Muitos atores mexicanos triunfaram no cinema norte-americano.
Mais que todos Anthony Quinn, seguido de Ricardo Montalbán e
Gilbert Roland. Há porém, na lista dos atores mexicanos que foram
bem aproveitados por Hollywood dois que curiosamente tiveram
carreiras encurtadas por mortes prematuras. Eles são Alfonso Bedoya
e Rodolfo Acosta, ambos bastante conhecidos pelos fãs de faroestes.
DISTINTIVOS FEDORENTOS - Alfonso Bedoya conseguiu seu passaporte para Hollywood com uma frase que se tornou célebre e que o American Film Institute considerou a 36.ª frase mais importante da história do cinema norte-americano: “Ayyy, we don’t need no stinks badges!” (...nós não precisamos de distintivos fedorentos), frase pronunciada pelo bandido mexicano ‘Gold Hat’ respondendo a Humphrey Bogart, a quem depois cortaria o pescoço em “O Tesouro de Sierra Madre”. ‘Gold Hat’ foi interpretado por Alfonso Bedoya, ator mexicano nascido na pequena Vila de Vicam em Sonora, em 16 de abril de 1904. Alfonso contava que sua mãe teve 20 filhos e que aos 14 anos deixou a família pois não havia comida para todos na pobre casa em que morava. De cidade em cidade Alfonso acabou em Houston, no Texas. Nem tudo que Bedoya contava podia ser levado a sério pois ele afirmava, entre outras coisas, ser filho do misterioso B. Traven, autor da história de “O Tesouro de Sierra Madre”. Traven era um escritor de quem pouco se sabia e que teria vivido no México, onde escreveu a famosa história sobre a cobiça filmada por John Huston. Como B. Traven era alemão, olhando bem para Bedoya não se percebe nenhum traço germânico… De retorno ao México o jovem Alfonso passou a trabalhar como ator na prolífica industria de filmes mexicana.
Um dos piores bandidos que Humphrey Bogart enfrentou |
TRÊS WESTERNS COM RANDOLPH SCOTT - Quando foi chamado para atuar em “O Tesouro de Sierra Madre”, dirigido por John Huston, Bedoya era já um ator experiente tendo atuado em 56 filmes produzidos em Churubusco, o último deles o clássico “La Perla”, dirigido por Emílio Fernández. Depois de impressionar críticos, público e colegas atores com seu personagem ‘Gold Hat’ em “Sierra Madre” Alfonso Bedoya era sempre lembrado para papéis de bandidos mexicanos, especialmente em westerns, como ocorreu em “Angel in Exile”, de Allan Dwan (1948); “Mosqueteiros do Mal” (Streets of Laredo), com William Holden (1949); “Terra do Inferno” (Man in the Saddle), “O Pistoleiro” (The Stranger Wore a Gun) e “Arizona Violenta”, os três estrelados por Randolph Scott; “A Taberna dos Proscritos” (Border River), com Joel McCrea. Alfonso Bedoya era também requisitado para outros gêneros de filmes como “Mercado Humano” (Border Incident), estrelado por Ricardo Montalbán e dirigido por Anthony Mann; “As Aventuras do Capitão Blood”, com Louis Hayward; “A Rosa Negra”, com Tyrone Power; “Stronghold”, com Veronica Lake; “O Fidalgo da Califórnia” (California Conquest), com Cornel Wilde e Teresa Wright; “Sombrero”, com Ricardo Montalbán e Vittorio Gassman; “Os Piratas Negros”, com Anthony Dexter.
Bedoya em seu último western, "Da Terra Nascem os Homens" |
O VÍCIO DO ÁLCOOL - Em 1956 Alfonso Bedoya deixou Hollywood e voltou para o México onde participou do filme “A Donzela de Pedra”, com Elsa Aguirre. Nessa época Bedoya carregava a fama de ótimo ator e também a de ótimo copo. Há anos ele havia se tornado alcoólatra e o vício começou a deixar suas marcas, destruindo rapidamente seu organismo. Em 1957, quando atuou em “Da Terra Nascem os Homens” (The Big Country), seu último filme, era visível a decadência física de Bedoya que veio a falecer em dezembro de 1957. Bedoya sequer chegou a assistir “Da Terra Nascem os Homens”, que foi lançado em outubro de 1958. Alfonso Bedoya receberia uma tocante homenagem de Alfonso Arau em “Meu Ódio Será Sua Herança” (The Wild Bunch) quando Arau afirmou que sua interpretação era uma cópia do modo de atuar de seu ídolo Alfonso Bedoya. Com sua morte, Alfonso Bedoya, o engraçado bandido mexicano deixou aberta uma vaga no cinema que seria preenchida por Rodolfo Acosta.
