25 de junho de 2011

"MY NAME IS RICHARD"


A defesa de suas posições políticas sempre custou caro a John Wayne. Republicano radical e intransigente, Wayne foi um dos líderes da Legião Americana contra os comunistas de Hollywood. Adorado pela persona criada no cinema, John Wayne era detestado por grande parte da comunidade cinematográfica, claro, especialmente pelos liberais. Quando Duke decidiu filmar “O Álamo”, sentiu na pele a antipatia antes silenciosa e naquele momento declarada. John Wayne já havia relacionado todo o numeroso elenco coadjuvante de “O Álamo”, composto quase que inteiramente por amigos seus como Hank Worden, Chuck Roberson, Denver Pyle, Chill Wills, Ken Curtis, Guinn ‘Big Boy’ Williams, Olive Carey, Jack Pennick e muitos outros. Quando começou a pensar nos papéis principais é que surgiram as maiores dificuldades de John Wayne. Ele queria Laurence Olivier para interpretar o ‘Coronel Travis’ pois considerava que só mesmo um ator britânico poderia ter a arrogância do comandante do Álamo. Contatado, Olivier respondeu que já havia assinado contrato com Kirk Douglas para atuar em “Spartacus” Não bastasse isso, John Wayne ficou sabendo que Kirk Douglas conseguira outros dois grandes atores ingleses para o elenco de “Spartacus”, ou seja, Charles Laughton e Peter Ustinov (sem falar em Jean Simmons, também inglesa). Bastante enciumado, John Wayne afinal conseguiu o ator inglês Laurence Harvey para interpretar o ‘Coronel Travis’. Duke, por imposição da United Artists interpretaria ‘Davy Crockett’. Faltava completar o terceiro personagem importante de “O Álamo”, o lendário ‘Jim Bowie’.
TRATAMENTO FORMAL - John Wayne tinha em mente o nome de Charlton Heston para ser seu ‘Jim Bowie’. Charlton estava no auge da sua carreira após ter sido ‘Moisés’ e ‘Ben-Hur’, que lhe valeu um Oscar de Melhor Ator. Feito o contato inicial da Batjac (produtora de Wayne) com Charlton Heston, este respondeu que não estava interessado na proposta. A Batjac voltou à carga oferecendo mais dinheiro e Charlton Heston teve que ser mais explícito, respondendo que não filmaria com John Wayne. A recusa de Heston foi uma das conseqüências do radicalismo político de Duke. O cenário político estava mudando e o senador John F. Kennedy surgia como novo líder político e provável candidato do Partido Democrata à Casa Branca. John Wayne, claro, era simpatizante fervoroso de Richard Nixon. Outros nomes foram sondados para interpretar ‘Jim Bowie’, personagem que acabou ficando com Richard Widmark que também não morria de amores por John Wayne. O primeiro contato entre John Wayne e Richard Widmark deixou claro como seriam as relações entre ambos. Wayne recebeu Widmark com o clássico “Welcome, Dick”. Secamente Richard Widmark respondeu: “My name is Richard”. Durante as filmagens as relações entre ambos melhoraram apenas o suficiente para que o filme fosse rodado sem escaramuças pois Widmark era um dos mais corretos atores de Hollywood no aspecto profissional. Mas a vida é uma caixinha de surpresas... Se a convivência entre Duke e Richard Widmark não foi das melhores, Laurence Harvey surpreendentemente conquistou a simpatia de John Wayne. Excelente ator, profissional exemplar como Widmark e homem bastante culto, Harvey conseguiu levar aos bastidores de “O Álamo” a camaradagem necessária para que tudo caminhasse bem. Difícil dizer quem se saiu melhor na tela, Richard Widmark ou Laurence Harvey, ambos brilhantes. E suas grandes atuações devem-se a eles próprios pois como se sabe, John Wayne nunca conseguiu ser bom diretor de atores. Portanto, Widmark e Harvey acabaram sendo verdadeiramente ‘heróicos’, tanto ou mais que o Jim Bowie ou o Coronel Travis.

2 comentários:

  1. Difícil não juntar o amor sentido por nosso heroi, neste caso o ator, à sua vida particular. Sabemos disso e não podemos enganar a nós mesmos.
    Me era desconhecida esta qualidade negativa do querido Duke em sua vida particular, assim como a aversão à sua pessoa por muitos de seus colegas.
    E estas razões, mesmo que queisessemos, ou pensassemos em pô-las à parte, não conseguiriamos fazer isso completamente, mesmo que por este adorado ator, ou por qualquer pessoa que fosse.
    Claro que o Duke, dentro de mim, a partir de agora, está eleito a uma perda, mesmo que diminuta, no fanatismo que eu tinha por ele antes do conhecimentos destes fatos.
    Vou lutar para a permanencia de meu afã por este querido ator. Mas, acho difícil isto ocorrer, já que sou um ser humano como qualquer outro, e assim, ter razões naturais, de sobra, para estar sujeito a ter as mesmas reações que Olivier e Widmarck, dentre muitos outros. Lamento, mas não posso fazer muito para alterar meus condicionamentos inatos. Acho que não terei mais os mesmos olhos para o Duke que tinha minutos atrás, antes de conhecer esta reportagem.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  2. Hadson - Governador Valadares (MG)22 de fevereiro de 2012 às 18:55

    Mais uma prova de que atores também são, antes de mais nada, imperfeitos humanos.

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