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15 de abril de 2012

HISTÓRIAS DO ÁLAMO (9) – RICHARD WIDMARK, SURDO E POUCO SIMPÁTICO


Durante algum tempo contou-se uma história segundo a qual John Wayne, esgotado com tudo que acontecia durante as filmagens de “O Álamo”, teria pegado Richard Widmark para cristo num momento de nervosismo e o agredido. Naqueles três meses em que John Wayne dirigiu os trabalhos nas locações em Brackettville, no Texas, o Duke chegou a fumar cinco maços de cigarros por dia, perdendo cerca de 15 quilos. Aconteceu de tudo naqueles 90 dias, desde o assassinato da atriz LaJeane Etheridge, as mortes de dois técnicos num acidente de automóvel na estrada próxima a Brackettville, o incêndio que irrompeu no Forte Clarke (onde a equipe se acomodava) até as desgastantes visitas de John Ford ao local das filmagens. Mas se houve muita coisa ruim, houve também momentos de muita satisfação e amizade.

Aissa e o irmão Pat Wayne;
Guinn 'Big Boy' e Chill Wills;
Hank Worden e Ken Curtis.
FILMAGEM EM FAMÍLIA - John Wayne estava cercado por muitos amigos, especialmente atores da chamada John Ford Stock Company, grupo do qual o próprio Duke não deixava de ser membro. Da ‘JFSC’ lá estavam Hank Worden, Denver Pyle, Ken Curtis, Danny Borzage e Jack Pennick. Grandes amigos de John Wayne eram também os stuntmen (que atuaram como dublês e como atores em pequenas participações em “O Álamo”), gente como Cliff Lyons, Chuck Roberson, Chuck Hayward, Bob Morgan, Fred Graham, Eddie Juaregui, Boyd ‘Red’ Morgan, Joe Canutt e Tap Canutt, filhos do lendário Yakima. Participaram também daquela épica jornada cinematográfica em Brackettville os amigos Chill Wills, Guinn ‘Big Boy’ Williams e Richard Boone. E presentes às locações estiveram quase o tempo todo familiares de John Wayne, alguns inclusive fazendo pontas e podendo ser vistos no filme, como a esposa Pilar e as filhas Aissa e Toni. O filho Patrick Wayne interpretou o personagem do Capitão James Butler Bonham. O outro filho do Duke, Michael Wayne, atuou como produtor executivo e chegou a dirigir sequências de segunda unidade. O genro Don La Cava, marido de Toni também ajudou na produção de "O Álamo". 

Duke e Dick numa cena de "O Álamo"
DIFERENÇAS POLÍTICAS – As posições políticas de John Wayne e Richard Widmark eram antagônicas e é desnecessário lembrar a visão política radical e obtusa de John Wayne, que conflitava com a do democrata Widmark. Além de estar à frente das muitas campanhas pelos direitos civis apoiadas por muitos atores, Richard Widmark sempre condenou abertamente a Caça às Bruxas operada em Hollywood com o apoio, entre outros de John Wayne. Uma das muitas histórias que se contou sobre as relações entre John Wayne e Richard Widmark foi quando após a assinatura do contrato, foi publicado um anúncio com foto do ator e a frase "Welcome aboard, Dick" (bem-vindo a bordo, Dick).  Ao recepcionar Widmark em Brackettville, John Wayne teve que ouvi-lo dizer na frente e todos os presentes: "Diga ao seu pessoal de publicidade que o nome é Richard"como que deixando claro que não queria nenhuma intimidade com John Wayne. Estupefato Wayne conseguiu responder: "Eu vou dizer sim, Richard", enfatizando o nome do já declarado inimigo.  Widmark sempre negou esse fato lembrando que todos, em qualquer lugar o chamavam pelo apelido ‘Dick’.