RODOLFO ACOSTA
Rodolfo Acosta nasceu em El Chamizal, Chihuahua, parte do México que ainda era disputada por México e Estados Unidos. Quando ainda era pequeno a família Acosta se mudou para a Califórnia. O jovem Rodolfo estudou Arte Dramática na UCLA (Universidade da Califórnia) e com a eclosão da II Guerra Mundial Rodolfo entrou para a Inteligência Naval da Marinha Norte-Americana. Finda a guerra Rodolfo Acosta foi para o México conseguindo trabalho no cinema, estreando como um gângster em “Soy un Prófugo”, comédia de Cantinflas, isto em 1946. Em seguida Acosta fez uma ponta em “Domínio de Bárbaros” (The Fugitive), filmado por John Ford no México, em que mais importante que sua participação foi a amizade que fez com Emílio Fernández que era assistente de direção de Ford no filme. Rodolfo Acosta se achava um perfeito galã com bigodinho a la Robert Taylor e tudo, mas teve que se acostumar com os papéis de vilão que lhe davam um após o outro. Seu amigo Emílio Fernández seria decisivo na carreira de Acosta quando o chamou para interpretar ‘Paco’, um cafetão que explora Marga López no filme “Salón México”, dirigido por El Índio Fernández. Este drama foi um sucesso e chamou a atenção de Budd Boetticher que iniciava as filmagens de “Paixão de Toureiro”, no México, estrelado por Robert Stack e que contou com varios atores mexicanos no elenco, entre eles Rodolfo Acosta. Estava aberto o caminho para mais um ator mexicano no cinema norte-americano.
Rudy Acosta e Elvis Presley |
ÍNDIOS E MEXICANOS EM MUITOS WESTERNS - O mesmo Budd Boetticher dirigiu Rodolfo Acosta em “Império do Pavor” (Horizons West), com Robert Ryan, primeiro de uma longa lista de westerns em que Acosta atuaria. Interpretando índios ou mexicanos com igual naturalidade, Rodolfo Acosta pode ser visto nos faroestes “Bandeira da Desordem” (San Antone), com Rod Cameron; “Revolta do Desespero” (Wings of the Hawks), outra vez com Budd Boetticher na direção, estrelado por Van Heflin; “Cidade do Mal” (City of the Badmen), com Dale Robertson e Richard Boone; “Caminhos Ásperos” (Hondo), com John Wayne; “Sob a Lei da Chibata” (Passión), com Cornel Wilde; “Rajadas de Ódio” (Drumbeat), com Alan Ladd; “Escravo do Ouro” (The Broken Star), com Howard Duff; “À Borda da Morte” (The Proud Ones), com Robert Ryan; “Bandido”, com Robert Mitchum; “Vingança no Coração” (Trooper Hook), com Joel McCrea e Barbara Stanwyck; “Apache Warrior”, com Keith Larsen; “Caçada Humana” (From Hell to Texas), com Don Murray. Rodolfo Acosta fecharia essa sua primeira década em Hollywood interpretando um índio em “Estrela de Fogo” (Flaming Star), o bom western de Don Siegel estrelado por Elvis Presley.
Acosta acima em "Rio Conchos" com Richard Boone, Jim Brown, Edmond O'Brien e Stuart Whitman; abaixo com El Índio Fernández |
O TERRÍVEL BLOODSHIRT - Os anos 60 começariam em grande estilo para Rodolfo Acosta que interpretou um capitán dos Rurales em “A Face Oculta” (One-Eyed Jack), o fascinante western dirigido e interpretado por Marlon Brando. Veio depois “Quadrilha do Inferno” (Posse from Hell), com Audie Murphy; uma ponta em “A Conquista do Oeste” (How the West Was Won); uma aventura com o filho do cão ‘Old Yeller’ chamada “Savage Sam”, com Brian Keith; o chefe apache Bloodshirt no excelente “Rio Conchos”, estrelado por Richard Boone; Acosta se reencontrou com John Wayne em “Os Filhos de Katie Elder” (The Sons of Katie Elder); “Viagem para a Morte” (The Reward), western com o bergmaniano Max Von Sydow; “A Volta dos Sete Magníficos” (Return of the Seven), ao lado de Emílio Fernández e dirigido por Burt Kennedy; “Os Bravos Nunca Morrem” (The Legend of Custer), com Wayne Maunder; “O Pistoleiro Marcado” (Young Billy Young), com Robert Mitchum.
