORTH
Heróis de Barro (They Came to Cordura), 1959

MARIA SCHELL
A Árvore dos Enforcados (The Hangmen Tree), 1959

JULIE LONDON
O Homem do Oeste (Man of the West),  1958

 DOROTHY McGUIRE
Sublime Tentação (Friendly Persuation), 1956

SARITA MONTIEL
Vera Cruz, 1954

SUSAN HAYWARD
Jardim do Pecado (Garden of Evil), 1954

BARBARA STANWYCK
Sangue da Terra (Blowing Wild), 1953

PHYLLIS THAXTER
Renegado Heróico (Springfield Rifle), 1952

GRACE KELLY
Matar ou Morrer (High Noon), 1952

MARY ALDON
Tambores Distantes (Distant Drums), 1951

RUTH ROMAN
Vingador Impiedoso (Dallas), 1950


PATRICIA NEAL
The Bright Leaf, 1950


LAUREN BACALL
The Bright Leaf, 1950