Duke dirigindo Laurence Harvey e Widmark;
abaixo a visita indigesta do amigo John Ford.
O DIRETOR JOHN WAYNE - Outra história bastante divulgada foi a da agressão que teria ocorrido após uma discussão durante o ensaio de uma cena quando John Wayne teria agarrado Widmark segurando-o pela jaqueta de Jim Bowie que ele usa no filme, atirando-o de encontro a uma parede. Ambos sempre negaram que tal fato houvesse ocorrido e nunca houve uma única testemunha sequer que diga ter visto isso acontecer, mesmo porque apesar da diferença de tamanhos e por seu temperamento, certamente Widmark reagiria. John Wayne sempre reputou Richard Widmark como um admirável ator, enquanto o Duke não era um bom diretor de atores, segundo opinião de muitos que foram por ele dirigidos. O estilo de dirigir de John Wayne era o mais simples possível pois ele pedia aos atores que fizessem as cenas da maneira que achassem melhor e se a cena ficasse boa ele se dava por satisfeito. Sabidamente John Wayne não era um ator de grandes recursos interpretativos mas que tinha, porém, enorme poder de comunicação com o público. Daí, talvez, a razão de John Wayne ter sido um diretor pouco exigente e sem nenhuma habilidade para motivar os demais atores. O premiadíssimo John Ford, que dirigiu John Wayne em 14 filmes, era também um diretor que pouco orientava seus atores, porém Ford conseguia envolvê-los magicamente na atmosfera por ele criada nos sets de filmagem. Mas quando as interpretações desgostavam Ford ele não poupava críticas contundentes a ninguém, fosse um ator com o poder de John Wayne ou um iniciante como Harry Carey Jr. O próprio Carey Jr. conta que durante as filmagens de “O Céu Mandou Alguém” Ford passou o filme todo dizendo a ele, alto e bom som, que deveria ter dado aquele papel para Audie Murphy... John Ford por sinal era padrinho de Carey Jr. Que se saiba, o diretor John Wayne jamais destratou um ator a quem tenha dirigido nos dois filmes que dirigiu.

‘PROFESSOR’ WIDMARK - O que muito colaborou para que Richard Widmark não cultivasse a simpatia geral durante as filmagens de “O Álamo” foi o fato que ele estava sempre quieto, sozinho e concentrado num canto, estudando suas falas. Algumas pessoas que tentaram falar com ele disseram que não obtiveram resposta e Widmark acabou recebendo o apelido de “Professor”, sendo assim chamado pelas costas, claro. O que poucos sabiam é que Richard Widmark era completamente surdo de um dos ouvidos e se alguém falasse com ele pelo lado do ouvido surdo ele não conseguia escutar, deixando portanto de responder. Seja lá como for, Richard Widmark executou seu trabalho como profissional exemplar que sempre foi, recebeu seu salário da Batjac e após a última cena da qual participou retirou-se discretamente de Brackettville. Não conseguiu, e possivelmente não se esforçou para se tornar um membro do grande grupo de amigos (quase todos com pensamento político afinado com o Duke) que realizou “O Álamo” sob as ordens de John Wayne.



6 comentários:

  1. Historias, historias e historias.

    Não concebo Duke chamando o Widmarck de Dick e o vermelhão retrucando; "Richard".
    Não vejo como poderia ter ocorrido, também, de o Duke agarrar o Widmark pela jaqueta e atirá-lo contra a parede. Como da mesma forma não vejo angulo para ter ocorrido vários outros virís desentendimentos durante as filmagens, mesmo se tratando das filmagens de um filme com um elenco enorme e extras que não acabavam mais.

    De uma forma geral, se houvesse ocorrido algum atropelo ou até mais, seria um fato corriqueiro durante uma grande produção.

    Acho que já fiz esta pergunta, ou colocação, em um outro post. Mas não entendo o porque de o John Ford estar ali presente ser tão desgastante.
    A não ser que ele fosse daqueles que palpitam em tudo e o Duke desejasse fazer seu filme sem pitacos.

    Uma outra coisa que não entendo, e se entendo eram momentos muito agressivos do diretor John Ford, ficar citando para o amarelo Harry Carey Jr. que deveria ter chamado o Audie Murphy para trabalhar em seu lugar.

    Se ele falava insistentemente aquilo tentando agredir o Carey, então ele agredia muito mais à figura ausente do Murphy. Isto porque, na presença dele, do Murphy, a raposa velha jamais abriria a boca para criticá-lo assim. O pau comeria, com certeza e com toda razão.

    Fechando o ligeiro comentário,eu acho muito salutar, e até muito ilustrativo para quem ama, como nós, o cinema, ficar sabendo como andaram as filmagens de determinado filme.

    Torna-se quase impossível lidar com tantos egos, tantas opiniões, tanta gente de má vontade, tantos extras, até inimigos que precisaram vir trabalhar juntos, tanta coisa ao mesmo tempo, sem que imprevistos ocorram. Creio isso ser uma coisa acima de natural em filmagens.
    Não consigo esquecer de Vera Cruz, e a lição, sem dizer nada, que o Cooper deu no Lancaster.
    Assim podemos avaliar o quanto custa se colocar uma obra assim nas telas para assistirmos.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  2. Também fico com o pé atrás com essas varias estórias de bastidores quando envolvem atos de agressão, discussão e violência entre atores e diretores, Jurandir. Nesse caso entre Widmark e John Wayne o próprio texto afirma que nunca apareceu alguém que se dissesse testemunha do possível atrito entre ambos. E que eles negavam que tal fato houvesse ocorrido.
    Muito diferente de outros filmes e casos aqui narrados pelo Darci, onde vários colegas de elenco faziam as afirmações ou as narravam em suas biografias. O que não é exatamente um atestado de credibilidade pois autobiografias, a depender de quem as escreve, também podem estar repletas de mentiras bem contadas.