'Vaquero' na série Chaparral |
‘VAQUERO’ EM CHAPARRAL - Rodolfo Acosta, ou Rudy Acosta, como muitos o chamavam atuou bastante na TV participando como ator convidado em dezenas de séries. Nas temporadas 1967/68 e 1968/69 de “Chaparral” (The High Chaparral), Acosta tornou-se personagem constante interpretando o mexicano ‘Vaquero’. O western-comédia “Fuga Audaciosa” (Flap), estrelado por Anthony Quinn, apesar de pouco memorável teve algumas peculiaridades como ter sido dirigido por Sir Carol Reed, diretor da obra-prima “O Terceiro Homem” e reunir no elenco Anthony Caruso, Claude Akins e Rodolfo Acosta. Outra lembrança desse filme é como Acosta aparece bastante abatido e magro, sinal que sua doença começava a deixar marcas. O sucesso de “Sete Homens e Um Destino” foi tão grande que gerou diversas sequências, a última delas em 1972, com Lee Van Cleef interpretando o agora Marshal Chris Adams. Rodolfo Acosta interpretou um personagem chamado Juan de Toro e este seria o último filme de Rudy Acosta que passava agora a lutar contra um câncer.
HOMENAGEADO PELOS LATINOS - Rodolfo Acosta viajou para Acapulco com a esposa e cinco filhos para ver sua mãe que ainda vivia. No entanto Acosta precisou retornar às pressas do México devido ao agravamento de seu estado de saúde, sendo internado no Motion Pictures Hospital, em San Fernando, na Califórnia, onde faleceu em 7 de novembro de 1974. Acosta recebeu uma homenagem da fundação dos artistas latinos através das palavras de Ricardo Montalbán. Nesse dia o cinema perdeu um de seus melhores atores característicos, especialmente pelas interpretações como índios de Rodolfo Acosta, diferentes dos estereótipos que os faroestes costumam apresentar. Rudy, aos 54 anos foi se juntar ao outro grande ator mexicano Alfonso Bedoya que ao falecer estava com 53 anos. Sem Bedoya e sem Acosta ficou muito mais fácil para os mocinhos…
Rodolfo Acosta com os mexicanos Katy Jurado e Gilbert Roland |
Mais um texto marcante.
ResponderExcluirParabéns!!!
Anthonny Quinn: o ator faz tudo. Quinn interpretou todos os papéis possiveis no cinema.E todos com uma perfeição de invejar.
ResponderExcluirRichard Montalban: o grande dançarino. Aquela dança dele com Cid Charisse em A Marca do Renegado é uma das coisas mais belas que o cinema já apresentou. Que momento belo!
Gilbert Roland: o eterno vilão que nenhum cinéfilo conseguia odiar. Ele tinha um jeito de interpretar que não conseguia transmitir jamais ódio por si em seus papéis.
E Bedoya e Acosta, dois grandes vilões que faziam suas caracterizações perfeitas, dando enquadramentos aos seus personagens que pareciam mais reais que interpretativas.
Uma safra memorável que o México gerou.
jurandir_lima@bol.com.br
Sempre quiz escrever algo sobre Acosta e achei aqui uma postagem digna de quem trabalhou e pesquisou muito pra escrever isso.
ResponderExcluirNão foi feito só por fazer; Você lê e vê que foi escrito com amor e carinho homenageando os atores. Foram poucos atores mexicanos a fazer sucesso. Esses ai foram alguns dos poucos que ficaram na retína de muita gente.
Muito bom Darci. Não sou preconceituoso e Faroeste...Gosto de Tudo...
Parabéns por essa postagem e pelo trabalho que é gostoso de navegar neste Blog.
www.bangbangitaliana.blogspot.com