    A questão política poderia ser mesmo causar algum mal entendido entre os grandes astros. Mas me parece que John Wayne não devia ser muito chato quanto a isso senão não teria trabalhado, por exemplo, com Kirk Douglas por duas vezes (se não me engano), sendo que ambos estavam em posições absolutamente opostas no espectro político. O fato de John Wayne ser radicalmente de direita não pode ser jamais interpretado, como vejo muitas vezes em comentários de seus detratores, como algo que deporia contra seu caráter. Ser de direita é um ponto de vista tão respeitável quanto ser de esquerda. O problema nem sempre é a ideologia e sim o individuo que a defende.
    Por tudo que já li sobre John Wayne ele parecia ser um cara bacana e leal com os amigos. Ideologias muitas vezes servem apenas para estigmatizar alguém ou impedir uma pessoa de expressar o que tem todo o direito de dizer.

    Enfim, o que achei interessante foi a surdez parcial de Richard Widmark. Não sabia desse fato. É um ator muito interessante, com seu rosto marcante e diversos personagens importantes em filmes de todo tipo. E os fãs de faroeste certamente tem muito carinho por ele por tantos bons westerns


    Edson Paiva

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  3. Jurandir, o que é escrito neste blog é obviamente extraído de relatos feitos em livros diversos. Sobre O Álamo, por exemplo, há três ou quatro livros falando especificamente do que ocorreu antes, durante e depois dessa epopéia na vida de JOhn Wayne.
    A presença de John Ford em Brackettville foi constrangedora para John Wayne pois Ford já chegou querendo dirigir O Álamo e o respeito do Duke para com Ford o impedia de dar-lhe um 'chega pra lá'. Esse assunto merece ser contado nesta série.
    Quando da filmagem de O Céu Mandou Alguém, em 1948, o herói de guerra Audie Murphy estava sendo disputado pelos produtores que queriam lançá-lo como ator. Cogitou-se de Murphy estrear no cinema nesse filme de John Ford, mas Ford queria homenagear o amigo recém-falecido Harry Carey, não só dedicando-lhe o filme na introdução mas também dando ao filho de Harry Carey uma grande oportunidade no cinema. Ford e Carey eram compadres, mas o diretor judiou bastante do afilhado neste filme sempre com a sarcástica lembrança do nome de Audie Murphy. Por outro lado Ford sempre teve enorme carinho por Olive Carey, a viúva de Harry Carey. E cá pra nós, Murphy não interpretaria melhor que Carey Jr...
    Darci

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  4. Richard Widmark era um dos mais talentosos atores do Século XX, e certamente seu talento não pode jamais ser comparado com a de John Wayne, que estava mais para um "tipo". Widmark era formado em direito para quem não sabe, e chegou a advogar durante algum tempo antes de ingressar em Hollywood.

    Widmark estava certo, eu mesmo não daria tanta confiança para Wayne, apesar de gostar dele em algumas atuações.

    Parabéns pelo blog, que estou a conhecer pela primeira vez, e pelos inteligentes e calorosos comentários.

    Lúcio Glauco Filho- Cravinhos/Sp

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  5. Olá, Lúcio
    Você tem razão em lembrar do talento de Richard Widmark. Era de fato um grande ator e para nossa alegria fez excelentes westerns. Obrigado pelas palavras entusiasmadoras e seja bem-vindo a este clubinho de amigos que gostam de faroestes.
    Darci

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  6. Glauco;

    Veja como é a vida! Vive-se e aprende-se mais a cada dia que passa.
    Um companheiro novo no Mania é somente motivo de alegria. Mas que o Widmark era advogado e que chegou a exercer a profissão, é mais um aprendizado que se concretiza.

    Bom ter sua companhia e, ficaria feliz o bastante em ler comentários futuros semelhantes, já que tudo que nos traga novidades sobre os nossos astros queridos, é sempre formidável.

    Se não for o caso de o amigo se acanhar, seria satisfatório para todos conhecer seu amail para trocas de informações ou mesmo falar de cinema, coisa que vejo que amas como eu.
    Forte abraço e seja ben vindo ao convivio dos Manienses.
    jurandir_lima@bol.com.br

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